A animadora perdeu a noção de tempo, sua mãe lhe encarava aparentemente tranquila, mas Rachel não se permitia relaxar. Se preparava psicologicamente para gritos e uma grandiosa discussão. A mulher aparentava calma e serenidade, mas tudo aquilo era chocante. Não era o que uma mãe esperava ouvir de um filho, pelo menos Shelby nunca se preparou para uma confissão daquelas.

Shelby se levantou da cama assustando a filha, a mulher deu alguns passos e se virou pra garota. Abriu a boca e nada saiu, respirou fundo e decidiu fazer uma nova tentativa.

Rachel, querida, acha que tenho algum problema com homossexuais? - perguntou Shelby surpreendendo a filha.

Não, mamãe, pelo menos acho que não. - respondeu rapidamente.

Está certa, não tenho problema algum com o tema e nem com as pessoas. - afirmou a mulher e coçou a testa em sinal de nervosismo, Rachel sorriu de lado pois aquela era uma marca registrada das duas - Foi eu que dei entrada no divórcio com seu pai. Os pais dele praticamente o obrigaram a se casar comigo. Depois fomos levando nosso casamento como dois companheiros, nos apoiavamos e não baseavamos nada no sexo ou em algo parecido. - Shelby explicava calmamente vendo a atenção que a filha lhe dava - Iria pedir o divórcio antes de você nascer, mas aconteceu você e não tinha mais motivos pra me separar dele. Apesar de que Leroy não estava sendo quem realmente era e como sua companheira de longa data eu entendia o que passava.

Foi aí que papai assumiu ser gay? - perguntou Rachel curiosa.

Não, seu pai demorou a aceitar esse fato. - Shelby sorriu suave enquanto cruzava os braços - Nosso casamento acabou mesmo quando você completou dois anos de idade. Seu pai levou quatro longos anos pra se aceitar e eu estava ao seu lado, lhe confortando e lhe assegurando que seja lá o que tivesse que passar, eu estaria com ele. Foi um grande marido e como pai não tenho do que me queixar.

Entendi, papai teve problemas em assumir sua sexualidade, assim como eu e a senhora foi compreensiva. - resumiu a animadora vendo sua mãe assentir a sua conclusão - Mas eu sou sua filha e sei que deve ser diferente. Como isso se relaciona a mim? - perguntou.

Estaria mentindo dizendo que está tudo bem. - Shelby deu ênfase a frase "está tudo bem" e suspirou, Rachel se enchia de medo naquele momento - Mas não vou me opor, não é o que planejei pra você ou que esperava da vida pra você. Temo pelas pessoas que não vão compreender, mas como fiz com seu pai, eu vou proteger você e te apoiar.

A mulher abriu os braços vendo sua filha sorrir radiante. Rachel saiu da cama com um salto e foi até os braços da mãe, lhe abraçando com força.

Eu te amo, mamãe. - sussurrou Rachel nos braços da mãe.

Eu também te amo, querida. - respondeu Shelby beijando o topo da cabeça de sua filha - Mas avise a... Quinn, certo? Que quero conhecer ela. Um jantar.

Claro, mamãe, Quinn vai adorar a idéia. - disse a morena saindo dos braços da mãe, sorriam contentes.

Tudo bem, vamos agendar isso. - disse a mulher e logo fez uma careta confusa - Não ia pra uma festa? - perguntou Shelby causando o pânico de sua filha.

Era a última festa antes da volta as aulas, era como um "reencontro" de todos os alunos do McKinley. A festa como sempre acontecia em uma casa qualquer, onde os pais estivessem ausentes e o "dono" da casa estivesse apenas querendo causar boa imagem aos demais amigos da escola.

A batida da música eletrônica ecoava por toda a casa e os vidros da janelas vibravam devido o volume, uma fumaça cinzenta rondava o ambiente e os jovens dançavam sem controle na sala, que havia se convertido em pista de dança. As pessoas iam chegando e se juntando em grupos, contando as histórias das férias e já fazendo planos para o primeiro dia de aula.

Isso aqui está uma verdadeira bagunça. - resmungou Santana pegando Quinn pelo ombro para sussurar perto de seu ouvido.

Eu só vim porque Rachel me garantiu que estaria aqui. - a loira sussurrou aproximando-se também do ouvido da latina.

Vamos pro jardim... eu conheço essa casa. - gritou a latina pra Quinn que concordou com a cabeça e as duas saíram em direção aos fundos da casa.

Com muito esforço as garotas conseguiram chegar aos fundos da casa, parecia que todo o McKinley resolveu aparecer. Chegaram ao jardim e se depararam com um gramado verde, uma piscina e poucos jovens por ali, era iluminado e as garotas se aproximaram da piscina. Quinn estava surpresa ao notar as bebidas boiando dentro da piscina e também havia gelo.

Toma. - Santana ofereceu uma bebida a Quinn após se abaixar e agarrar duas garrafas, a loira fez fez uma careta, a outra garota rolou os olhos - Quinn, olha em volta... todos bebem e aposto que você já bebeu antes.

Certo, todos bebem... - concluiu Quinn ao girar a cabeça e ver que todos bebiam e alguns até fumavam, voltou a encarar a latina - Mas errou, eu nunca bebi antes.

Sério? - Santana estava surpresa.

Sério. - confirmou Quinn séria.

Você é estranha. - disse a morena fazendo uma careta.

Ou vocês são loucos. - rebateu a loira com um sorriso.

Agora toma! - insistiu a latina ao se levantar, ainda entregando a garrafa.

Já disse que nunca bebi. - lembrou.

Lucy Quinn Fabray, pega essa porra e toma. - grunhiu Santana sem paciência.

Como descobriu meu primeiro nome? - Quinn fez uma careta, incerta se era pela menção de seu primeiro nome ou pela frase ter soado mal.

Sua irmã, até consegui uma foto sua usando um sutiã da sua mãe na cabeça quando tinha seis anos. - o sorriso travesso de Santana surgiu assim que viu Quinn ficar pálida e deixar o queixo cair.

Sem pensar mais a loira agarrou a garrafa e tirou a tampa no dente, para logo em seguida virar a boca da garrafa em sua boca, dando goladas longas e repetidas vezes. A latina gargalhou enquanto pegava sua blusa e usava para abrir a tampa de sua garrafa.

E depois diz que nunca bebeu antes. - disse a latina com um tom vitorioso.

Dentro da casa que acontecia a festa, a porta se abriu revelando Rachel, Kurt, Brittany, Mercedes e Artie. Os jovens se encararam e logo Brittany apontou pra um corredor, todos apenas concordaram acenando com a cabeça. Foram em direção a cozinha, no caminho iam cumprimentando amigos e os abraçando, a mais requisitada nos cumprimentos era a capitã que percorria todo o local com os olhos. Tentando achar certa loira de olhos verdes.

Que droga de festa mais cheia! - resmungou Kurt ao alcançarem a cozinha, apesar de ser afastado da sala, o barulho da música ainda era alto.

Certeza que a palavra certa é essa? - perguntou Mercedes já se balançando ao ritmo da música junto de Brittany.

Hey, capitã, que bom que veio. - cumprimentou uma garota das animadoras se aproximando do grupo.

É, afinal agora só vemos nossa capitã em festas ou no treino das Cheerios. - disse Megan mostrando sua presença, Rachel soltou a garota que havia abraçado pra encarar a ruiva.

Alguma reclamação Berg? - perguntou Rachel.

Nenhuma. - disse Megan erguendo as mãos em rendição, as duas sorriram e se abraçaram. Mercedes tinha o olhar cravado na garota ruiva, havia parado de dançar e ignorava a conversa paralela dos amigos.

Verdade que terminou com Blaine? - disparou a garota ruiva ao sair do abraço.

Verdade. - confirmou a morena contendo o sorriso, havia ouvido de Kurt que o boato do rompimento havia se espalhado rapidamente.

Sinto muito. - o sorriso que se formou no rosto de Megan era quase maníaco, Rachel teria percebido se novamente não buscasse silenciosamente por Quinn entre as pessoas que estavam na cozinha. Mercedes se incorpou.

Feliz com a novidade? - disparou Mercedes atraindo a atenção de todos e a tensão se instaurou, Megan a encarou com um sorriso suave.

Se a capitã não estiver mal, eu tenho motivos pra ficar feliz. - a ruiva voltou a encarar Rachel - Está feliz com o fim da relação? - perguntou.

Sim, não tinhamos muito em comum, mas era um rapaz incrível. - disse Rachel voltando a deixar seu olhar se perder entre as pessoas que passavam pelo corredor - Podemos mudar de tema? É passado. Se foi.

E foi então que Mercedes teve quase certeza que Rachel falará as palavras erradas. Se Megan abrisse mais seu sorriso certamente entraria pro livro dos recordes como garota com boca de cavalo.

Preciso me retirar, nos vemos. - Megan não esperou que ninguém respondesse, deixou a cozinha puxando a outra animadora.

Também vou dar uma volta, a gente se vê. - Rachel piscou pros amigos e saiu da cozinha com um imenso sorriso enquanto puxava seu celular do bolso da calça.

"Já estou aqui e não te encontro - R."

A morena respirou fundo parando em frente a porta que dava acesso ao quintal dos fundos. Levou questão de alguns minutos para receber uma resposta.

"Também já estou, só que estou no quintal - Q."

Rachel levantou o rosto e puxou a cortina que cobria a vidraça da porta, sorriu ao ver Quinn junto a Santana, a latina segurava duas garrafas de bebida e a loira estava encarando o celular com um sorriso bobo.

"Olhe para a porta, querida."

Quinn que hvia entregado sua segunda garrafa para Santana segurar, estava com o celular em mãos e ao ler a segunda mensagem de Rachel olhou para onde foi indicado. Sorriu ao ver a morena ali.

"Como faremos? Não podemos ser vistas."

"Eu conheço a casa, vou te esperar em um dos quartos, te passo a indicação em uma outra mensagem. Sinto sua falta."

"Em dez minutos estarei lá. E eu a sua, bastante."

Rachel enviou as indicações do quarto em que estaria e se dirigiu discretamente até ele. Era divertido pensar que foi em uma festa como aquela que tudo começou, que ela se deixou levar e deu asas aos seus sentimentos pela loira, foi quando a atração passou a elovuir e se transformou nesse sentimento ardente e forte. Porque era assim que Rachel sentia-se, era uma chama que incendiava todo o seu ser e seus sentidos, silenciado todos os seus medos.

Oito minutos depois Quinn saiu em disparada para dentro da casa, deixando Santana gargalhando. Dane-se que faltam dois minutos, pensou enquanto seguia entre as pessoas e tentava alcançar as escadas. A loira morria de saudades e a boba discussão que tiveram por Rachel decidir contar a melhor amiga sobre elas, fazia Quinn sentir um remorso enorme.

Quinn fez uma careta ao abrir a porta e se deparar com a escuridão, apenas a luz que invadia as janelas iluminava o local. A loira buscou a mensagem em seu celular e gemeu ao sentir lhe puxarem pela camisa, mas sorriu ao ver o sorriso de Rachel e o brilho de seus olhos, fechou a porta atrás de si.

Os lábios se uniram em um beijo cheio de paixão e saudades, Rachel pulou no colo de Quinn, agarrando a cintura da loira com suas pernas. Quinn segurou as pernas da garota com ambas as mãos e encostou a animadora em uma parede qualquer. O beijo era intenso e fazia com que a pele das garotas queimasse, sem malicia, era somente o sentimento as consumindo.

Senti tanto a sua falta. - disse Rachel após se separarem e recuperarem o ar, juntaram suas testas e sorriam.

E eu a sua. Nos reencontramos. - murmurou a loira dando um beijo suave sobre os lábios da namorada.

Perdão por ter contato a Mercedes sem te consultar. - o estômago de Quinn revirou, a loira colocou Rachel no chão e segurou seu rosto com ambas as mãos.

Eu que te peço perdão. Foi idiotice minha... agora me beija e deixemos de falar. - pediu a loira com um imenso sorriso, Rachel sacudiu a cabeça sorrindo divertida.

As garotas voltaram a se unir em um beijo, mas esse era completamente diferente do anterior. Seus lábios se tocavam com extrema delicadeza, um beijo lento e suave, mas quanto mais seus lábios e suas linguas se movimentavam uns contra os outros, mais as ondas de calor voltavam a trazer o ritmo do outro beijo. Agora sim com malicia.

Estavam juntas, estavam apaixonadas uma pela outra e só isso importava.

Longe do quarto, longe da festa, longe das proximidades da casa, exatamente na sala de Jacob Ben Israel, no McKinley, o jovem judeu asqueroso terminava de desligar seu computaor e levantava-se.

Sempre um dia antes das aulas retornarem Jacob já deixava a matéria a ser postada pronta uma noite antes e ele tinha algumas chaves do colégio, saber segredos e usa-lós contra as pessoas davam esse beneficio. Assim que Jacob se virou em direção a porta seu coração disparou, o judeu deu um pulo para trás colocando a mão no coração.

Nossa, Hudson, quase me mata! - resmungou o judeu.

Olá, Jacob. - disse o garoto alto, Finn sorria de lado, tinha os braços cruzados e estava apoiado ao arco da porta. Estava diferente do antigo Finn, pensava Jacob.

O que faz aqui? Aliás... - Jacob levantou a mão que tinha sua câmera e ligou-a mirando sobre o garoto alto - Onde esteve? O que aprontou?

O sorriso de Finn se alargou, era sinistro e assustador. O rapaz alto se incorporou e passou a mão pelas costas, exatamente no bolso atrás de trás da calça, logo lançando um pedaço de pano amarelo sobre o rapaz. Jacob pegou o pano e o esticou em frente aos seus olhos. Era uma casaco fino e tinha alguns pingos vermelhos, supostamente... sangue.

O que significa isso? - perguntou Jacob lançando a peça de roupa novamente para Finn que o agarrou endurecendo sua expressão.

Significa a sua chance de por seu nome na história do McKinley. - disse Finn com firmeza - Você vai detonar Rachel Berry, é só fazer tudo como eu disser.

Sou todo ouvidos. - disse o judeu e ambos garotos sorriram.