Eu flutuava na escuridão, eu apenas sentia uma imensa paz. Era como se eu não tivesse nenhuma memória ao mesmo tempo em que sabia tudo. Eu não tinha noção de nada além da imensidade preta que eu estava e a breve consciência que eu existia.

Eu não sei quanto tempo passou, poderia ser um minuto ou uma hora, minha noção de tempo não me acompanhava naquele momento, mas depois de minutos indefinidos uma forma brilhante apareceu em minha frente. Eu não sei como poderia descrevê, era menos que uma forma animal ou humana, mas também não era o nada.Era uma presença que tinha seu corpo feito a partir de luz,puramente luz.Era acolhedor,lembrava o conforto de uma lareira.Neste momento,reparei que era como uma humana,não tinha mais o medo natural do fogo,toquei minha boca e reparei que não tinha presas.

- Se arrepende de algo? – a forma de luz perguntou, sua voz lembrava o canto de pássaros – fale o que lhe impede de seguir em frente.

- Como? – eu perguntei, não tinha voracidade ou cautela na minha voz, eu não temia a luz.

- Você se arrepende de algo? – ela voltou a perguntar – sei que sim, se não tivesse algo que lhe atormentasse, mas que você se arrependesse, não estaria aqui. Estaria no que o os humanos chamam de inferno, mas é apenas o lugar onde os seres perversos ficam.

- Mas eu sou uma vampira – falei com tristeza – pelo menos era.

- Apenas fale – a voz doce falou

- Bem – eu comecei incerta – eu não queria brigar com meus pais, nem fugir de casa – eu suspirei – deveria ter tentado ajudar. Eu não queria ter matado pessoas inocentes, mesmo que fosse “a escoria da terra” – eu fiz aspas no ar – eu não tinha o direito de tirar a vida delas – refleti um momento – me arrependo de ter deixado Fred sozinho, deveria ter pensado com mais calma e cautela – lágrimas escoriam pela minha face – deveria ter protegido Diego também, deveria ter usado minha força, não podia ter deixado ele sozinho – eu já chorava descontroladamente – eu só queria poder falar com ele de novo – falei mais para mim mesma do que para a luz – pedir desculpas, pedir perdão por não ter... eu não sei a razão – confessei – apenas queria que ele estivesse comigo.

- Interessante – a doce voz voltou a falar – você deve seguir em frente – a luz se tornou mais forte – te desejo paz e felicidade no outro lado.

A presença se tornou uma luz mais forte, seu brilho aumentava cada vez mais, coloquei meu braço na frente de seus olhos e em um piscar de olhos tudo ficou escuro novamente, mas o calor permanecia ali. Meus olhos se fecharam involuntariamente e o mundo começou a girar.