POV: Louis

                Harry seguia para o quarto que ele dividia com Liam e eu o seguia. Ele parecia abalado com alguma coisa. Após a noite incrível de natal que tínhamos tido, pude sentir que ele precisava de uma certa distância. Porém, eu não estava tão interessado em dar essa distância a ele.

                Eu precisava saber com urgência o que estava acontecendo.

                Ele não falava comigo da mesma forma que antes desde que tínhamos começado essa viagem. Eu não pude saber se era algo que eu tinha feito ou se algo tinha acontecido com ele, mas não podia, também, deixar que aquilo se prolongasse muito. Eu sentia falta do meu melhor amigo.

                - Harry? – entrei no quarto logo após ele. Harry virou o rosto para onde eu estava e ficou calado, olhando em meus olhos.  – Nós precisamos conversar.

                Harry simplesmente foi até a cama e sentou, apontou para um local ao seu lado, sugerindo que eu sentasse ali, e continuou a me olhar. Segui em direção à cama e sentei no local que ele tinha apontado. Harry estava pálido e não parecia muito disposto a conversar, parecia fazer força para sumir dali. Em qualquer outra circunstância, eu o deixaria sozinho e o daria tempo, mas eu não aguentava mais ficar sem falar direito com ele.

                - Bom, eu só queria saber se está tudo bem. – falei fitando os pés. Eu não conseguia mais segurar meu olhar no dele.

                - Claro, Louis, por quê? – Embora sua voz sugerisse exatamente o contrário, ele assentiu com a cabeça e permaneceu parado, me observando.

                - Bom, eu não sei. – dei uma pequena pausa enquanto tentava voltar a olhar nos seus olhos. Deveria ser mais difícil de me enganar se ele visse meus olhos. – Porque você não está mais falando comigo direito nem temos ficado tanto tempo juntos. Confesso que tudo isso está bem diferente dos meus planos de passar o natal com você.

                - E quais eram seus planos. – Seus olhos continuavam frios enquanto ele me fitava. Eu não sabia mais o que dizer.

                - Eu queria estar com você. Me divertir com você e poder conversar besteiras assim como sempre fazemos quando estamos juntos.

                - E se isso não for mais o suficiente para mim? – A voz de Harry começou a tremer um pouco, pude sentir que as lágrimas estavam a caminho antes mesmo de seus olhos ficarem marejados.

                - Então nós iremos fazer o que você quiser! Só não me ignore, você é meu melhor amigo e eu só quero te ver feliz. – Minha voz soava preocupada, mas eu estava em desespero, não podia mais depender daquela situação.

                Harry riu irônico e se levantou. Era a primeira vez que ele soltava aquele tipo de risada para mim. Ele não parecia o mesmo de sempre, seus olhos estavam cerrados e eu notava que suas mãos estavam fechadas em forma de soco. Ele parecia querer se acalmar e se segurava para não falar tudo que tinha em mente para mim; mas era exatamente isso que eu queria que ele falasse, eu queria que ele fosse honesto comigo.

                - Harry – eu chamei novamente – por favor, você precisa me falar o que está acontecendo...

                - Você quer saber o que está acontecendo Louis? – Seus olhos estavam lívidos. – você tem mesmo certeza que está pronto para ouvir tudo que eu tenho a dizer?

                Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo. Nós nunca tínhamos brigado e eu nunca tinha visto Harry naquele estado.  Tive uma grande vontade de dizer que não queria mais saber de nada, portanto que ele me mantivesse como um grande amigo e continuássemos a nossa relação de antes.

                Mas pude sentir que aquele tipo de relação nunca mais existiria se ele não falasse tudo que estava engasgado em sua garganta agora.

                - Harry, você sabe que pode me falar qualquer coisa. – tentei parecer calmo, mas minha voz tremulava. Eu não me sentia confiante que estava pronto para escutar o que quer que fosse.

                Harry ficou de costas e deslizou as mãos pelos cabelos. Ele parecia estressado e tenso. Pensei em levantar e ir lá abraça-lo, mas não achei que a situação fosse apropriada.

                - Louis, você tem ideia de quantas meninas eu já fiquei – ele falou ainda de costas sem olhar para mim. Mas que tipo de pergunta era aquela? O que aquilo tinha a ver comigo?

                - Bem, pelas história que você me conta... várias... – tentei sorrir e ele se virou para mim. Parei de sorrir na hora que vi seus olhos cheios de lágrimas.

                - E se eu te disser que nunca amei uma mulher de verdade. – Harry já engasgava e os soluços de seu choro o fizeram esconder o rosto nas mãos.

                Me levantei e fui até ele. Eu não conseguia ver meu amigo naquele estado, lágrimas começaram a surgir em meus olhos também. Abracei-o e fiquei ali até que seus soluços passassem. Harry foi se acalmando aos poucos. 

                - Tá tudo bem Hazza, você ainda é novo. Ainda tem tanto para viver, ainda vai conhecer a mulher que vai te fazer feliz e que você vai amar de verdade. – Eu ainda não conseguia entender o porquê daquele assunto estar o incomodando tanto. Eu também nunca tinha amado uma mulher de verdade.

                - Você não tá entendendo, Louis – suas lágrimas molhavam meu ombro. Ele não conseguia mais segurar o choro – eu já amei de verdade. Eu estou amando de verdade.

                Nada daquilo fazia o menor sentido. Harry, com certeza, estava passando por um momento de estresse muito grande e provavelmente estava confuso. Eu não conseguia acompanhar o ritmo do seu raciocínio. Ele estava novamente calado enquanto chorava desamparado no meu ombro.

                Eu não conseguia ficar ali por muito tempo, levei ele até a cama e o fiz sentar. Eu precisava cuidar dele. Liam não tinha dado sinal de vida, aparentemente ainda estava se aproveitando dos restos da festa de natal em algum lugar da casa. Zayn e Niall também não tinham vindo atrás de mim o que mostrava que ou já estavam dormindo ou estavam acompanhando Liam nos restos de festa.

                Deitei a cabeça de Harry no travesseiro, ele continuava cobrindo o rosto com as mãos. Deslizei meus dedos por seus cachos por um tempo tentando coloca-lo para dormir. Ele ainda estava sobre efeito do álcool, assim como eu, então provavelmente cairia logo no sono.

                - Boo – Ele me chamava entre os dedos do rosto. – Você me entendeu, não é?

                - Hazza, você está cansado, só dorme um pouco e nos falamos melhor amanhã. – Tentei tranquiliza-lo e continuei a passar meus dedos sobre seus cachos.

                Mesmo eu tentando evitar, Harry sentou-se na cama após minha afirmação. Ele parecia sério, mas não tinha mais lágrimas nos olhos.

                - Você não me entendeu, não é? – Ele olhava meus olhos, sério. Não consegui retribuir o olhar por algum motivo.

              - Harry, vamos dormir – continuei insistindo. Eu que tinha começado aquela conversa e agora estava querendo fugir.

                 No final das contas, eu tinha sido um covarde.

                - Boo, eu acho que eu te amo.

                Com aquelas palavras, meu corpo paralisou em choque. Eu não fazia ideia do que dizer. Harry me olhava sério e não desviou o olhar por nenhum segundo.

                - O que você quer dizer com isso? – Tentei perguntar trêmulo, talvez ele não estivesse falando desse tipo de amor.

                Harry preferiu me mostrar ao invés de continuar a falar, seu corpo se inclinou devagar até chegar perto do meu. Pude sentir seu rosto a centímetros do meu e sentir o cheiro de seu perfume misturado com o de álcool invadir meus sentidos. Era um cheiro inebriante que me fazia querer sentir mais. Enquanto minha mente estava distante, seus lábios tocaram os meus.

                Foi a sensação mais esquisita que eu já senti em toda a minha vida. Os lábios de Harry não eram macios como os das garotas que eu costumava ficar, mas eram quentes e eu senti um arrepio incomum passando por todo meu corpo. Aqueles lábios pareciam ter o encaixe perfeito com os meus.

                Foi então que eu percebi a situação em que eu estava. Meu corpo pulou para trás involuntariamente. Eu não podia fazer aquilo! Não podia!

              - Louis? – mesmo ele chamando meu nome ao invés do apelido, não consegui olhar em seus olhos. – Desculpa, eu...

                O que ele tinha pra falar, infelizmente, ficou para trás. Corri involuntariamente para fora do quarto e fui em direção ao meu. Ao chegar, pude notar que não tinha ninguém ali ainda, os garotos ainda deviam estar por ai, mas eu não conseguia me preocupar com isso agora.

                Ao abraçar meu travesseiro, não consegui segurar as lágrimas que saiam de meus olhos.

                 O que estava acontecendo?