Falling Snow - O Despertar escrita por Tamires Vasconcelos


Capítulo 2
Capítulo 1 - Only Memories


Notas iniciais do capítulo

Oiee!

Então, me desculpem pela demora, tive muitos trabalhos para fazer e ainda tenho.

Esse capitulo ficou maior, e espero que não achem cansativo ou algo assim.



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Dawson City, Canadá·.

Outono de 2012·.


– Não!

Eu grito levantando-me imediatamente. Encaro minhas mãos por um instante, elas tremem como se tivessem ganhando vida. Passo os olhos pelo quarto em minha volta, ele parece girar. Seguro os travesseiros com força para me manter no lugar. Minha respiração está ofegante e sinto o suor deslizar por minha nuca, passo as mãos na testa e desço até minha clavícula, como se pudesse remover os terríveis pesadelos.


Sinto a pizza de noite passada girar em meu estômago, ameaçando a voltar. Fecho os olhos e respiro fundo tentando conter o motim que se ocorre. Fechar os olhos com certeza não é a melhor opção, a minha náusea aumenta, e sinto a minha garganta tapar.

Estou mais tonta do que antes, então pego o travesseiro que se encontra atrás de mim; o livro de capa dura que estava debaixo deste caiu no chão, o barulho que produziu em contato com o piso de madeira, era assustadoramente alto.

Encaixo o travesseiro entre meus joelhos e o abraço. Balanço para e frente e para trás, contando números pares na minha cabeça. Mas nem mesmo isso funciona, então descubro que é aquele cheiro horrível e apavorante que estava causando isso.

Sangue.

É o cheiro de sangue quente, recém-extraído de sua vitima, é ele que está fazendo o meu estômago se contorcer. Pressiono com bastante força o nariz contra o travesseiro, mas isso também não resolve. Evito então, respirar pelo nariz, deixo o ar sair e entrar devagar repetidamente entre meus lábios, levando assim com ele a memória do sangue de minha mãe.

– Foi só um sonho – Digo jogando com força o inútil travesseiro no chão.

Respiro fundo novamente, tentando trazer ar puro e novo aos meus pulmões, que já se desaceleraram. Sei que aquele sonho que me visitava quase todas as noites, era apenas uma lembrança do que aconteceu há dez anos, mas é bom acordar e estar em meu quarto e não em um hospital, como da ultima vez.

Balanço a cabeça para clarear as idéias e levar para longe a imagem dos lobos. Em um pulo ágil, levanto da cama colocando meus pés nus no piso frio. Não ligo para os arrepios que me percorrem, gosto da sensação que ele trás para o meu corpo quente. Vou até a janela em passadas curtas e afasto a cortina cor de safira. Não ouso destrancar a janela, o vento gélido que sei está do outro lado, já seria tortura demais ao meu corpo. Então através dos vidros respingados pela chuva da noite passada, olho as milhares de árvores com seus galhos secos, suas folhas de coloração entre laranja e amarelo indo para o marrom, enfeitam o chão como um tapete.

Uma fina e murmurante chuva cai calmamente. O dia só parece ter vida, devido aos poucos raios de sol, que começavam a surgir entre as densas nuvens acinzentadas.

Continuo a encarar as arvores. Pode parecer um pouco estranho, mas minha casa localiza-se praticamente no meio da floresta, é claro se não fosse a estrada que passa entre a pequena floresta e a casa vazia.

O único ser vivo que também tem coragem de viver ali é um esquilo, do qual apelidei de Gary. Ele está todas as manhas na mesma arvore, faça chuva ou faça sol.

Morar longe da civilização não era exatamente meu plano quando me mudei para Dawson City, porém eu estava com pouco dinheiro e essa foi à única que havia conseguido comprar, os motivos agora estão muito claros para mim, aquela casa ali no meio do nada era um tanto quanto sinistra.

Dirigi-me para o banheiro, meus cabelos estão presos em um coque desajustado e decido que não vou solta-los. Tomo um longo banho quente até que meus dedos ficassem enrugados, sabia que podia chegar atrasada no trabalho outra vez por conta disso, mas nada no momento me fez querer deixar a água quente penetrar em minha pele. Em meio a uma luta psicológica comigo mesma, decido desligar o chuveiro e com os olhos fechados procuro uma toalha para me enxugar.

Retiro o elástico que prendia os meus cabelos e eles caem imediatamente até a cintura, grossos fios negros em ondas totalmente confusas e rebeldes. É por esse motivo que sempre estão presos em um coque.

Entrelaço os dedos sob os fios para tirar os nós, quando a minha mão encontra uma fina cicatriz na nuca. As lembranças daquela noite fria apareceram com facilidade em minha mente. Uma galocha vermelha, lobos e cheiro de sangue. Isso é tudo me lembro.

Ao fechar meus olhos ainda consigo ver a cena toda daquela noite, porém sei que é tudo fruto da minha imaginação. Tudo o que realmente sei vem dos breves relatos das testemunhas.

No dia seguinte acordava no hospital, sem ao menos abrir os olhos sabia que estava em um, o cheiro dos lençóis brancos, dos remédios e até mesmo o Bip irritante, desmascaravam o lugar em que estava. Já acordei em um hospital diversas vezes, sentia que dessa vez era diferente, algo coisa incomodava o meu nariz e a minha cabeça estava com uma dormência estranha juntamente com uma fina dor. Era como se estivessem enfiando uma agulha em meu cérebro. Quando realmente dou conta da minha atual situação, chamei a única pessoa que uma menina de oito anos chamaria quando se está com medo.

– Mamãe? – Dizia com os meus olhos que continuaram fechados.

Não escutei nada, nem mesmo uma leve respiração indicando que alguém estava ali. Pior do que o silêncio negro que percorria o lugar era o Bip, que cada vez mais me deixava nervosa.

Decidida, eu abri os olhos, e como previsto não havia ninguém ali. O quarto era estranhamente branco, com um monitor e outras máquinas estranhas que estavam a minha esquerda. Dei mais uma boa olhada no quarto e encontrei a minha direita uma poltrona de couro bege.

Tentava ficar em silêncio e esperar calmamente alguém aparecer, mas não conseguia. Um medo inconsciente tomava conta de mim. Era algo inexplicável, não queria ficar sozinha.

– Mamãe! - Gritava, mas era impedida pela falta de água em minha garganta.
Tentava me levantar, o que ocasionava em uma dor maior em minha cabeça, assim que deixei que a minha cabeça caísse no travesseiro outra vez a porta se abriu e uma enfermeira, baixinha de cabelos ruivos, entrou no quarto.

– Ei, não vá fazer tanto esforço assim querida – Havia algo estranho em seus olhos, talvez pena? - Como você esta? Está sentindo alguma dor?

Eu apenas encarei sua mão, que se jogava de um lado para o outro de uma modo ágil e habilidoso, uma seringa. Não sei se foi à agulha extremamente afiada ou os movimentos repetitivos, que me deixaram tonta, mesmo assim tentei levantar novamente. Ela colocou levemente sua mão em meu ombro e me forçou a deitar novamente.

– Não precisa ter medo. Isso não é para você – Ela se inclinava mais para mim e acrescentou sussurrando - Na verdade, eu faço isso quando estou preocupada ou nervosa com alguma coisa. Você deveria tentar.

Olho novamente sua seringa, e me imagino segurando aquela arma letal.

– Com uma seringa? – Pergunto Perplexa com a possibilidade.

A enfermeira ruiva olha para suas mãos, e guarda a seringa no bolso.

– Não, não precisa ser necessariamente uma seringa. Somente algo para depositar ser nervosismo, uma seringa não seria legal para você. Na verdade nem mesmo eu posso fazer isso.

Ela disse aquilo como se fosse um segredo nacional, bem, talvez até fosse um segredo que poderia custar seu emprego. Eu Sabia que ela estava apenas querendo me distrair, eu não estava muito a fim de papo e nem de fingir que ela me enganava. Sem mais delongas fui direto ao assunto.

– Onde está a minha mãe?

A enfermeira dirigiu sua atenção para um monitor ao meu lado e o analisava, anotando algo em sua prancheta, notava que ela fingia que não havia me ouvido, não ligava, não queria questionar outra vez, já estava cansada demais para isso.

Como poderia? Não fazia nada a não ser as minhas fracassadas tentativas de me levantar. Continuava deitada em minha cama e sabia que pelos olhos aflitos daquela enfermeira que havia algo errado. E eu não precisaria daqueles expressivos olhos para descobrir que alguma coisa ruim havia acontecido. Sabia disso dentro de mim, como se um alarme tivesse sido acionado.

E eu estava certa disto.

Aquele foi o pior dia da minha vida, foi quando recebi a noticia que meus pais estavam mortos.

Ataque de lobos, eles diziam, porém eu sabia que meu pai, assim como outros homens haviam morrido, lutando para salvar a mim e ao meu irmão. Minha mãe também lutou, mesmo que tenha sido apenas uma indefesa mulher contra aqueles lobos raivosos.

Mas e quanto a mim? O que aconteceu comigo naquela noite? Eu não estava com minha cabeça nas melhores condições para lembrar exatamente o que havia acontecido e Natan estava chocado demais para se prender aos detalhes. Ele disse apenas que os lobos se aproximaram de mim, mas não me atacaram e foram embora quando Dale chegou.

As pessoas no começo ficaram com medo da possibilidade de haver novos ataques. O consentimento de que lobos rondavam pela floresta era muito claro a todos desde sempre, mas nunca houve ataques - Pelo menos não vistos – Mas o acontecido logo foi esquecido pela pequena população de Tok, ninguém na verdade se importa com as duas crianças órfãs.

Não durou muito tempo e me mandaram para um colégio interno. Pelo que sei o dinheiro que meus pais possuíam dava para pagar o colégio para o resto da minha vida, todavia eu não tinha acesso á àquela quantia e se tivesse com certeza sumiria do país. Apesar de aquele horrendo colégio me parecer mais um exército militar, era muito melhor que um provável orfanato e mais tarde uma família nova.

Ian a essa altura estava internado em uma clinica de reabilitação. Ele mudou muito depois do ataque e passou a se comportar agressivamente. Em uma noite quando eu estava em meu quarto, deitada, deixando as lágrimas ensoparem meu travesseiro; ele me atacou com uma faca, alegando que tudo aquilo tinha sido culpa minha, que todos estariam vivos se eu não tivesse nascido.

Ouvir aquilo do meu próprio irmão acabou comigo. Jurei a mim mesma naquele dia que nunca mais o veria novamente. Eu fiquei com ódio do meu irmão. Esse meu ódio não era por ele ter tentado me matar e sim por saber que ele estava certo, por ele ser a única pessoa que teve a decência e coragem de dizer aquilo frente a frente. E não apenas me lançar olhares de hostilidade. Não sei por qual motivo eu chorava. Meu irmão querendo me matar ou pela culpa que cada vez mais me consumia.

Fiquei no colégio até o começo da minha adolescência - foi à época em que consegui a minha tão esperada emancipação, ou nas minhas próprias palavras, liberdade - Na primeira oportunidade juntei o pouco dinheiro que tinha e entrei no velho ônibus de viajem com a cabeça erguida e sem olhar para trás.

Dawson City.

Essa foi à cidade escolhida por mim, ou pelas minhas poucas condições de me esconder de Tok. Apesar de a distância ser de apenas sete horas de carro, realizei meu objetivo de mudar-me para outro país. Não é muito longe, de qualquer modo ficar naquela cidade me sufocava e eu precisava de um novo começo, precisava esquecer o que tinha acontecido e o que vai acontecer.

Balancei a cabeça novamente. Aquela era uma tática que eu adquiri com o tempo, que leva embora as lembranças ruins. Ajeitei meu cabelo olhando para o espelho e apressei-me para me arrumar.

É outono e as chuvas, mesmo que garoas finas são muito desconfortáveis, ainda mais que Will sempre me dá uma carona em sua moto. As gotas de chuva parecem espinhos sobre a minha pele.

Sendo assim, escolho por cima de uma regata branca com um desenho do Mickey Mouse, uma jaqueta, de cor verde musgo ou algo parecido, as mangas são grandes e cobrem meus dedos, juntamente com minhas unhas ruídas. O que é bom, pois já que assim não sinto muito frio. Para complementar coloco uma calça jeans e botas estilo coturno.

A campainha com som de telefone irritante toca. Dou um longo suspiro lembrando-me que tenho que trocá-la, caso contrário, irei quebrá-lo em milhares de pedaços, muito em breve.

Desço as escadas pulando os degraus, de modo que pulo cinco até mesmo seis e sei que posso pular até mais, todavia aquela é apenas uma brincadeira que faço comigo mesma. Chego até a porta e a abro devagar, colocando primeiro apenas meus olhos a vista.

Vejo Will parado na porta olhando para os lados distraidamente e quando percebe que a porta se abriu, tenta entrar feito um furacão como das outras vezes, antes que isso acontecesse, eu coloco uma das minhas mãos em seu ombro para impedi-lo.
Will joga o ombro de lado para afastar a minha mão, porém eu coloquei o pé sobre o vão da porta. Impedindo novamente que ele entrasse.

– Limpe os pés primeiro, você nunca limpa, passei cinco horas ontem limpando esse chão. – Digo com um sorriso querendo surgir em meus lábios.

– Isso é sério?
– Tudo bem que foram só meia hora, mas as minhas mãos começaram a doer e estava chovendo... – Aponto para o céu mostrando que a chuva de ontem ainda não havia cessado.

Ele franziu a testa e logo em seguida vejo um sorriso no canto de seus lábios. Sim, ele está rindo da minha cara, uma coisa que odeio quando ele faz.

– O que a chuva tem a ver com isso?

Dei um longo suspiro.

– No momento eu encontrei uma boa razão e agora eu não lembro e também estou com muito sono para inventar outra desculpa. Então porque você, por favor, não limpa os pés?

Ele me fita durante um tempo com aqueles fundos olhos azuis, meio que se rebelando contra a minha ordem. Ergo uma sobrancelha e mantenho o meu pé sobre o vão, sem tirar os olhos de mim ele esfrega os pés no tapete azul escrito "Bem-Vindo" de modo um tanto quanto teatral. Termino de abrir a porta e fiço um sinal para ele entrar.

– Obrigada por colaborar. – Digo passando a mão por seu cabelo cor de areia para tirar os pingos de água que se alojaram, mas Will logo se esquiva para trás e começa a arrumá-lo com uma careta.

– Não toca no meu cabelo, passei muito tempo arrumando ele hoje.

– Você é um garoto, cabelo de menino não bagunça - Aponto para meu cabelo - Eu que sou uma garota não me importo tanto com meu cabelo.

Ele sorri olhando para meu cabelo preso no meu eterno coque desajustado, então levanta as mãos acima da cabeça.

– Juro que eu não ia falar nada do seu cabelo.

Andamos até a cozinha e enquanto eu pego duas tigelas e faço um leite quente, Will pega um cereal que estava no armário, quando tudo estava pronto nos sentamos e começamos a comer.

Willian era basicamente meu melhor amigo, foi à única pessoa que me identifiquei desde que cheguei aqui. Ele me ajudou a eu conseguir me adaptar a cidade e principalmente a escola. Mesmo assim eu não sei muito sobre a vida dele e nem ele da minha, a única coisa que me contou foi que também era de Tok, porém se mudou para essa cidade quando era pequeno, parece que ele assim como eu não se sente muito bem falando de sua própria vida, eu respeito esse espaço.

Will e eu, não nos conhecemos da melhor forma. Depois de muitas brigas, fomos praticamente obrigados a nos conhecer melhor e assim descobrir o quanto tínhamos em comum.

Era verão e eu tinha acabado de me mudar, administrar uma casa sozinha e ser responsável por mim mesma, por mais que odiasse admitir, eu estava com medo, mas era tarde demais para voltar atrás e, aliás, não tinha deixado nada para trás. Sai de minha cidade sem ao menos ver meu irmão ou meus amigos, não contei a ninguém onde eu estava indo, apenas fiz minhas malas e peguei o ônibus.

No primeiro dia de aula a vontade de correr para fora daqueles portões de ferro era enorme, mas eu apenas repetia para mim mesma ''Seja responsável'' e por fim encarei aquele meu novo pesadelo de cabeça baixa.

Nova na cidade e na escola, com certeza eu seria motivo de gozação entre os outros alunos, entrei tímida na sala e o professor piorou minha situação me ordenando a fazer uma apresentação diante de toda classe. Minha breve apresentação gerou mais risadas que um show de teatro, eu não parava de gaguejar e me atropelava nas palavras.

O professor um homem de idade com ombros caídos e enormes óculos sobre o rosto, pediu alegremente que todos fizessem uma ''recepção calorosa''

– Vamos fazer com certeza. - Disse um garoto de cabelos estranhamente verdes, dito isso o garoto começou a rir e outros cinco meninos fizeram o mesmo inclusive Will.

– Bom. Obrigado. - O professor disse apenas, com um largo sorriso.

Não sabia se ele era tão genuinamente inocente para perceber que os meninos estavam realmente pensando. Não me intimidei com suas risadas forçadas e maléficas. Levantei os olhos e os encarei.

Durante o almoço, como era previsto, eu vulneravelmente estava parada no meio do refeitório, recebi um bolo de carne mal cheirosa no cabelo atirado por Will seguido por:

– Essa é a nossa recepção calorosa!

Talvez eles já tivessem feito aquilo com outra menina, porque vi em seus rostos a expectativa de me ver saindo correndo do refeitório indo direto para o banheiro, todavia eu não daria esse luxo a eles, se por um acaso eu deixasse isso passar eles nunca me deixariam em paz. Então, sem pensar peguei o mesmo bolo de carne, que estava em minha bandeja e joguei no impecável cabelo loiro de Will e espalhando também sobre seu rosto.

– E esse é meu caloroso agradecimento – Digo limpando minhas mãos em sua camiseta azul marinho.

Will ficou apenas me olhando durante um tempo, assim como seus amigos que logo depois começaram a rir loucamente. Will percebendo que se tratava de si pegou um purê de cor amarelada de sua bandeja e ergueu para mim, mas antes de concluir seu plano segurei sua mão e fiz com que acertasse o próprio rosto em seguida com um giro coloquei suas mãos em suas costas fazendo-o se curvar.

– Ai! Para, para. Está doendo.

Só parei de torcer seu braço quando fui arrancada e erguida do chão como uma boneca de pano. Eu me debati até que um monstruoso segurança me soltou, mas segurou firme em meu braço me guiando para a sala do diretor.

Will foi para a enfermaria e eu levei minha primeira advertência juntamente com um sermão de duas horas de todas as regras da escola.

Saindo da sala do Diretor passei pela enfermaria e tentei sem sucesso não notá-la, mas as letras em negrito e o vermelho quente pareciam me chamar, mas não eram as letras que estavam clamando meu nome e sim a culpa. Como se minha mão tivesse vida própria abri a porta entrei na enfermaria.

O lugar não era tão grande, nos fundos encontrava uma pequena mesa repleta de papeis e outras bugigangas, ao lado da mesa se localizava um armário cinza com portas de vidro onde tinham alguns medicamentos e por fim uma maca em frente à mesa onde Will estava deitado cantarolando alguma coisa. Seu braço estava enfaixado apenas com uma gaze e parecia estar imobilizado, dei alguns passos para trás e pensava em voltar sabendo que aquilo era culpa minha. Na verdade não queria ver seu rosto outra vez, decidi então sair da enfermaria, porém quando minhas mãos ansiosas tocaram a maçaneta velha, ouço a voz perplexa de Will.

– O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou.

Mordi os meus lábios com raiva, respirei fundo e virei-me para ele.

– Que jeito doce de falar. Eu só vim aqui para pedir desculpas pelo o que eu fiz, mas eu ia embora quando me dei conta que você é o verdadeiro culpado

– Você quebrou meu braço - Ele resmungou.

Dei alguns passos para frente e apontei para o seu braço enfaixado.

– Isso já é muito drama, eu nem quebrei, só torci.

– Mas podia ter quebrado.

Cruzei os braços tentando conter minha raiva e não terminar o serviço.

– Eu poderia ter quebrado sim. É para você aprender a não fazer isso com as pessoas – Mostrei o meu cabelo sujo para ele - Olha só o meu cabelo, você acha que isso vai sair fácil? É o meu primeiro dia de aula e olha só o que você fez, com certeza eu estou em uma situação pior que você.

Vi um sorriso brincar em seus lábios.

– Achei que tivesse vindo aqui para pedir desculpas. - Ele diz com uma voz mansa.

– E você nem ao menos aceitou, o que mostra que você não é nada humilde.

Ele se sentou na maca esfregando a nuca.

– E com isso você se sente superior – Ele disse como se tivesse resolvido um difícil problema matemático

Will analisa demoradamente a gaze em seu braço.

– E para falar a verdade você nem pediu desculpas - Ele deu de ombros.

– É claro que pedi.

– Falar que vem pedir desculpas não é uma desculpa.

Revirei os olhos.

– Tudo bem. - Eu digo me dando por vencida - Me desculpe...

– Querido Will - Ele completou.

– E agora você também tem que pedir desculpas.

– Você acha que estamos no Jardim de infância, gata? Esse papo de pedir desculpas é ultrapassado. - Will jogou a cabeça para trás rindo e pegou um fone de ouvido que estava em seu bolso.

Dei mais um passo para frente, mas logo em seguida me vejo recuando outra vez.

– Me chama de “gata” de novo que quebro o seu outro braço.

– Obrigado pelo aviso. - Ele colocou o seu polegar em meu queixo, mas dei um tapa em sua mão.

– Você é sempre tão...

– Feche a porta quando sair. - Ele me interrompeu e deitou novamente na maca, fechando os seus olhos e colocando os seus fones de ouvido.

Eu bufei e sai com fortes pisadas daquele lugar. Depois daquele dia na enfermaria, Will e eu nunca mais nos separamos. No começo éramos obrigados a conviver juntos, perdi as contas de quantas vezes me encontrei com o diretor por causa de brigas.

O diretor, um homem calvo e de pouca simpatia, não suportando mais me ter em sua sala, sentada quase sempre em sua cadeira almofada, me impôs um castigo. Trabalhar junto com Will no jornal da escola. Posso dizer que as primeiras semanas foram um desastre, a ponto de acionarmos o alarme de incêndio. Mas depois de algum tempo em apenas pequenos conflitos, aprendemos a conviver um com outro...



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Notas finais do capítulo

O que acharam? Duvidas, Criticas, Elogios...

Espero que estejam gostando do jeito que estou tratando os assuntos, é que estou escrevendo essa história como estou aprendendo nas minhas aulas de roteiro. Mostrar a vida normal do personagem, ou seja, apresentações, preparação, abertura, e outras coisas. Só então vem o 1° ponto de virada e a história se segue até o 2° ponto de virada até o clímax.