Na escola, quase não falei com o Guilherme. Nós fomos para a escola juntos como sempre, e a conversa foi a mais basica possível. Foi mais ou menos assim: "bom dia, dormiu bem? - sim e você? - também" e depois ficamos quietos, sem olhar um para o outro. De vez em quando, eu olhava para e ele e percebia que ele estava me encarando e desfarçava. Eu soltava um mero sorrisinho e me arrependia de ter o feito logo em seguida.

Chegamos na escola e estava tudo tão normal, nós fizemos nossa lição juntos, e voltamos a conversar normalmente. Mas como nada na minha vida é decididamente "normal", tudo acabou quando ficamos sozinhos de novo.

Quando saimos da escola, fomos para a casa conversando a brincando como sempre. Eu nunca fui aquele tipo de pessoa ajeitadinha. Eu sempre fui desastrada e desengonçada. Estavamos andando e brincando e eu me destrai e quase cai em uma poça d'água. Ele foi me segurar e acabou caindo comigo. Legal, dois idiotas no meio da rua brincando de se sujar em uma poça de lama, uau. Quem passava na rua ficava olhando para nós tipo "vocês são retardados ou querem 1 real?".

Quando nos tocamos que estavamos fazendo papel de retardados, levantamos e fomos para a casa - totalmente sujos, e o pessoal na rua continuavam a rir da nossa cara, e nós nem ligavamos.

- Si eu chegar em casa todo sujo, acho que minha mãe vai pirar.

- Tudo bem, você pode se lavar em casa.

Já tinha esquecido o quão perigoso era ficar sozinha com o Guilherme em uma casa. Entramos em casa e eu fui me lavar no banheiro do meu quarto, e ele no docorredor. Eu já tinha esquecido que ele precisaria de roupas limpas, e mesmo si lembrasse, eu não teria roupas de garoto ali em casa. Quando sai do banheiro, o Guilherme estava ali, deitado na minha cama, só de toalha... Eu queria ter visto a minha cara quando vi aquele Deus grego deitado na minha cama de toalha e com o cabelo todo molhado. 

- É... Oi.

- Preciso de roupas.

- Eu não tenho roupas aqui, a não ser que você queria usar um short e uma blusa minha, se quiser eu também te empresto um sutiã. - risos.

- Engraçadinha, acho que vou ter que ficar andando de toalha aqui pela sua casa. - como eu queria que ele ficasse andando de toalha pela minha casa...

- Melhor não - eu dou um sorriso meio sarcastico e acho que ele entendeu o que eu quis dizer - eu vou na sua casa pegar suas roupas. Sua mãe esta lá não é?

- Ta, pega uma bermuda para mim e uma camiseta bem leve, e... Não esquece a cueca - risos.

- Vou esquecer logo a cueca só porquê você me falou, troxa.

[...]

- Oi Dona Silvia. Vim aqui pegar algumas roupas para o Guilherme, agente se sujou um pouco em casa e ele tomou banho lá com medo da senhora ter um ataque e esqueceu das roupas - risos - posso entrar?

- Pode sim meu anjo, quer tomar um suco? Acabei de fazer, o seu preferido: goiaba - ela era tipo minha mãe, me conhecia direitinho mesmo virada ao avesso.

- Mesmo sendo o meu preferido eu vou recusar, obrigada.

- De nada, pode subir Je.

[...]

Confesso que eu quase nunca ia no quarto do Guilherme, porque na verdade, eu quase nunca ia na casa dele, era mais ele que ia na minha casa. Quando entrei no quarto do Guilherme, lá tinha posters de garotas peladas - oi? -, um mural com fotos dele, da família, dele e da Pamela se beijando - tudo bem, confesso que doeu um pouco ver aquela foto - e... Uma foto minha. Uma foto minha sozinha, só minha. Ele não tinha uma foto nem da Pamela sozinha, porque teria uma minha? Aquilo mexeu um pouco comigo.

Fui pegar as roupas dele, e vi que tinha várias camisinhas na gaveta dele, tipo, VÁRIAS. Eu não contei, mas deveriam ter por volta de 20 camisinhas, não sei ao certo. Peguei as roupas dele e fui embora.

[...]

- Aqui suas roupas.

- Obrigada, o que foi? Você voltou estranha de lá. - eu não queria falar para ele que tinha ficado mexida com a minha foto no mural dele. Mas tive que falar.

- Porque você tem uma foto minha sozinha, e da Pamela não? Pode parecer besteira, mas... Cara, mexeu comigo. Porque?

- Ah, isso... - ele suspira, senti que ele não queria me contar, mas se ele não me contasse, ele sabia que eu iria insistir tanto que ele iria ficar com raiva - eu tenho uma foto sua, porque eu amo ver seu sorriso.

- E da Pamela?

- Eu tenho uma dela, só que não é ela sozinha... É comigo, e eu nem me importo muito com aquela foto na verdade. Só tenho ela ali para depois não me falarem que eu não tenho fotos da minha namorada e bla bla bla, sabe?

- Posso te fazer uma pergunta? Eu quero que fiquei tudo claro na minha cabeça - eu sento do lado dele - e mesmo que você não deixe eu vou te fazer essa pergunta, e você terá que responder!

- Já que eu não tenho escolha - ele cruza os braços - manda ai.

- O que você realmente sente por mim? É alguma coisa de momento igual sempre foi com as outras ou você realmente me ama? Aquilo que você falou para mim no outro dia, é verdade?

- Olha Je... - ele suspira e sinto novamente a sensação de que ele não queria me responder - eu te falei que eu to muito confuso, não é? Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu te amo.

- Mas também ama a Pamela.

- E é isso que me tortura! Si eu não a amasse, você realmente acha que eu seria apenas seu amigo hoje? Depois de saber tudo o que você sente por mim?

- Não sei, eu não to na tua cabeça para saber das coisas, dãr! - risos.

- Troxa... Mas.. Eu te amo, de verdade.

- Si tu me ama termina com a Pamela e fica comigo - não sei porque falei isso, eu nao deveria ter falado aquilo.

- Não é fácil assim, ta? Eu também a amo.

- Então vai lá ficar com ela - eu estava totalmente, possuida pelo ciumes! Nunca tinha sido assim! 

Normalmente é ele que me beija, mas nessa hora quem o beijou foi eu. E ele não lutou nem um pouco para não me beijar, ele me beijou com tanta paixão como das outras vezes... Mas ok, o pesadelo estava começando de novo. De novo não, por favor, não...