Capítulo 6 – O Tutor

Teresa chegou a casa e atirou-se para o sofá da sala, cansada. Eram seis horas da tarde e ela ainda tinha o trabalho de História, Português e Sociologia para entregar no dia seguinte, já sem falar da notícia para o jornal da escola que precisava de concluir e dos trabalhos de casa do instituto de Francês que eram para entregar dois dias depois.

-Teresa? – indagou a mãe dela e ela abriu um olho, espreitando-a. – Ah, bem me parecia que te tinha ouvido chegar. Está aqui um senhor que diz ser o tutor de Cambridge. Sabes como sou, só compreendi o essencial.

A mãe de Teresa percebia inglês, mas era apenas no que tocava a moda, porque de resto era um desastre.

-Oh – disse Teresa e levantou-se. Desapertou o casaco e deixou-o em cima do sofá branco. – Vamos lá.

As duas dirigiram-se para o escritório e Klaus estava lá, num dos seus melhores fatos, com uma pasta de trabalho e um sorriso dócil nos lábios.

-Ola, Miss Santos – falou ele no seu sotaque britânico e apertando levemente a mão de Teresa, num gesto formal. A corrente elétrica passou por eles os dois mas ambos disfarçaram. – Estava agora a falar com a sua mãe como funciona o papel de tutor na Universidade.

Passaram uma hora e meia a falar sobre a Universidade e a mãe de Teresa tinha ficado bastante convencida. Ao fim de todo aquele tempo, Joana, a mãe de Teresa, sentia que podia confiar naquele homem a sua filha, porque achava que ele iria zelar pelos seus interesses académicos.

Quando Klaus se foi embora, Teresa atirou-se novamente para o sofá e foi quando o telemóvel dela tocou.

-Olá, Sara.

Sofia era o crânio da escola. Ela era a única que batia Teresa e estava no curso de Ciências.

-Já tens a notícia pronta? – indagou ela no seu tom de voz de comando.

As duas eram melhores amigas, mas Sara era implacável com os prazos dos trabalhos.

-Sara, tive o tutor de Cambridge aqui mal cheguei. Passei a última hora e meia a traduzir coisas do inglês para o português.

-Ai, amiga, que sorte te calhou – disse Sara, mas voltou logo ao assunto. – Quando é que achas que me podes enviar a notícia?

-Vou tratar disso antes de jantar. Não te preocupes, sim? Quando acabar mando-te mensagem.

-Está bem. Falamos melhor amanhã sobre isso?

-Combinado – disse Teresa e desligou o telemóvel.

Foi buscar o seu computador portátil do quarto para a sala e ficou a trabalhar na notícia e um pouco no trabalho de Português que era para entregar no dia seguinte, antes de jantar.

Depois de jantar, passou as horas seguintes ao lado da sua mãe, entre livros e cadernos, a organizar os seus trabalhos. Quando era meia noite, ela tinha tudo acabado e pronto para imprimir, coisa que ainda faria hoje, antes de dormir.

-Vou dormir, mãe. Até amanhã – despediu-se ela, dando um beijo na bochecha da mãe, que ainda ficou a ver televisão.

Quando chegou ao quarto, ligou a impressora e imprimiu todos os seus trabalhos. Desligou o computador e vestiu o seu pijama cor-de-rosa. Pegou num livro para ler e deitou-se na cama.

Ela esperava que Klaus não viesse tão tarde como no mês passado, mas quando o relógio marcou meia noite, ela suspirou e deitou-se. Mal fechou os olhos adormeceu instantaneamente.

***

O relógio marcou as seis e meia e Teresa levantou-se a custo. A temperatura fora da cama era horrível e ela pegou no seu robe roxo. Pegou no seu iPhone para ver a sua agenda para hoje, quando reparou numa caixa preta em cima da sua secretária. Pegou na caixa com cuidado. Era de veludo e tinha um laço branco a envolvê-la. Também tinha uma pequena folha A5 dobrada em quatro.

Teresa abriu-a.

Sweetheart,

Já dormias profundamente quando cheguei e não queria acordar-te. Aqui está um presente para usares no Halloween. Talvez nos encontremos lá.

Klaus.

Teresa sorriu e abriu a caixa. Lá dentro tinha uma pulseira de diamantes que tinha custado uma pequena fortuna. Depois do deslumbramento, algo lhe passou pela cabeça: como ele sabia que iria haver um baile de Halloween, e pior ainda: como é que ele sabia que ela podia usar aquela pulseira no seu fato?

Uma coisa ela tinha certeza: ela mal podia esperar para o Baile de Halloween chegar para conversar com ele.

Vestiu-se para as aulas e levou consigo o fato de banho e os livros do instituto. Naquele dia só chegaria às nove horas a casa, algo que não lhe agradava nada, mas tinha que ser.

Quando chegou à escola, encontrou Maria, outra amiga sua. Ela tinha-lhe falado de Klaus muito brevemente, apenas lhe tinha dito que ele seria o seu tutor em Cambridge e tinha-se correspondido por e-mail com ela. Teresa sabia que ninguém iria acreditar nela se ela dissesse que ele era um vampiro e lobisomem ao mesmo tempo; já dizer a primeira coisa ninguém iria acreditar nela!

-Como correu ontem? – indagou Maria enquanto andava com Teresa até aos cacifos.

-Correu bem. Ele foi muito educado. E também disse que havia uma hipótese de vir ao Baile de Halloween.

-O quê? – perguntou Maria, abrindo a boca num grande “O” e sorrindo presunçosa logo de seguida. – Porquê? Acha que és um génio que precisa de ser polido na vida social?

-Isso não faz qualquer sentido – disse Teresa abanando a cabeça e abrindo o seu cacifo. – E por falar no Baile, já arranjaste par?

-Querida, claro que sim. Vou contigo.

Teresa sorriu.

-Lamento, mas eu vou já vou ter par. O meu tutor de Cambridge.

-Argh, fazes ele soar como um velho com uma bengala!

Teresa riu irónica. Klaus era muito mais velho do que um velhote de bengala.

-Vá lá, diz lá quem é! – exclamou Maria.

-Ainda não decidi. Mas aqui e agora, ir contigo é uma ótima solução.

-Então está decidido: vamos as duas! – exclamou Maria dando saltinhos e batendo as palmas com um sorriso de orelha a orelha.

©AnaTheresaC