Lendas De Fendor : O Príncipe Bastardo escrita por Caio Gelmo


Capítulo 4
Capítulo 4 - Novos Aliados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/258217/chapter/4

Todos concordaram que Haszar superou-se como cozinheiro naquela noite. Foi posto a mesa várias travessas com vários tipos de comida: Sopa de legumes apimentada, carne de porco assada, salmão defumado, creme de ervilhas verdes, batatas gratinadas, e um delicioso doce de frutas caramelizadas como sobremesa. Após a farta refeição, os homens continuaram à mesa, conversando e bebendo uma forte cerveja, que até já havia deixado o anão todo vermelho e muito mais alegre do que o normal. Quanto às mulheres, Úrsula fora cuidar da filha caçula, enquanto Harle ficara encarregada da louça suja.

Vendo que Abel já estava começando a ficar embriagado, Corin decidiu que seria melhor lhe contar de uma vez sobre a decisão que a garota havia tomado na noite anterior.

- Gostaria de falar uma coisa muito importante para todos vocês – Ele mantinha a voz firme e decidida

- Finalmente teremos o prazer de ouvir o discurso real do futuro soberano de Fendor. Espera – o anão interrompeu sua própria fala e mantinha uma expressão pensativa, até que percebeu o que tinha feito – Acho que falei demais majestade... Perdoe-me, eu não tinha intenção de contar que vós carregais o sangue Branford. – ele falava enrolado e soluçando, devido à quantidade de álcool que havia ingerido, e, como a maioria dos bêbados, estava quase chorando de arrependimento por ter falado o que não devia.

- Era exatamente sobre isso que gostaria de falar meu bom amigo, não se preocupe.

- Acho que será melhor se eu for o narrador dessa estória garoto – Argrim não havia bebido nem uma gota do vinho.

Colocando o brasão da Mui Nobre Ordem dos Protetores de Fendor em cima da mesa, ele contou sobre as desgraças que o homem de além mar causou ao reino, sobre o jovem filho bastardo do falecido rei, e sobre os planos que tinham para enfrentar o Feiticeiro.

- Eu não tinha noção de que meus hóspedes eram tão nobres assim, peço perdão por não poder dar o tratamento que vocês merecem. – o humilde senhor estava completamente desconcertado com toda a situação.

- Obrigado por contar essa parte Argrim, mas não é somente isso que queria dizer. Pelas historias que a Harle me contou, e pelo que aconteceu a esta terra, eu arrisco dizer que o Feiticeiro já esteve nessas terras. E é por isso que eu gostaria de poder atender ao pedido de sua filha Sr. Abel, e levá-la conosco para que juntos possamos achar uma cura para Diana. – ele fitava firmemente o dono da casa, e todos na sala perceberam que aquilo não era um pedido, e sim um anúncio.

- Eu acho... – mas antes que ele pudesse completar a frase, sua esposa apareceu na cozinha e tomou a frente no assunto.

- Estamos de acordo majestade. Ela tem sangue de aventureiro correndo em suas veias, eu sempre soube que esse dia chegaria.

- Muito bem. Agradeço vossa compreensão Sr.ª Úrsula. Então amanha bem cedo continuaremos nossa jornada.

- Ela será somente um peso morto em combate garoto, levá-la conosco só servirá para adiantar sua morte. – O homem dos olhos brancos parecia impassível aos sentimentos de toda a família.

Antes que qualquer um pudesse dar continuidade à conversa, em um gesto quase imperceptível, Harle arremessou uma faca de cozinha que cravou na madeira da casa, poucos centímetros acima da cabeça de Haszar.

- SANTA MÃE DE DEUS. VOCÊ É LOUCA OU O QUE MENINA?- todo o rubor do anão tinha sumido, dando lugar a um tom pálido de medo.

- Serei um peso morto então? – ela estava com um grande sorriso, divertindo-se com o susto do pequenino.

- Retiro o que disse. Você será bem útil futuramente – e dizendo isso piscou tão sutilmente, que pelo resto da vida a jovem se perguntou se ele realmente o tinha feito.

_____

Já estavam todos do lado de fora da casa, somente esperando a garota se despedir da família.

- Adeus pai. Adeus mãe. Adeus maninha – eufórica demais pra chorar com a despedida, ela a fez de forma bem rápida.

- Tchau. – E dizendo isso, Diana a puxou para perto de si e sussurrou em seu ouvido – O homem branco não é mal, ele só está confuso.

- Claro, e eu sou a Grande Rainha Lucia – Feliz demais para ficar brava com as bobeiras da irmã, Harle limitou-se a ser sarcástica.

- Tome muito cuidado, esse mundo é perigoso pra uma jovenzinha inocente como você querida. – Abel estava muito mais apreensivo pela vida que a filha decidira levar do que Úrsula.

- Deixe disso homem, nossa filha é mais do que capaz de se cuidar. O avô a ensinou muito bem a arte dos ladrões. – a mãe parecia transbordar orgulho pelo grande sorriso que estampava seu rosto.

- É isso ai, não deixarei nenhum tarado abusar de mim papai, e prometo voltar assim que achar uma cura para Diana. – disse a menina indo em direção aos homens, já prontos para partir.

Harle estava usando uma roupa de couro batido bem justa, feita especialmente para ladinos, herança de seu falecido avô. Para aumentar ainda mais a timidez de Corin, a menina iria montar o mesmo cavalo que ele, pois não havia montaria para todos. Ela poderia apostar que o garoto tinha aprendido a montar há muito tempo, pois mesmo tendo a experiência de somente um dia de cavalgada, o garoto já havia aprendido muito bem, fazendo o cavalo trotar de forma macia e não desconfortável como antes.

Acho que seria de bom grado agora explicar um pouco sobre o famoso dom dos Branfords, pois muitos devem estar confusos quanto a isso. Quando alguém da família real atinge catorze anos, o dom começa a despertar naturalmente. Depois disso, essa pessoa irá ter uma melhoria espantosa em todas as suas habilidades físicas, tais como: esgrima, luta corpo-a-corpo, escalada, natação, cavalgada e várias outras. Mas a mudança primordial nesse processo é o amadurecimento do caráter. Os Branfords são naturalmente bondosos, mas depois de pouco tempo com o dom esperto, eles passam de pessoas de boa índole a homens com princípios morais enraizados na alma, prontos a dar a vida para proteger todo o reino ou uma simples garotinha. Sendo assim, sabemos que a cada dia que passa, o jovem Rei fica cada vez mais forte e hábil para a luta que está por vir.

_____

A ladina havia percebido que era muito divertido deixar Corin envergonhado, então a cada vez que o cavalo trotava um pouco mais rápido do que o normal, ela se agarrava a cintura do garoto dizendo que tinha medo de cair, e ele, mesmo gostando de estar perto dela, ficava cada vez mais ruborizado. Haszar, ao contrário do dia anterior, estava quieto e carrancudo, murmurando coisas como: “nunca mais bebo cerveja” ou “maldita dor de cabeça”. À medida que se afastavam de Shaar, eles puderam perceber que a vegetação ao redor voltara a crescer, e dentro de poucas horas já estavam cavalgando sobre grandes campos gramados, que para a jovem ladina, era a paisagem mais linda que vira nos últimos cinco anos.

Foi decidido que montariam acampamento em uma clareira ao fim da tarde, pois assim poderiam aproveitar as últimas horas de sol para treinarem. Enquanto Argrim cuidava dos preparativos para passarem a noite naquele lugar, Haszar ficou encarregado de auxiliar no treino dos jovens.

- Bem, vejamos do que você é capaz menina. Majestade, lute com ela.

- Com a Harle? – balbuciou o garoto corando.

- É claro que é comigo, tem mais alguma menina aqui?

- Encare-a como um oponente qualquer majestade. E não se esqueça que não é nada gentil subestimar alguém. – disse o anão, piscando para o garoto de um modo nada delicado.

- Por favor, não tente pegar leve comigo – ela mantinha uma expressão meiga, porém seu pequeno sorriso denunciava sua malícia.

- Certo – disse ele empunhando a espada.

A garota usava duas adagas curvas, segurando-as de forma que as lâminas ficavam para baixo. Com somente um impulso ela chegou até o garoto e o atacou com um corte duplo. Ele desviou rapidamente e revidou o ataque com tanta força que, mesmo se defendendo, a garota foi jogada para trás.

Ela era rápida e ágil o suficiente para desviar ou defender-se de todos os golpes, mas não conseguia chegar perto para tentar atingi-lo, pois o jovem guerreiro assumira uma postura ofensiva muito forte, golpeando-a pesadamente, o que a obrigava a recuar. A luta se manteve assim durante alguns minutos, até que a garota, devido à tensão, foi encurralada em um grande carvalho. Em um ato desesperado, a ladina o golpeou de forma desajeitada, o que fez com que o garoto facilmente desarmasse sua mão esquerda e aproveitasse a oportunidade para colocar a lâmina de sua espada em seu pescoço, vencendo assim o combate.

-Muito bem. Parabéns aos dois. Vossa majestade melhorou bastante, e você também me surpreendeu menina, mostrou que realmente sabe se defender. Foi uma luta esplêndida. – Disse Haszar batendo palmas.

Antes que Corin pudesse se quer mover-se para guardar sua espada, a garota o puxou para perto de si e beijou rapidamente seus lábios. Ele ficou vermelho no mesmo instante, e fraquejando a mão que empunhava a espada, abriu sua guarda para que a ladina pudesse lhe derrubar com um chute lateral no joelho e colocar a adaga entre seus olhos.

- Pode até ter melhorado, mas a vencedora aqui fui eu. – Disse com um sorriso largo no rosto

- Realmente você é muito perspicaz menina, apesar de que não acho que aproveitar-se da inocência de um homem seja um método muito honesto de vencer- disse o anão rindo.

- Eu sou uma ladina, nem sempre sou honesta. – E ao dizer isso guardou sua adaga e ajudou Corin a se levantar.

- Você só fez isso para me vencer então? – indagou de um jeito tímido.

- E também por que te acho um fofo. – e para surpresa dele, ela abaixou a cabeça e corou muito ao responder.

Alheio ao clima romântico que pairava no ar, o anão interrompeu a conversa dos dois adolescentes jogando pesos de treino em cima deles e dizendo:

- Bem, de qualquer jeito foi uma ótima demonstração. Agora eu irei ensinar algumas coisinhas para melhorem suas posturas de batalha.

_____

Ao anoitecer, o treino deu lugar ao jantar que, pela primeira vez, havia sido preparado por Argrim; um grande javali selvagem assado na fogueira, temperado apenas com sal. Mesmo sendo um prato deveras rústico, foi um deleite para todos, que estavam famintos devido à lassidão.

Após o famigerado descanso que se costuma ter após as refeições, estavam todos em volta da fogueira conversando descontraidamente, até que o assunto rumou para as batalhas.

- E vocês já estiveram em alguma guerra de verdade? – indagou Corin com a curiosidade usual.

- Eu não – Disse Haszar

- Então como você luta tão bem assim?

- Eu aprendi tudo que sei sobre forja com meu velho pai; e como uma das habilidades primordiais para ser um bom ferreiro é saber manejar todos os tipos de arma, pois só assim você poderá saber se ela esta bem feita ou não, é comum os que seguem essa profissão terem um bom tino para as lutas. Agora você tem que entender que eu disse que nunca participei de uma guerra, e não que eu nunca estive em combates reais majestade. – ao dizer isso, levantou parte de sua camisa, mostrando as diversas cicatrizes espalhadas por todo o seu abdômen.

- E você Argrim? – quem havia feito a pergunta agora era Harle.

- Já expulsei o clã dos gigantes que tentou invadir Victorya, lutei contra o exército góblin nas fronteiras do Reino Bárbaro, matei as harpias de Grakkur derrotei o dilacerador cinzento que assolava a floresta élfica de Vedania, venci a tribo de ciclopes das cavernas que atormentavam os vilarejos do leste, estive na guerra contra a morte carmesim... – ele fitava perdidamente o horizonte, lembrando-se de cada gota de sangue que fora derramada durante essas batalhas.

- Caramba homem. De tudo isso que falou a única coisa que me recordo e da morte carmesim. Quando você enfrentou todo o resto? Ou melhor, o que você fez nos últimos catorze anos? – O anão parecia aturdido com o que acabara de ouvir.

- Eu percorri todo o continente em busca de uma coisa que infelizmente não encontrei, e durante esse percurso eu tive alguns encontros não muito agradáveis. – Argrim parecia ter saído de seu transe e mantinha os olhos baixos, como se os escondesse

- Encontros não muito agradáveis foram os que tive em minha juventude; até hoje tenho pesadelos com minha primeira namoradinha, a coitada tinha mais barba do que eu. Agora isso que você nos contou parecem ser encontros terrivelmente horríveis; e afinal de contas, o que diabos é um dilacerador cinza?

- Cinzento – corrigiu ele – É uma besta gigante com garras grossas e extremamente afiadas, não são muito comuns em nosso reino.

A conversa foi interrompida por um baixo som de trote de cavalos chegou, e em um instante, todos estavam com armas em mãos e prontos para um possível embate. O barulho crescia perceptivelmente, sinalizando que fosse o que estivesse o causando, estava vindo em direção a eles. Para Corin, os minutos de espera que se seguiram a isso foram como uma eternidade, mas o garoto ficou mais aturdido ainda ao ver o que causava o barulho.

Um grande grupo de centauros adentrou a clareira. A parte humana se assemelhava muito a um elfo, se diferenciando apenas pela musculatura definida e pela tez parda. Em todos eles, a parte eqüina era maior do que qualquer cavalo comum, já a cor da pelagem variava do marrom claro até o mais completo negro. Ao verem que finalmente chegaram ao seu destino, todos se ajoelharam em reverência, e o que parecia ser o líder deles se pronunciou.

- Nós juramos lealdade ao Rei Corin Branford, que os Deuses o protejam e lhe dêem uma vida longa e feliz. – Disse ele com uma voz profunda que ecoou por toda a floresta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lendas De Fendor : O Príncipe Bastardo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.