Lendas De Fendor : O Príncipe Bastardo escrita por Caio Gelmo


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Início da Jornada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/258217/chapter/2

Nesse ponto da historia, acho que seria bom lembrarmos que Fendor é um reino de magia, onde um a cada cinco jovens saem de suas vilas para conquistar fama e fortuna como aventureiros. Torna-se fácil entender então, como a mãe de Corin aceitou tão bem o destino do filho, pois se o mesmo fosse enfrentar os perigos do mundo, que ao menos fosse com companhia de uma pessoa forte como o Sr. Dihalk.

Mas deixemos a velha senhora de lado e voltemos ao jovem Branford que agora já estava na estrada rumo a Malpetrin, a maior cidade comercial do reino.

Corin não gostou muito da idéia de ter que ir a pé enquanto Argrim cavalgava confortavelmente, mas achou que seria de bom tom não reclamar já que ele lhe prometera comprar todo o equipamento de guerreiro em Malpetrin, o que inclui uma montaria.

– Ainda falta muito para chegarmos Sr. Dihalk?

– Mais algumas horas de caminhada garoto, e pode me chamar de Argrim.

– Hm... Estava pensando aqui Argrim, por que o Rei Prim mandou somente você para me buscar?

– Como a Grande Rainha Lucia costumava dizer: a você eu conto somente sua historia, e a de mais ninguém. – Já era a terceira vez no dia que ele usava essa resposta pras perguntas de Corin.

– Certo, então se eu lhe perguntar algo sobre mim você responderia?

– Certamente que sim.

– Se meu pai que era o Rei não conseguiu vencer o tal feiticeiro, como eu, um garoto que nem sabe segurar uma espada, vai conseguir?

– Seu pai fora pego de surpresa, e quanto a você não saber manejar uma arma, eu mesmo lhe treinarei na arte do combate, mas você deve se lembrar que terá o Dom dos Branford para lhe ajudar. – O homem respondia sempre sem nem olhar pro menino.

A conversa seguiu até a cidade comercio, mas não há mais nada de interessante nela. O que nos interessa agora é o que eles fizeram quando chegaram ao seu destino.

Imagine uma cidade onde se compra e vende de tudo, com os melhores e mais baixos preços, com os mais variados tipos de pessoas. Essa é a grande Malpetrin. Logo que os dois chegaram à cidade já puderam ouvir os berros dos feirantes da rua principal, mas o que Argrim queria não estava ali, estava no bairro dos anões.

– Aonde iremos agora? – O garoto se sentia maravilhado com tudo na cidade, mas queria mesmo era comprar logo sua arma, ele estava pensando desde cedo qual seria o tipo que iria escolher.

– Iremos pegar uma encomenda que fiz a um amigo.

– E quem é esse amigo?

– Haszar, o melhor ferreiro que conheço.

_____

Antes de chegarem ao bairro dos anões eles passaram pelo distrito dos elfos, onde pode se encontrar os mais finos trajes, pela rua dos gnomos, onde se vende as mais preciosas jóias, e por muitos outros lugares. Mas até mesmo Corin soube quando estavam chegando à casa de Haszar, pois pode ouvir o barulho dos martelos e sentir o calor que dezenas e dezenas de forjas produziam a aquele lugar.

Eles entraram em uma pequena loja chamada “Bigorna de Prata”. Havia várias armas e armaduras presas nas paredes ou penduras no teto. Enquanto o menino admirava uma grande alabarda dourada, Argrim se dirigiu ao anão que estava no balcão lendo um velho grimorio.

– Boa tarde Hick.

– Ahh. Boa tarde Sr. Dihalk, meu tio já esta a sua espera. Ele esta trabalhando na forja, pode entrar. – dizendo isso ele apontou a uma porta atrás de si e voltou a sua leitura.

– Obrigado. Pare de babar por isso e venha logo garoto, aposto que você irá preferir o que vou lhe mostrar agora. – Ele estava sorrindo pela primeira vez no dia.

A porta dava em um pequeno corredor onde havia algumas portas do lado e uma grande luz vermelha vinda do cômodo ao fundo. Ao transpassarem o ultimo umbral, deram de cara com Haszar somente de calças, mostrando o amontoado de músculos que conseguira trabalhando anos e anos como ferreiro. Não percebendo os visitantes na sala, ele continuou com as batidas em sua bigorna.

– Alô Haszar – Disse Argrim encostando a mão no ombro do anão.

– Argrim seu canalha sujo. Achei que você não vinha nunca. – Haszar era sorridente e falava alto, bem diferente do seu sobrinho.

– Eu cheguei exatamente na hora combinada, você que estava ansioso como sempre – Os dois pareciam ser companheiros de longa data.

– Meu relógio deve estar adiantado. E este deve ser o menino Branford certo? – Os olhinhos negros do anão brilharam de excitação ao ver o futuro Rei de Fendor.

– Meu nome é Corin senhor, muito prazer. – E dizendo isso estendeu a mão para cumprimentar o homenzinho.

O anão ajoelhou-se, e segurando a mão do menino ele a beijou e disse:

– Então que os Deuses abençoem o Rei Corin Branford.

– Mas... Mas eu ainda não sou rei. – O menino havia corado muito e olhava pra baixo com muita vergonha.

– Para mim você já é. Agora me deixe ter o prazer de lhe entregar isso majestade. Ele se levantou e entregou ao garoto um longo objeto enrolado em um sedoso cetim preto.

Ao desenrolar o pano, o garoto viu em suas mãos a mais bela espada de toda Fendor. A lâmina era inteiramente branca e safiras adornavam toda sua empunhadura.

– Essa espada era de seu pai, e, segundo a lenda, pertencera a Edmundo, irmão da grande Rainha Lucia. Ela vai ser sua maior companheira nas batalhas que estão por vir. – disse Argrim

– Quase não tive trabalho com ela, a única coisa que fiz foi limpar e polir, uma espadas dessas nunca se quer perde o corte. – disse o anão

O Jovem Rei realmente se encantou com o presente, pois sentia que aquela espada fora feita especialmente para ele. E estava certo. Pra qualquer outra pessoa aquela é somente uma arma muito bonita e nada mais, mas na verdade ela porta uma incrível magia feita especialmente para a família Branford.

– Ela é linda, quando poderei treinar com ela? – Corin traspassava excitação em sua voz.

– Muito em breve, agora eu irei comprar suprimentos e uma montaria pra você, espere aqui, eu devo voltar ao anoitecer.

–Se você não se importar, eu posso ensinar algumas coisinhas a ele enquanto isso.

– Agradecerei muito se você fizer isso Haszar. – Argrim já voltara a ter a expressão seria de sempre.

– Não tenho mais nenhuma encomenda pra hoje, faremos um lanchinho e depois treinaremos alguns movimentos, esta de acordo majestade?

– Sim sim, mas não precisa me chamar de majestade senhor. – Corin ficava realmente incomodado com esse tipo de tratamento tão formal.

– Você é nosso Rei, é fundamental que eu lhe trate com o devido respeito, agora quanto a mim, pode me chamar pelo nome mesmo, ser chamado de senhor só faz me lembrar do quanto estou velho – e falando isso caiu na risada. Ele era o tipo de pessoa que ria até mesmo da própria desgraça.

– Já vou indo então, comporte-se garoto.

Despedindo-se, Argrim se encaminhou em direção à saída, deixando-os sozinhos. Depois que Corin aprendeu como se usava uma bainha e prendeu a espada no cinto, eles foram almoçar, pois já passava da uma da tarde, e ambos estavam com muita fome.

Na cozinha o Anão explicou que sua mulher faleceu á muito tempo devido a uma doença grave, e desde então era ele quem cozinhava na casa, e mesmo não sendo um bom cozinheiro, ainda era melhor que seu sobrinho, pois esse conseguia queimar a panela fervendo água. Mas para a surpresa do rapaz, a refeição estava realmente gostosa, eles tiveram pato assado com batatas, molho de ervas, e um refogado de legumes que apesar da aparência nada convidativa, era delicioso. Quando os três acabaram de comer, Hick voltou para a recepção da loja enquanto os outros dois cuidaram de tirar a mesa e lavar os pratos.

Assim que tudo estava limpo, Hazsar foi ao deposito da loja e voltou com uma cota de malha e um corselete de couro para o garoto, pois segundo ele, Corin não tinha físico para uma armadura, mas precisava de uma proteção de batalha, então aquilo estava perfeito por hora. Quando eles já estavam devidamente equipados, foram para o terreno nos fundos de casa.

– Não sou muito bom com espadas majestade, minha especialidade são martelos, mas acho que conseguirei ensinar ao menos o básico. – O anão usava uma espada feita especialmente para seu povo, curta e de lâmina larga, e ele realmente não estava mentindo, era um oponente temível com o martelo anão, mas não passava de um guerreiro mediano com outras armas

Como o garoto nunca havia segurado uma espada na vida, o pequenino mestre começou com técnicas básicas de posicionamento de ataque e defesa, mas para o espanto dele, Corin as dominara muito rápido, fazendo com que passasse a lhe ensinar como realizar cortes agíeis e de maior aproveitamento. Em menos de uma hora de treino o combate já estava acirrado, Corin já conseguia defender muito bem e fazia golpes rápidos e certeiros que pressionavam o anão. Quem não conhecesse o garoto não imaginaria que ele era um simples principiante. Seus movimentos fluíam tão naturalmente que a espada parecia uma extensão de seu braço. Já estava anoitecendo quando eles pararam de treinar.

– Realmente vossa majestade não nega o sangue dos Branfords, és um guerreiro nato. – Disse o homenzinho ofegando.

– Eu nunca imaginei que eu pudesse lutar assim, mas aposto que se você estivesse usando um martelo eu não teria chances – ele estava tão cansado quanto o companheiro de batalha.

Mesmo sabendo que isso era verdade, a única coisa que o anão respondeu foi:

– Acho melhor entrarmos, já esta ficando tarde e Argrim não demora a voltar.

Realmente ele não demorou, antes que o jantar estivesse pronto ele já havia voltado.

_____

Depois de terminarem outra refeição maravilhosa, estavam todos sentados na sala de estar conversando.

– Os cavalos estão prontos para partir em um estábulo perto da saída da cidade. Iremos amanhã bem cedo. – disse Argrim.

– E pra onde vamos? – perguntou Corin

– Seguiremos em direção a Victorya, a capital do reino – respondeu o homem

– Minhas coisas estão prontas desde cedo, a caminho do estábulo eu alugo um lagartonho. – O anão continuava com seu grande sorriso por trás da barba.

– O que é um lagartonho? – perguntou o garoto, pois ele que havia crescido naquela pacata vila, não conhecia quase nada sobre as incríveis criaturas de Fendor.

– É uma espécie de pequeno réptil de montaria, muito usado por anões. Você não tinha dito nada sobre vir conosco Hazsar. Tem certeza de que quer fazer isso?

– Mas é claro que quero. Seria uma desonra para mim se eu negar ajuda a meu Rei. Além do mais velho amigo, você sabe que eu amo este reino, farei tudo que puder pra expulsar aquele feiticeiro imundo daqui.

– Você sabe dos riscos que irá correr se vier com a gente, mas apreciarei muito vossa companhia. – Argrim conhecia muito bem as habilidades em batalha do anão, e sabia que ele seria de grande ajuda futuramente.

– O único risco que vou correr indo com vocês e o de ter minha loja falida pelo incompetente do Hick, ele não consegue forjar nem uma simples faca – E falando isso deu uma alta e comprida gargalhada.

A conversa continuou até Argrim lembrar pela décima vez que eles iriam ter que levantar cedo no dia seguinte, o que fez com que todos fossem se deitar.

_____


Já fazia duas horas que Corin estava deitado sem conseguir pregar os olhos quando decidiu se levantar para beber alguma coisa. Ao entrar na cozinha, o garoto deu de cara com Hazsar sentado a mesa, mas diferente ao contrario da expressão alegre e sorridente que o anão costuma ter, ele agora estava sério e pensativo.

– Também não conseguiu dormir majestade?

– Não. Tudo está muito confuso pra mim, e ando me preocupando com toda essa responsabilidade que caiu em minhas costas. E você Hazsar, por que não esta dormindo?

– Estou ansioso demais pra isso. Já faz anos que não participo de uma batalha, não sei se terei o mesmo desempenho.

– Mas é claro que terá. Você é um guerreiro formidável, certamente muito melhor do que eu.

– Vossa majestade ainda não compreendeu o tamanho de suas habilidades. Você é um Branford, e todos dessa família são lutadores por natureza, mas devo lembrar que isso não é motivo para deixar de treinar.

– Isso é uma das coisas que mais me incomoda. Como eu consegui lutar tão bem hoje se até semana passada eu não conseguia se quer me defender de um garoto dois anos mais velho que eu?

– Depois que o seu dom se mostrou pela primeira vez, você começou a adquirir suas habilidades de guerreiro. Isso funciona mais ou menos como a puberdade majestade.

– Entendo.

– Existe mais alguma coisa que eu possa tentar explicar pra vossa majestade?

– Só mais uma. Por que o Argrim não me fala nada sobre seu passado?

– Isso é um assunto deveras complicado, mas já que me propus a explicar, vou tentar contar tudo que sei. Mas vamos continuar essa conversa lá fora, não queremos acordar o nosso assunto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!