Rosas Flamejantes escrita por Borboletas Azuis


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esse é o primeiro capítulo, reescrito. Me falem se estiver bom.



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Melody Sparks

– Me largue! – gritei enquanto me debatia. Ele me ignorou e me jogou na cadeira, me amarrando com uma corda grossa, saindo de lá em seguida, me deixando sozinha. A luz do local onde eu estava era fraca; e um vento forte entrava pela janela escancarada.

A porta da cabana em que eu me encontrava bateu, e o estrondo fez com que eu me assustasse. Maldita a hora que eu fui concordar com isso. Baixei a cabeça, pensando em uma boa estratégia para sair de lá.

Se eu ao menos conseguisse pegar o meu colar... Mexi minhas mãos, tentando, em vão, afrouxar as cordas. A única coisa que consegui fazer foi esfolar os pulsos.

Melody! Cadê você?! – ouvi a voz distante de minhas companheiras.

Eu queria gritar, mas sabia que se eu gritasse, ele voltaria.

Fiquei quieta, com a cabeça baixa. A franja caindo nos olhos. Então é assim que acaba a minha história? Presa em uma cadeira em uma cabana no meio de uma floresta isolada?

Sempre soube que para fazer o que fazemos, é um risco que temos que correr.

O homem voltou, e levantou o meu rosto em um gesto bruto, para que eu o encarasse.

– Eu quero água. – disse.

– Não. – ele respondeu, e apertou meu rosto com a mão, que o segurava.

– Eu estou com sede. – ralhei.

O homem bufou, soltou meu rosto e saiu de lá, com passos pesados. Seria uma questão de tempo até ele voltar. E eu esperei pacientemente, encarando o colar com o pingente de lobo que eu carregava em meu pescoço.

Eu notei que ele havia voltado quando segurou minha trança e a puxou com força. Eu ergui o rosto e travei o maxilar.

Vi que o homem segurava um copo de vidro com água. Permaneci imóvel.

– Não vai beber? – perguntou irritado.

– Como poderia? Estou com minhas mãos amarradas. – respondi no mesmo tom.

Ele resmungou algo e foi para trás de mim, e pude sentir que ele desamarrava as cordas que prendiam meus pulsos. Quando eu já estava com as mãos soltas, peguei o copo e bebi da água. Sentia o seu olhar cravado em mim, mas não ergui meus olhos, e após esperar um pouco, deixei o copo cair no chão. Este, por sua vez, se espatifou em diversos pedaços. Isso foi o suficiente para distraí-lo tempo o suficiente para eu arrancar o colar de meu pescoço e empunhar a adaga de prata.

Cortei as cordas que prendiam minhas pernas, levantei-me e enfiei a adaga no abdômen do vampiro, que caiu, logo ficando imóvel.

Eu corri pela floresta procurando as garotas que estavam comigo. Estava atenta aos sons, e quando ouvi vozes conhecidas, parei. Andei mais alguns passos, lentamente, e avistei uma grande árvore. Fui até ela e procurei um galho forte o suficiente para eu me apoiar, quando o achei, foi fácil terminar de subir.

Já lá em cima, olhei em volta, procurando as garotas, ou qualquer sinal de movimento. Vi de relance o reluzir de uma faca e saltei da árvore, caindo em silêncio e perfeito equilíbrio.

As duas garotas se viraram, com as facas empunhadas, e eu recuei um passo.

– Não se preocupem. Sou eu. – disse calma, e em voz baixa.

Elas abaixaram as armas.

– Agora vamos embora.

– Mas... – Harriet começou, mas não a deixei terminar.

– Sem “mas”. Nós precisamos ir.

– Melody, ainda faltam mais dois. Não podemos abandonar tudo agora. – Ruby tentou.

– Eu já disse para irmos embora.

– Você nunca fez isso. Por que quer ir e deixar uma coisa inacabada?

– Porque eu estou machucada! Não posso continuar! Estão satisfeitas agora? – disse quase gritando de frustração.

Eu fora capturada pelo vampiro porque me machuquei durante a busca, e ele sentiu meu cheiro.

– Vamos, temos que voltar. E rápido. – Ruby assumiu o tom autoritário.

Estar machucada durante uma caçada pode afetar todo o curso das coisas. Tudo se volta contra você, e pode acabar morta. Por isso iríamos embora. Olhei para meus pulsos, antes amarrados, estavam em carne viva.

O vento que soprava era cortante, pinicava a pele, esvoaçava o cabelo e fazia o corte em meu braço arder. Mordi o lábio inferior, na esperança de que aquilo fosse amenizar a dor. Mas a sensação de adagas atravessando minha pele continuou.

Foram vários minutos de caminhada, até que finalmente chegássemos ao grande prédio que era a sede da Organização de Caça Aos Vampiros.

Atravessei o saguão e fui para o elevador, indo para o décimo primeiro andar, onde ficava o meu quarto.

Sentei-me na cama e tirei as botas enlameadas que estava calçando. Suspirei, exausta e fui para o banho.

Estremeci quando a água quente entrou em contato com o meu machucado. O banho era relaxante, e eu tentei terminar ele ignorando a dor que estava sentindo.

Quando voltei para o quarto, com uma toalha enrolada no corpo e uma escova de cabelo na mão, vi que o meu celular estava tocando. O tirei de cima da cama e atendi

Tia Anne? Está tudo bem? – perguntei, sorrindo de leve.

Olá querida. Estou bem, e você? – pelo seu tom de voz dava para perceber que estava sorrindo.

Estou bem tia. Por que ligou?

Melody, você não me informou se volta para casa essa noite ou não. Liguei para saber.

Eu nem me lembrava de que o dia de voltar para casa estava chegando. Estava concentrada no trabalho e não me dei conta de que o tempo estava passando. Isso não significa que eu não me importe com minha família. Essa família que se resumia na minha tia, meu tio, um primo e um homem distante que é meu pai.

Eu realmente queria voltar para casa, mas estar com uma caçada inacabada me deixava com uma incerteza, uma sensação de que não está tudo certo. Deixar vampiros soltos e vivos por aí é um problema. E esse problema dobra quando estão com uma sede incontrolável de sangue humano.

Eu fiquei uns minutos ponderando minhas decisões, e consegui me convencer de que poderia ficar com minha família e não fugir tanto das responsabilidades, porque estaria protegendo todos eles. E foi isso que decidi, a tempo de ouvir Anne me cobrando uma resposta.

E então Melody? Virá ou não?

Irei sim. Vou terminar de arrumar minhas coisas, e mais tarde estarei aí.

Ruby e Harriet poderiam cuidar dos vampiros enquanto eu estivesse fora, não é? Esse é o trabalho delas também.

Ótimo! Excelente! Eu e seu tio estaremos esperando. Não se atrase! – ela disse e eu sorri. A mesma Anne de sempre. – Ah! E mais uma coisa, use algo bonito!

Posso saber o motivo? – ri.

Teremos um jantar, ande logo. Sem mais discussões. Vá se arrumar. Até logo querida.

Até logo tia Anne. – e ela desligou.

Coloquei cuidadosamente o celular sobre o criado-mudo, sentei-me na cama, e logo comecei a pentear o meu cabelo.

Um jantar... Possivelmente algo importante, pessoas importantes, com certeza.

“Use algo bonito”

Eu sabia exatamente o que vestir. Havia comprado um vestido faz tempo, e até hoje nunca tive um motivo para usá-lo. Era vermelho, bonito e não muito extravagante.

O vesti, fiz uma trança no cabelo e até usei um pouco de maquiagem. Depois disso fui arrumar a minha mala. Até alguém bater na porta.

– Melody? – ouvi alguém me chamar após as batidas cessarem.

– Entre. – disse enquanto vasculhava minha bolsa.

Me virei e vi Ruby entrar no quarto. A garota me olhou com um olhar confuso.

– Onde vai? – ela perguntou, sentando em minha cama.

– Vou voltar para casa, como todo ano nessa mesma época. Anne acha que como estou estudando, esse é o período de folga. – eu expliquei.

– Ah... – ela baixou o olhar. – Harriet também vai passar um tempo com a família, vai pra casa amanhã. Eu vou ficar por aqui, como sempre...

O que acontece com Ruby é o seguinte: Ela perdeu os pais aos oito anos de idade, em um incêndio em sua casa, que aconteceu enquanto ela estava na escola. Ela não tem parentes próximos, então acabou indo morar com uma tia distante por uns anos, até que Charlotte, nossa chefe, a encontrou e decidiu que a treinaria. Ruby logo aceitou, não gostava nem um pouco da tia, e o sentimento ainda permanece dessa forma.

– Eu vou sair junto com Harriet e Miranda, tinha vindo aqui te chamar, mas não tem chances de você vir conosco, não é? – ela ergueu as sobrancelhas.

– Sinto muito, de verdade. Mas Anne me lembrou de que é o dia de ir pra casa, e vai ter um jantar importante, ao que parece.

– Então por isso está arrumada?

– Exato. – baixei o olhar, sem graça. – Podemos sair quando estivermos todas aqui novamente.

– Por mim tudo bem. Então até depois. Mande um oi para Anne.

–Claro que sim. Até daqui a uns dias. – ela acenou e saiu do quarto.

Peguei a minha bolsa, as chaves do apartamento e minhas malas, saindo do quarto logo em seguida, seguindo para o elevador e descendo. Havia chamado o táxi, que já estava me esperando.

Saí do elevador e atravessei o saguão, dando um aceno para Noah na metade do caminho.

Somos muitos aqui na Organização. Até crianças tem aqui, mas elas somente treinam e estudam. A atividade em campo fica para os mais velhos, a partir dos dezessete anos. A sede da Organização fica aqui em Paris, e há vários outros espalhados pelo mundo.

Assim que sai do prédio vi o táxi me esperando. O motorista colocou a mala no porta-malas para mim, enquanto eu entrava no carro e dava o endereço da casa da Anne. Durante o caminho todo até a casa de minha tia, eu passei olhando pela janela. Estava tão alheia as coisas que me surpreendi quando chegamos, então acordei para vida, paguei o taxista e peguei minhas malas e as levei até a porta de casa. Toquei a campainha e esperei alguém chegar, porque quando se esquece da chave é isso o que acontece.

A pessoa que veio abrir a porta foi Jeremy, o meu primo que eu estava morrendo de saudades, por isso me joguei em cima dele assim que o vi. O garoto riu e me abraçou apertado, beijando minha testa quando me colocou no chão.

– Você veio. – sorriu. – Achei que tinha se esquecido de nós. – ele estreitou os olhos, mas o seu sorriso permanecia.

– Eu também senti sua falta, Jer. – ri baixo e entreguei minhas malas.

– Continua folgada, exatamente como eu me lembrava. Mas eu sou um bom primo, então vou fazer isso por você. – ele levou as malas para dentro de casa e subiu direto para o meu quarto, deixando as coisas lá e saindo, falando que era para eu descer logo, porque os amigos de meu tio iriam chegar.

Eu fiquei imóvel no meio do meu quarto, olhando para tudo, absorvendo os detalhes e matando a saudade. Porque eu senti falta, muita falta. Andei por todos os cantos do cômodo, e quando cheguei as janelas, vi um carro preto parando em frente a casa.

Eles chegaram, mas eu não fazia a mínima ideia de quem eram eles. Dei de ombros e me olhei no espelho antes de descer. Parei no topo da escada, olhando as pessoas ali. Um homem que deveria ter a idade de meu tio, e um garoto de minha idade.

– Melody! Venha cá! – chamou Anne.

Assenti e desci as escadas sem pressa. O homem conversava com meu tio e o garoto me encarava, e aquilo me incomodava. Simplesmente odeio que me encarem.

– Ele está te encarando. – Jeremy sussurrou no meu ouvido, e indicou com a cabeça o garoto.

– Eu sei... – sussurrei de volta e fui até a minha tia, com um sorriso no rosto, pois sou educada.

– Melody, este é Lewis Beaumont – ela indicou o homem mais velho –, ele começou a trabalhar com o seu tio faz pouco tempo. Lewis, essa é a Melody, minha sobrinha.

O homem sorriu para mim, e eu fiz o mesmo, um pouco forçado, mas tanto faz. Ele estendeu a mão e eu o cumprimentei. A mão dele era fria... Um pouco fora de comum.

– Esse é o meu sobrinho, Charles Beaumont. – Lewis indicou o garoto. Bem, então o nome dele é Charles, e ele continuava me encarando. Eu travei o maxilar e acenei com a cabeça.

Charles estendeu a mão, repetindo o gesto do tio, e eu, como a garota educada, o cumprimentei também. Eu achava que o conhecia de algum lugar, eu tinha quase certeza, e uma sensação incomoda começou.

Depois das apresentações, o silêncio se instalou ali. Uma coisa que chegava a ser sufocante, mas eu não ousei parti-lo. Então Anne o fez.

– O jantar já vai ser servido. – ela anunciou e seguiu para o caminho que ia até a sala de jantar da casa.

Charles veio até mim, possivelmente para conversar, mas não sabia o que ele queria comigo.

– Então... – ele começou e eu o olhei – Qual a faculdade que você faz?

Por um momento eu gelei, mas depois passou, e eu simplesmente respondi a pergunta:

– Faço fotografia. Mas estou de férias por ora, então venho passar esse tempo com Anne. – saí andando.

– E o seus pais? –Charles logo me alcançou. E eu me perguntei se ele era sempre tão intrometido.

– Eu não gosto de falar nisso, e tampouco quero, então, por favor, nem insista. – disse fria.

A minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, assassinada. Por um vampiro. Ela era caçadora, assim como eu sou agora. Claro que não foi isso que falaram para a família, mas eu descobri a verdade uns anos depois, quando Charlotte foi atrás de mim, em um dia de escola. Ela me contou tudo, tudo o que eu não sabia. E ela estava disposta a me treinar e eu quis ser treinada depois de descobrir a verdade, então não ouve nenhum impedimento.

Eu jurei que iria seguir os passos de minha mãe, ser uma caçadora tão boa quanto ela já foi, e assim poderia vingar a sua morte.

O meu pai é um caso complicado, e eu odeio falar dele ou até falar com ele. Ele está vivo, mas vive viajando, sem se importar com a filha que tem, nunca se importou realmente. Eu sofri. Sofri por anos por causa da falta que sentia dele, mas ele nunca se importou. E eu tinha Anne, que sempre cuidou de mim. O Jer, que era como um irmão e um tio, esse sim é o meu pai. Aquele homem que vive viajando? Não, ele não é mais nada.

– Se você quer assim, tudo bem. – ele assentiu e seguimos o resto do caminho para a sala de jantar em completo silêncio. Sentei-me ao lado de Jeremy, que como o bom quase irmão que ele é, ficou me cutucando.

Meus tios e Lewis conversavam, enquanto Jer, Charles e eu permanecíamos quietos. E o assunto dos outros não me interessava nem um pouco, portanto não fiz questão de prestar atenção.

– Eu já vou para o meu quarto. Licença. – levantei-me e saí do lugar, com uma calma que não me pertencia, porque assim que eu já estava longe o suficiente de lá, eu corri, e só parei quando cheguei ao meu quarto e escancarei as janelas.

Eu precisava de ar, e esse logo encheu meus pulmões assim que respirei fundo. A sensação inquietante só piorava. Eu sabia que conhecia Charles, no fundo eu sabia, e isso não me agradava nem um pouco. Aqueles olhos azuis não me traziam segurança nenhuma. Eu precisava descobrir de onde o conhecia, ou ficaria louca.

Ouvir a porta de meu quarto batendo fez com que eu abandonasse meus pensamentos e me virasse para dar de cara com a pessoa. Mas não havia ninguém ali.

Não no meu campo de vista. Mas tinha uma pessoa ali naquele quarto comigo. Eu sentia isso. E o que estava ali não era exatamente uma pessoa.

Um vento viu passou por mim, e ouvi o barulho da janela sendo fechada. Mas novamente, quando eu me virei, não havia ninguém ali.

Me virei para onde estava antes, e Charles estava logo a minha frente, os lábios moldados por um sorriso irônico e irritante. Eu movi minha mão até o pescoço, na intenção de pegar o meu colar, mas ele não estava lá.

O Beaumont alargou o sorriso e levantou a mão. Ele segurava o meu colar na altura de meus olhos. E eu respirei fundo, e resisti à vontade de avançar de vez no garoto.

– Procurando isso?


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Notas finais do capítulo

Me falem como ficou. Eu realmente preciso saber o que vocês acham.
B.A.