Harry olhou a porta e decidiu respirar um pouco de ar fresco, sentir cheiro de grama, descansar um pouco mais e recomeçar. Ele se sentou no canto da casa, e ficou contemplando o escuro e o vazio. Apesar de tudo aquilo, Harry se sentiu leve e feliz. Ele tocou a cicatriz que não arderia nunca mais, e um sorriso escapou se seus lábios. Tudo aquilo não havia sido em vão, havia acabado, finalmente, depois de tanto tempo…

– Aliviado? – perguntou Hermione, de pé, ao lado de Rony.

– Acho que sim – suspirou ele olhando para os amigos.

– Podemos nos sentar? – perguntou a menina.

– Porque não poderiam? – respondeu Harry gentilmente. Cada um se sentou em um lado de Harry.

Por um momentos, os três ficaram em silêncio e um filme se passou pela cabeça de Harry. Ele pensou em tudo que havia vivido, e agora, estavam ali.

– Sabe, acho que vamos ter muitas histórias para contar - murmurou Ron, e os três riram.

– Muitas! - concordou Hermione. - Isso daria um bom livro - Brincou a garota. - Falando em livros… Vocês pretendem voltar a Hogwarts?

– Eu não queria, mas talvez volte já que ainda não sei o que fazer ainda - Ron deu uma piscadela para Mione, que revirou os olhos.

– Eu vou - disse Hermione decidida. - Preciso ter todos os anos completos no meu currículo porque pretendo trabalhar no Ministério da Magia, e se não tiver o sétima ano de Hogwarts, pode ser algo muito grave e até mesmo uma mancha nele. E você, Harry?

– Eu não sei, Hogwarts seria uma boa… - seus olhos correram para Gina, e tanto Rony quanto Hermione repararam nisso - Eu não sei.

– Vocês já conversam? - Hermione perguntou a Harry se referindo a Gina. Na hora, Rony ficou desconfortável com a conversa, não gostava de falar da vida amorosa de sua irmãzinha com o seu melhor amigo.

– Já. Mas… Não. Conversamos, contei a ela os acontecimentos, mas, sobre… nós, não conversamos.

– Espero que não a magoe Harry, ela sofreu muito quando a deixou ano passado - atirou Rony.

– Ron, por favor - disse Hermione antes que Harry pudesse responder algo. - Vá falar com ela, aproveite que está sozinha.

– Você está certa, Hermione. E ah Ron, prometo que se eu quebrar o coração dela de novo, você pode quebrar minha cara, com toda razão. - Harry de levantou e foi na direção da menina. Ele ouviu ainda Hermione repreendendo Rony ao fundo, mas isso não importava, apenas olhava Gina e nas coisas que ele iria falar para ela.

– Estou incomodando? - perguntou Harry atrás da menina.

– Claro que não, jamais atrapalharia - Gina deu um sorriso, se virando para ele.

– Hum, vamos andar um pouco? - perguntou ele um pouco apreensivo.

– Vamos - concordou a garota, saindo na frente dele.

Eles ficaram caminhando um do lado do outro por alguns minutos, em silêncio.

– Percebi que você foi falar com Jorge e seja lá o que você tenha falado a ele, obrigada. Por todos nós. Nos mata ver ele daquele jeito.

– Eu apenas disse que as mortes que entraram no meu caminho fizeram com que eu conhecesse você. Ou seja, tudo tem uma razão.

O silêncio comum durou apenas alguns segundos até Harry quebrá-lo.

– Sabe, Gina… - Harry deu uma diminuída na velocidade dos passos. - eu já contei tudo o que aconteceu desde que fomos caçar as Horcruxes. Já nos, bem, consolamos… Mas ainda não falamos de nós.

As palavras de Harry pegam a menina de surpresa e a confundiram.

– Falar sobre nós? - perguntou ela intrigada.

– Você… não… quer? - De repente Harry se sentiu envergonhado, e pode sentir seu rosto ficar vermelho.

– Não, quer dizer, quero. - Ela deu uma risada boba. - Você só me pegou de surpresa. - Gina ainda estava um pouco confusa. Porque Harry queria falar sobre eles? Então existia um eles? Várias perguntas surgiram em sua cabeça, mas a garota continuou em silêncio.

Os dois ficaram quietos, e o constrangimento de Harry aumentou. Ele queria dizer tantas coisas a ela, mas não sabia como, por onde começar…

– Me desculpe Gina. - Ele disse baixinho, fitando o chão.

– Me desculpe?

– É, me desculpe. Eu realmente a magoei no fim daquele ano, mas eu não queria. Eu só não queria te ver sofrer. E ver você e toda sua família assim, abalada… Me sinto culpado. Se eu tivesse me metido na vida de vocês, tudo seria diferente. Se eu não tivesse metido na sua vida em especial. Ahhh, Gina, me descu…

– Pare! - Ela deu um grito um pouco histérico. - Prometa que você nunca mais vai pedir desculpas a mim em relação a esse assunto, ok? Harry, eu fiquei magoada, mas você só queria meu bem. Na verdade, a partir daquele momento, um sentimento de medo me invadiu. Eu fiquei com medo de perder você pra sempre, de acontecer o pior, porque eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Eu acordava e pensava em você, ia dormir pensando em você. Pensando no que estava fazendo, se estava bem, onde estava, com quem - além de Hermione e Rony - estava… Tudo isso não saía da minha cabeça. Ver você naquele dia na sala precisa me trouxe um alívio. Pelo menos você estava vivo, e mesmo você estando preocupado com Voldemort, ver seu rosto foi como se todos os meus pensamentos ruins tivessem ido embora, mesmo no meio de tudo aquilo. E você ainda pede desculpas? Eu senti tudo isso, porque realmente… gosto de você. E ah Harry, como foi difícil para mim. Mas não por culpa sua, não mesmo. Você foi a coisa mais maravilhosa que podia acontecer para mim, e você ainda pede desculpas? – Ela fez uma pausa – E James! Quantas vezes já tive que falar um sermão pra você nas ultimas 48h?

Harry olhou para a menina surpreso com o que ela dizia. Ele não soube o que dizer de imediato, apenas a contemplou.

– Eu queria falar tanta coisa, mas não sei como começar… - Harry chegou mais perto de Gina, olhando dentro dos olhos da garota.

Gina esperou, mas Harry não disse nada, apenas abaixou a cabeça, concentrando-se em seus próprios pensamentos, tentando encontrar palavras.

– Talvez você saiba… - sussurrou Gina, mas Harry pode ouvir claramente.

Ouve um breve momento de silêncio. Então Harry levantou a cabeça e olhou para Gina, que tinha os olhos calmos, como se esperasse algo.

– E se eu realmente não souber?

Gina deixou escapar um sorriso bobo, ignorando o pensamento que dizia que Harry iria beija-lá, mesmo ela o induzindo a isso. Mas talvez ele não fosse rápido o suficiente pra pensar nisso, ou talvez, não quisesse.

– Eu não posso fazer nada, e até porque, não precisa dizer algo, Harry.

Ele ficou em silêncio e se aproximou ainda mais da garota. Então, Harry compreendeu que não precisava fazer um 'discurso', ou dizer palavras bonitas à Gina, que só dos dois estarem ali, naquele momento era tudo o que ele sempre quis. Agora Harry podia ouvir a respiração da garota, sentir o calor que vinha do seu corpo… Gina não se movia, apenas deixava Harry se aproximar. O garoto colocou as suas mãos na cintura da garota e a beijou.

Aquele beijo foi diferente de todos os outros. Aquele beijo havia mais intensidade, havia saudade. De repente, era como se os dois estivessem em uma daquelas várias tardes que passaram nos jardins de Hogwarts, ou talvez pudessem viver todas aquelas tardes, todos os dias… As mãos de Harry passaram da cintura às costas da menina, assim, os dois ficavam abraçados um com o outro. Não se sabe quanto tempo ficaram ali, por Harry, eles poderiam ficar ali pra sempre… Os dois se soltaram e Gina deu um sorriso.

– Como pude passar tanto tempo sem isso? - A pergunta escapou dos lábios de Gina. Aquilo era uma coisa que ela não queria falar em voz alta, havia muita coisa que ela preferia guardar pra si mesma. Palavras doces não combinavam muito com ela, mas quando Gina estava com Harry, as palavras saiam com uma naturalidade desconhecida na maioria dos casos. Quando estava com ele, em momentos de paz, era como se ela estivesse completa, era como se ela não precisasse ser tão durona e forte como é o tempo todo. Ela poderia deixar seu lado meigo aflorar sem medo de ser julgada. Gina se sentia bem ao lado de Harry.

– Honestamente, eu também não sei. - Respondeu Harry, também se deixando levar pelo sentimentalismo do momento. Os dois ficaram se encarando por um momento.

– Que melação! - Gina deu uma gargalhada. Ela ficou um minuto em silêncio e pegou a mão de Harry e a segurou com toda sua força, assim como fizera no enterro. - Vida nova a partir de agora - murmurou.

– Vida nova - Concordou Harry, beijando a garota novamente, agora segurando em seu rosto. Aquele beijo foi muito mais calmo, como se estivesse realmente marcado o termino de uma fase difícil da sua vida, e com Gina ao seu lado. Assim como havia começado, a primeira pessoa que ele havia visto antes de entrar no mundo da magia.

– Vamos entrar, o dia foi longo - disse Harry puxando a menina pela mão e entrando pela casa.