Propositais e Premeditados (HIATUS) escrita por isthattoomuch


Capítulo 6
Hey Jud... Jessica




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POV Ícaro

- Esperem aí que eu vou buscar o registro de ocorrências - resmungou o professor, fuzilando-nos com os olhos. Saiu da sala da diretoria andando de costas, ainda nos encarando, o que pensei ser uma atitude no mínimo ridícula para um homem daquele tamanho, mas fiquei calado, obviamente.

OK, isso era realmente intrigante. Várias coincidências? Todos os professores e alunos em um complô pra nos unir? Pouco provável. Não queria nem pensar em como eu e Melissa sempre estávamos juntos nessas situações ridículas. Na verdade, a própria Melissa me distraía, então talvez meu cérebro nem conseguisse processar todos esses (des)encontros.

Ela estava sentada na cadeira ao lado, evidentemente se sentindo desconfortável.  Escondia o rosto com as mãos, os cotovelos apoiados na mesa do diretor, que não se encontrava na escola. Usava várias pulseiras tom pastel e marrom no pulso esquerdo, e trajava o uniforme antigo da escola, do qual não fabricavam mais à aproximadamente cinco anos, se não me engano.

É, ela tem estilo. E eu acho que estava apaixonado.

Mas eu tinha consciência do que eu fazia, e do quão errado era: eu não podia trair Jessica. Já me sentia péssimo por ter me apaixonado por outra que não fosse ela; tive que me esforçar muito para conquistá-la, mas acho que antes eu não conhecia o amor. E isso me assustava! Tanta dedicação para perceber que quem eu precisava estava bem ali, do meu lado.

Enfim, agora não me importo mais, só tenho uma necessidade extrema de ter Melissa comigo.

- Vou terminar com ela - inspirei confiança, quebrando o silêncio. Me inclinei cuidadosamente para ver sua reação. Melissa tirou o rosto das mãos e nos encaramos.

- Não, não vai - respondeu lentamente, desviando o olhar.

- Porque não? - rebati, me aproximando. Nossos rostos ficaram a centímetros um do outro e minha respiração acelerou. Toquei seu braço e forcei-a a olhar no fundo dos meus olhos.

- Porque você é apaixonado por ela! - respondeu entredentes. - Abaixa o tom - sussurrou nervosa, olhando em volta da sala como se fosse uma foragida da polícia. Se afastou de mim, virou o rosto e se afundou na cadeira, roendo as unhas.

Bati de leve em sua mão.

- Não faz isso! - xinguei de brincadeira, lançando meu melhor sorriso-conquistador-de-garotas-difíceis. Ela me olhou de relance, evitando se virar para mim, e abaixou as mãos involuntariamente, um pouco ressaltada. Melissa grunhiu alguma coisa e se afundou ainda mais na cadeira. - Hm, mas não é sobre isso que a gente tem que conversar - comecei, ligeiramente ansioso. - Você acha que tem alguém... hã, alguém querendo juntar a gente, ou alguma coisa assim? - sugeri, cauteloso. Precisava começar o assunto dessas coincidências absurdas de alguma forma; não falar sobre aquilo com alguém me sufocava.

- O que? - pulou ela, se virando para mim. Pude admirar de novo seus olhos grandes e castanhos, quase sempre contornados por maquiagem preta (cara, sou um garoto, não sei como se chamam aquelas coisas que elas passam em volta dos olhos. Delineante?), e seus lábios rosados, dos quais eu amava traçar com o olhar a curva inferior. - Porque diz isso?

- Hm, essas, sabe, supostas coincidências... - gaguejei. - O que você acha que são? Porque, às vezes, parece desti... - o olhar assassino fulminante de Melissa me interrompeu.

- Você quase fez uma cantada ridícula - silabou ela, agora me encarando. - Te salvei dessa. - sua expressão carrancuda se desfez, e percebi Melissa sufocando o riso com muito esforço, até que explodiu em uma risada baixinha. Sorri apalermado de orelha à orelha por alguns segundos, assistindo-a rir.

É, eu estava realmente apaixonado, então não considere meu nível de babaquice.

- Vocês aí - bradou o professor, voltando à sala apressado. Pulei em minha cadeira, e Melissa também se assustou, sufocando o riso novamente, mas agora parecia ainda mais difícil para ela parar. - Estão liberados, atendendo a pedidos - declarou lentamente, desgostoso. - Mas amanhã conversaremos! - elevou a voz enquanto saíamos apressados pela porta, principalmente Melissa, que ria silenciosamente. Crises de riso adoráveis: anotado.

Enquanto eu seguia Melissa até a sala, pensando em quem poderia ter pedido para sermos liberados, Jessica me parou na entrada do corredor, voltando do banheiro.

- O que você e a Melissa aprontaram, amor? - sorriu ela, pegando em minha mão. - O prof. Luigi pareceu bem nervoso. - comentou e colocou uma mecha de cachos perfeitos de salão atrás da orelha, me dando um beijo na bochecha.

- Ele é paranoico - respondi um pouco seco, sem retribuir o beijo. Tinha que começar a me afastar antes que fosse tarde demais, mas me sentia mal. Sem falar que muitos caras ficariam definitivamente indignados com o fato de eu terminar com a garota mais bonita do colégio, embora Melissa não fosse mal cogitada no grupo masculino.

- Verdade. - concordou com meiguice sem notar minha frieza, me abraçando. - Ah, amor! - exclamou ela, recordando algo. Ergueu a cabeça - era mais baixa que eu -, me olhando nos olhos. - Como foi sua volta no outro ônibus? - engoli em seco. Andávamos lentamente em direção à sala e nos soltamos como o habitual. Não eram permitidas manifestações de afeto desse tipo na sala. - Depois a gente conversa.

Acho que não, Jessica.


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