Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.

...

Ajeitou o cabelo pela milésima vez. Estava triste e confusa. Fazia horas que estava ali, de joelhos, olhando para a lápide de seu melhor amigo; aquele que, enquanto ela afundava na escuridão que ela própria criara, estendeu-lhe a mão.

Tinha sido forçada a aceitar que ele não estava mais ali. E não estaria nunca mais.  

Olhou para o céu, observando as nuvens espessas e de um cinza escuro, que anunciavam a chuva que em breve chegaria. Não que se importasse com a chuva, mas não gostava de trovões e relâmpagos. Suportava seu medo quando ele sentava-se ao seu lado e lhe contava estórias.

- Hinata-chan – virou-se para a pessoa que a chamara, identificando imediatamente os cabelos loiros e arrepiados, típicos de seu amigo – Todos estão preocupados com você. Vamos voltar para casa – ele ajoelhou-se ao seu lado, com o olhar triste – Sei como se sente. Mas lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente.

Ela sorriu, com a frase dita por seu amigo. Fazia algum tempo que ela encarregara-se de ajudá-lo com a disciplina que mais se antipatizava, filosofia. Ela que o fez aprender sobre William Shakespeare.

- Naruto-kun – ela começou – Desculpe por sumir de repente, mas eu queria vir um pouco aqui, pra conversar com o Kiba-kun – sorriu fracamente, tocando a lápide, onde estava escrito o nome completo de seu amigo.

- Hinata-chan... – Naruto a abraçou de surpresa – Eu não gosto de te ver assim – a apertou mais forte contra si – Não quero mais que você chore.

Hinata impressionou-se com as palavras repentinas de Naruto. Confessava que nutria algum sentimento por este há algum tempo, mas nunca pensara que este iria retribuí-la. Ouviu atentamente cada palavra que ele dizia, segurando as lágrimas que teimavam em querer sair.

- Eu quero cuidar de você Hinata-chan. E, eu sei que o Kiba não ia gostar de te ver assim – pausou – Eu sei que não é fácil, mas você não está sozinha. Quando sentir a necessidade de se apoiar em alguém, eu estarei onde quer que você esteja, então... – ele parou, sentindo as lágrimas de Hinata molharem sua camiseta.

- Naruto-kun, já faz um mês, mas eu não consigo superar. Ele era como um irmão pra mim – disse, entre soluços.

Naruto afagou seus cabelos, sentindo o peito contrair-se. Kiba era um grande amigo seu também, era difícil pensar que um jovem de apenas dezessete anos falecera em um acidente.

Afastando-se vagarosamente de Hinata, Naruto enxugou suas lágrimas e a fazendo levantar.

- Eu tenho certeza que ele pensava a mesma coisa, Hinata-chan. Mais que isso, ele te amava muito, e por isso, ele me pediu, pra cuidar de você se um dia ele não pudesse te acompanhar; e é o que farei – Hinata arregalou os olhos, estupefata.

- Ele sabia que ia sofrer o acidente?

- Ele me disse isso mais ou menos uns dois meses antes do acidente e não acredito que ele soubesse.

Hinata voltou seu olhar para o céu, novamente, percebendo que agora o Sol aparecia entre as frestas das nuvens. Aos poucos, a tempestade iria embora, e a calmaria voltaria, é e sempre será assim.

- Sabe Hinata-chan, o Kiba queria se tornar o Sol – Hinata o olhou confusa – Ele disse que queria tentar nunca te deixar sozinha, então quando fosse embora, queria ser o Sol pra poder iluminar todos os seus dias – Hinata sorriu.

- É, eu acho que ele se tornou o Sol – Disse, olhando para o Sol que agora tomava quase todo o espaço no céu.

- Ele até espantou a chuva – Naruto brincou, tirando uma breve risada de Hinata.

Convencida por Naruto, Hinata começou a andar em direção da saída do cemitério, puxando Naruto pela mão. Ela não estava sozinha, com certeza.