Inconsequencias escrita por L Holiday


Capítulo 4
Primeira mentira




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- Eles vão dar um escândalo. A gente não pode ir até a sua casa andando e pegar o dinheiro?

- Eu sei que você foi criada na zona oeste, mas você não está achando que se pode ir andando do Leblon até Ipanema a noite sem ser assaltado, não é?

- Pára de reclamar e me dá uma solução!

- Eu posso te levar até a sua casa...

 

            Olhei para ele sentado no chão, com a gravata frouxa, a blusa de botão para fora da calça e as mangas dobradas. Beleza não fazia dele uma pessoa prudente no volante.

 

- Isso nem pensar.

- Então você pode dormir aqui, porque eu também não vou te deixar pegar um ônibus sozinha.

- Tá louco? Meus pais nunca que vão me deixar dormir aqui.

- Diz que vai dormir na casa dos meus pais, então.

 

            Ele fazia tudo parecer tão simples, como se só porque ele provavelmente fez isso durante anos, eu pudesse fazer também. Além do mais, eu não tinha prática em mentir para os meus pais. Nunca mentia para eles. Mas qual era a outra opção? Peguei meu celular, pedi licença a Gabriel e fui andando para encontrar um quarto onde eu pudesse ligar para os meus pais e planejar minha desculpa. Abri três portas – um banheiro de visitas; um quarto que devia ser o antigo quarto de Cecília; e um quarto infantil que eu apostava que era o quarto dos irmãos mais novos de Gabriel – antes de encontrar o quarto principal. Novamente era impessoal e lembrava um hotel. Sentei na cama e procurei o número de casa na agenda telefônica.

 

- Alô – minha mãe atendeu no segundo toque.

- Oi mãe, sou eu.

- Oi, como está sendo o jantar? Ainda não acabou?

- Já acabou sim, mãe.

- Ah, que bom. Então você já está vindo para casa?

Engoli em seco. Se eu ia mentir ia ter que ser agora. Ou eu devia simplesmente explicar a situação e pedir dinheiro pro táxi? Mas e se meus pais quisessem me buscar? Aí eu estava ferrada. Eles iam saber que eu não estava em jantar nenhum.

- A família dele é muito simpática. A irmã dele é um amor. - Eu sabia que estava falando rápido demais. - E ele tem irmãos, sabia disso? Na verdade, eles perguntaram se eu não queria passar a noite aqui. Posso?

Minha mãe hesitou antes de responder.

- Não sei não. Eu não conheço os pais desse menino, entende? Tem certeza que você não vai incomodar?

- Tenho mãe, foram eles que me convidaram.

 

            Incrivelmente, minha mãe concordou, apenas me lembrando que eu devia arrumar a cama quando acordasse, não fosse dormir muito tarde e passasse em casa antes de ir para a escola para pegar o uniforme e a mochila.

             Desliguei o celular, mas ao invés de me sentir feliz pelo plano ter dado certo, eu me sentia mal por ter mentido para minha mãe. Voltei para sala e Gabriel já estava dormindo de bruços no sofá, sem sapatos, sem gravata e sem blusa de botão. Um dos braços dele estava pendurado para fora do sofá e uma garrafa de cerveja, que devia estar na mão dele quando ele dormiu, estava virada no chão, derramando o resto do seu conteúdo. Olhei a cena e demorei para acreditar, pois parecia tão surreal. Sua respiração estava pesada, então eu decidi não acordá-lo. Peguei a minha bolsa e fui até o quarto de Cecília.

Dormi tão rápido que quando acordei achei que nem tinha dormido ainda. Levantei devagar e olhei as horas no celular. Eram seis da manhã, mas não ia voltar a dormir. Ainda precisava pegar um ônibus até minha casa para manter a mentira bem escondida. Fui até a suíte do quarto de Cecília e joguei uma água no rosto. Estava descabelada e algumas das minhas trancinhas estavam desmanchadas. Tinha caído no sono tão rápido que esqueci de desfazê-las antes de deitar. Não tinha nenhum objeto pessoal no banheiro, ou seja, nada de escova de cabelo. Fui até a sala assim mesmo.

 

- Eles vão dar um escândalo. A gente não pode ir até a sua casa andando e pegar o dinheiro?

- Eu sei que você foi criada na zona oeste, mas você não está achando que se pode ir andando do Leblon até Ipanema a noite sem ser assaltado, não é?

- Pára de reclamar e me dá uma solução!

- Eu posso te levar até em casa...

 

            Olhei para ele sentado no chão, com a gravata frouxa, a blusa de botão para fora da calça e as mangas dobradas. Beleza não fazia dele uma pessoa prudente no volante.

 

- Isso nem pensar.

- Então você pode dormir aqui, porque eu também não vou te deixar pegar um ônibus sozinha.

- Tá louco? Meus pais nunca que vão me deixar dormir aqui.

- Diz que vai dormir na casa dos meus pais, então.

 

            Ele fazia tudo parecer tão simples, como se só porque ele provavelmente fez isso durante anos, eu pudesse fazer também. Além do mais, eu não tinha prática em mentir para os meus pais. Nunca mentia para eles. Mas qual era a outra opção? Peguei meu celular, pedi licença a Gabriel e fui andando para encontrar um quarto onde eu pudesse ligar para os meus pais e planejar minha desculpa. Abri três portas – um banheiro de visitas; um quarto que devia ser o antigo quarto de Cecília; e um quarto infantil que eu apostava que era o quarto dos irmãos mais novos de Gabriel – antes de encontrar o quarto principal. Novamente era impessoal e lembrava um hotel. Sentei na cama e procurei o número de casa na lista telefônica.

 

- Alô – minha mãe atendeu no segundo toque.

- Oi mãe, sou eu.

- Oi, como está sendo o jantar? Ainda não acabou?

- Já acabou sim, mãe.

- Ah, que bom. Então você já está vindo para casa?

Engoli em seco. Se eu ia mentir ia ter que ser agora. Ou eu devia simplesmente explicar a situação e pedir dinheiro pro táxi? Mas e se meus pais quisessem me buscar? Aí eu estava ferrada. Eles iam saber que eu não estava em jantar nenhum.

- A família dele é muito simpática. A irmã dele é um amor. - Eu sabia que estava falando rápido demais. - E ele tem irmãos, sabia disso? Na verdade, eles perguntaram se eu não queria passar a noite aqui. Posso?

Minha mãe hesitou antes de responder.

- Não sei não. Eu não conheço os pais desse menino, entende? Tem certeza que você não vai incomodar?

- Tenho mãe, foram eles que me convidaram.

 

            Incrivelmente, minha mãe concordou, apenas me lembrando que eu devia arrumar a cama quando acordasse, não fosse dormir muito tarde e passasse em casa antes de ir para a escola para pegar o uniforme e a mochila.

Desliguei o celular, mas ao invés de me sentir feliz pelo plano ter dado certo, eu me sentia mal por ter mentido para minha mãe. Voltei para sala e Gabriel já estava dormindo de bruços no sofá, sem sapatos, sem gravata e sem blusa de botão. Um dos braços dele estava pendurado para fora do sofá e e uma garrafa de cerveja, que devia estar na mão dele quando ele dormiu, estava virada no chão, derramando o resto da cerveja. Olhei a cena e demorei para acreditar, pois parecia tão surreal. Sua respiração estava pesada, então eu decidi não acordá-lo. Peguei a minha bolsa e fui até o quarto de Cecília.

 


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