le velo pour deux. escrita por Luisa Nunes


Capítulo 1
Capítulo 1




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Nunca fui a pessoa mais simpática do mundo, e com isso, nunca fui a pessoa mais festeira também. Por isso, essa época de fim de ano me tortura profundamente. Dói em mim ver que por fora é tudo muito bonito, as pessoas dizem se amar, a felicidade no ar... Mas no fundo, bem lá no fundo, todos sabem que tudo o que elas estão fazendo é pura fachada. Por isso eu não comemoro a chegada desse novo ano  - eu apenas torço pra que ele seja menos pior do que o que passou.  

Aliás, torço para que meu novo ano seja completamente diferente. Eu realmente queria reviver meus tempos felizes, leia-se: a época em que eu, Spencer e Brent tínhamos uma banda. Decidimos largar dla porque nossas mães nos imploraram, mas o sonho continuou vivo. Até hoje, eu componho músicas, e Spencer ainda pratica bateria. E Brent... ah, Brent. Nunca levou a banda a sério, e tocava o baixo só pra dizer que fazia algo. Mas eu e Spencer não. Nós sempre acreditamos que a banda daria certo... Até ela ter sido terminada.

Para mim, estava decidido. Nós íamos voltar com a banda. Ora, já temos 17 anos. É nosso último ano de colegial, e eu nao quero trabalhar com algo que não seja música. Nossas mães não podem mais nos dizer o que fazer dessa vez, já temos idade o suficiente para escolher o que queremos da vida. A gente sabe os riscos que podemos correr, mas lá atrás, tinhamos certeza que conseguiriamos um destaque na cena de Las Vegas.

Manti minha rotina. Acordei tarde, joguei videogame, vi filmes. Me bateu um lampejo de criatividade que me fez pegar papel e caneta pra tentar compor algo. Nada saía, além de algumas palavras. Realmente, foi só um lampejo. Não conseguia pensar nem em uma melodia que me agradasse. Olhei pro relógio – eram quase 17h, minha mãe deveria estar chegando em casa, e eu precisava arrumar um motivo pra sair de casa, nem que fosse pra me embebedar, sentar em um banco na rua e chorar por vários motivos. E foi o que fiz.

Andei, por ruas e ruas, atrás de algum lugar que não cobrasse preços abusivos por garrafas de uma boa cerveja e que não me parecesse habitado por machos alfas. Sim, porque minha figura magra e alta, não estando em uma camisa de um time de futebol, mas sim em uma baby look preta era uma figura deveras suspeita no ambiente.  Sempre tive medo de apanhar desse tipo de homens. (Aliás, sempre tive medo de apanhar de qualquer pessoa por ser homossexual. Poucas eram as pessoas que sabiam pela minha boca a verdade sobre esse assunto.) Depois de mais de uma hora caminhando, cansei de andar, e resolvi que recorreria a minha última opção – sentaria em um banco qualquer e choraria, ia me afogar no mar de mágoas que me assolava. Precisava por aquilo pra fora antes que o novo ano começasse. 

Enquanto eu chorava tudo o que eu não chorei esse ano, senti que tinha alguém sentado ao meu lado. Era impossível nao sentir uma presença forte como aquela. Mas continuei ignorando.

                - Er... Não sei como fazer isso. Você tá bem? Precisa de alguma ajuda? – Disse o menino da presença forte.

                - Eu poderia dizer que não, o que não deixa de ser verdade, mas eu tomaria muito do seu tempo explicando. Não se preocupe, e-eu vou ficar bem – respondi ainda soluçando um pouco pelas lágrimas recém-derramadas.

                - Pela quantidade e a intensidade do seu choro, eu tenho certeza que você precisa de ajuda, ou de alguém pra desabafar. Olha, eu vou estar nesse pub do outro lado da rua pelas próximas horas. Antes de ir, me procure lá. Eu sei que eu não tenho nada a ver com a sua vida, com os seus problemas – Ele me surpreendeu ao responder o que eu estava pensando naquele momento. - Mas... Só quero ter certeza que você vai chegar bem em casa. – disse o desconhecido, se levantando e depois atravessando a rua.

Ótimo. Eu sou tão idiota que não percebi que tinha um pub do outro lado da rua. E me preocupei tanto em esconder meus olhos inchados de tanto chorar, que acabei não vendo o rosto do sujeito que fora tão doce comigo. Parabéns Ryan, você é realmente um imbecil. Mas com uma voz doce e suave daquela, não deveria ser tão difícil encontrá-lo.

Tive tempo apenas para respirar um pouco, por minha cabeça no lugar, pensar em coisas boas. Um flashback veio a minha cabeça. Lembrei de um dos ensaios da velha bandinha de garagem, onde decidimos trocar nossos instrumentos. Eu toquei a bateria, Spencer tocou o baixo e Brent, a guitarra. Em um minuto, minha expressão passou de triste para feliz. Mas bastou eu terminar aquele pensamento, e começou uma tempestade, uma senhora tempestade, uma daquelas que voce só vê em filmes de Hollywood. A rua era deserta, não me preocupei em olhar para os lados para atravessar. Quando vi, já estava dentro do pub, e dei logo de cara com um grande quadro negro que dizia, em bonitas letras cursivas, ‘Somente hoje, a partir das 19h30, voz e violão com Brendon Urie.’. ''É, talvez isso me distraia, já que preciso tirar aquele desconhecido da minha cabeça, pois uma paixonite é a ultima coisa que eu estou procurando agora.'', pensei. Olhei pro grande relógio na parede – eram 19h20. O banco, o suporte do microfone e o microfone já estavam no pequeno palco num canto um tanto quanto escondido para um cantor. Eu me incomodaria se eu fosse o artista. Ele deve ser um iniciante.

Enquanto eu terminava minhas ultimas goladas da garrafa de cerveja, escuto o cantor subir ao palco e tocar um acorde no violão. Até aí, tudo bem. O artista dá boa noite, e minha ficha finalmente cai – o cara que me acolheu na rua era o menino em cima do palco. Minha cara mostrava um espanto que ninguém sentado perto de mim entendeu. Resolvi, então me virar para finalmente ver a tão misteriosa identidade do menino.

Eu preferia não ter virado. O menino deu um imenso sorriso ao me ver sentado ali. E que sorriso lindo. Olhei pro quadro mais uma vez pra ler seu nome. Brendon. Eu respondi com um simples sorriso de canto de boca, pra me mostrar recuperado do que ocorreu do lado de fora do bar. Brendon era incrivelmente lindo. Olhos grandes, castanhos, brilhantes, tão brilhantes quando seu cabelo, preto. Lábios grandes, assim como seu nariz, um conjunto de dar inveja. Era inacreditável o que estava na minha frente. Mas o melhor ainda estava por vir.

Brendon começou a tocar canções que todo artista de barzinho toca, mas ele tinha um diferencial. Sua voz. Brendon se mostrou um incrível cantor. Sua voz de quando o conheci, suave e doce, me passou segurança e força. Eu estava boquiaberto com a situação. Tomei mais 3 garrafas de cerveja antes do show acabar, por volta das 22h, sem pensar nas consequencias que isso me traria.

O show acaba, e a primeira coisa que Brendon faz após descer do palco é falar comigo, e eu estava alto o suficiente para me tornar uma pessoa sociavel e agradável. Eu e o menino do sorriso lindo ficamos por horas conversando, até sermos convidados a nos retirar do bar, pois ele iria fechar. A essa altura do campeonato, já eram quase 2h e eu não tinha como voltar pra casa, pois nem sabia qual caminho tinha feito pra chegar ali.

                - Brendon, eu prec-

                - Shhh, me chama de Bren. E você tá muito alterado pra ir pra casa sozinho, mocinho. Vamos, eu te ponho em um taxi.

                - Não Brend... Bren. Não precisa. Eu tô legal, ó. – tentei fazer um 4 com as pernas, mas caí no chão. Eu sabia que eu não estava bem, mas nem a bebida minimiza minha teimosia.

                - Não precisa? Óbvio que precisa. Lembra do que eu te disse mais cedo? Quero voce inteiro em casa hoje. – Brendon riu. – Vamos logo, cara. Tá tarde já.

                - Ok, então. Olha, um táxi. TAXIIIIIIIIII – Brendon pos a mão na minha boca, abafando o som que saia da minha boca.

                - Menos... Ryan. Me desculpe, é esse o seu nome, né?  

                - É, eu tenho quase certeza. – ri – Ryan Ross.

                - AH CARAMBA! Então é isso! Você estudou em Palo Verde, não?

                - Sim, e como você sabe disso?

                - Eu era uma série abaixo de você, e voce provavelmente nunca ouviu falar de mim. Digamos que nunca fui o estilo popular. Mas eu escutei muito de você... - SIm, eu era famoso no colégio. Não por ser popular, mas sim por ser... esquisito. 

                - Caramba, que coincidencia. Olha, um taxi. Obrigada pela noite e pelas suas palavras.

                - Ei! Voce não vai me dar nem seu telefone? – disse enquanto eu andava em direção ao táxi. Agora parecia que estavamos no fim de um encontro as cegas, e por causa disso, ri, mas tentei esconder, e Brendon não viu.

                - Claro, claro. – peguei seu celular e digitei meu numero. – Me liga pra eu poder gravar seu número. – disse, fechando a porta do taxi.

Enquanto eu me ajeitava, Brendon deu 30 dólares ao taxista, que pagariam a minha corrida, sem que eu visse. Meu orgulho jamais deixaria que isso acontecesse. Só fui descobrir isso quando fui pagar a corrida, e o motorista disse que “o rapaz que estava comigo havia pago a corrida”.  Ah, esse Brendon...

Fui tomar um banho e, finalmente, deitar.

A tarde, que começou como uma daquelas tenebrosas, nubladas e feitas para serem esquecidas terminou numa noite que nunca vai sair da minha cabeça. Nem a noite, nem a pessoa que fez com que ela tomasse um outro rumo.


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Notas finais do capítulo

yay! e aí? :3 reviews são sempre bem vindos. =)



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