O sol já estava se pondo quando Theresa chegou na sua casa. Através da janela da cozinha, a luz do sol iluminou o lugar num tom alaranjado. Nos seus braços uma criança de 1 ano e ao seu lado, com passos apressados, um menino de 6 anos. O menino correu para o quarto (que ele dividia com a mãe e o irmão mais novo), tirou seus sapatos e pulou sobre a cama pequena. O cabelo branco estava bagunçado, e olhou fixamente, com seus olhos vermelhos, a mãe entrar no quarto.

–Gilbert, vá com mais calma, por favor- Theresa falou com sua voz calma e suave enquanto colocava o bebê em cima da cama ao lado de Gilbert –Se não, Ludwig vai acordar.

–Não deixarei ninguém acorda Ludwig, mãe!- Gilbert sorriu e deitou-se ao lado do irmão mais novo, passando o seu dedo pela costa do nariz de Ludwig.

Theresa observou seus filhos por alguns segundos e logo saiu do quarto, indo para a cozinha. Abriu a janela e uma brisa soprou contra seu rosto, balançando seus cabelos loiros. Os seus olhos azuis escuros olharam para cada casa. Vivia num lugar alto, numa pequena e confortável casa de apenas um andar e dois quartos, um para dormir e outro para cozinha e sala de estar. As duas únicas janelas da casa estavam viradas para a arrumada praça do centro.

Suspirou e fechou a janela, arrumou seu vestido e voltou ao quarto. Ela soltou um risinho ao observar a cena dos seus filhos:

Gilbert estava segurando Ludwig tentando colocar uma outra roupa nele.

Decidiu que era melhor deixa-los sozinhos e voltou novamente ao outro quarto. Andou até um pequeno armário e tirou um papel dobrado. Ao abrir, via-se uma pintura de um homem alto, de cabelos brancos porém com um rosto jovem. Os seus olhos vermelhos estavam claramente expressando arrogância e egoísmo.

–Viu só, “vossa majestade”?- Theresa abriu a porta da casa e olhou para a direita, onde depois da escada de mármore estava um enorme castelo –Viu só como eu consigo viver sem você e você sem mim?

Dobrou o papel e ficou lá parada, na porta da casa, olhando para as enormes torres cinzas, sombrias, cruéis. Alguns soldados jovens passaram por um estreito corredor aberto, indo provavelmente treinar. Theresa não queria mas sempre acabava se lembrando do passado.

Tivera com o atual imperador, Martin, um filho: Gilbert. Porém, ao descobrir que Theresa estava novamente grávida, ficou chocado. Ele iria aceitar apenas um sucessor ao trono, e esse seria Gilbert. Mas Theresa não abriu mão da sua gravidez e teve Ludwig. Ao descobrir o nascimento, expulsou esposa e filhos do castelo.

Agora, ela vivia novamente como uma cidadã comum. Sempre teve ajuda de seu pai, Germain, com o que fora preciso para cuidar dos filhos.

Suspirou e fechou a porta da casa. Encostou a testa na porta de madeira e observou o papel dobrado.

–Porque ainda guardo lembrança sua, Martin?- Ela amassou o papel, com raiva –Você não se importou com sua noiva, não se importou com seus filhos, e jamais ira se preocupar com eles!

Jogou o papel no chão, a bola acabara de rolar em algum canto da sala e Theresa olhou para dentro do seu quarto e sorriu. Gilbert e Ludwig estavam dormindo. Gilbert e Ludwig. Seus únicos amores. Ela faria de tudo por eles. Entrou no quarto e sentou sobre a cama e começou a acariciar o cabelo do Gilbert.

Quando de repente bateram na porta.

Theresa olhou pela janela. O sol estava quase sumindo atrás das montanhas que separavam este reino, o reino militar, com o reino vizinho, o reino da arte. As primeiras estrelas apareceram no céu, junto com densas nuvens vindas das docas.

Levantou-se e abriu a porta.

–Pois não?

–Theresa Beilschmidt?- Um homem alto, pele escura e túnica azul escura olhou fixamente á jovem mulher com seus olhos verdes e frios.

Theresa não falou nada. Um pouco assustada, viu os quatro soldados do reino atrás do homem de túnica.

–Estamos aqui em nome de vossa majestade, o imperador Martin- O homem de túnica abriu um pergaminho, ainda olhando fixamente para Theresa –Seu filho mais velho irá conosco imediatamente.

Theresa, surpresa, olhou para os soldados e depois para o cara de túnica.

–O que? Não vou deixar vocês levarem Gilbert- Theresa olhou com raiva o homem alto –Martin nunca cuidou de seus filhos e nunca irá cuidar!!

–Mãe...?-

Theresa olhou pelo seu ombro ao ver Gilbert na porta do quarto, os olhos vermelhos arregalados e com medo fixando o homem de túnica azul escuro.

–Gilbert Beilschmidt deverá ir conosco, IMEDIATAMENTE- O homem tentou entrar mas Theresa, de braços abertos não o deixou passar.

–FIQUE LONGE DOS MEUS FILHOS!- Gilbert recuou alguns passos, assustado com o tom de voz da sua mãe – SÓ IRÃO CHEGAR PERTO DELES, QUANDO EU ESTIVER MORTA!

O homem de túnica sorriu –Se é esse seu desejo...- e estalou os dedos.

A cena seguinte foi muito rápido, mas o suficiente para se gravar na memória do Gilbert para sempre. Dois soldados entraram na casa, empurrando Theresa, que bateu contra a parede. O terceiro soldado entrou também e enfiou a espada na garganta da sua mãe.

Theresa cuspiu sangue e o vestido branco foi se tingindo de vermelho. Escorregou pela parede, segurando a garganta e olhou rapidamente para Gilbert.

–Foge com seu irmão- E fechou seus olhos, deixando a mão cair.

Gilbert tremeu de medo e as lágrimas começaram a descer pela bochecha. Voltou ao quarto e trancou a porta, olhou pelo quarto.

Ludwig estava dormindo na cama como se nada tivesse acontecido. Gilbert correu para a cama e pegou seu irmão no colo, subiu na caixa debaixo da janela e olhou para baixo.

–GILBERT! GILBERT BEILSCHMIDT!- O homem de túnica gritou, do outro lado da porta.

–Ludwig...- Gilbert beijou a testa do irmão mais novo e pulou pela janela.

O sol quase sumido nas montanhas jogava sua luz alaranjada para dentro da pequena casa, iluminando o sangue de Theresa, que morreu protegendo seus filhos.