Olhei pela janela do carro. Yomiama aparentava ser uma cidade pequena e pouco atraente, não tinha nada de especial.

Eu iria estudar na Yomi Norte, onde meu pai Koichi e minha mãe Mei estudaram juntos quando estavam no 9° ano.

É uma escola curiosa, a Yomi Norte. Meus pais me falaram que havia uma espécie de "maldição" na Classe 3, onde eles estudavam e onde eu coincidentemente estudaria também. O caso é que, todos os anos, a sala tem o número certo de carteiras, mas quando chega outra pessoa e acrescenta-se uma carteira, os alunos ou seus parentes próximos morrem. Um aluno é morto por mês.

Me disseram que é por causa de um aluno extra na classe, que já está morto. Ele não possui lembranças da infância e sua pele é mais fria que a de outras pessoas. O jeito de acabar com a "calamidade" é "matando o morto". Para acabar com a calamidade, meu pai teve que matar sua prima, que era a professora assistente da classe 3.

-Chegamos, querida-minha mãe se virou para mim do banco do carona.

-Entendido-tirei os fones de ouvido e os guardei no bolso juntamente com meu Iphone.

Saí do carro e peguei minha mochila.

-Sua mãe morava aqui quando estudávamos na Yomi Norte-meu pai falou.

Entramos e eu começei a espirrar como louca

-Ah, filha! São só alguns anos de poeira acumulada!-meu pai riu.

-Ah, claro...Dezesseis anos de poeira acumulada são muito pouco-falei com sarcasmo

-Siga-me, filha-mamãe desceu uma escada, levando papai a reboque.

-Ainda está do mesmo jeito que sua mãe deixou-papai falou para mamãe.

-É-ela caminhou até uma espécie de caixão que continha uma boneca de cabelos negros e olhos verdes.

-Nossa!Parece com você, mãe!-exclamei.

-Sua avó quem fez-ela disse.

-Ah...

-Bom, acho melhor subirmos-meu pai falou enquanto abria uma cortina, revelando outra escada.

Subimos e entramos numa cozinha, onde haviam dois bancos um de frente para o outro dispostos ao lado de uma estante. "Ótimo!", pensei, "Moramos numa quitinete!", havia ironia na frase.

-Seu quarto vai ser onde era o meu- mamãe falou.

Entramos num corredor e abrimos a primeira porta à direita. O quarto era de tamanho médio, havia uma cama encostada à parede, um guarda-roupa de vinil negro, uma mesa-de-cabeçeira onde se encontrava um abajur e uma penteadeira em frente à cama.

Para minha surpresa, eu adorei.

-Pode decorar como quiser-ela disse.

-Sim. Obrigada, mãe!Obrigada, pai!-abraçei os dois.

-Se quiser, pode ir dar um passeio-papai falou.

-Sério?!Só vou pegar meu skate!-saí correndo. Pelo que eu havia visto, Yomiama era cheio de descidas. Uma tentação!

Abri o porta-malas do carro e peguei meu skate. Ele é azul-escuro e tem uma caveira embaixo. Amarrei a blusa de frio preta na cintura, em cima do bermudão verde-militar e a blusa azul-escura. Coloquei a touca cinza e calçei as luvas de motoqueiro. Amarrei os cadarços do meu DC de listras pretas e saí correndo.

Eu olhava para todos os lados sem me preocupar com o que vinha  à frente, por isso, acabei esbarrando em alguém e caí no chão.

-Ei, olha por onde anda!-uma voz masculina soou.

-Me desculpe!-eu falei enquanto esfregava as mãos para tirar a poeira das luvas.

Ele me ajudou a levantar e eu limpei as roupas até que finalmente direcionei meu olhar para ele. Ele era bem alto, o cabelo preto era meio bagunçado e os olhos eram de um negro profundo. Ele também estava vestido como eu, só que suas roupas eram verde-escuras, menos a touca, a bermuda e a blusa de frio, que tinham cores iguais às minhas. Ele trazia um skate verde-escuro com uma caveira embaixo na mão.

-Sou Kai Yutaka-ele falou.

-Tsukyko Sakakibara, mas me chame de Tsuky.

-Procurando um point para andar de skate?-ele me perguntou.

-É...-eu estava meio incomodada por achá-lo bonito.

-Vem comigo. Conheço um lugar ótimo!

Ele me guiou até um morro muito inclinado a uns dois quilômetros de onde nos encontramos.

-Dizem que há uns vinte anos atrás, morreu um garoto naquela casa. Um guindaste, ou trator, não sei, perdeu o controle e bateu na casa. Dizem que era por causa da calamidade na Classe 3 da Yomi Norte. Ele era irmão de uma das alunas.

-Só...-falei e ambos começamos a rir.

Ficamos andando de skate até escurecer. Ele me levou para um rio que passava na cidade e nos sentamos numa escadinha de gesso, olhando para a água.

-Acho qua já vou indo-eu olhei as horas no meu telefone-Hoje foi muito legal-sorri.

-Até-ele acenou enquanto caminhava na direção oposta à minha.

Cheguei em "casa" e fui direto para o banheiro tomar banho. Depois de colocar meu moletom, caí na cama, literalmente.

-Não esqueça de programar o despertador.Amanhã você tem aula-mamãe e papai apareceram na porta. Eles eram um casal tão lindo!

Eu havia puxado mais o lado da minha mãe: olhos vermelhos e cabelos lisos. Eu também era pálida. Do meu pai eu só havia puxado os cabelos castanhos.

-Claro. Boa noite, mãe!Boa noite, pai!-falei enquanto eles fechavam a porta.

-Boa noite, Tsuky-eles sussurraram.