A jovem observava com os olhos vidrados a paisagem verde passar rapidamente pelas janelas do expresso. Lágrimas solitárias desciam pelo seu rosto, mas ela tinha desistido de secá-las há algum tempo. Não eram lágrimas de tristeza – ela tentara convencer-se – estava apenas feliz de voltar para casa.

Voltar para casa. Jamais pensou que isso pudesse acontecer, não depois de tudo o que tinha deixado para trás em sua juventude. Tinha apenas dezoito anos quando resolvera que aquela vida de cidadezinha no interior não era o suficiente, juntara sua trouxa de roupas e partira em uma noite particularmente escura e chuvosa sem dizer adeus. Apenas uma carta explicando seus motivos para seus pais.

E agora, quase dez anos depois, se humilhava voltando para casa. Para tudo aquilo que achou não ser o suficiente e abandonou tão impetuosamente. Não tinha sido uma escolha muito fácil, continuar vivendo em Londres com todas aquelas lembranças difíceis de apagar ou juntar seus cacos e voltar para o lugar de suas origens, o vilarejo de onde viera.  

Mas não era mais uma jovem orgulhosa cheia de sonhos na cabeça. Tinha vinte e oito anos agora e pensava em todas as decisões antes de tomá-las. A inocência de moça do interior tinha abandonado-a nos primeiros anos que vivera por sua própria conta, e ela pretendia recomeçar de onde parara se fosse possível.

Sabia que não tinha o direito de voltar e esperar que tudo estivesse esperando por ela, como se tudo parasse no tempo. Mas se tinha um lugar que Hermione sabia que seria bem-vinda, esse lugar com certeza seria Hogwarts.