Back to Us escrita por The Sweet B


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Tenho que admitir que foi um pouco difícil escrever esse capítulo. Não contei antes, mas um dos meus motivos de ter afastado um pouco a Bieber Fever é que a minha avó sofreu de câncer e, infelizmente, chegou a falecer no ano passado. Isso tomou o chão de mim. Muito do que eu escrevo, muito da Alicia e as coisas que acontecem com ela, é inspirado em coisas que aconteceram de verdade comigo. De qualquer forma, está aí. Eu demorei muito, não foi? Mil desculpas, mas é a correria de fim de ano na escola. Semana que vem terei prova todos os dias o que vai tornar as coisas um pouco difíceis, então não vou prometer nada, ta bom? Divirtam-se! Comente se você deseja a cura do câncer.



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Meu salto batucava no chão branco do hospital repetidamente. De penteado desfeito, maquiagem borrada e esse vestido, eu era algum tipo de personagem de Halloween. De fato, uma garotinha mais cedo que veio tomar soro apontou para mim e começou a chorar.

Estávamos aqui há horas, sem obter nenhuma resposta. Eu não conseguia ficar sentada, eu não conseguia ficar de pé. Eu não queria calmantes e, muito menos, queria voltar para casa. Eu só queria saber como ela estava.

As cinco da manhã, na urgência, eu começava a achar o pior. Meu estômago embrulhava só de pensar que a minha avó podia não está nada bem. Apertei as têmporas, tentando apagar esse pensamento da cabeça. Eu devia pensar positivo, por ela.

Uma médica de jaleco branco finalmente apareceu e eu fui a primeira a me levantar. Ouvi atentamente tudo o que ela tinha a dizer, mas parecia que, uma vez que as palavras dela chegavam ao cérebro, lá se embaralhavam.

– As plaquetas dela estão baixas. – Foi o que ouvi a médica dizer. - Primeiro de tudo, temos que equilibrar esse quadro. A meu ver, parece que ocorreu uma metástase.

Franzi a testa. Pelo amor de Deus, o que isso quer dizer?

– Doutora, avisaram que o câncer era benigno. Ela até já havia começado o tratamento em Nova York. – Adam disse, parecendo ter entendido tudo o que não entendi, e graças a Deus por isso.

– Tumores são doenças muito instáveis. O que em um diagnóstico informou ser benigno, logo pode evoluir e formar células malignas. Acreditamos que foi isso o que aconteceu.

Mamãe apertou o coração, o que significava ser mau sinal. Senti uma inexplicável sensação horrível na barriga.

– Mas só podemos ter total certeza depois de uma série de exames.

– Claro, sintam-se a vontade. – Concordou Adam, passando as mãos no cabelo.

– Quando vamos poder vê-la? – Perguntei, nervosa.

– Ela está descaçando agora. Não acho que poderão visitá-la tão cedo.

Fiz beicinho, me entristecendo.

– Nós entendemos, doutora.

– Se me derem licença. – Ela pediu sorrindo e nos deixou, completamente absortos.

– Querida, vamos para casa. – Mamãe me abraçou.

– Não. Eu vou ficar.

– É melhor você ir, Alicia.

– Ela ainda estará aqui quando voltarmos. – Mamãe tentou me convencer.

Eu não queria ir. Sentia meu coração se apertar só de deixá-la, mas tentei acreditar na minha mãe. Concordei e voltamos para casa. Adam já havia cuidado de tudo, assinado todos os papeis necessários, ligado para o médico dela em Nova York, avisado aos amigos. Eu era inútil mesmo naquele hospital. Minha mãe me direcionou até meu quarto. Eu me sentei na cama, me sentindo cansada de mais. Ela me ajudou a tirar os sapatos e o vestido. Com todo o cuidado do mundo, retirei meus presentes favoritos e os guardei: a pulseira com o pingente de Justin e os brincos de diamante da minha avó. Peguei uma toalha e entrei no chuveiro. Água quente era relaxante. Fechei os olhos e fiquei debaixo do chuveiro, sentindo a água bater no meu rosto e escorrer pelo resto do corpo. Tirei todo o laquê do cabelo e maquiagem do rosto, passando bem uma meia hora debaixo da água morna, me revitalizando. Depois coloquei meu pijama mais confortável e fui para debaixo das cobertas, me abraçando ao cobertor. Já era 7h da manhã. 24 horas atrás, havia acordado tão animada, tão ansiosa, tão esperançosa. Que incrível o que um dia pode fazer. Preguei os olhos por alguns minutos, apenas.

Os meses seguintes se passaram assim. Eu não descansava direito. Se não estava ocupada de mais com os estudos, estava ocupada de mais cuidando da minha avó. Foram séries de quimioterapia e radioterapia, uma atrás da outra. Em algumas visitas ao médico, saíamos com o coração cheio de esperança. Em outras, saíamos tentando não parecer tão decepcionados. Três meses depois do meu aniversário de 18 anos, eu parecia ter 20. Deixei a beleza de lado, o que já me envelheceu. Com o tempo, comecei a me sentir culpada demais em sair com amigos e deixar minha avó doente. Me tornei leiga em termos médicos. Metástase? Quando o câncer se espalha. Plaquetas? Significa as plaquetas sanguíneas, extremamente perigoso quando baixas. Eles dizem que câncer se refere a uma anomalia nas células. Eu digo que é uma doença idiota que tirava a minha avó de mim. Os tratamentos não eram simples. Ela sentia dor e desconforto. Eram horas a observando sentada em uma cadeira recebendo a quimioterapia. O pior de tudo é que ela agia naturalmente, como se tudo estivesse bem, quando não estava. Ainda me lembro exatamente do dia em que o cabelo dela começou a cair.

– Vovó? Aqui está seu leite. – Entrei carregando um copo de leite no quarto dela.

Eu não dormia havia 30 horas. No dia anterior, assim que sai da escola, ajudei a minha mãe a leva-la ao hospital. Assim que voltei para casa, voltei a estudar para os testes da escola. Como meu registro já estava comprometido graças a Luke, tentei dar o melhor de mim em tudo. Virei àquela noite estudando, indo para a escola logo de manhã e depois, até o começo da noite na casa de Sam realizando um trabalho. Havia chegado há pouco tempo, apenas lavei as mãos, chequei com a minha mãe se estava tudo bem e preparei aquele copo de leite para ela, dispensando a ajuda de Thomas.

A encontrei, para a minha surpresa, encarando a si mesma no reflexo do espelho da sua penteadeira. As mãos que tinha no cabelo abaixaram lentamente e, entre os dedos, tufos do seu cabelo branco. Arregalei os olhos, chocada. Ela olhou para mim pelo reflexo e tentou esconder, mas era tarde. Coloquei o copo de leite na cômoda ao meu lado e fui até ela, me abaixando ao seu lado cautelosamente.

– Era de se esperar. – Ela disse dando de ombros.

Peguei suas mãos, deixando que os fios de cabelo caíssem no chão, os esquecendo.

– O que? – Ela fez, fingindo se irritar. – Você não vai chorar agora, vai? Que bobagem. Traga meu leite.

Mas continuei imóvel, olhando com carinho para ela. Poucos segundos, finalmente a lágrima que ela prendia caiu. Ficamos um bom tempo assim, abraçadas, chorando uma no ombro da outra. Nunca, desde que nos conhecemos, tivemos um momento tão impactante como esse. Depois, ela limpou as lágrimas do rosto de pele fina e enrugada com os dedos longos e tocou a penteadeira, procurando por algo.

– Vá até meu banheiro, pegue o aparador elétrico.

Olhei para ela, franzindo o cenho. Ela me encarou, como se não gostasse da minha falta de eficiência.

– Vá, vá! – Insistiu, mexendo as mãos.

Me levantei e fui, trazendo de volta comigo a maquina 3. Olhei para ela, segurando o negocio sem saber mais o que fazer, e ela se ajeitou na cadeira da penteadeira.

– Ótimo, agora pode começar.

Arregalei os olhos, pensando que talvez não tivesse ouvido direito.

– Pode começar. – Repetiu autoritária.

Ah, não, não, não, não. Isso eu não podia fazer. Eu podia pular de asa delta, passar 40 dias no deserto, nadar com tubarões, mas não poderia raspar o cabelo dela. Balancei a cabeça, negativamente.

– Não fique com medo, é o meu cabelo, não os seus. – Ela brigou. Fiz cara de emburrada. – Vamos!

Passou-se um tempo até eu concordar, relutante.

– Espere. Comece com isso aqui. – Ela me entregou uma tesoura prateada e eu deixei a máquina de lado, pegando o objeto pontiagudo.

Hesitante, toquei nas madeixas brancas dela. Podia ver a minha avó começar a finalmente se assustar. Percorri os dedos pelo cumprimento - chegava até os ombros dela. Segurei uma boa parte dos fios finos e lisos. Em festas, aparecimentos públicos, desfiles de moda, ela sempre era elogiada pelos cabelos macios e brancos, presos em diferentes penteados clássicos feitos pelos melhores cabelereiros do país. Cautelosamente, cortei esse cabelo, perto da nuca. A tesoura fez barulho e, pouquíssimos segundos depois, o cabelo cortado caiu no chão. Olhei para a minha avó pelo espelho e ela olhou de volta para mim. Sua expressão era inexplicável, apenas assentiu me encorajando a continuar. Picotei toda a extensão do cabelo, me sentindo horrível por isso. Quando os fios já estavam bem curtos, peguei a máquina e a liguei. O barulhinho assustava um pouco e, com cuidado, passei a máquina na cabeça dela, da testa em direção a nuca. Formou-se caminho reto e raspado em meio ao cabelo. Continuei fazendo isso até que peguei a prática. Quando finalmente terminei, olhei para ela no espelho, para o resultado.

Era algo incrivelmente triste de presenciar. Eu poderia viver mil anos, mas continuaria a me lembrar dessa cena nitidamente. Ela abriu os olhos, apreensiva. Depois olhou para mim e, apesar de não parecer triste, eu conseguia entender o olhar dela. Ela tocou a careca com os dedos finos, de unhas vermelhas. A falta de seu cabelo parecia tão errado. Ela me ajudou a limpar a bagunça e, depois, me mandou entrar em seu closet e lhe trazer todas suas echarpes e lenços. Coloquei tudo em cima da cama, uma coleção notavelmente grande de vinte ou trinta lenços. Ela analisou bem as peças, até apontar para uma que eu peguei e a entreguei: um lenço de seda com estampa colorida e abstrata Hermès. Ela amarrou rapidamente o lenço na cabeça e a encaramos no espelho.

– Hm, nada mal. – Ela falou dando de ombros e eu sorri, concordando.

Já se passaram dois meses desde que isso aconteceu. Acho que fomos nos acostumando com a vida que fomos levando nos últimos meses. Sabe, as coisas estavam começando a ficar complicadas. Eu só via meus amigos durante a aula. Eu não sabia mais da vida de ninguém. Eu nem ao menos tinha mais uma vida social, dizendo a mim mesma que me recompensaria quando tudo isso acabasse - quando a minha avó se curasse e a escola acabasse. O dinheiro também não durava para sempre. Como ela deixou de trabalhar, estávamos sobrevivendo com a venda das ações dela; uma bagatela de milhões. Mas há três carros de luxo na garagem para manter, conta de luz e água absurda para sustentar a casa, impostos, feira do mês, contas médicas porque ela recebia tratamento dos melhores médicos da cidade no melhor hospital da cidade, um motorista, uma faxineira, uma cozinheira, Thomas, um piscineiro e dois jardineiros. Com o tempo, acabamos tendo que demitir a maioria dos empregados, só ficando com o piscineiro e um jardineiro que vinha uma vez a cada duas semanas, uma diarista que vinha a cada quinze dias e Thomas, que nunca deixaria a minha avó sozinha. Além do mais, Adam é quem cuidava dessas coisas. Minha cabeça era imatura e ocupada de mais para isso.

Uma semana depois de termos raspado o cabelo da minha avó, ela quis me encontrar em seu quarto. Havíamos acabado de chegar de uma consulta, uma daquelas que saíamos decepcionados depois. Eu estava ajudando a minha mãe no jantar quando ela me chamou.

– Estamos fazendo grelhado. – Eu falei sorridente entrando no quarto dela, para animá-la. – O que queria falar comigo?

– Sente aqui, Alicia. – Pediu dando batidinhas ao lado dela na cama.

Eu sentei e a olhei, esperando. Ela suspirou e ajeitou o lenço na cabeça.

– Eu quero que você esteja preparada para tudo que lhe vier na vida. – Falou. Eu franzi a testa, confusa. – Eu não fui uma boa avó para você, nem uma boa mãe... – Ela fungou e balançou a cabeça, tentando esquecer. – Se qualquer coisa acontecer comigo...

– Vovó, não vai. – Eu a interrompi.

– Eu sei. Mas caso aconteça... Caso eu chegue a... – Ela não completou. Pegou algo na cômoda ao lado da cama e colocou em minhas mãos. – Guarde isso com a sua própria vida.

Eu abri a mão e encontrei um papelzinho. Desembrulhei o papel e não havia nada escrito, apenas números. 0718. Torci o nariz.

– Obrigada. – Falei, meio sem entender. – Mas para que serve?

– Quando mais nada der certo, abra o porta-joias.

Olhei para ela em um mix de confusa e preocupada. Meu Deus, agora ela estava ficando louca.

– Vovó...

– Faça o que eu digo. E esconda isso.

– Ahn... tudo bem. – Guardei o papel de qualquer jeito no bolso da calça.

Naquela noite, comemos o grelhado e assistimos a filmes da Lucille Ball, tentando esquecer qualquer coisa ruim. No fundo, todos esses compromissos serviram de uma coisa: ocuparam a minha mente por cinco dos sete meses desde que Justin foi embora.

Eu o acompanhava pela mídia. Scooter também mandava noticias quando ligava para a minha mãe – ele tinha planos para a carreira dela, mas só os colocaria em ação no fim da turnê de Justin. Sempre estava falando com Kyle, mas, desde que Justin e Selena terminaram, Kyle não teve mais noticias dele. Eu tinha o número de Justin, mas não ligava. Ele me mandou uma foto no seu segundo mês fora, de uma casa de panquecas em Denver, falando que eram as melhores panquecas do mundo e que gostaria de me levar lá um dia. Eu respondi “mal posso esperar”. No mais, ele não sabia de nada do que acontecia aqui em São Francisco ou comigo. Eu não queria contar e também essa turnê era para ele tirar um tempo e se tornar ser uma pessoa melhor para si mesmo, família, amigos, fãs... e para mim.

E assim se passaram cinco meses. Não achei que conseguiria, mas até que se passou rápido. A turnê na América de Justin já havia acabado e agora ele estava na Inglaterra, fazendo uma mini tour na Europa. Em poucas semanas chegaria ao fim e ele voltaria para casa. Eu não sabia como as coisas iriam ficar depois disso. Não nos falamos há meses. Eu não sabia se, nesse meio tempo, ele pensou melhor e achou que não seria uma boa ideia voltar comigo. Eu não sabia se ele tinha mudado demais. Eu havia comprado seu presente de aniversário de 19 anos e não parava de usar o que ele havia me dado. Quando me sentia muito sobrecarregada ou muito sozinha, quando o tratamento da minha avó não correspondia bem ou o dia estava simplesmente uma merda, eu tocava seu pingente só para não me sentir tão mal assim.

Meu celular vibrou com mensagem pela primeira vez em semanas, me retirando do devaneio. Era Sam, em uma tentativa frustrada de me tirar de casa. Meus amigos já haviam desistido havia um tempo de sair comigo, não reclamavam, no entanto, porque entendia meu lado, mas estávamos nos distanciando. Olhei para o relógio. 20h de um sábado à noite. Estava com saudades dela, mas não sentia tanta falta assim de sair e me divertir. Na verdade, acho que nem me lembro mais o que é isso. Decidir ir falar com a minha mãe, antes. O meu professor de história estava aqui esta noite, o namoro deles cada vez mais sério. Com os acontecimentos dos últimos meses, deixei de dá importância para isso. Trocava algumas poucas palavras com ele, seja na escola ou com a minha mãe, e o tratava bem, mas só. Ainda era estranho. Mamãe falou que cuidaria dela, já que Thomas estavam de folga hoje, e que Mr. Wilson poderia ajuda-la, mas que duvidava de que ela acordasse tão cedo. Chequei a minha avó mais uma vez. Estava adormecida, cansada. Mal podia vê-la no meio dos lençóis. Então respondi Sam e decidir ir me arrumar.

Fazia tempo que eu não me arrumava. Eu geralmente pegava a roupa mais confortável do meu armário, prendia o cabelo em um rabo de cavalo ou um coque e passava rímel e blush, só para não dizer que não passei nada. Essa noite, eu realmente procurei caprichar. Tentei me familiarizar com os pinceis de maquiagem e delineadores. Soltei o cabelo e decidi deixá-lo liso esta noite, reforçando com a chapinha. Coloquei saltos, finalmente deixando os tênis confortáveis e companheiros de lado. Passei um dos meus perfumes caros e, no fim, gostei do resultado. Não parecia eu. Era a garota vaidosa de meses atrás novamente, só que ela estava diferente, e era em algo que o espelho não podia mostrar. Estava dentro de mim.

Soltei uma risadinha, em deboche de mim mesma, porque do jeito que eu estou vestida ninguém repararia no meu interior. Então peguei a bolsa e as chaves do carro e sai do quarto. Não pude evitar dá uma última espiada na minha avó. Desci as escadas e dei tchau para a minha mãe e Mr. Wilson. Já na garagem, o carro reluziu no escuro quando apertei o botão do alarme. Entrei, colocando a bolsa no banco ao lado e a chave na ignição. Íamos nos encontrar em um Pub Bar. Ela havia feito 18 anos em janeiro e, apesar de que aqui nos Estados Unidos só é legal o consumo de bebida alcoólica aos 21, nunca tivemos problemas. Pelo menos, não tinha problemas com 17, já que assim que fiz 18 deixei de frequentar festas. O truque era caprichar na maquiagem, usar salto para ficar alta e não falar muito na frente dos seguranças, porque eles são bem espertos, às vezes.

Na Pub, o local estava lotado, claro. Estava tocando Starstruck de Lady Gaga; reconhecia porque tinha esse CD no carro. Enquanto eu passava, encontrava pessoas tendo momentos bons com seus amigos e alguns caras - que vieram para "caçar" - me cantando. Os ignorei e, no canto do balcão do bar, encontrei Sam. Ela abriu a boca em sorriso e apontou para mim. O cara ao lado dela, instantaneamente, olhou para mim. Sam continuou a rir e se levantou para me abraçar. Eu podia sentir o cheiro de álcool dela.

– Sam, quantas você bebeu? - Sussurrei para ela, em meio ao abraço.

Ela se afastou de mim e fez um com a mão. Depois, abriu a mão em cinco, se corrigindo, e voltou a rir. Ah, seria uma longa noite.

– Ali, quero que conheça o...

– Steve. - O cara disse, visto que Sam não se lembrava.

Apertei a mão de Steve e sorri.

– Alicia.

– É um prazer, Alicia. - Os olhos de Steve brilharam negros. Podia ver que estava gostando de está rodeado por mim e Sam.

– Vai querer o que para beber? Olha, esse... qual o nome disso?

– Mojito. - Steve respondeu.

– Esse mojito é muuuuito bom.

– Sam - arregalei os olhos para a bebida com folhas de hortelã. - Quantos desse você bebeu?

Ela riu, jogando a cabeça para trás. Meu Deus, ela estava muito bêbada.

– Eu só bebi isso desde que cheguei aqui.

– Você está louca? - Tirei o copo dela. - Você vai passar muito mal quando tudo isso acabar.

Balancei a cabeça em desaprovação, me sentando ao lado dela no balcão. Steve se inclinou sobre Sam para poder olhar para mim.

– Vocês são amigas há quanto tempo?

– Desde... - Sam começou, mas eu bati nela com meu cotovelo, já que bêbada ela poderia falar algo que não devia e o bartender estava bem perto para acompanhar nossa conversa, terminando de atender alguém para me atender.

– Desde a faculdade. - Disse naturalmente, atuando.

– Ah legal! Vocês fizeram faculdade de que?

Eu ia dizer sociologia, porque é bem fácil entrar e sair desse assunto. Se eu falasse medicina ou direito, poderia me atrapalhar. Mas Sam interrompeu, dizendo:

– Veterinária. Nós somos veterinárias.

– Ah, serio? - Steve se fez de impressionado.

– Haha, bom, ainda não nos formamos. - Sorri amarelo e chutei Sam por debaixo da bancada.

Ela deu um pulinho, mas não reclamou.

– Eu tenho um gato. Quem sabe eu não ligue para uma de vocês quando ele precisar. - Ele olhou malicioso para mim e Sam e eu não respondi, apenas focei um sorriso e pedi minha bebida.

– Argh, os banheiros daqui são horríveis e lotados. - Ouvi Jenna bem atrás de mim e me levantei, para lhe cumprimentar. - Ali, você veio!

– Acabei de chegar. - Disse, depois, abraçando Jenna para disfarçar, falei no ouvido dela: - Quem deixou a Sam beber tanto assim? Ela está caindo de bêbada e a noite nem começou.

– Ela o que? - Jenna olhou para Sam e depois de volta para mim. - Quando eu sai ela não estava assim. Fiquei apreensiva em deixa-la sozinha com esse cara, mas estava muito apertada.

– Ei! - Sam começou a puxar a minha saia, como se tivesse cinco anos. - O que vocês estão cochichando aí?

– Nada. - Fiz cara de desentendida e me sentei, assim como Jenna, de volta.

Meu Shirley Temple - que não era mais nada além de gelo, groselha e refrigerante de gengibre, sem álcool já que eu iria dirigir e cuidar de Sam e Jenna - já havia chegado e eu dei um gole pelo canudinho.

– Ah você só vai beber isso? Isso é bebida de garotinha! - Steve apontou para meu copo e começou a rir.

– Acontece que eu vou dirigir. - Revirei os olhos sem ele perceber.

– Ah, não acredito. - Sam disse, fazendo cara de surpresa. Olhamos para ela sem entender. - Escuta. - Ela apontou para o nada, para prestarmos atenção na música.

Quando parei para escutar, comecei a ouvir a letra de DJ Got Us Fallin' In Love.

– Uhuuuul! Eu amo essa músicaaa!! - Ela gritou e se levantou, começando a dançar ali mesmo.

Steve parecia se divertir com a Sam bêbada. Eu ia me divertir muito mais quando contasse o que ela fez assim que o efeito do álcool passasse.

– Sabe, nós conhecemos o Usher. – Sam pôs seu braço pesado no meu ombro e puxou meu pescoço.

– É mesmo? – Ele se impressionou.

– Sim, nós conhecemos um monte de gente famosa. Ela, por exemplo, já teve um caso com Justin Bieber. – Ela disse para ele cochichando, como se fosse segredo.

Eu, indignada, puxei Sam.

– Sam! – Fiz cara de brava, ainda sem acreditar no que ela tenha dito.

Steve me analisou.

– Serio?

Olhei para ele, sem responder. Sam fez cara de culpada e colocou o dedo indicador na boca, pedindo silêncio. Steve cerrou os olhos para mim.

– Ah, eu não acredito. – Ele riu. Jenna e eu começamos a rir também, nervosas. – Quantos anos você tem, 21? 22? Se envolvendo com um menininho de 16... Agora não acredito mais que você conheceu o Usher, Sam. – Ele brincou e eu puxei Sam para sentar antes que ela falasse mais qualquer coisa.

Suspirei aliviada junto à Jenna e ela riu. De repente, um monte de cara se aproximou de nós e cumprimentaram Steve com intimidade.

– Apresenta a gente para suas amigas, Steve. – Um cara grandão pediu.

– Ah, essa é Sam... Alicia, certo? E... Desculpa, eu não lembro o seu nome.

– Jenna. – Ela forçou um sorriso.

– Esses são Mike, Johnny e Peter. – Ele apresentou. Se eu for dá uma descrição detalhada deles, diria que um tinha cabelo preto e olhos castanhos, o outro loiro de olhos azuis e o outro de cabeça raspada, e que todos tem em média 26 anos, por aí, como Steve. Mas, sinceramente, eles são praticamente iguais, com camisetas de marca, iPhone 5 no bolso e jeitinho de pegador, mas ignorante.

Mike gostou de Jenna. Steve continuava a investir em Sam e Peter foi para o meu lado, deixando Johnny de mãos atadas. Mas, se dependesse de mim, todos eles estavam. Jenna e eu ainda os aguentamos por alguns minutos, até que, uma hora não deu mais. Mike estava começando a ficar muito grudento e Peter não tinha papo, não que eu alimentasse as conversas dele. Então eu olhei para Jenna e ela entendeu meu olhar, apoiando.

– Então é isso, acho que já está na nossa hora.

– O que? Nããão! – Sam choramingou e Steve fez beicinho.

– Vamos lá, Sam. Temos que cuidar daquele cavalo doente na segunda, lembra? Precisamos estudar.

– O que? – Ela fez cara de “WTF”, depois abriu a boca, entendendo.

– Tchau pessoal. – Falei, arrastando Sam.

– Eu não ganho nem um beijinho? – Mike pediu a Jenna, segurando a mão dela com força.

– Acontece que eu tenho namorado. – Ela deu de ombros.

Para falar a verdade, Jenna havia acabado de terminar o namoro dela. Sem ressentimentos, foi ela mesmo que terminou tudo e estavam bem com isso, mas Jenna só quis se livrar do cara. Ela me ajudou a tirar Sam do bar, que saiu rindo e falando muito alto, chamando a atenção de quem passávamos. Assim que colocamos o pé para fora, os risos dela cessaram e ela colocou a mão na barriga.

– Aí... Acho que não estou legal.

– Também, pudera.

– Podemos ir para outro lugar agora? Eu quero dançar!

– Até poderíamos, mas você está bê-ba-da. Não sabe nem colocar o dedo no próprio nariz.

– Eu sei sim! – Ela fez cara de emburrada e tentou, acertando a bochecha. Tentou de novo, e o dedo foi para a boca. Jenna riu.

– Foi o que pensei. – Falei, divertida.

Havia estacionado no fim da rua, graças a falta de vagas mais perto. Se afastando da Pub, a rua começava a ficar mais escura. A única coisa que podíamos ouvir era o som dos nossos sapatos, Sam cantando a música de Usher e Jenna e eu reclamando do peso dela, já que tínhamos que carregá-la. Sam é pequena e magra, mas ela estava colocando força para o chão e era difícil reconciliar isso a se equilibra em saltos altos. Passamos direto por um beco, onde tive a ligeira impressão de ter visto algo. Voltei para trás com poucos passos e cerrei os olhos, para enxergar na escuridão.

O cabelo escuro para trás com gel, o paletó polido... Era familiar. O cara de frente a ele, mesmo não conseguindo vê-lo direito no escuro, era assustador. O cabelo sujo e bagunçado chegava quase nos ombros em corte desuniforme e ele usava luvas de couro nas mãos que deixavam os dedos a mostra. Quando o homem olhou para mim de repente, a cicatriz dele reluziu na luz da lua e eu me assustei e corri até Jenna e Sam. Apressei o passo para chegar ao carro logo.

– Calma! – Jenna disse franzindo o cenho enquanto eu me enrolava com as chaves do carro a tirando da bolsa, deixando as chaves caírem no chão.

– Droga! – Amaldiçoei, procurando as chaves por debaixo do carro.

Estava escuro, a saia apertou e subiu quando eu me agachei e, para completar, estávamos em uma ladeira. Tateei com as mãos o chão até sentir as chaves e, quando me levantei, dei de cara com o cara de paletó no beco. Eu já imaginava. Adam.

– O que você está fazendo aqui, Alicia? – Ele perguntou, intimidador.

Não respondi, ainda me recuperando do susto e tentando associar as coisas.

– Já está tarde para você ficar fora de casa. A sua mãe sabe disso?

– Sabe. – Falei.

– Hum – Ele bufou, rindo pelo nariz. – Claro que a sua mãe sabe, a liberdade que ela te dá... – Adam balançou a cabeça negativamente, depois olhou para trás de mim, vendo Sam caindo de bêbada. – Você não devia está cuidando da sua avó agora?

Eu não respondi novamente, começando a me culpar por dentro pelo tom de voz que ele usou.

– Volta pra casa e eu vou pensar se devo contar ou não para ela o que a netinha anda fazendo enquanto ela está de cama.

Abri a boca para falar algo, mas ele já estava indo embora. Soltei o ar que não achei que estava segurando.

– Ele me dá medo, sabia disso?- Sam disse com sua voz de bêbada.

Jenna colocou as mãos nos meus ombros.

– Ei, não liga, não. Todo mundo sabe que você tem se empenhado muito para cuidar dela.

Jenna me abraçou rapidamente e então viramos assustadas pelo som que Sam fez. Perto do pneu traseiro do meu carro, ela vomitou todos os mojitos. Jenna e eu fizemos caretas. Sam continuou a colocar para fora e eu fui até ela, agarrando o cabelo ruivo para trás. Em meio ao vomito, Sam começou a choramingar e se arrepender das bebidas que tomou, e Jenna e eu começamos a rir.

Não entramos no meu carro até ter certeza de que ela não sujaria tudo. Prendi o cabelo longo dela em um coque frouxo na cabeça e Jenna e eu a sentamos no banco de trás, atacando seu cinto. Deixei Jenna em casa e levei Sam para a minha, já que a mãe dela não reagiria muito bem ao estado da Sam. Não sei como, mas consegui levar Sam até meu quarto sem fazer barulho. Tirei os sapatos dela e a levei até o banheiro, onde ela necessitou imediatamente do vaso. Deixei-a lá, tirei meus sapatos e corri para baixo. Meu professor ainda estava em casa. Eram apenas 22h e pouca da noite e eles estavam assistindo um filme, inocentemente.

– Mãe? – Chamei da porta da sala de TV e os dois viraram assustados para mim. Acho que era filme de terror. – Você pode ligar para a mãe da Sam e avisar que ela vai dormir aqui em casa hoje?

– Ah claro... – Ela disse meio avoada. A peguei de surpresa, definitivamente. – Onde Sam está?

– Está no meu quarto. A gente vai fazer festinha do pijama então bate antes de entrar. – Dei uma desculpa.

– Tudo bem. Vocês querem que eu leve algo para comer?

Torci o nariz. Tudo o que Sam não precisava agora era de comida.

– Não, já comemos fora.

– Tudo bem. Boa noite, meu amor.

– Boa noite.

– Boa noite, Alicia. – Meu professor falou e sorriu. Eu apenas sorri.

Corri de volta para o quarto, subindo a escada de dois em dois degraus.

– Ahn... Eu nunca mais vou beber. – Sam disse saindo do meu banheiro, limpando a boca com as costas da mão.

– É o que todos dizem. Vai, volta para o banheiro e toma um banho gelado. – Ela fez cara feia para mim, balançando a cabeça negativamente com medo da água. – Vai tomar banho sim. Eu vou pegar um pijama para você.

A empurrei para o banheiro e liguei o chuveiro, depois indo para meu closet, fechando a porta do banheiro para dar a ela privacidade. Peguei um pijama novo da Victoria’s Secret que ainda não havia usado e coloquei na porta do banheiro. Prendi meu cabelo, porque ele estava me incomodando, e mandei uma mensagem para Jenna para avisa-la que estava tudo bem. Desci novamente e parece que o encontro da minha mãe e o Mr. Wilson havia acabado. Espiei eles se despedirem na porta da casa. Mal podia ouvi-los, mas ele deu um beijo rapidinho nela antes de sair. Desci os últimos degraus da escada e encarei minha mãe que tinha um sorriso de boba no rosto.

– Ah, Ali, eu já liguei para Savannah, ela disse que estava tudo bem, mas Sam deve voltar para casa antes das 8h, para a festa do avô dela.

– Tudo bem... – Disse, ainda pensando no último momento que presenciei. – Só vou pegar água. – Falei apontando para a cozinha. Mamãe corou e assentiu, engolindo em seco.

Fui para a cozinha e caminhei por ela sem ligar a luz. Sabia onde ficavam os copos e a localização da geladeira. Enchi um copo d’água para Sam e subi de volta. Antes, dei uma passadinha no quarto da minha avó. Ainda dormia como um anjo, como hoje mais cedo. Voltei para o quarto e Sam já estava de pijamas, com o cabelo molhado.

– Aqui. – Entreguei a ela o copo d’água.

– Obrigada. – Ela disse limpando a garganta e fungando. Sam bebeu a água e eu fui checar o banheiro. Pelo menos ela não o sujou. – Desculpa o que eu fiz.

Eu ri.

– Amigas são para isso. – Falei pegando uma toalha, lingerie e pijamas. – Você achou sua escova de dente?

– Sim, já escovei.

– Ok. Deita aí, eu vou tomar um banho.

Sam rastejou na minha cama e se encolheu debaixo das minhas cobertas. Tomei um banho, tirei a maquiagem, me vesti, escovei os dentes, tudo isso sem pressa alguma. Meia hora depois, abri a porta do banheiro. Sam já parecia está dormindo. Desliguei a luz do banheiro e fui de fininho até o lado oposto ao dela na cama minha cama King Size. Deitei e puxei as cobertas até meu pescoço, mas não achei que fosse dormir tão cedo.

– Ali? – Sam chamou, me pegando de surpresa.

– Sim?

– Você acha que alguém notou que eu estava bêbada?

Eu ri alto.

– Com sorte, ninguém percebeu.

Meus risos cessaram e ficamos em silêncio por um tempo.

– Ali? – Sam se virou para mim na cama. – Você sabe por que fiz aquilo?

– Não. – Virei-me para ela também. Os olhos verdes dela estavam vermelhos e sonolentos.

– Eu fiz por Kevin. – Ela disse e eu franzi o cenho. – Já faz meses que terminamos e eu ainda gosto dele.

Abri a boca em compreensão, observando os olhos dela começaram a lacrimejar.

– Ah...

– Foi assim quando Justin foi embora? – Ela me perguntou com voz chorosa.

Suspirei pesadamente.

– É... Foi assim. – Disse, enfim.

Ela olhou para a estampa do meu cobertor, pensando.

– Isso algum dia vai passar? – Me perguntou ingenuamente.

Eu olhei para mim mesma e, vendo a resposta, fiquei hesitante em contar a Sam, mas não quis iludi-la.

– Se você ama mesmo ele... Não, não vai. – Ela franziu o cenho, triste. – Quer dizer – eu me corrigi. -, passar, acho que passa. Mesmo que demore um tempinho... Mas eu devo está com defeito, porque já tem quase três anos e ainda não passou.

Ri triste de deboche de mim mesma. Sam não chorou, fez uma piada sem graça e me deu boa noite, virando para o outro lado e caindo no sono logo depois. Eu, no entanto, não dormi nem tão cedo, pensando na conversa que havia acabado de ter com a Sam. É como a Lucy Van Pelt, sim aquela personagem daquele desenho animado Charlie Brown, disse uma vez. As torturas da memoria de um amor perdido. É bobo, é um desenho, é de criança, mas ela tinha toda a razão e eu não saberia descrever isso melhor do que ela. “É horrível. Vai te assombrar noite e dia. Você irá acordar à noite gritando. Você não consegue comer. Você não consegue dormir. Você quer esmagar as coisas. Você odeia você mesmo e o mundo e todo mundo nele” e, pode parecer exagerado, mas não é diferente da realidade. Eu considero isso como uma metáfora. Mas, eu não sei, as coisas mudaram muito desde que pensava que não está com Justin era o fim do mundo. Dói, eu sinto falta, eu continuo me pegando sonhando com ele, mas parece que acordei para outro lado da vida onde coisas ruins acontecem e são maiores do que um amor perdido. Acho que cresci demais com o câncer. Aprendi a ser mais realista, o que tem seu lado bom e também ruim. Tive que amadurecer para acompanhar o que andava acontecendo comigo.

Outra parte da noite, me dediquei em tentar entender por que Adam estava conversando tarde da noite com aquele home suspeito e o que. Acho que foi aí que peguei no sono.

Só dormi por uma hora ou duas nessa noite. As 7h acordei Sam. Ela resmungou cansada.

– Quem mandou você beber todas na noite anterior ao aniversário do seu avô? – Ri.

– A minha cabeça dói. – Ela reclamou.

– Isso se chama ressaca. – Falei puxando o cobertor dela. Sam me xingou e se encolheu. – Levanta, ruiva. Vou chamar um taxi para você.

20 minutos depois, eu estava colocando Sam em um taxi. Ela estava engraçada de mais com um moletom e jeans velho meu e Ray-Ban, com suas roupas da noite passada em uma sacola plástica.

– A gente se fala depois. – Ela disse com a voz arrastada e eu ri me afastando do carro para que o motorista desse a partida.

Voltei para casa e mamãe estava colocando o café-da-manhã de domingo na bancada da cozinha.

– Eu fiz papa de aveia para ela. – Ela falou se referindo a minha avó.

– Ok, eu vou levar para ela. – Disse beliscando um pouco do meu cereal.

Peguei o prato quente e subi as escadas com cuidado. Quando entrei no quarto, ela ainda estava imóvel. As quantidades de remédio para dor que ela tomava era grande e eu sabia que ela gostava de dormir, já que acordada ela sentia dor. Mas ela precisava comer alguma hora.

Coloquei o prato na cômoda do lado da cama e fui abrir as persianas brancas das janelas que ocupavam a parede inteira. O sol fraco da manhã entrou no quarto, dando um bom aspecto ao ambiente. Abri uma brechinha de uma janela, apenas para entrar ar fresco, mas não muito para não deixa-la com frio e acabar pegando um resfriado, já que as defesas dela estavam muito fracas. Sentei na poltrona ao lado da cama dela e a analisei. Tirei o cobertor de seu rosto e pude ver os traços de cansaço e a falta do cabelo. Ela parecia magra demais e havia manchas ao redor dos olhos. Suspirei e a cutuquei.

– Vovó? – A chamei, sutilmente. – Vamos, está na hora do café.

Ela não se mexeu. A balancei de leve.

– Vovó? Sua papa vai esfriar. Eu sei que você não gosta, mas vai te fazer mais forte... – Cutuquei o negocio grudento no prato com a colher, depois voltei para ela. – Vovó?

Mas nem um sinal de vida. Os lábios dela, reparei, pareciam roxos... Não, estavam quase azuis.

– Vó, acorda. – Não pedi, ordenei, ouvindo a urgência na minha voz. – Acorda, acorda, acorda. Mãe! – Gritei, preocupada e continuei a balançar a minha avó. – Vovó, não tem graça! Acorda! Mãe! Mãe!


–----------

Mais uma vez, estava na sala de espera do hospital, na porta da UTI. Viemos parar aqui de ambulância. Uma médica veio nos dar notícia uma hora mais cedo. Parece que o que ela teve foi uma parada respiratória e, já na ambulância, uma parada cardíaca. A levaram para a urgência imediatamente. Disseram que haviam a recuperado, mas ainda não estava fora de perigo e não sabiam as sequelas disso. Acho que já estava por volta do meio dia agora e eu estava sentada em uma cadeira fria, fitando as botas Ugg que peguei nas pressas para sair de casa. Joe e tia Sarah apareceram logo depois. Eu olhei para eles, mas não me levantei para cumprimenta-los, voltando a olhar meus pés. Eles conversaram baixinho com a minha mãe e eu podia sentir os olhares de pena que direcionavam a mim.

– Alicia? – Tia Sarah finalmente se aproximou de mim e sentou ao medo lado. – Como você está?

Dei de ombros, sem saber o que responder ou sem querer falar.

– Você não está com fome? Já vai dar 13h.

Não fiz nada em resposta, entrelaçando os dedos das minhas mãos.

– Eu estou com fome. Você também está com fome, Joe? – Ela perguntou a ele, já perto da gente, junto com a minha mãe.

– Estou sim. – Ele alisou o estômago. O jeito que eles falavam comigo era como se eu voltasse a ter oito anos de novo. – Tem uma cafeteria aqui embaixo. Você não quer ir lá com a gente?

Não respondi, realmente agindo como se tivesse oito anos de novo.

– A sua mãe fica aqui, qualquer coisa.

Olhei para mamãe. Ela tinha a mesma cara que eu, de cansada, mas contraia os lábios em um sorriso, diferente de mim.

– Tudo bem. – Eu disse finalmente.

Eles sorrirem e me levaram pelo braço até a cafeteria.

– É comida de hospital, mas é melhor do que nada. – Joe disse, entregando a mim um cachorro quente e Pepsi.

Abri minha latinha, me perguntando onde estava a comida deles. Claro, eles não estavam com fome nada, só falaram aquilo para eu vim aqui. Dei um gole no refrigerante e depois uma mordidinha no meu cachorro quente. Eles me olharam atentos a todos os meus movimentos. Dei outra mordida, olhando para eles.

– Eu estou comendo, podem relaxar. – Disse revirando os olhos.

Tia Sarah riu amarelo. Forcei-me a comer tudo e, no final, eles ficaram felizes. Depois disso, me convenceram a voltar para casa e tomar um banho. Diferente da noite passada, voltei a me vestir do jeitinho que andava me vestindo ultimamente: jeans, moletom e all star. Sem maquiagem, apenas o cabelo preso em um rabo de cavalo e, na bolsa, barrinha de cereal, documentos, carteira de saúde e número de todos os consultores e pessoas importante da qual eu poderia ligar. Claro, isso tudo para a minha avó. Como ela estava na UTI, não poderia levar nada para ela, já que tudo o que ela precisava estava lá. Eu voltei para o hospital e a minha mãe voltou para casa, mas não demorei lá. Os médicos me mandaram para casa, já que eu não a veria hoje.

–--------

– Você vai à escola hoje? – Minha mãe perguntou. As olheiras nos olhos dela haviam amenizados nesta manhã de segunda-feira e imaginei que a minha também, já que tínhamos nos dado uma noite de sono.

– Não. O horário da visita é hoje de manhã e eu quero está lá. – Falei cutucando com a colher meu cereal com leite.

Mamãe não reclamou, claro. Perderia aulas importantes, mas não me importava. No meio daquela manhã, o celular da minha mãe tocou. Eu o peguei para entrega-la, já que estava perto de mim, mas quando vi o nome Scooter B. na tela, o atendi.

– Alô, Scooter? – Falei apressada demais.

– Alicia?

– Sou eu.

– Oi, tudo bom? – Ele se alegrou. – Onde está sua mãe? Tenho uma grande novidade.

– Acho que está tomando banho. Como está indo a turnê?

– Muito bem. Voltaremos para casa logo.

– E... Como é que está... Justin? – Falei meio envergonhada. Não sabia se Scooter tinha conhecimento da noite da minha festa.

– Ele está bem. Está ansioso em vê-la.

– Serio? – Só eu tinha consciência do enorme sorriso bobo na minha cara.

– Mas como anda as coisas por aí?

Nada bem, meu caro Scooter. Mas você quer um relatório detalhado ou apenas o resumo?

– Vão indo. Eu vou ver se minha mãe já saiu do banho.

Mamãe estava terminando de se vestir quando entreguei o telefone para ela. Não queria ouvir a conversa, então sai e voltei para a cozinha. Engraçado como eu gosto de ficar nessa cozinha. Nada de interessante já aconteceu comigo aqui, a não ser os deliciosos cafés-da-manhã da ex-cozinheira da mansão, Maria. O que me lembrava da casa de panquecas em Denver que eu deveria ir. O que me lembrava de Justin. O que me lembrava do quanto eu sentia falta dele e o quanto eu me sentia sozinha. O que me lembrava de que eu devia levantar da cadeira e apressar a minha mãe, ou perderíamos a hora da visita.

– Era Scooter. – Mamãe disse.

– Eu sei. O que ele queria?

– Queria marcar para nos encontrarmos em Los Angeles.

– Wow! – Abri a boca em um sorriso, enxergando a oportunidade de ouro. – E aí?

– Não acho que tenho tempo...

– Espera, quando é que ele quer que você o encontre em Los Angeles?

– Amanhã a tarde.

Fiz cara de surpresa.

– Eu teria que dirigir o dia todo e não posso deixar você com a sua avó no hospital... Fora de cogitação.

– Não, mãe, para. – Coloquei as mãos na frente dela. – Você tem que ir.

– Não, Alicia, eu não tenho. – Ela pegou a bolsa dela, querendo acabar com o assunto.

– É sério, é tipo, a oportunidade da sua vida! Eu vou ficar bem e a vovó está sendo cuidada lá no hospital. Vai dar tudo certo.

Ela apenas me olhou, eu quase convencendo ela.

– Quanto tempo você vai passar lá?

– Um dia.

– Olha aí, ta vendo? É apenas um dia. Vai lá. – Encorajei.

Ela ainda parecia hesitante, mas acho que concordou. Fomos no meu carro para o hospital. Acabamos chegando cedo e tendo que esperar na sala de espera. Lucy Maroon estava lá também. Ela me abraçou e abraçou a minha mãe.

– Não podia deixar de mostrar meu apoio a ela. – Lucy se explicou. – 47 anos atrás, sua avó e eu erámos apenas duas garotas de 18 anos de Minnesota, deixando a cidade em busca de nossos sonhos. Acabou dando certo, mas só Deus sabe o que não tivemos que passar até lá.

Sorri e então a médica apareceu.

– A família de Abigail Mayer?

– Aqui. – Mamãe disse levantando a mão.

– Vocês podem entrar agora, um de cada vez. Ela está acordada, mas não pode falar graças ao tubo traqueal.

Meu coração de apertou quando eu ouvi que ela estava intubada na traqueia.

– Ela está bem, doutora? – Mamãe perguntou se abraçando.

A médica não respondeu logo de cara, o que já não era bom sinal.

– Eu aconselho que vocês se dispersem dela. – A médica falou em fim e eu soltei o ar, exasperada. Olhei para Lucy e a minha mãe quando a médica foi embora, sem saber o que pensar.

– Você quer ir primeiro? – Mamãe perguntou.

Eu achei que diria “sim”. Achei que teria coragem para isso. Achei que seria mais forte. Mas, ao contrário disso, amarelei e balancei a cabeça covarde, me sentindo assustada.

– Eu vou. – Mamãe disse.

Ela entrou na UTI e lá passou um bom tempo. Me encontrei roendo as unhas, caminhando de um lado para o outro na ala de espera.

– Toma aqui. – Lucy me ofereceu em copinho de plástico de água.

– Obrigada. – Agradeci pegando o copo e indo me sentar. Lucy se sentou do meu lado e passou as mãos pelo cabelo vermelho.

– “Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro”.

– O que? – Falei confusa. Lucy riu.

– É uma citação. De Confúcio. Sua avó gostava dela.

Não disse nada, pensativa. Olhei para o copinho em minhas mãos. Eu queria está em qualquer lugar, menos aqui.

– Alicia? – Minha mãe disse, me pegando de surpresa. – Você quer ir agora ou depois?

– Eu vou agora. – Falei me levantando, em um ato de coragem para mim. – Como ela está?

– É melhor você mesma ver. – Mamãe falou em uma expressão indescritível.

Antes de entrar na UTI, devíamos desinfetar as mãos e vestir um tipo de bata sobre a roupa. Os enfermeiros me ajudaram nisso e apontaram para a cama que ela estava. Fui andando cautelosamente até ela, passando por outros pacientes tão doentes quanto. Quando cheguei perto de sua cama, suspirei.

– Oi, vovó.

A UTI era gelada, isso porque nenhuma bactéria sobrevive em um ar gelado. Ela estava acordada e, embora fosse difícil de vê-la em meio a tantos fios ligados a ela, ela podia me ouvir. Seus olhos estavam agitados, assustados.

– Estou aqui. – Falei pegando a mão dela e alisando o dorso. – Estou bem aqui. Você consegue me entender? Pisque se conseguir.

E ela piscou, deixando uma lágrima cair. Limpei a lágrima, sem consciências das minhas próprias caindo agora. Ela, uma mulher tão severa, tão rígida, agora tão indefesa, tão frágil. Era até irônico. Como a vida é... Uma das mulheres mais bem sucedidas e ricas do país, no final, em uma simples cama de hospital. Somos todos iguais por dentro.

– Eu estou orando por você. Eu oro por você todas as noites. – Minha voz saiu turva por conta do choro. Ela tentou apertar a minha mãe, sem sucesso por estar tão fraca. – Lembra quando nos conhecemos? Da pulseira do papai? – Levei a pulseira para frente do rosto dela para que ela pudesse ver. A pulseira balançou no meu pulso com os pingentes. – Eu fico feliz por você ter reconhecido. Eu fico feliz por ter me recebido e por ter mudado a minha vida.

Limpei as lágrimas do rosto e depois peguei de novo nas mãos dela.

– Eu sei que eu nunca disse isso, mas eu te amo. Você é a única figura de avó que eu conheço; a minha outra avó morreu quando eu era muito pequena. E eu fico muito feliz por isso, porque eu aprendi muito com você e eu continuo sempre aprendendo, por exemplo, a como ser forte.

Ela estava ficando agitada. O sonzinho da máquina que media as batidas do seu coração acelerou e ela chorava. Apertei mais a mão dela para acalmá-la.

– Só que a gente não viveu ainda tudo o que tínhamos que viver juntas. Então, por favor, fica boa logo. – Me inclinei e encostei a testa em nossas mãos. – Por favor, por favor. Não me deixa, não.

Passei um tempo assim, chorando, me sentindo boba por isso, mas as lágrimas não paravam. Ela levantou a mão fraca e a descansou no meu cabelo, movendo os dedos. Levantei o rosto e olhei para ela. Ela levou a mão até o coração.

– O que foi? – Perguntei tentando decifrar. - Tá doendo?

Ela balançou a mão em negativa.

– Quer alguma coisa? Quer que eu chame o médico?

Ela balançou a mão de novo e apontou para mim, depois para seu coração de novo.

– O que tem eu? – Ela insistiu em apontar mais para o peito. – Eu estou no seu coração?

Ela balançou a mão confirmando, então bateu no peito e tocou na minha mão.

– Você me ama?

Ela piscou os olhos e eu soltei uma risadinha curta, chorando ainda mais. Olhei para trás, para ver se mais alguém havia visto essa cena. Surpreendentemente, peguei os enfermeiros chorando e assistindo a nós duas, comovidos. Eu sorri meio tímida.

– Eu também te amo, vovó. Eu acho que eu tenho que ir, a hora da visita já vai terminar e Lucy está ai fora para te ver. Eu volto amanhã. – Beijei a mão dela e, relutante, a deixei.

Sai da UTI limpando os olhos. Mamãe estava me esperando apreensiva. Quando eu a vi, a abracei e comecei a chorar ainda mais. Mas chorar de soluçar mesmo. Esperamos Lucy sair e então nos despedimos dela. Voltamos para casa logo depois. Durante o dia, Sam ligou para mim, perguntando por que faltei a aula. Expliquei a situação da minha avó e Sam perguntou se eu queria que ela passasse na minha casa. Recusei, apenas querendo ouvir como havia sido a festa do avô dela, para esquecer o outro assunto. À noite, mamãe estava arrumando as malas e eu a ajudei.

– Eu não sei se vamos para um lugar muito sofisticado ou não. Por via das dúvidas. – E então ela colocou um vestido prata de mangas na malinha.

– Leva esse sapato também. – Falei meio desanimada. Mamãe olhou para mim, analisando.

– Você sabe que é só pedir e que cancelo com Scooter.

– Não, mãe, tá tudo bem. Eu quero que você vá. – Falei enfatizando.

– Tudo bem.

– Falou com o professor de história? – Perguntei, tentando fazer uma brincadeira.

– Sim...

– E o que ele achou?

– Da viagem ou da minha carreira de cantora?

– De tudo. – Dei de ombros.

Mamãe suspirou, olhando para o teto.

– Ele não... concorda muito com isso.

– É o que? – Meu queixo caiu de propósito.

– Ele é um professor. Seu trabalho é manter os pés no chão. Não esperava que ele concordasse mesmo.

– Ah mãe, que cara chato, larga ele. – Falei balançando a mão esquerda. Mamãe riu.

– Não que ele seja contra. Ele mesmo disse que nunca me proibiria de nada. Mas ele não gosta do fato de que eu teria que viajar muito.

– Mãe, eu sou a sua filha e não me importo com isso. Ele é só seu namorado, não devia se importar também.

Mamãe riu.

– É... Eu estou começando a achar que ele quer algo mais serio.

– Como assim? – Brinquei com a renda do travesseiro.

– Mais serio que namorado.

Arregalei os olhos, levantando o olhar para ela.

– Quer dizer, casar?!

– Não aja desse jeito.

– Que jeito?

– Indignada.

– Mas eu tô indignada!

– Não fique. Eu achei que você já tinha superado isso.

– Eu acabei de superar a fase namoro. A fase casamento é outra coisa completamente diferente.

Ela fechou a mala e a colocou no chão. Dava para ver que ela não estava feliz.

– Você já terminou?

– Já. – Disse me levantando da cama dela e batendo o pé até a saída de seu quarto.

Na manhã seguinte, acordei porque a minha mãe veio se despedir de mim. Ela não sabia que eu estava acordada, apenas sussurrou “eu te amo” da porta do meu quarto e foi embora. Ainda deitada na cama, ouvi o carro ir embora, foi aí que me levantei. Não tinha nenhuma intenção de ir para a escola hoje. Me rastejei até a cozinha e peguei leite, enchendo um copo. Peguei o iPhone e chequei o Twitter, Instagram e Facebook. Não o meu, o de Justin. Isso sim é ser obcecada. Ele tinha realizado um show na Nova Zelândia ontem à noite e agradeceu aos fãs. Sorri para as fotos que postou nos aplicativos e coloquei uma música dele do meu iPod para tocar. (n/a? tradução aqui)

– Baby I’m here, I’m here to stay. I can’t go nowhere. – Cantei junto a ele Right Here, me movimentando com o ritmo da música.

– I know it’s scary cause you’ve been hurt, baby it’s alright. – Justin cantou e eu parei, ouvindo a letra. – Lost in your eyes everytime that you look in mine. Promise to be all that you need. I won’t leave you baby.

A música começou a fazer um efeito em mim que não fazia antes. Passando por toda a situação que estou passando e ouvindo essa letra, parecia até mesmo feita para mim.

– ‘Cause I just wanna love you, I will never ever put nobody up above you, I just wanna kiss you baby, I just wanna hug you 'till the end. Baby 'till the end. Cause I'm right-ight here, ain't nobody gotta hold ya.

Quando o refrão começou a cantar, minha respiração disparou. Eu estava sentada na bancada, segurando meu copo de leite, com o iPhone na mesa, a música ressoando pelo ambiente. Se eu fechasse os olhos, sentiria Justin aqui.

– Mas você não está aqui. – Falei antecedendo meu choro. Choro descontrolado e inevitável.

– Say you'll be mine, say we'll be fine, say we'll be together, selfish of me to ask since I'll be the reason we gon' last forever. Wished that you knew all that I do to make this thing go right. – A parte de Drake parecia uma parte que eu deveria cantar, porque era todas as minhas dúvidas. Chorei mais ainda.

Fui escorregando até o chão e segurei os cabelos com a mão, fechando os olhos. Eu soluçava. Era tão bobo o que eu estava fazendo, queria que pudesse pensar “levanta, Alicia, para com isso, deixa de ser tão criança!” Mas não conseguia. Acho que toda a carga que estava passando nos últimos meses veio para cima de mim pesando agora. Comecei a ficar preocupada em ter outro ataque de pânico. Estava sozinha, quem ia me socorrer?

Busquei o telefone e parei a música. Acessei a agenda e meus dedos correram até o nome dele. Tinha uma foto dele, uma que eu bati na McDonald’s quando nos encontramos, no ano passado.

– Por que você apagou meu número? – Ele perguntou naquele dia, puxando meu telefone de mim.

– Por que você apagou o meu número?

– Eu nunca apaguei seu número. – Ele franziu a testa, fazendo sei lá o que no meu celular.

– Mas, naquela festa, você perguntou...

– Eu perguntei se o seu número era ainda o mesmo, não qual era.

Fiquei surpresa, claro. Ele guardou meu número por dois anos, diferente de mim, que apaguei assim que vi as fotos dele e Selena na festa pós-Oscar da Vanity Fair.

– Quem é Dean? – Justin perguntou indiferente e eu travei na cadeira.

– Haha, ninguém. – Falei puxando o telefone dele.

– Espera! – Ele fez beicinho. – Eu quero bater uma foto legal para ficar nos contatos.

Justin tomou meu celular de volta e fez várias caretas em frente à câmera. Eu ria de chorar, por que era tão bom ficar ao lado dele? Eu me sentia... segura. Acho que é essa a palavra. Me sentia protegida, coisa que não sinto longe dele. E no fim, resultou nesta foto que estava vendo agora. Sorri para foto, sentido todas as forças do mundo naquele meu polegar para apertar a tela em “chamar” e ligar para ele. Mas não fiz.

Limpei as ridículas lágrimas e me levantei do chão. Eu aguentava mais algumas semanas, para quem aguentou anos.

–---------

– Oi, vovó. – Falei chegando ao lado de sua cama da UTI e segurando suas mãos. – Fico feliz em te ver hoje. Ontem à noite fizemos etouffée, mas não tem graça sem você, então você tem que voltar logo.

Alisei a mão dela em cima de uma manchinha da idade.

– Você está se sentindo bem hoje? Se sim, pisque.

Ela não piscou. Continuou olhando fixo para o teto. Suspirei pesadamente.

– Você vai sair dessa. – Sussurrei. – Você é forte.

Então ela finalmente olhou para mim e seu olhar me deu pena.

– Mamãe foi para Los Angeles hoje. Lembra quando eu contei que o meu amigo, Scooter, queria torna-la cantora profissional? Então, acho que agora vai. Eu sei o que você ia falar, que nada disso é profissão e tal... – Dei uma risadinha. – É melhor do que não ter certeza alguma do que fazer com a vida. Viu? Você tem que me ajudar a escolher o curso para a faculdade.

Podia ver um meio sorriso da boca entubada dela.

– E o vestido para a formatura. A senhora é a mulher mais chique que conheço, preciso de suas sugestões. Eu pensei em vermelho. Eu gostei do vestido da minha festa de aniversário. Foi a senhora que escolheu, certo?

E ela piscou.

– Mas, para a formatura, ainda acho azul bonito. O que a senhora acha, vermelho ou azul? Pisque para vermelho.

E ela não piscou.

– Ok, azul então. – Ri. – E ainda tem os sapatos e a maquiagem... É tanta coisa! Não vou dar conta disso tudo sozinha.

Bip-bip-bip... era tudo o que recebia em resposta, a máquina ligada ao seu coração.

– E tem o penteado. Eu sei que a senhora prefere meu cabelo preso, mas acho que vou deixa-lo solto. Fica melhor nas fotos.

Bip-bip-bip...

– Ai, droga! – Bati na testa. – Temos que arranjar um fotografo. Mas eu não quero James Calder. Eu sei que você gosta dele e tal, mas ele me odeia! Ai, ai... Faz tempo que eu não trabalho.

Bip-bip-bip...

– Será que ainda tenho um trabalho? Acho que engordei. Eu sei, eu sei, nada para se orgulhar. A senhora provavelmente ia me forçar a só comer salada. – Ri um pouco. – Mas não gosto de ser tão magra. James ia me chamar de Mobidik.

Bip-bip-bip...

– Eu estou falando de mais? Eu não quero lhe cansar. É só que é bom falar com a senhora.

Ela me olhou e seus olhos verdes mortos quase brilharam.

Bip-bip-bip...

– Queria que pudesse falar comigo também... Ah, sabe o que eu trouxe? Suas maquiagens. Não posso entrar com isso aqui, mas quando te transferirem para um quarto, eu posso passar em você. Eu sei que odeia que te vejam sem maquiagem. Tudo bem se eu te maquiar?

Piscou os olhos.

– Trouxe se blush rosinha da Chanel e aquele batom nude. E então, quando seu cabelo crescer, a senhora pode usar aquela presilha de diamantes. Ela é linda! Era da sua mãe, certo? Podemos dar outro baile. Aquele seu vestido longo de brilhantes ficaria perfeito. Todos iam olhar para você e falar “olha só, venceu um câncer e continua radiante”. O que acha disso, vó?

Nada em resposta. Em vez disso, ela olhava morto para o teto. Balancei a mão dela?

– Vó?

Bip-bip-biiii... A máquina parecia está quebrada. Um barulho agudo e irritante saia dela agora e eu encarei o aparelho, assustada.

– Não, não, não. – Repetia em sussurro balançando a mão dela com mais força. – Por favor, não.

– Afaste-se. – Os enfermeiros chegaram e me empurraram para trás.

Eu fui me afastando como pedido, me sentindo completamente assustada. Alguém me abraçou por trás e eu me apoiei nessa pessoa.

– Ela está morrendo? - Perguntei, mas a pessoa não respondeu.

Chamaram os médicos e tentaram reanima-la. Eu vi tudo. Acho que uma parte de mim morreu assistindo aquela cena, o momento em que lhe deram o choque. Não conseguia ver a minha avó com tanta gente em volta, mas o som da máquina alertando a falta de batimentos era agonizante.

– Hora da morte: 10:31h. - Foi tudo o que eu ouvi antes de me tiraram da UTI e me furarem no braço com algum remédio que faz dormir. Acho que eu estava gritando.

–-------

– Como ela está? - Acho que era a minha mãe perguntando. Não ousei me virar para ver.

– Está quieta. - Tia Sarah respondeu, no mesmo tom de voz baixo. Talvez estivessem pensando que eu não estava ouvindo.

Escutei o som dos passos da minha mãe e depois senti suas mãos nos meus ombros. Estávamos na mansão, na sala de estar. Estava escurecendo agora, finalmente. Parecia que o dia não ia acabar nunca. Desde a hora da morte da minha avó até agora, muita coisa aconteceu. Chamaram a minha mãe e ela voltou no mesmo minuto. Tia Sarah apareceu para me buscar no hospital. Adam cuidou das papeladas do atestado de óbito. Hum... óbito. Foi tudo tão rápido que mal deu tempo do corpo dela esfriar, já haviam programado o velório. Aí veio a escolha do cemitério, caixão, coroa de flores, se devíamos colocar ou não formol nela. Formol. Como se ela fosse um animal empalhado. Claro, ela está morta, não é mais útil para ninguém, a enterrem logo. Como é que podiam ser tão insensíveis no leito de morte da minha avó? E aquela quantidade de pessoas que mal conheço me abraçando? Parem com isso, eu só quero ficar sozinha!

– Querida? – Mamãe me chamou. Eu nem pisquei. – Querida, sou eu. A mamãe.

Ela apertou mais meus ombros e se sentou ao meu lado, no chão mesmo.

– Vai ficar tudo bem. – Ela me abraçou por minutos. – O que deram para ela? – Perguntou a tia Sarah, preocupada.

– Calmante, mas está assim há horas. Não quis comer ou beber. Mal falou. Quando chegamos, ela só tirou os sapatos e sentou aí. Está assim desde então.

– Eu estou aqui, lembram? – Falei finalmente, me sentindo irritada. Fechei os olhos sentindo uma dor de cabeça se aproximar.

– Eu vou levar você para o quarto. – Minha mãe tentou me erguer, mas fiz força no chão.

– Não. Só... me deixem em paz. – Encostei a cabeça no braço do sofá.

– Você tem que descansar e comer alguma coisa.

– Mãe... – eu me virei para ela. Ia brigar com ela, mas não consegui. De repente senti uma pontada de angustia. – Ela morreu. – Sussurrei, quase como falando para mim mesma, porque ainda não conseguia acreditar.

– Venha, eu vou lhe fazer sopa.

Raspei o prato de sopa que mamãe e tia Sarah fizeram para mim. Depois quiseram me ajudar no banho, mas dispensei a ajuda; eu podia muito bem me virar sozinha. Lavei o cabelo para tirar aquele ar de hospital e coloquei minhas roupas para lavar. Peguei qualquer coisa na gaveta dos pijamas e tirei o excesso do cabelo molhado na toalha. Minha mãe entrou nessa hora no meu quarto.

– Está se sentindo melhor agora?

– Estou... – Disse sem emoção. – Acho que a ficha não caiu completamente.

Ainda parecia que era uma peça pregada pela minha cabeça, que ela ia voltar e tudo ia ficar normal. Ou então que eu não ia sentir tanta falta assim dela. Que iludida que sou.

– Eu sinto muito por ter ido viajar logo hoje e ter lhe deixado sozinha. – Ela pegou minha escova de cabelos e sentou na minha cama para penteá-los.

Me virei de costas para ela e coloquei todo meu cabelo para trás.

– Não tinha como a gente adivinhar. – Suspirei pesadamente.

– Estávamos indo nos encontrar com o produtor executivo e, no meio do corredor até a sala dele, recebi a ligação. Deixei Scooter e tudo lá e vim correndo, mas Scooter explicou tudo para o produtor.

A única coisa que se passava na minha cabeça agora ela a cena que presenciei mais cedo, do barulho da máquina e dos médicos tentando reanima-la na minha frente. Mal ouvia minha mãe, só sentia as mãos dela nos meus cabelos.

– Alicia? Você me ouviu?

– Hum? – Fiz saindo do devaneio.

– Eu disse que o enterro será amanhã às 9h.

– Ah, certo...

Continuada avoada e mamãe notou.

– Olha – ela terminou com o meu cabelo e me virou de frente para ela. -, eu sei que é difícil, meu bem. Eu sei que dói e machuca e eu sei que vai ser assim por um tempo. Mas, por favor, não me mantenha de fora. Você está me afastando e isso me preocupa, porque agora, nesse exato momento, tudo o que você está sentindo é muito importante.

– É isso, então? – Falei franzindo o cenho depois de um tempo. – Eu afasto as pessoas?

Olhei para a minha mãe em busca de resposta.

– Eu afasto as pessoas de mim, não é, mãe? Eu afastei o papai, e tia Sarah e os meus amigos e, esses, tão inúmeras vezes... Afastei o Justin e qualquer outro que tentasse se aproximar. Afastei a minha avó e, agora, estou afastando você. Por que eu insisto em ficar sozinha?

Minha respiração começou a ficar irregular e eu chorei mais uma vez naquele dia.

– Ei, ei, ei – Ela me abraçou forte. – Não pense assim nunca mais. Você não afastou sua avó e seu pai de você, entendeu? Foi uma fatalidade o que aconteceu com ambos. Nunca sua culpa.

– É, mas por que eu não tive o direito de tê-los? Eu mal consigo me lembrar do meu pai, mãe! E agora minha avó vai embora... Ela não devia ter ido embora! Ela não podia ter feito isso! Isso não podia acontecer porque ela era uma parte do meu pai, e agora eu não tenho mais nada dele!

Soluçava e me derretia nos braços da minha mãe. Ela passou um bom tempo me segurando e alisando minhas costas até eu conseguir me acalmar. Quando eu respirei fundo e os soluços involuntários passaram, ela levantou meu queixo para que olhasse nos olhos dela.

– Querida, a sua avó não era uma parte do seu pai. Você que é.

Ela acariciou minhas bochechas molhadas e eu já podia sentir meu coração se acalmar mais. Abracei a barriga da minha mãe, como se tivesse cinco anos. Era a única maneira de me sentir reconfortada agora.

– Seu celular está tocando. – Ela disse depois de um tempo.

Me levantei e peguei o celular em uma cômoda do outro lado do quarto. A foto de Justin estava na tela junto com seu nome. Olhei para a minha mãe e ela, sem que eu pedisse, deixou o quarto. Respirei fundo e atendi o telefone com um simples “alô”.

– Oi... Eu soube o que aconteceu. – A voz dele depois de tanto tempo parecia meio surreal. - Por que não me contou?

– Aconteceu rápido demais.

– Não. Por que não me contou que a sua avó estava doente?

– Ah... – Soltei, sem saber o que falar. Balancei a cabeça negativamente, mesmo sabendo que ele não podia ver.

– Alicia, eu sinto muito mesmo. – Ele disse sincero. Fiquei calada analisando suas palavras, me sentindo sem abrigo.

– Obrigada, Justin.

– Se tiver qualquer coisa que eu possa fazer por você...

– Eu ligo. – Conclui por ele. – Já sei, obrigada.

Ouvi Justin expirar do outro lado da linha. Podia apostar que ele estava passando a mão no cabelo.

– Eu queria poder está aí com você.

Afastei o telefone do rosto um pouquinho, só para ele não ouvir esse momento em que tentei me segurar para não chorar.

– Está tudo bem, Justin. Sério. – Eu forcei um tom de voz alegre onde vacilei tremendo a voz.

– De verdade?

– De verdade. – Menti novamente. Depois soltei uma risadinha encenada. – Agora vai lá, você tem show essa noite, certo?

– É...

– Bom, então não deixe seus fãs esperando! A gente se fala depois.

– Ok... – Ele parecia hesitante em desligar o telefone.

– Então... tchau. – Falei e desliguei na mesma hora. Sem pensar, claro, ou então eu não teria desligado.

Joguei o telefone de lado e me encolhi junto as lágrimas que estava guardando na minha cama, chorando incansavelmente até cair no sono.

No escuro, o celular piscava e vibrava na cômoda ao lado. O zumbido era bem baixo, mas alto o suficiente para me irritar. O objeto se movia graças ao modo vibra. Peguei o telefone, ainda meio sonolenta. Era 2h da manhã.

Isso é para você. Fica bem.

Dizia a mensagem de Justin Bieber, anexado a um vídeo. Me sentei na cama e esfreguei os olhos, jogando o sono para longe. Apertei no player do vídeo e o som de aplausos e das garotas gritando ressoou pelo meu quarto.

– Obrigado. – Disse Justin, aparentemente, terminando uma canção.

Ele estava no palco e, apesar da imagem do vídeo e a localização do filmografista não ter sido das melhores, eu podia ver bem ele. Um dançarino apareceu atrás dele com um banco e, com seu violão, se juntou Dan Kanteer. Justin se sentou no banco e Dan tocou algumas cordas. Os fãs gritaram.

– A próxima música – Ele disse quando os gritos abaixaram. – eu quero dedicar a uma amiga muito especial. Ela passou por muito hoje e, aqui, eu quero passar essa mensagem para ela. Ela sabe que me expresso melhor através da música.

Mais gritos e aplausos. Logo, os primeiros acordes soarram e ele começou a cantar (n/a: você pode Justin cantando aqui e a tradução aqui):

Across the ocean, across the sea, starting to forget the way you look at me now. Over the mountains, across the sky, need see your face, I need to look in your eyes. Through the storm and through the clouds, bumps on the road and upside down now.

Sua plateia gritou em aprovação da música, mas Justin continuava concentrado na letra por mim. Eu abri a boca meio surpresa, a tapando com uma mão. Conhecia a letra da música e mal podia acreditar que estava sendo dedicada para mim.

I know it's hard, baby, to sleep at night. Don't you worry, cause everything is gonna be alright ai-ai-ai-aight. Be alright ai-ai-ai-aight.

Enquanto ele tocava o refrão, toda a letra parecia fazer todo o sentindo, se encaixando perfeitamente em meu momento. Era exatamente como se ele estivesse falando isso diretamente para mim. Não pude segurar as lágrimas que desceram do meu rosto. Mas dessa vez, não era um choro descontrolado e arrastado. Eu chorava serenamente, sorrindo para o celular assistindo ao vídeo.

Through your sorrow and the fights don't you worry 'cause everything's gonna be alright ai-ai-ai-aight. Be alright ai-ai-ai-aight. All alone in my room waiting for your phone call to come soon. For you, oh, I would walk a thousand miles to be in your arms, holding my heart.

“Por você eu andaria por milhas para estar em seus braços”. Fechei os olhos nessa parte, tentando imaginar como seria.

– Oh I, oh I, I love you. – Ele cantou e pude sentir meu coração parar, dá um ultra-super giro e depois voltar a bater mil vezes mais forte. Só eu podia ver o enorme sorriso bobo do meu rosto. - Everything's gonna be alright ai-ai-ai-aight. Be alright ai-ai-ai-aight...

“... You know that I care for you

I'll always be there for you

I promise I will stay right here

I know that you want me too

Baby we can make it through anything

‘Cause everything's gonna be alright


Through the sorrow and the fights

Don't you worry 'cause everything's gonna be alright ai-ai-ai-aight

Be alright ai-ai-ai-aight


Though the sorrow, and the fights

Don't you worry, 'cause everything's gonna be alright”

–-------

Eu ainda acordava tendo pesadelos à noite. Um mês se passara desde a morte da minha avó, mas eu ainda entrava no quarto dela esperando revê-la, aí então eu me lembrava. Quando coloquei os pés no cemitério em seu enterro, me recordei de um dia de setembro 14 anos atrás. Eu era apenas uma garotinha de vestido preto, confusa e perdida entre as lápides, na minha cidade no Brasil.

– Alicia? Ah, você está aí. – Tia Sarah me encontrou e me pegou nos braços. – Você não pode sumir assim e deixar todo mundo preocupado. – Ela repreendeu, mas sendo tão amorosa comigo.

Me levou até de volta a minha mãe e aquele grupo de pessoas reunidos. Eu não sabia por que, mas estavam chorando e cochichando e me olhando com tanta pena. Fiz careta para eles.

– Tia Sarah, você a achou! – Minha mãe correu e me buscou em seus braços, me apertando contra ela. Ela tinha vestígios de rímel debaixo dos olhos e estava pálida.

De lá de cima, eu podia ver as flores e o caixão fechado. Eu não gostei da cena, então comecei a chorar.

– Shhh vai ficar tudo bem, querida, vai ficar tudo bem. – Mamãe me ninava.

Eu não queria saber, apenas queria que meu pai aparecesse e nos tirasse daquele lugar horrível, eu estava ficando com sono e cansada. Uma mulher de lenço preto se aproximou do caixão. Parei de chorar e encarei-a com olhos curiosos. Ela levantou o olhar para mim e me viu por entre os óculos escuros. Mamãe se virou e, vendo a mulher, me entregou de volta a tia Sarah. Nunca mais vi essa mulher até meus 15 anos.

O enterro era do meu pai. Não me lembro de como superei isso. Acho que chorei todas as noites na porta de casa até entender que ele não iria mais voltar, aí fui crescendo e ocupando a mente com outras coisas. Agora, eu tinha pesadelos com o mesmo cemitério. Eu procurava a saída e sempre voltava para essa cova no chão. Me aproximei da lápide e, escrito com todas as letras: Aqui jaz Alicia Marie Bernardes-Mayer. Aí eu dou passos para trás e caiu na cova, então acordo.

Não contava a ninguém desses pesadelos, claro. Tentava agir normal e esquecer os últimos meses, principalmente as últimas semanas. Era vida nova agora, apesar de não ser tão simples. A formatura se aproximava e, junto com ela, a volta de Justin. Mamãe estava começando a se entusiasmar com as propostas de Scooter e das gravadoras, finalmente, e, em geral, eu estudava e procurava ficar com os meus amigos. Era o último mês do Ensino Médio, tínhamos que aproveitar a altura.

– Ah, mãe – Disse quando a vi, entrando na cozinha. – Estou indo me encontrar com uns amigos, tudo bem?

Peguei a bolsa e a encarei esperando uma resposta. Ela parecia nem ter me ouvido.

– Mãe?

– Hm? – Ela disse encarando a correspondência nas mãos.

– Eu. Sair. Amigos. Posso?

– Ahn... – Ela finalmente olhou para mim, franzindo o cenho. – Você viu isso?

Mamãe me estendeu o papel branco e eu o desdobrei, hesitante.

Ordem de Despejo

Comunico a ação de despejo sobre o imóvel localizado em Chenery St, 47, São Francisco, CA, de 5.000m², assim intimando o proprietário ou quem estiver o ocupando o imóvel, por mandado, para o desocuparem voluntariamente, restituindo a posse legítima no prazo de 15 (quinze) dias, sob a pena de desocupação forçada da Lei 8.245/91 art. 59. Comunico também que a ação resulta na IMISSÃO de ADAM NOAH VICENTIN a residência.

Assinado Juíz de Direito.


– Ok… - eu disse ainda meio confusa. – Com certeza isso aqui foi um engano.

– Eu vou ligar para Adam. – Mamãe me deixou e depois voltou com o telefone no ouvido. – Ele não está atendendo!

– Espera - disse relendo a carta. – Aqui diz imissão. Quer dizer que a casa vai para ele?

– Eu não entendo – Ela falou tentando ligar de novo para ele.

– Se aconteceu algum engano e a casa está indo para o nome dele, então não tem problema algum! Nós falamos com ele e resolvemos isso, passando de volta para o nosso nome.

– Argh, ele não atende!

Não víamos Adam desde o enterro da minha avó. Ele não fez exatamente falta. Ainda cuidava das nossas rendas, como sempre fez.

– Nós o veremos amanhã, para a leitura do testamento. – A lembrei. – Sério, mãe, vai ficar tudo bem.

–-----

Nada vai ficar bem! Estávamos no escritório do advogado da minha avó, lendo o tal testamento. Na sala, o advogado, eu, minha mãe, Thomas mais alguns dos ex-empregados da mansão e Lucy. Adam chegou atrasado, então nem tivemos tempo de falar com ele antes. Estava bronzeado e vestindo um paletó de linho que provavelmente custou caro demais.

O advogado começou a leitura e esperei pacientemente até a minha vez. “De acordo com a vontade de Abigail Lucille Mayer” ele disse “será deixado ao Sr. Thomas White o raro jogo de jantar de porcelana inglesa do século XIX atribuído no valor de US$ 10 mil, o vaso chinês da Dinastia Ming atribuído no valor de US$ 20 mil, além da quantia em dinheiro vivo de US$ 80 mil para gastar consigo e projetos futuros.” Alguém assobiu. Thomas pulou em sua cadeira, agradecendo aos céus pela minha avó, depois limpou os olhos no lenço e olhou para baixo. De todos ali, eu sabia que ele é um dos que mais sentia falta dela e, apesar de toda a implicância comigo, eu aprecio isso. “Para o Sr. Willian Vieira, motorista da mansão, será deixado a ele e sua família dois dos três carros da família no nome de Abigail Mayer, para que venda ou desfrute da melhor forma que achar. Para a Sra. Maria Gonçalves, cozinheira da mansão, todas as roupas em seu closet para que faça bom proveito da maneira que achar melhor”. Willian e Maria se abraçaram e eu sorri para eles. “Para Lucy Maroon, amiga de muitos anos, metade de suas joias. Abigail ainda disse ‘sei que sempre as quis, agora são para sempre suas’”. Lucy abaixou a cabeça e sorriu, falando algo como “só agora que me diz”.

– Para Adam Vincentin... – O advogado fez uma pequena pausa e coçou a careca. – “Todos os meus bens restantes, desde ações à propriedades e fortuna. E assim concluo.”

– O que? – Meu queixo simplesmente caiu.

Olhei para a minha mãe e todos os presentes na sala. O advogado me olhava com cara de “O que posso fazer? Está escrito aqui.” Thomas, Maria e Willian me encaravam como que dizendo “Eu também não posso acreditar” e Adam... Adam sorria.

– O que está acontecendo? – Perguntei para ele.

– Desculpe, deve haver algum engano. Tem certeza de que leu tudo? – Mamãe perguntou ao advogado, mas ninguém respondeu porque todos pararam para ver quando eu praticamente pulei em cima de Adam.

– O que você fez? – Gritei me levantando e indo até Adam quando vi que ele estava indo embora. Tapei sua passagem e lhe apontei um dedo. – Primeiro estamos sendo intimidadas a deixar a casa e agora isso. Minha avó nunca faria isso! O que você fez?!

– Eu? – Ele fez cara de ingênuo. – Não ouviu o que o advogado disse, Alicia? Foi a vontade dela.

– É mentira! – Gritei e o empurrei. Pessoas vieram em cima de mim para me segurar. – Você tá armando uma! Eu sei que sim! Eu nunca confiei em você!

– Alicia! – Só ouvi a minha mãe dizer, em meio ao meu ataque. Willian me segurou pela barriga e me tirou do chão.

– E eu vou descobrir, você está me entendendo? Eu vou descobrir qual é a sua!

Adam deixou o escritório e a minha vontade era de ir atrás dele, mas não deixaram. Quando o momento passou, percebi o que tinha feito. Não me arrependi, no entanto, só me sentei na poltrona do escritório e, ainda exaltada, tentei me acalmar.

– O que vamos fazer? – Perguntei a minha mãe mais tarde naquele dia. Estávamos na cozinha, encarando a casa que, mais cedo ou mais tarde, teríamos que deixar. Mamãe deu de ombros.

– Ligar para um advogado. Ver quais são nossos direitos. Ah, ainda não acredito que Abigail possa ter feito isso com a gente. – Ela apoiou o rosto nas mãos.

– Ela não fez. – Disse certa do que falava. – Estou falando, mãe, foi o Adam.

– Alicia, já chega disso. – Ela me repreendeu, se levantando da bancada da cozinha e deixando o cômodo. Eu a segui.

– Estou falando, mãe, eu nunca fui com a cara dele! – Mas ela não me ouvia. – Outro dia mesmo, o cara tava todo estranho falando com um homem suspeito na rua... Poxa, acredita em mim!

Mamãe me ignorou e subiu as escadas a caminho de seu quarto. Marchei para fora de casa, para o jardim para tomar ar fresco, completamente irritada. Abracei o meu corpo quando percebi que o vento da noite estava um pouquinho forte de mais, mas não voltei para casa. Na minha cabeça, eu via tudo como pontas soltas. A ordem de despejo, o testamento, Adam e aquele cara misterioso naquela noite... Só que ainda não conseguia ligar os pontos.

Aqueles 15 dias passaram rápidos de mais. Mais do que esperávamos, para falar a verdade. Eu morria por dentro sabendo que Adam estava desfrutando toda a minha fortuna e que, logo, tomaria a minha casa de mim. Estávamos sem dinheiro, também. Íamos ficar na casa de tia Sarah e Joe, mas e depois disso? Não podíamos ficar lá para sempre. Mamãe falou que me esperaria entrar na faculdade e, até lá, talvez Scooter e ela já tivesse arrancado sua carreira de cantora, mas é um ramo cheio de altos e baixos, o que eu temia. Eu sabia que Scooter faria seu melhor e que, na última vez que ele apostou, acertou em cheio. Mas e se não desse certo? E se eu não entrasse para a faculdade? O que faríamos?

Mamãe me dizia “foque na sua formatura”, que seria no fim de semana. Mas como simplesmente fingir que isso não estava acontecendo? E, na 14ª noite, nossa última noite na mansão, eu e ela estávamos deitadas no sofá da sala de TV, caladas, apenas olhando ao redor

– Essa casa parece tão maior sem quase ninguém aqui. – Comentei.

– É... Por um lado é bom, era grande demais para nós.

– Mas é injusto. – Fechei a cara.

– Talvez...

– Talvez? – Fiquei de joelhos no sofá e levantei uma sobrancelha.

– Já pegou todas as suas coisas? – Ela quis mudar de assunto.

Suspirei.

– Sim, já.

– Roupas, coisas que queira guardar?

– Sim. – Me sentei no sofá desleixadamente. – Coloquei naquela caixa escrita “Coisas da Ali” como você mandou.

– Muito bem. Então acho melhor irmos dormir, será um dia cheio amanhã.

Não demorei mais muito tempo ali. Subi para meu quarto, tomei um banho para me limpar do suor de todo um dia empacotando coisas, fui para cama e chequei o celular. Hoje era a última noite de apresentação de Justin da tour. Ele estava bem longe de mim agora, em Dubai, para ser mais precisa. Sua vida devia está uma loucura, então esperaria até ele chegar. Não sabia como faríamos para nos encontrar, já que eu sei que ele tem o costume de voltar para a Stratford após tanto trabalho assim, mas esperava que ele tivesse um tempinho antes disso pra mim. Tem tanto tempo que não o vejo e ainda não sei como agradece-lo pela música dedicada a mim.

No dia seguinte, quando bateram a nossa porta para nos “expulsar”, eu devo dizer, minha mãe e eu já estávamos prontas. Colocamos todas as nossas coisas no doblô de tia Sarah. Entrando no carro, pude ver na esquina o carro reluzente de Adam esperando. Rangi os dentes e ataquei o cinto me prendendo ao carro, antes que perdesse a cabeça.

– Vocês são mais que bem vidas. Vocês são família. – Tia Sarah falava, ainda indignada em termos tido que deixar a casa.

– Obrigada tia Sarah, nem sabemos como agradecer. – Mamãe respondeu.

– Nem tem o que agradecer. A casa é grande, ficará muito bem com a gente. Ashley está na faculdade, então o quarto dela está desocupado. Alicia, pensei que pudesse ficar lá. E tem o quarto de hóspedes, que separei para você, Judy. Está tudo organizado, nem se preocupem.

– Obrigada, tia Sarah. – Falei alisando o ombro esquerdo dela.

– Muito obrigada mesmo, tia Sarah. – Mamãe disse.

Tia Sarah estacionou o carro na frente de casa e Joe apareceu na porta acenando, vindo nos ajudar. Logo atrás, Kevin. Pulei do carro puxando a minha mala comigo.

– Que barra. – Ele disse pegando a minha mala de mim. – Mas tudo bem, você supera.

– Espero. É humilhante. – Falei colocando as mãos nos bolsos de trás da calça.

– Cacete, Alicia! – Ele disse de repente.

– Que foi? – Perguntei desnorteada.

– Você por acaso não trouxe a casa dentro da mala, trouxe?

– Para com isso. – Dei uma risadinha e o empurrei pelo braço.

Um carrinho vermelho parou na frente da casa também. Todos nós paramos para olhar e, de dentro, eis que sai o Mr. Wilson, o professor de história. Kevin já sabia que ele e a minha mãe estavam namorando, na verdade, todo mundo já sabia, mas mesmo assim Kevin não segurou a risada do meu lado.

– John? – Mamãe disse meio confusa. – O que faz aqui?

– Judy, eu não sei como não pensei nisso antes. – Ele diz rodeando o carro e indo até ela.

– Nisso o que?

E então ele se ajoelha no gramado. Eu arregalo os olhos e abro a boca em choque. O Mr. Wilson tira do bolso uma caixa vermelha e a abra. A minha mãe tapa a boca, desacreditada.

– Ai, meu Deus. – Ela arfou.

– Ai, meu Deus. – Eu repeti, só que mais baixo.

– Judy, quer casar comigo?

Entramos todos em silêncio total. Em minha cabeça, tudo o que eu conseguia pensar era “não, não, diz que não”, por mais horrível que isso pareça. O Mr. Wilson é legal, trata a minha mãe bem e tal, tenta sempre seu meu amigo, mas mesmo assim era tão estranho e um sentimento de que, eu não sei, de que a minha mãe merece mais.

– Ahn... – Ela fez, indecisa. Ele riu amarelo, começando a ficar vermelho. – Isso é repentino. – Ela riu nervosa. – Nós estamos juntos a menos de um ano, e tem isso é um passo muito grande, mas... – Ela coçou a nuca, depois olhou para ele que tinha os olhos cheios de esperança. Então ela sorriu. – Sim... Sim, por que não?

– Sim? – Ele perguntou só para ter certeza.

– Sim! – Ela riu.

– Sim? Você disse sim? – Ele se levantou do chão e a pegou nos braços. – Ela disse sim, pessoal! Eu sou oficialmente o cara mais feliz do mundo!

Todo mundo, até mesmo os vizinhos, começaram a bater palmas alegres. Eu ainda estava em choque, me beliscando secretamente para ver se acordava. Mamãe tinha razão, foi muito repentino. Me pegou de surpresa, mas o que mais me pegou de surpresa foi a resposta dela. Quando eles terminaram sua pequena comemoração e ele colocou o anel no dedo anelar da mão direita dela, mamãe olhou para mim com os olhos ternos.

Fechei a boca, percebendo que ainda estava aberta. Dei de ombros e forcei um sorriso, então caminhei até eles.

– Parabéns, você é um homem de sorte. – Disse estendendo a mão para o Mr. Wilson.

Ele puxou a minha mão e transformou em um abraço.

– Obrigado! – Disse entusiasmado, sem perceber que não apreciava o abraço.

– Alicia? – Mamãe disse e Mr. Wilson me soltou do abraço. – Tudo bem para você, filha?

– Claro! – Falei fingindo muito bem. – Estou muito feliz por você, mãe. Sério.

A abracei rapidamente, ignorando o anel no dedo dela, então peguei a minha mala das mãos de Kevin e fui para dentro da casa.

–--------

– Foi tão estranho. Parecia que eu nem estava lá, estava apenas assistindo a cena do alto, o vendo colocar o anel nela... Foi de perder a noção.

– Então você não está feliz com isso?

– Você não está feliz com isso? – Kevin repetiu, entrando no quarto.

Sam estava me ajudando a arrumar meu novo quarto, o que era ótimo já que eu precisava conversar com alguém. Eu não faria muito na decoração do ex-quarto rosa da Ashley, que era bem menor do que o meu na mansão - não que eu tivesse problemas com quarto pequenos, já vive em quarto menores que esses -, apenas colocaria uns abajures, fotos e trocaria o jogo de cama. Sam quase não vinha, já que teria que se encontrar com Kevin, mas veio mesmo assim. Só que não estávamos fazendo muito pelo quarto, apenas tiramos minhas roupas das caixas e malas.

– Kevin, por que não bater antes de entrar? – Perguntei revirando os olhos.

Ele sorriu de canto e se sentou ao lado de Sam na cama. Pude vê-la mudando de status para “desconfortável”.

– Responda a pergunta, você está feliz por sua mãe ou não?

– Claro que estou! – Falei tentando me convencer.

– Você disse que não.

– Eu disse que não estava feliz com esse casamento.

– O que é a mesma coisa. – Kevin falou e eu tive que pensar “touché”.

– É só que eu acabei de me acostumar com essa coisa de namorados. Casamento é outro pavimento.

– Você só está com ciúmes. – Sam deu de ombros e eu abri a boca para protestar, mas aí parei, porque talvez ela tenha razão.

– Aí, me mandaram avisar, na verdade, de que o jantar já está pronto. – Kevin disse se levantando e deixando meu quarto.

– Você vem? – Sam perguntou a caminho da porta.

– Claro, vai indo que eu já chego. – Eu disse e a esperei sair do quarto.

Quando fiquei sozinha, peguei a foto que roubei da casa da minha avó e havia acabado de colocar na cabeceira da cama. Era o meu pai mais novo, provavelmente tinha a minha idade. Passei o polegar no vidro do porta-retrato e suspirei pesadamente.

–-------

Aquele sapato vermelho era o meu maior inimigo agora. Não que eu não me desse bem com saltos altos, mas esse era do tipo desconfortável. Fazer o que? Era bonitinho. Então lá estava eu, em sapatos vermelhos, um simples vestido azul e os cabelos cacheados jogados para o lado e se segurando em alguns grampos. Passei um dos meus melhores perfumes e batom vermelho. Estava tão ansiosa.

– Vamos logo! Alicia! – Sam buzinava na frente da casa.

Eu me apressei em descer as escadas, mas minha mãe me parou antes.

– Foto, foto, foto! – Ela disse animada com a câmera.

Bateu uma minha sozinha, outra com Joe e tia Sarah, outra comigo.

– Eu a encontro lá. – Ela disse e beijou minha bochecha.

Corri para o carro e sentei no banco da frente do lado dela, aí sorrimos uma para outra, ansiosas. Kevin entrou no carro também, no banco de trás, e olhamos para ele confusas.

– O que? – Ele perguntou. – Meu carro quebrou. Qual é, somos amigos!

– Até quando eu vou ter que te aturar, Kevin? – Sam bufou dando partida no carro.

– Não se preocupe, Sam, a escola terminou. – Ele apertou a bochecha dela e ela fez careta, da qual eu ri.

Era isso. O fim da escola. Tantos anos frequentando isso, todas as manhãs, todas as semanas, todos os anos. Chegava a ser surreal. Não sabia se sentiria falta ou não, porque com certeza as coisas ficarão mais difíceis de agora em diante.

Na escola, recebemos nossas becas e capelos, depois fomos redirecionados a nos sentar para a cerimônia.

– Meus pais vão dar um almoço de comemoração no jardim de casa. Vai ser grande, contrataram buffet e tudo, então estou chamando todo mundo. Vocês querem ir? – Jenna perguntou, falando baixo já que a cerimônia estava prestes a começar.

– Claro. – Eu e Sam falamos, então o diretor subiu ao palco.

Acho que se passaram meia hora de discurso do diretor e professores, incluindo o Mr. Wilson. Depois foi o momento da oradora da turma, com um discurso emocionante. Levantamos e batemos palmas, então, chegou a esperada hora.

Quando chamaram meu nome para subir ao palco e pegar meu diploma, meu coração acelerou. Sabe, esse é um dos momentos marcantes que você vai levar pelo resto da vida. Pode parecer um fim, mas na verdade é só mais um começo. É um grande passo e, apesar de que às vezes sinto que esse passo é maior do que as minhas pernas, eu devo pensar que já aguentei 18 anos. É só viver um dia de cada vez.

O professor Wilson me entregou meu diploma e eu o abracei rapidinho para uma foto. Depois me deparei com as escadas para descer do palco. Já haviam chamado outra garota e ela estava recebendo todas as atenções agora. Pus um pé com cuidado e sustentei meu corpo nele, enquanto colocava outro pé no outro degrau. Isso é maldade, ninguém pensa nas garotas e seus saltos altos quando projetam essas escadas? Outro pé, outro e degrau, eu estava indo bem, até que... Bum. É. Eu cai. Escorreguei de bunda e fui parar no chão atrás do palco, só deu tempo de raciocinar quando já estava com as mãos no piso de madeira.

– Você está bem? – Uma moça me ajudou a me levantar.

– É, acho que estou, obrigada... Ai meu Deus. – Pus a mão na testa. – Você acha que pegaram isso na câmera?

– Não... Eu acho que ninguém viu. – A moça mentiu para me deixar melhor.

– Eu vi isso. – Ouvi uma risada e levantei o olhar.

Um calafrio subiu a espinha e meu coração martelou mais rápido no peito quando ouvi a voz dele. Estava de cabelos penteados para o trás e lado, uma camisa preta de gola V e jaqueta azul dobrada até os cotovelos. Ele era um tipo de exceção usando Supras em uma formatura do Ensino Médio, mas é por isso que o amo.

Senti meus lábios se curvarem em um enorme sorriso. Por meses imaginei esse momento. Imaginei que agiríamos indiferentes por conta do tempo separados, que seria estranho, que teríamos uma conversa séria agora. Mas logo no momento, todas as minhas más expectativas se quebraram, porque eu estava feliz e correndo até ele para um abraço.

Graças a Deus Justin abriu os braços para me receber, se não, teria sido constrangedor. Coloquei meus braços em volta do pescoço dele e ele apertou minha cintura, me tirando do chão por alguns segundos. O abracei por minutos. Poderiam ser horas que eu não estava nem aí. Era tudo o que eu estava esperando e eu faria valer a pena, demonstrando naquele abraço que não queria que fossemos estranhos de novo.

– Calminha. – Ele riu. – Assim você vai derrubar a gente.

E quem se importa? - eu pensei. O apertei mais e fechei os olhos sentindo ele, o perfume dele, a bochecha dele contra a minha. Quando achei que já estava bom, o soltei, mas foi só destrancar meus braços do pescoço dele que o senti apertar mais a minha cintura. Eu ri; ele também não estava pronto para nos soltar.

– Eu não acredito que você está aqui. Aqui mesmo, na minha formatura, comigo. – Eu disse perto do ouvido dele.

– Senti saudades. – Ele roçou seu nariz na minha orelha.

Quebramos o abraço, infelizmente, mas só assim para ver um no rosto do outro.

– Achei que nos veríamos amanhã ou depois. Ou então mais tarde. Mas não aqui. – Eu continuava sorrindo, ainda desacreditada dos meus próprios olhos e tato.

– E perder você se formando? – Ele riu de deboche.

Só senti o sorriso crescer mais. Ele sorriu de volta, de lado.

– Vem, tá perdendo de ver seus amigos pegando o diploma. – Ele estendeu sua mão para mim e eu a segurei, mas ele apenas fez aquilo para me puxar e me conduzir segurando minha cintura.

– Quando foi que chegou? – Perguntei, ainda eufórica. Estávamos indo pelos lados da quadra onde ocorria a cerimônia, meio distante das cadeiras.

– Essa manhã. Não queria me atrasar. – Justin disse e mexeu no cabelo.

O observei fazer isso. Cara, era ele mesmo, por mais incrível que pareça. Justin Bieber de corpo e alma, exatamente do meu lado, com a sua mão exatamente no meu quadril, caminho junto a mim. Parecia como nos velhos tempos, mas o sentimento não parecia velho, não mesmo. Era como se estivesse me apaixonando por ele, tudo de novo.

– Minha cadeira está lá. – Apontei para uma fileira e dava para ver o cabelo de Sam. Ela já havia pegado seu diploma.

Olhei para Justin e ele sorria.

– Vai lá. – Encorajou, mas eu escondi o rosto no ombro dele e balancei a cabeça negativamente, o que fez rir e alisar minhas costas. Acho que estava com medo de sair de perto dele.

A cerimônia continuava indo tudo bem. Ninguém parecia perceber nós dois juntos ali. Se repararam, eu não estava realmente ligando.

– Posso ver seu diploma? – Justin pediu e eu concordei, o entregando. Ele abriu o papel e eu me inclinei para ver pela primeira vez também. – Olha só, tão oficial.

Eu ri.

– Como a sua “formatura”. – Fiz as aspas com as mãos, o lembrando da formatura no programada da Ellen.

– Ah, a sua é mais real.

– A sua foi mais legal. – Levantei uma sobrancelha e sorri.

– Tem razão. – Ele disse por fim e nós dois acabamos rindo, baixinho para não chamar atenção.

– E agora eu gostaria de convidar todos os formandos para subir ao palco e se reunirem todos juntos pela última vez, por favor. – O diretor pediu e eu bufei. Justin soltou risada.

– Sabe, eu ainda estarei aqui quando você voltar.

Olhei para ele desconfiada e cerrei os olhos, depois levantei meu mindinho.

– Pink Promise.

Justin agarrou meu mindinho com o seu, também cerrando os olhos, mas sorrindo divertido.

– Agora vai lá.

Tentei ir rápido até o palco, olhando para trás para ver se ele ainda estava lá. Subi as escadas mais uma vez com todo o cuidado e fui para o lado da Sam, passando no meio de todos os outros ex-alunos. Sam me abraçou toda animada, depois me afastou e perguntou onde eu estava. Gaguejei, mas o diretor falou mais alguma coisa na mesma hora e todos bateram palmas e gritaram, para logo depois jogarmos nossos capelos para o alto, em um gesto de liberdade.

–-----x-------

No próximo capítulo:

– Ah, você sabe o que eu tenho aqui?

– O que? – Eu perguntei enquanto o observava de relance tirar o iPhone 5 do bolso.

Justin abaixou o som rapidinho e apertou em play no iPhone. Um sonzinho começou a sair do aparelho em um ritmo lento, mas era apenas o instrumento, sem voz.

– O que é isso?

– A nova música da sua mãe.


(...)

Eu só sabia as primeiras notas de Porcelain, de Helen Jane Long. Não era uma incrível tocadora, apenas tinha aprendido um pouco com velhos amigos de banda da minha mãe e, antes de vim para os Estados Unidos, estava tentando aprender essa com o amigo da minha mãe. Hoje, só me lembro do começo da partitura, o que é uma pena.

– Eu não sabia que tocava.

Eu me assustei e me levantei do banco em um salto para encontrar Justin em pé em frente a porta que daria para um quarto.


(...)


– Alicia? – Ouvi do outro lado da porta. – Você está aí dentro?

O telefone começou a tocar de novo e eu puxei a respiração, tentando raciocinar.

– Só um minuto. – Avisei a Justin e atendi o telefone.

– Agora está melhor? Onde estávamos? Ah, sim. Olha, eu realmente prefiro que seja na minha casa. Eu posso servir nosso jantar. Faço spaghetti, que tal?

Ainda com o telefone no ouvido, destranquei a porta e dei de cara com um Justin sorridente, que desmanchou o sorriso assim que percebeu que eu não estava nem um pouco feliz e o telefone que segurava era o dele.

– Eu não sei, Selena. – Disse brava e com sarcasmo. – Eu vou perguntar a ele. Justin, jantar na casa da Selena, ela vai fazer spaghetti, o que quer que eu diga a ela? – Disse a ele, tendo total noção de que Selena também ouviu. – Quer saber? Eu vou deixar vocês dois resolverem isso sozinhos.

Empurrei o telefone no peito dele e ele o segurou, ainda meio desnorteado.


(...)


“Se qualquer coisa acontecer comigo...” Eu quase a ouvi dizer em meu ouvido quando as palavras vieram em meu pensamento. De repente, eu estava no quarto dela, sentada na cama dela. Fechei os olhos para saborear a lembrança melhor. “Vovó, você não vai” eu me ouvir dizer. “Eu sei. Mas caso aconteça... Caso eu chegue a... Guarde isso com a sua própria vida”. Eu abri os olhos. O papel! A senha! “Quando mais nada der certo, abra o porta-joias”.

Eu me levantei da areia e limpei a calça, indo em direção de onde vim, em busca do meu carro. Durante todo o caminho, tentei imaginar onde estava aquele papel. Eu havia o guardado, claro. Apostei na caixinha de lembranças que mantinha no quarto.


(...)


– Sam, está ficando tarde. – Tia Sarah disse com ternura. – Você quer que Joe a leve de volta para casa?

– Eu ficaria agradecida. – Sam respondeu, tímida.

– Não. – Kevin disse rápido. – Deixa que eu a levo.


(...)


– Você tem razão – Ele me interrompeu. Eu podia sentir o bom hálito dele em sua respiração batendo no meu nariz, e isso me deixava tonta, o que não ajudava. – Já chega de drama adolescente. Alicia, eu ferrei tudo e me desculpa por isso... Não, cara, você nem me deve desculpas, foi um erro muito idiota... Mas você tem sentimentos por mim, certo? E eu tenho sentimentos por você... Então dane-se!

– Justin, eu...

– Me dá só mais uma chance, Alicia. Só mais uma chance e eu prometo que não irei estragar tudo.


(...)


Eu encontraria esse cofre nem que tivesse que virar essa casa de cabeça para baixo. Eu procurei em todos os lugares. Escritório, sala de visitas, sala de jantar, até mesmo no quarto dos empregados. Ainda na cozinha, ouvi a maçaneta da porta virar e simplesmente paralisei. Então, tirando a capa de chuva, eu vi Thomas.

– Alicia? – Ele disse, pego de surpresa.


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Notas finais do capítulo

OMG acho que esqueci de agradecer à LaurahhStylinson por sua recomendação. Muito obrigada!! Aliás, aqui vai uma pequena surpresa para os que já recomendaram a fic (LEIA PORQUE É IMPORTANTE): Eu acabei de me decidir o outro site de fanfics que será meu "reserva" depois que o Nyah desativar a categoria bandas. Lá, você saberá que sempre poderá me encontrar, mesmo que o Nyah nos feche. JÁ POSTEI UMA ONE-SHORT NO SITE e, para quem já recomendou e quem irá recomendar, passarei o link por MP. Entedido? Então, resumundo. QUEM RECOMENDOU OU RECOMENDAR BACK TO US, AUTOMATICAMENTE RECEBE UMA MP MINHA COM O LINK DO MEU OUTRO PERFIL NESSE SITE E MAIS ALGUMAS INFORMAÇÕES ADICIONAIS. Então, se não recomendou, o que é que está esperando? Hahaha beijos e tenham uma ótima semana!



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