O clima não parecia muito bom quando cheguei em casa. Meus pais me esperavam sentados no sofá da sala. O que será que vinha dessa? Não fizeram rodeios e foram logo ao assunto:

- Isadora, meu amor, o trabalho do seu pai transferiu-o para Londres.

Acho que eles estavam esperando que eu ficasse triste, chorasse, implorasse para ficar no Brasil, porque depois que sai correndo pela casa gritando de alegria, a cara deles ficou com um ponto de interrogação bem grande. Que motivos me levariam a ficar triste por sair do Brasil ? Um amor, amigos e minha faculdade. Não tenho um namorado, entrei nessa semana na faculdade e ainda não tive tempo de conhecer ninguém, e como sou uma boa aluna, consigo entrar em uma boa em Londres. Yesss, mil vezes yesss. Pensei (e falei) na minha cabeça. Voltando ao meu normal, fui falar com meus pais como gente normal:

- Oba mãe! Quando vamos nos mudar?

- Semana que vem, no máximo. Preciso que você faça um levantamento de preço nas faculdades de lá. O salário do seu pai vai aumentar e poderemos pagar, ao invés de ser pública.

Meu Deus, minha vida não poderia estar melhor. Dez minutos atrás eu não tinha ganho nem bingo. Agora, descubro que vou para Londres? Estudar em Londres? Aonde tem os melhores lugares para conhecer, gente legal e muito, muuuitos gatinhos. Prazer, sorte.

Não consegui dormir pensando nisso. A minha vida vai mudar da noite para o dia, como num conto de fadas. Só posso estar sonhando! Preciso contar para a Ju, minha amiga de infância que foi para Paris fazer intercâmbio e acabou decidindo morar lá. Fiquei imaginando como seria meu quarto, e que seria uma ótima chance de dar uma de “próxima designer de ambientes famosa”. Então... Meu primeiro trabalho seria no meu próprio futuro quarto! É muita alegria para um coraçãozinho de manteiga só! Fui acordada por meu pai, que falando:

- Isa, meu amor, vamos começar a encaixotar as coisas. Me ajude encaixotando seu quarto.

- Mas pai, são 6:30 da manhã! E eu estou atrasadíssima para a facul. Quando voltar, prometo ajudar em tudo. Tudinho!

- Sua faculdade agora é OXFORD!!! Fica mais ou menos 50 km de Londres.

- Mas papai, é muito longe! Vou te que acordar á 1:00 da manhã e ainda vou chegar atrasada! - Nesse momento, minha mãe adentrou meu quarto, se metendo na conversa:

- Bom dia flor do dia! A gente vai morar a 5 km de Oxford e você vai ter seu próprio carro.

Não acreditei no que ouvi e falei:

- Vas Happenin with you?????? Are you mad, mom? Um carro? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA. – Gritei, gritei mesmo.

- Sim, um carro. Mas só no segundo mês de aula, com notas acima de 8.

- Ok, vou encaixotar as coisas. Por favor, me deixem digerir toda a novidade.

Eles entenderam, saíram do quarto e eu botei meu CD dos Beatles no máximo, chequei meu twitter e não tinha nada de novo. Comecei ao som dos Beatles e ao som deles terminei. Meu quarto ficou tão vazio. Seria uma grande mentira falar quenao vou sentir falta do Brasil. É claro que vou. Das baladas, das praias, do Cristo, do bondinho do pão de açúcar, da Lagoa, de andar de skate, de pedalar no calçadão... Mas, uma vida nova não deixava de me animar. Fui dormir.

Acordei. Ao mesmo tempo tão feliz e ansiosa, ao mesmo tempo com um frio na barriga, pensando se tudo ia dar certo. Sim? Não? Bom, não sei. Só sei que 2:30 da tarde vou estar entrando no avião, com direito a uma foto para postar no Instagram, no twitter, no facebook e o caramba a 4. Depois, pensei, pensei e pensei. E se não fosse nada do que eu pensava? E se meus pais não deixassem eu sair de noite para conhecer gente nova? E se eu tirasse notas ruins? E se... Ai, Isadora, para de pensar nisso! Vai dar tudo certo, você é uma gatchenha linda, todo mundo vai gostar de você.

No avião...

Tirei umas 7 fotos, botei meu IPhone no modo avião, fiquei na janelinha, com meu ITouch e meu fone. Me isolei do mundo e só voltei quando me descobri na terra da rainha. Tudo lindo, todos educados. Peguei as malas junto a meus pais, que não paravam de brigar no avião. Minha mãe era totalmente contra irmos para Londres. Por quê? Vai saber...