Estava a ponta de roer as unhas, transbordando de nervosismo. Meu primeiro desfile, eu não sabia o que fazer, o que falar. Ainda faltavam quatro horas, tudo já estava no lugar, em perfeita ordem, mas eu não conseguia relaxar. Isso já era de se esperar, sempre fui ansiosa e impaciente, não via a hora de começar.

As horas se arrastaram, o tempo parecia congelado e os ponteiros dos relógios, imóveis. Duas horas para o desfile e eu já estava lá, andando de um lado para o outro, esperando por minha hora, sem conseguir me distrair, observando o ponteiro de segundos do meu relógio de pulso...

Assim que começou o desfile, o tempo passou a correr, e quando percebi, já havia acabado e eu teria que ir à passarela, encarar meu público e agradecer.

Assim que pisei na passarela, uma salva de palmas calorosa começou, eu perdi o ar e fiquei tonta ao ver a quantidade pessoas. A poucos passos do microfone, as palmas cessaram e o silêncio inundou o local, cada ruído parecia muito maior, o barulho dos meus salto contra o chão pareciam passos de elefante.

—Em primeiro lugar, agradeço muito a presença de todos... –pronunciei a primeira parte do meu "discurso" de agradecimento de forma inconsciente, agora precisava do resto. 

Então, avistei ao fundo alguém conhecido e, em um ato impensado, chamei-o ao palco.

—Eu gostaria de chamar aqui alguém muito importante na minha formação e, principalmente, na minha vida: Christopher Roberts.

Ele pareceu espantado, mesmo assim se levanto e caminhou, em meio as cadeiras, até mim. No instante em que ele subiu dei-lhe um abraço apertado.

—Sem ele, nada disso seria possível. –eu disse, me referindo ao desfile– Tudo que deu certo para mim, provavelmente, não teria dado sem você. –falei para Christopher, dessa vez me referindo a mais do minha carreira.

As pessoas aplaudiram.

—Posso dizer uma coisa? –ele perguntou sussurrando.

—Claro. –sussurrei em resposta, entregando o microfone.

—Senhoras e senhores, vocês não fazem ideia do quanto essa garota é especial, o quanto ela é capaz. E pensar que um pequeno obstáculo quase a fez desistir... 

Não tinha certeza de que ele se referia como obstáculo, o daltonismo ou a minha terrível entrada no mundo das drogas. Por um momento me distrai do que ele dizia.

—... E eu tenho uma coisa muito importante a dizer, na verdade, a perguntar a ela. –olhei para ele sem entender– Ellie Ross, –ele se ajoelhou e, por um momento, tudo ao meu redor desapareceu e eu entendi– aceita se casar comigo.

—Sim. –consegui dizer em meio a euforia que tomou conta do meu interior, minha voz quase inaudível.

Ele colocou o anel no meu dedo e se levantou, observando seu rosto daquele jeito, tão próximo, dava para ver que ele não tinha mudado tanto e seus olhos, que sempre me encantaram, tinham o mesmo brilho de seis anos atrás. E ele me beijou, ainda pude ouvir as palmas de nossa plateia, antes mergulhar no torpor delicioso que sempre me envolvia quando os lábios dele tocavam os meus.

E finalmente eu percebi o que realmente importava. Dinheiro? Fama? Luxo? Popularidade? Aprovação? É lógico que não! Por mais cafona que seja dizer isso, o que importa é o amor. O amor em todas as suas formas, não importa em qual o amor apareça para você, é dele que precisamos e de nada mais... Se você tem amor, tem tudo. Pense bem se isso não é verdade. Mas é preciso reconhecê-lo e não achar que só haverá amor em sua vida quando estiver namorando alguém. 

E no final, minha vida não passou de um conto de fadas meio torto... Por isso nada mais adequado para finalizar essa história do que um clássico clichê: “Vivemos felizes para sempre". (Pelo menos por enquanto...).