Eu nunca gostei de vê-la chorando. Detesto a forma como seus olhos azuis tão lindos ficam nebulosos como o cair de uma noite chuvosa. Detesto como as lágrimas descem pelas suas bochechas avermelhadas e repletas e sardas e odeio qualquer infeliz que a faça chorar. Eu estava me odiando naquele momento. 

Por mais que ela tentasse, o brilho opaco invadia seu olhar enquanto balançava a cabeça, movimentando os cachos ruivos de um lado para o outro. Ela ergueu a mão pálida, passando essa pelo rabo de cavalo de seu cabelo e só então me encarou nos olhos mais uma vez. 

_ Eu queria dizer que estou surpresa… - Ela soltou. Sua voz sempre tão doce comigo parecia áspera demais. Não pertencia à minha Weasley. Naquele momento eu tinha certeza que ela não queria ser mais nada minha, de qualquer forma. _ Ele bem que me avisou. Lys vivia dizendo que acabaria quebrando minha cara com você. - Observei o momento em que seus lábios rosados se uniram, liberando um suspiro baixo. Cerrei os punhos na menção do nome daquele… 

_ Eu não… 

_ Não ouse dizer que você não queria, Scorpius! - Agora ela praticamente berrou. Ela sempre ficava assim quando alguém a ousava contrariar, principalmente quando tinha certeza que estava certa, como naquele momento. 

Passei a mão meus cabelos loiros, num gesto de puro nervosismo. Sentia as lágrimas se formando em meus próprios olhos. 

_ Você não tem o direito de chorar, Malfoy. E não teve o direito de brincar comigo. - Pensei até em segura-la pelo braço, mas não consegui. 

Até hoje não sei o que passou na minha cabeça naquele momento. Doeu a forma como ela soltou aquelas palavras, como ela me olhou com desprezo claro, por uma última vez. Nunca fui de me importar com o que as pessoas pensavam sobre mim, mas Rose era diferente. Ela sempre foi diferente… De um jeito absurdamente viciante. Observei-a se afastar de mim, com passos decididos e correu para os braços do Scamander. 

_ Go, Slytherin, Go! - Brandou a voz em meu ouvido. Parecia abafada naquele momento, enquanto tentava imaginar o que Lysander estaria dizendo para a minha Rose. _ Você não parece animado, Scorps. Temos um jogo decisivo agora, vou adorar ganhar de Ros, ela sempre fica brava quando a Ravenclaw perde por nossa causa. - Completou com uma risada baixa. 

Desviei o olhar por um breve momento da ruiva para o primo dela ao meu lado. Albus não precisou de mais do que dois segundos para entender. 

_ Está tudo bem? - Ele ergueu as sobrancelhas. 

_ Vai ficar. Quando eu quebrar a cara do Scamander. 

-

Malditas sejam as segundas feiras, malditos sejam os despertadores. Malditos sejam aqueles quem inventaram a brilhante idéia de começar o dia tão cedo assim. Com um esforço fora do comum, pulo da cama, coçando os olhos. Pego a blusa jogada em um canto qualquer do quarto, antes de coloca-la e abro a porta do quarto completamente bagunçado. Iria arruma-lo um dia, quando tivesse tempo e quem sabe, paciência. Não entendia dos feitiços para arrumar nada... Talvez, só um talvez, devesse mesmo ter aprendido no quinto ano, como ela vivia mandando eu fazer. 

Balanço a cabeça, tirando-a de meus pensamentos. Já faziam mais de cinco anos que não a via nem de longe, não precisava voltar a pensar logo agora. Não quando estou começando a esquece-la. Oh certo, quem estou querendo enganar? Tirar Rose Weasley da minha vida parece ser uma tarefa completamente impossível. 

Paro na porta da cozinha quando o vejo sentado em uma das cadeiras, com um grande envelope nas mãos e uma xícara de café nas mãos. É ótimo saber o quanto Albus se sente em casa, na minha casa. 

_ O que você está fazendo aqui a essa hora? Que eu saiba, não estou te devendo nenhum galeão. - Digo, mal humorado. Abro a porta da geladeira, colocando a cabeça para dentro em busca de qualquer coisa comestível. É, tinha que programar uma parada no super mercado, ou um assalto na casa de meus pais também parece ser uma ótima opção. 

_ Bom dia para você também, Scorpius. Acordou de ótimo humor hoje, hein? - Reviro os olhos para a sua ironia, antes de pegar uma caneca no armário e colocar esta na cafeteira. Liguei a opção para preparar o café, antes de me virar para o moreno. 

Já de terno bem passado, cabelos arrumados para trás. Albus Severus parecia outra pessoa, desde que passou a morar com a minha irmã mais nova. Pois é, esse filho da puta agora é meu cunhado. Tento não pensar o que acontece com os dois em casa sozinhos, primeiro para não quebrar a cara dele por desvirtuar a minha irmã, segundo porque é estranho imaginar meu melhor amigo com a minha irmãzinha. 

_ O que você quer, Albus? - Cruzo os braços no peito, abafando o bocejo. Não deveria ter chegado tarde em casa na noite passada. 

_ Vim te trazer isso. - Ele ergueu o envelope nas mãos. _ E Lise quer que você vá jantar lá hoje a noite. Ela quer sua permissão para ser dama de honra. - Albus revirou os olhos esverdeados. 

_ Desde quando Annelise precisa da minha permissão para alguma coisa? - Ela abriu as pernas para você sem me consultar. 

_ Você sabe como as duas são amigas, mas ela acha estranho não te avisar antes, para você saber por ela. - Ele suspira. _ Ninguém sabia da noticia, de qualquer forma. Ontem ela apareceu com os convites e chamando Lise e Dominique para serem madrinhas. Ao que parecia, só tio Ron e tia Hermione sabiam. Hugo pulou no pescoço de Lorcan pensando que era o outro. 

Congelo no lugar. Agora sim suas palavras faziam sentido. 

_ De qualquer forma, tenho que ir. Ainda vou buscar comida para sua irmã, ela está com umas vontades no mínimo estranhas. Sinto muito, Scorp. - Ele se levanta e dá um tapa em meu ombro antes de sair da cozinha. 

Levo alguns segundos para voltar a me mexer. Pego o envelope, observando a caligrafia fina e elegante com os dizerem Scorpius Malfoy e família. Não o abri, sabia bem do conteúdo e não estava com a menor vontade de encara-lo, não agora. 

Bufo alto, pegando a xícara com o liquido escuro e forte. 

Odeio segundas feiras. E essa, ao que parecia, promete.