É como

Ele não ouvisse uma palavra que eu digo

A cabeça dele está em um lugar muito longe

E eu não sei como chegar lá

Sara estava em casa, deitada no sofá comendo brigadeiro de panela e assistindo um filme tosco que para falar a verdade ela mesma não estava dando a mínima para o próprio. Estava muito ocupada pensando em algumas coisas que aconteceram durante o turno anterior.

¨¨¨¨¨¨

Ela foi até a sala de Grissom, pois havia algum tempo que não se falavam direito e para falar a verdade mal se viam. Estava morrendo de saudades dele e não estava conseguindo esperar até chegarem em casa. Precisava pelo menos falar com ele, vê-lo ou simplesmente senti-lo por perto, mas parece que não deu muito certo.

Ela bateu na porta.

– Grissom, posso entrar?

– Claro. – Disse simplesmente.

– Está tudo bem?

– Sim. – Falou, ainda olhando para os papéis em cima de sua mesa.

– Hum... Estive pensando...

– Sobre?

– Nós...

– E o quê que tem... Nós?

O fato dele nem ter se dado ao trabalho de olhá-la nos olhos a deixou extremamente chateada. Ele passou a conversa inteira com a cabeça baixa, e com a atenção toda voltada para aqueles malditos papéis.

– Quer saber?... Deixa pra lá!- Fechou a porta e saiu.

Ele olhou por cima dos óculos para a porta já fechada e arqueou uma sobrancelha.

“O que deu nela?”

É como

(Ela é muito séria)

Tudo que ele quer é relaxar

(Ela está sempre com pressa)

Me faz querer arrancar os cabelos

(E interrompe)

Como se ele não desse a mínima

(Como se ela não dessa a mínima)

O turno foi passando calmamente. Sara estava na sala de descanso esfolheando uma revista, porque ler mesmo não dava, estava sem cabeça para aquilo. Grissom chegou, pegou um pouco de café e sentou-se ao seu lado.

– Estou tão cansado, estou precisando relaxar.

– Hum Hum.

Vendo que ela continuava com sua “função”, ele quis então quebrar o gelo. Chegou perto do ouvido dela e com a voz muito rouca disse simplesmente.

– Tudo bem... Querida?- Enfatizou a palavra “Querida”.

– Está tudo ótimo... Querido!- Respondeu ela, enfatizando as palavras “Ótimo” e “Querido”.

Respondeu e voltou seus olhos para a revista. Grissom arqueou novamente uma sobrancelha.

“O que está acontecendo com ela?”

“Por que está agindo assim?”

“Será que se cansou de mim?”

Sara se levantou, colocou a revista no porta revistas e virou-se para ele.

– Até mais... Grissom.

“Deus... Será que se cansou de... Nós?”

Você

(Eu)

Estamos cara a cara

Mas não nós olhamos nos olhos

Estavam na sala de evidências juntamente com os outros, todos expondo as pistas e evidências descobertas.

Eles se olhavam, mas ela não fazia questão de olhá-lo nos olhos. Ele a estava magoando com toda aquela indiferença, todos os dias, e se olhasse em seus olhos azuis, com certeza não agüentaria e cairia no choro.

“Olhe-me nos olhos Sara, por favor. Se olhar em meus olhos, entenderei o que está acontecendo com você! Olhe, por favor!”

¨¨¨¨¨¨

Como fogo e chuva

(Como fogo e chuva)

Você me deixa louca

(Você me deixa louco)

Mas eu não consigo ficar chateado com você por nada

Somos como Vênus e Marte

(Vênus e Marte)

Somos como estrelas diferentes

(Como estrelas diferentes)

Você é a harmonia de toda música que eu canto

E eu não mudaria nada

De repente, a campainha toca, despertando-a de seus devaneios. Levantou desanimada e olhou pelo olho mágico.

“Deus... Ele está tão lindo!”

Abriu a porta e o perfume de Grissom logo tomou conta de se juízo. Ele estava lindo, com uma camisa azul marinho e calça jeans. Sua barba estava bem aparada e seus cabelos grisalhos muito bem cortados. Em uma das mãos encontrava-se um lindo buquê de rosas vermelhas. A outra mão já se encontrava em sua cintura fina. A boca bem desenhada, naquele momento já explorava a dela.

Ela não teve como recusar. Ele era a maior tentação de sua vida. Definitivamente, ele era seu maior ponto fraco, seu calcanhar de Aquiles.

Naquele dia fizeram maravilhas. Ele sempre fazia maravilhas na cama e ela sabia que não conseguiria ficar chateada com ele por nada no mundo. Nunca conseguia.

¨¨¨¨¨¨

Ela sempre quer salvar o dia

Só quero deixar minha música rolar

Ela é tudo ou nada

Mas meus sentimentos nunca mudam

No turno seguinte tiveram que solucionar o caso de serial killer que tinha preferências por estuprar e matar crianças de até 10 anos.

Aquele tipo de caso sempre mexia com ela. Não suportava qualquer tipo de covardia, seja ela com crianças, mulheres ou animais. Sempre se empenhava ao máximo em solucionar esses tipos de casos.

Ela estava na sala de evidências analisando algumas evidências que havia recolhido na cena do crime. De repente ele entra e chega bem perto dela.

– Querida, vamos jantar, está na hora.

– Vai indo Gil, depois eu peço para o motoboy comprar uma quentinha para mim.

– Quentinha, Sara?... Precisa se alimentar direito!

– E vou... Só que não vou ao restaurante.

– Sei. – Respondeu meio desconfiado.

– É sério Gil.

– Vamos fazer assim, escreva em um papel o que quer comer e eu trago para você.

– Não precisa amor.

– Precisa sim, Sara... Sabe a quantas horas está sem comer uma refeição descente?

– Não.

– Oito horas Sara!

– Oito?- Disse completamente surpresa.

– Sim, doze. Esses tipos de casos mexem muito com você e você fica tanto tempo envolvida com o caso que nem se dá conta do tempo que está só a base de café.

– Tudo bem Gil, você venceu... Pegue aquele papel ali para eu escrever o que quero, por favor!

Porque, ele tenta ler a minha mente

(Eu tento ler a mente dela)

Ele tenta arranjar uma briga dizendo mentiras

(Ela tenta arranjar uma briga para ter atenção)

Isso é o que todos os meus amigos dizem

Ela estava ainda analisando evidências do caso “Some Angels and a Demon” e ele estava bem preocupado. Sabia o quanto ela estava abalada com aquele caso, mas ela não admitia.

O turno havia acabado a uns vinte ou trinta minutos, mas ela continuava a analisar aquele caso.

– Sara, vamos embora.

– Não Gil, eu vou dobrar o turno.

– Não vai não.

– Claro que vou!... Gil, eu tenho que terminar... Tenho que descobrir que é esse homem que está fazendo isso.

– Amanhã Sara... Amanhã teremos novas pistas... Você está cansada querida.

– Gil, eu estou bem.

– Eu preciso que você vá embora comigo Sara, estou com uma dor de estômago monstruosa e preciso que fique comigo.

– Você não está mesmo com dor Gil, se estivesse estaria com cara de que está passando mal. Por favor, não me chame de idiota na minha cara! Por que não diz o que realmente quer dizer?

Ele foi embora, estava chateado e ela não entendia. Ela ficou, mas também estava chateada, por que ele não assume?

“Vai Gil... Fala as palavras mágicas que eu vou embora na mesma hora com você... Diz que está com saudades e eu vou, diz!”

“Por que eu não digo?... Por que sou um idiota!”

Você

(Eu)

Estamos cara a cara

Mas não nos olhamos nos olhos

Ela saiu correndo pelo laboratório e encontrou-o no corredor já vazio.

– Grissom!!!

– Oi... Sara!

– Diz Gil... diz o que realmente está acontecendo!

– Desculpe... Não posso!

E então, ele foi embora. Ela deixou-o ir e logo depois pegou suas coisas e foi embora também.

Como fogo e chuva

(Como fogo e chuva)

Você me deixa louca

(Você me deixa louco)

Mas eu não consigo ficar chateado com você por nada

Somos como Vênus e Marte

(Vênus e Marte)

Somos como estrelas diferentes

(Como estrelas diferentes)

Você é a harmonia de toda música que eu canto
E eu não mudaria nada

Ela tinha acabado de tomar banho e ainda estava somente de roupão quando a campainha tocou.

– Gil.

– Sara... Posso entrar?

– Claro... Desculpe.

Ele entrou e se deparou com ela ali em pé na sua frente, de roupão e cabelos molhados. O cheiro do óleo que ela passava no corpo ainda assim que acabava de tomar banho deu lhe um tapa na cara com luvas de pelica.

Sem nem mesmo se dar conta, ele soltou as palavras que ela mais queria ouvir nos últimos dias.

– Sara eu estou com saudades!

Agarrou-a e encostou-a na parede. O beijo foi quente e necessário.

Não demorou e já estavam no quarto fazendo loucuras.

Quando eu digo sim, ela diz não

Mas quando eu espero, ele diz vai

Somos perfeitamente imperfeitos

Mas eu não mudaria nada

As roupas estavam todas jogadas pelo quarto. Sobre a cama encontravam-se dois corpos completamente saciados.

O quarto exalava paixão e seus corações cantavam a mesma melodia, a melodia do amor.

– Sara.

– Hum?

– Quer casar comigo?

– Como?

– Ué, casar casando.

– Você quer que nos casemos, é isso Gil?

– É.

– Acho que ainda não estou preparada para dar um passo como esse.

– O que?

– É Gil... Casar é muito complicado e eu tenho que ter certeza de que você está preparado para isso. Até algumas horas atrás você não conseguia nem mesmo dizer a frase “Estou com saudades” para mim. Tenho medo de de repente você desistir e...

Ele a calou com um beijo.

– Sara, eu te amo.

– Você o que?- Ela não estava acreditando que ele estava dizendo aquilo. Era surreal.

– Eu te amo. E quero muito que aceite o meu pedido.

– Eu também te amo e sim sim e sim! Eu aceito!

Dessa vez foi ela que o beijou.

– Gil, eu sempre quis me casar com você, mas não sabia se você tinha certeza.

– Mas não se preocupe mais... Querida... Eu te amo e preciso de você perto de mim a cada minuto da minha vida!

Você é a harmonia de toda música que eu canto

E eu não mudaria, eu não mudaria nada