~ le Charice

— Encare a câmera, Raiana, a veja como sua pior inimiga! - disse. Faltava talento naquela menina, e provavelmente ela não passaria naquele teste - Tudo bem linda, deu por hoje - disse fazendo sinal de “corta”. Peguei a câmera e conectei no computador e fui passando as fotos 
— Olá rainha da fotografia! 
— Ai, Bryan, que susto! Fotografa a próxima pra mim? Tenho que sair
— Claro. Pra onde vai?
— Vou ver minha sobrinha
— Tira bastante fotos dela, em - disse ele desconectando a minha câmera do computador e dando na minha mão, a peguei e coloquei na bolsa.
— Pode deixar, beijo
— Tchau rainha, boa sorte!
Saí do estúdio e peguei um táxi. Lhe dei o endereço e 15 minutos depois, paramos em frente a um prédio. Paguei ao taxista e entrei
— 3° andar - sussurrei para mim mesma, e apertei o botão. Olhei no papel - 316 - disse andando pelo corredor - é aqui .. vamos lá - apertei a campainha, e do nada um nervosismo me tomou, não sei por que. Então a porta se abre, e uma mulher loira, olhos castanho claro aparece. A reconheci de algum lugar
— Você?
— É .. - lembrei de onde a conhecia, do conselho era a nova esposa de Bruno
— O que quer aqui depois do que fez?
— O Bruno está?
— Não, está no estúdio. Volta mais tarde - ela ia empurrando a porta, mas eu coloquei o pé
— Escuta, me deixa entrar. Eu só quero ver a bebê e ir embora - ela olhava pra mim com raiva, também pudera, mas abriu a porta e eu entrei
— Quem te deu o endereço daqui?
— Foi o Bruno, depois do conselho - observei o lugar, e a decoração tinha todo o jeito alegre de Amy, deu uma saudade da minha amiga .. - Haam .. onde ela está? - Ela olhava pra mim de cima a baixo, aquilo seria bem difícil - Por favor, quanto mais rápido você disser, mais rápido eu vou embora
— Está no quarto dela, segunda porta a esquerda
— Obrigada - dei as costas e fui em direção ao quarto, ouvi alguma coisa que a esposa disse, mas nem dei atenção. Abri a porta devagar, e entrei, deixei minha bolsa em cima da poltroninha e fui em direção ao bercinho .. estava acordada .. olhando pro lado, “mordendo” seus dedinhos. Até que ela percebe que estou ali, e vira a cabecinha pra me olhar e … seus olhos me hipnotizam, e me fazem lembrar ..

“- Amy, quando você tiver um bebê, como você acha que ela vai ser? - disse, tínhamos 8 anos e brincávamos de boneca
— Não sei, mas se parecer comigo, ela vai ser linda - rimos”

— Seu desejo se realizou, Amy. Ela é igual a você, é linda, perfeita como uma boneca - sussurrei. Então ela começa a resmungar alto, com as mãozinhas babadas pra cima, me fazendo despertar do transe - O que você quer? - A peguei no colo, tirando do berço e apoiando sua cabecinha em meu peito. Logo ela estava quietinha, quase dormindo denovo, decidi cantar pra ela ..

~ le Bruno

Estava no estúdio com o Phill e Ari, quando o telefone toca
— Oi!
— Bruno! Bruno, por favor me ajuda
— Rita? O que aconteceu? Alguma coisa com a Alícia?
— Quase isso. Aquela louca da Charice, a que nos processou, ela invadiu a nossa casa e tá no quarto da Alícia. Eu não sei mais o que fazer! Bruno me ajuda!
— Calma, eu to indo pra aí - desliguei. Falei com os caras e fui pra casa

[…]

— Bruno, por favor, tira aquela louca de lá
— Calma, Rita! Eu autorizei a vinda dela pra cá
— O que?
— É. Ela e a Amy eram como irmãs, ela tinha direito
— Assim como tinha o direito de nos processar, e passar por todo aquele desespero? Ela não poderia nem pisar aqui. Tira aquela mulher de perto da Alícia, antes que eu mesma faça isso!! - disse ela nervosa e foi pra cozinha.
Respirei fundo, tirei o chapéu e joguei no sofá, fui em direção ao quarto de Alícia, ouvindo uma voz doce, cantando uma canção que parecia de ninar. A porta só tinha uma fresta aberta, empurrei devagar e me deparei com Charice de costas, seus cabelos agora negros e lisos, na altura da cintura, sua silhueta, tudo lembrava Amy. Ela cantava, e dançava bem devagar. Parecia sonho, Amy alí denovo
— Bela canção, Charice - ela se virou assustada, Alícia com as mãozinhas e a cabeça apoiada em seus seios, e ela a segurava com suas duas mãos, uma na cabeça e outra nas costas. Alícia dormia tão gostoso 
— Bruno, me desculpa, ela tava agitada e resolvi cantar pra ela 
— Não, que isso. A música tava tão boa que até eu estava quase dormindo - ela sorriu, olhou pra Alícia e a colocou de volta no berço
— Hammm .. - olhou seu relógio de pulso - Já está na hora, eu tenho que ir
— Me desculpa pela Rita, é que ela ficou com medo, por conta da coisa toda do processo 
— Não Bruno, não tem com o que se desculpar. Eu entendo ela, o que eu fiz foi horrível, burrice minha, só causei problema. Eu tenho que ir - pegou a bolsa - com licença - ela ia passando por mim feito uma bala saída de uma arma, mas eu fui mais rápido e a segurei pela cintura olhando em seus olhos
— O que você quer, Bruno? - sussurrou ela
— Quero que sejamos amigos. Sem ressentimentos. Por favor 
— Tudo bem. Só me deixa ir - a soltei e ela saiu. Fiquei um tempo olhando para o chão e andei ate o berço de Alícia, observando-a dormir
— Ai Amy, você não sabe o quanto tudo tá tão difícil sem você

~ le Rita

Eram 01:30 da manhã, ouvi choro de bebê e despertei. Levantei um pouco sonolenta e fui ao quarto de Alícia
— Oi pequena dengosa, por que chora tanto, em? - a peguei no colo - calma, shiiiiuu, mamãe está aqui. - Ela se calou e logo estava quase dormindo novamente
— Rita? - olhei para a porta e não tinha ninguém.  - Rita  - olhei para o quarto e nada via
— Bruno, se isso é uma brincadeira , não tem graça!!
— Rita... o espelho... - olhei para o espelho do guarda roupa e Amy me olhava doce, estava de branco, seus olhos azuis brilhavam, seus cabelos negros voavam como se estivesse embaixo d'água, e ela estava sorrindo. Senti pânico na hora, mas me controlei para não gritar, já que Alícia dormia em meu colo e Bruno também estaria dormindo - Não tenha medo, se aproxime, necessito falar com você antes de ir - a voz dela soava como sussurros. Aproximei-me do espelho
— Apenas escute: Eu estava aqui o tempo todo, nesses 2 meses. Charice sempre foi muito impulsiva e teimosa, a perdoe pelo que fez  e sempre a deixe em contato com Alícia. Seja uma boa esposa para o Bruno, cuide dele. E um ultimo pedido: cuida bem da minha pequena, crie ela como se fosse sua filha, a transforme em uma verdadeira princesa. Ficarei em paz se fizer isso para mim
— Te prometi tudo isso, lembra? - disse
— Claro que sim. Obrigada por tudo, Rita, obrigada mesmo. Adeus - ela olhou para Alícia e esticou sua mão, a mesma atravessou o espelho e acariciou suas bochechas, passou o indicador no narizinho … voltou sua mão para o espelho, e fez um gesto de despedida com a mão esquerda e seu corpo desapareceu como uma fumaça branca. Fiquei sem acreditar no que vi, e fiquei um tempo parada em frente ao espelho tentando processar tudo. Peguei Alícia,  coloquei de volta ao berço e voltei para o quarto. Me deitei, mas nada de sono vir, tudo o que aconteceu a poucos minutos atrás ainda pairava na minha cabeça.