Finalmente cheguei em casa, esperava entrar e encontrar aquela bola rosa e peluda no sofá - ou na cama talvez -. Não que alguém saiba que é isso que realmente me prende aqui e que me impede de ir a algum bar ou hotel depois do trabalho. E apesar de eu saber que não há como ele realmente me amar - ninguém poderia - eu ainda espero, lá dentro de mim, que ele não desista, que minhas tentativas de mostrar a ele que não é importante sejam falhas, e que algum dia eu possa me abrir para ele - sem duplo sentido, é ele quem é aberto por mim-.

Estranhamente estava tudo apagado, Shuichi nunca fora de apagar as luzes não usadas - era daqueles que acende todas elas e liga a televisão para não se sentir sozinho - não era muito tarde, eu provavelmente estaria trabalhando se não fosse domingo. Fui direto a cozinha, imaginei que ele estaria fazendo meu café, erro meu, talvez tomando banho? O banheiro estava vazio, igual a cama, a varanda e a sala. Onde diabos esse menino havia se metido? Será que meu medos haviam se concretizado? Procurei fervorosamente algo que indicasse que não. Tudo apontava que ainda morava ali, todas as coisas no lugar. Deve ter ficado até mais tarde ensaiando com a banda, ultimamente ele anda muito fora de casa, também está pouco disposto, tenho que fazê-lo parar um pouco com a banda.

Pus eu mesmo o café na cafeteira - que diferença se quem fazia era eu ou ele?, máquinas são sempre máquinas - peguei alguma coisa na geladeira, haviam muitas coisas salgadas, estranho, nossa geladeira é anormalmente cheia de doces. Liguei a televisão tapeando os canais em busca de algo que me entretesse, no momento era eu que me sentia sozinho - shuishi era mais esperto do que eu pensava, só o barulho da televisao me deixou um pouco melhor.- Foi em um desses canais de fofocas que eu vi, entrando em um hotel, toda a banda Bad Luck. Aquilo me intrigou, ele costumava me contar quando dormiria fora, mesmo que eu fingisse não ouvir, ele sempre me avisava se passasse a noite fora. Resolvi deixar naquele canal.

Os repórteres o paravam na entrada fazendo vária perguntas. Os três pararam um pouco para responder algo que os deixasse menos alvoroçados.

-"É verdade que a banda Bad Luck fará uma coletiva para explicar a separação? Porque toda a urgência em desfazer a banda?"

- "Por motivos pessoais decidimos que não podemos continuar com a banda, mais detalher serão dados amanhã na coletiva."

-"Também há rumores que Shindou Shuishi deixou o apartamento de Yuki Eiri, como está o relacionamento de vocês dois depois disso?"

-"Entre mim e Yuki não há mais relacionamento nenhum, eu não tinha mais porque insistir nisso, pretendo me mudar do Japão assim que terminarmos a papelada."

Depois disso ele e os outros integrantes entraram no hotel .- eu acho, já que não entendia mais as coisas direito - Estava atônito, parado feito uma estátua com os pensamento totalmente confusos. Sem me mexer direito alcancei o controle remoto e desliguei a tv. No preto da tela pude ver meu reflexo petrificado, a boca semi aberta e os olhos escancarados. " Não temos mais nenhuma relaçao?" Por que ninguém me avisou isso? Desde quando ele pretende se mudar do japão? Se era isso que ele queria podia ter dito, eu entenderia, fui o provocador disso, mas eu não admitia que ele fugisse desse jeito, teria que dizer nos meus olhos tudo o que disse antes." Os repórteres provavelmente não sairiam dali durante a noite toda, esperando por uma aparição na janela ou um furo de reportagem, e era bem isso que eles teriam, porque eu iria lá, e esse seria o maior barraco do ano. Eu iria por todos os pingos nos "is", os traços nos "tes", "ques","setes" ou o que mais precisasse ser riscado. Iria até lá e o faria me explicar direitinho esse negócio de separação e de viajem.

Peguei minhas chaves, nem mesmo tranquei a casa - é para mante-la segura que eu pago meus impostos - liguei meu carro e fui direto para a frente do hotel. Cabeças iriam rolar.

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Via-se movimentaçao à quadras de distâcia, movimentação essa que fez meu carro passar despercebido pelos olhares dos fotógrafos. Só teria que esperar um pouco até que fossem nove horas, já me instalei nesse hotel e essa é a hora do jantar no restaurante ao lado da recepção.

Meia hora de espera e lá estava a banda, todos sorridentes como se nada tivesse acontecido. Não aguentei mais um segundo, sai do meu carro. Os flashes cegavam meus olhos mas eu continuava em frente pelo caminho já conhecido. Os paparazzi abriam espaço para que eu passase e desse a eles a reportagem do ano - do século talvez - mas também existia a possibilidade de a abertura ser por medo da minha cara de poucos amigos.

O mais estranho foi que quando me viram todos na banda puseram-se a frente dele, como se Shu fosse uma dama indefesa e eu um estuprador - não é bem assim- ou ladrão. Parei bem em frente ao trio, Nakano começou falando - nao era com ele que eu tinha assuntos a tratar, ele devia se por em se lugar. Será que nunca lhe tinham ensinado? "em briga de marido e mulher nao se mete a colher"-

- Yuki-san por favor poderia nos dar licença? - percebi que Shuichi se escondia atrás dele e não me deixava ver seu olhos ainda que eu os procurasse insistentemente.

- Eu nao tenho nada a falar com você, meu problema é com o menino aí atrás.

- Yuki-san, aqui não por favor, não estamos sozinhos - ele mexeu os olhos indicando os repóteres fascinados, gravando tudo. Mas era aquilo que eu queria, ele não poderia fugir de mim na frente de todos, era uma pena que eu também não pudesse dar uns socos naquele ruivo irritante na minha frente.

- Que pensassem nisso antes de resolverem as coisas sem dizer nada para mim. E imagino que eles estejam tão curiosos quanto eu.

Nesse momento Shuichi saiu do seu "posto de vitima"- vitima? Eu quem fui deixado, e ele age como se eu tivesse o enxotado de minha casa a pontapés e agora o quisesse de volta. Lembrem-se bem, EU SOU A VÍTIMA. -. a franja me impedia de ver os olhos que eu tanto procurava, eu tinha que ver a mentira neles, tinha que ver que ele realmente me queria mais que por algum motivo idiota -como sempre- ele estava mentindo para mim. Mas ele não me olhou. Apenas o ouvi murmurar:

- Já me cansei de você Yuki-san, poderia ir embora e não me procurar mais?

Tanto eu como todos á nossa volta ficamos congelados. Era aquilo, ele tinha finalmente se cansado de mim, e eu achando que quando ele fizesse isso eu conseguiria viver normalmente. De novo, erro meu, meu mundo acabara de cair. Ele permaneceu de cabeça baixa, com os punhos cerrados, unhas encravando na palma de sua mão, e quando parecia que sua pele não iria mais aguentar ele se virou para correr de volta para o quarto. Corri atrás dele - as coisas não ficariam assim- , mais os dois idiotas tentaram me impedir. O que eles tinha na cabeça? Se por em minha frente? Ridículo. Em um empurrão os dois já estavam no chão. Eu corri o máximo que podia. Consegui agarrá-lo pelos pulsos e o parei. Quando finalmente consegui ver os olhos que tanto procurava, estavam cheios de água. E eu não via ali apenas a mentira, mas junto dor, tristeza e alguma coisa que não consegui identificar, mas que era forte o bastante para me cortar o coração. Diante daquilo fiquei sem palavras. Consegui murmurar um fraco "Shu-chan?"... Eu já nao o reconhecia.

- PORQUE? PORQUE VOCE VEIO ATRÁS DE MIM? PORQUE VOCE NÃO ME DEIXA SOZINHO? Eu não deveria importar nada. Voce deveria ficar feliz em me ver fora da sua vida. - a voz dele ia caindo junto com ele. Parecia frágil, não, nao era bem mais que isso, parecia fraco, realmente fraco, algo estava errado, o pulso dele estava muito fino. Ontem ele ainda não estava assim, ele realmente tinha emagrecido um pouco no ultimo mês, e parecia mais cansado, mas já disse que o faria parar de trabalhar um pouco, pensei em uma viagem juntos. - normalmente ele pularia no meu pescoço e faria uma cena de felicidade extrema- agora não seria nada?

- Shuichi, o que está acontecendo? - desta vez e falei forte e decidido. Ele voltou a desviar os olhos.

- Nada, só estou cansado de você. - ele olhava para o chao, deveria aprender a mentir melhor.

- Shuichi, PARE DE MENTIR PARA MIM! Olhe nos meus olhos e diga o que está acon...

- EU ESTOU MORRENDO MERDA! - Morrendo? Que brincadeira era essa? Ainda que ele me odiasse e nunca mais quisesse me ver a face, não era motivo para brincar com isso.

- D-do que voce está falando Shu? Não brinque com isso. - pequenas lágrimas se fomavam em meus olhos. Eu sorria fraca e débilmente, ainda esperando que ele começasse a rir e me disesse que tudo aquilo era uma brincadeira, que era primeiro de abril ou até mesmo que ele me odiava e que eu era um assasino frio que nunca teria amor.- eu bem que merecia isso, por tudo o que fiz com ele- mas não dizer aquilo, que eu não o perderia para mim mesmo, e sim para a morte. A bola de pelos cor de rosa que me beijava quando chegava em casa, quando saia de casa, que me prendia á vida e que agora perderia a dele.

- Você realmente acha que eu brincaria com algo assim? Eu não queria que voce soubesse, eu só queria sumir, e quando eu finalmente morresse ninguém iria sofrer, ninguém se lembraria de mim, nem você, nem os fãs, nem minha família! - ele chorava muito e gritava alto. Soltou-se de mim e colocou uma mão na boca e outra no estômago. A mão dele se encheu de sangue e Nakano, Fujisaki, K, e Sakano-san vieram correndo segurá-lo. Trouxeram água e alguns remédios para ele, mas ele não pareceu melhorar. Como ele nao podia falar, o ruivo começou:

- Shuichi está com Leucemia, me espanto que você não tenha notado nada anormal Yuki-san, ele mal conseguia falar ás vezes - eu nunca prestava atençao no que ele falava -, ao invés de ir aos ensaios ele ia a médicos caros - o dinheiro dele sempre foi dele, não me importava o que ele estivesse fazendo - muitas noites ele não voltava para casa por estar no hospital - ninguém nunca me ligou, pensei que ele ficava com vocês ensaiando - e por último ele deixou um bilhete em cima da cama dizendo que não o procurasse mais. -bilhete? que bilhete? eu nao costumava olhar para minha cama quando ele não estava nela.

- Eu iria...para longe. Não queria que...a última...imagem que tivesse de mim...fosse de um moribundo no hospital - ele juntou todo o folêgo que restava. Eu me abaixei á altura dele e fui engatinhando para o seu abraço.

- Desde quando nós fugimos de alguma coisa? Você pensou que eu deixaria você ir assim sem a minha permissão? Nós vamos lutar juntos, e eu estarei com você até o final.- eu o tinha praticamente em meu colo. Eu estava sentado no chão com ele aninhado em meu peito. O calor do meu shu, era isso que eu precisava ter hoje. Definitivamente eu ficaria com ele até o fim. Seja ele quando fosse. Chegei perto de seu ouvido e disse - por que eu te amo - ele se aconchegou mais um pouco, molhando a minha camisa com suas lágrimas.

Foi quando um flash me acordou para todos os olhares em volta de nós, sentados no chão do hall do hotel declarando nosso amor abertamente. Realmente aquela seria a matéria do século. Peguei ele no colo e o coloquei no carro.

- A partir de agora eu cuidarei dele, em casa, que é de onde ele não deveria ter saído.

Fechei a porta e partí, para o lugar onde pudéssemos conversar direito e eu pudesse dizer em alto e bom tom o quanto eu o amava.

Owari