Parei para retomar o fôlego, quando percebi pra onde eu estava indo. Estava indo para um parque, sim, um parque. Parque Municipal Santa Rosa, um parque muito famoso na pequena cidade onde eu morava.
Aquele era um lugar muito especial para mim...  Eu ia pra lá todo o fim de semana com meus pais. Aliás, aquele cheiro me lembrava muito a minha mãe, me lembrava ao perfume dela. Aquele cheiro de flores que acabaram de florescer, misturado com terra molhada e brisa fresca. Realmente eu amava aquele aroma! 
Fui andando até um ponto do parque onde, logo em frente, ficava o lago. Sentei-me e abracei meus joelhos de modo que ficaram colados ao meu corpo. E entre eles, depositei levemente minha cabeça. Sentia as lagrimas rolando livremente em meu rosto. Fechei os olhos.
A imagem daqueles lindos olhos não saia da minha cabeça, sim, os olhos DELE. Olhos de um garoto que mesmo tento apenas 10 anos, amava, de todo o coração, uma garota e essa garota também o amava! Essa garota era eu. Eu daria a vida por ele, não o deixaria nunca. 
Senti mais e mais lagrimas descendo pelo meu rosto. Eu estava cada vez pior, cada vez me sentia mais sozinha, mais largada. Não conseguia acreditar que minha família havia me deixado, sozinha. Não conseguia crer que aquilo tudo estava acontecendo. 
Até que senti alguma coisa, gelada e molhada, cair sobre meu ombro esquerdo. Olhei para meu ombro atingido e, automaticamente, olhei para cima. Droga, havia começado a garoar e logo mais estaria chovendo. Pensei em ir para casa, mas me lembrei que não tinha mais uma.

Lembrei  da minha amiga. Sim, aquela do orfanato. O nome dela era Beatriz, mas todos a chamavam de Bia. Ela era uma garota muito querida. Sempre com um sorriso no rosto, fazia amizade com todas as crianças do orfanato. E comigo não foi diferente. Quando cheguei, ela devia ter uns 12 anos. Era uma menina bonita, já com o corpo e mente amadurecidos. Ela tinha o cabelo castanho claro e ondulado nas pontas. Seus olhos eram azuis esverdeados. E . Logo que entrei pela porta ouvi uma das monitoras gritar dentro da casa: “Bia, venha conhecer a nova irmã da nossa família!” e ela veio, com um sorriso lindo no rosto.

Nunca vou esquecer daquele sorriso branco que ela me ofereceu... fez com que eu me sentisse melhor, eu acho. Foi triste saber que não a veria mais, espero que um dia a encontre. Para agradecer.

Eu sentia a chuva molhando meus cabelos negros, que aliás sempre foram assim. Lembrei de uma tarde que passei com meu pai e minha mãe, aqui nesse parque.

Nós estávamos passeando e começou a chover. Como meu pai e minha mãe cantavam maravilhosamente bem. Começaram a cantar uma musica antiga que eu escutava com eles: “I Sing In The Rain” linda musica... e minha mãe ora cantava essa ora Umbrella da Rihanna. (tipo isso:http://www.youtube.com/watch?v=QfoYielDCu4) 

Eu só observava, como se fosse um show. Que saudades!