Inside A Fairy Tale escrita por Mandis


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Sim, sei que viajei nessa...



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POV Mulder


Quando li o email a primeira coisa que pensei foi que era um absurdo. E para eu pensar isso a história tem que realmente fugir da realidade. Quer dizer, sou Spooky Mulder e não recebi esse apelido atoa. Acredito em vida extraterrestre, conspirações governamentais, mutações genéticas, paranormalidade e em todo esse tipo de coisa. Mas contos de fadas serem reais e uma bruxa má ter acabado com os finais felizes, é um pouco demais. Então reli a história, procurei pela cidade na internet, pesquisei as pessoas mencionadas no banco de dados do FBI, até que os fatos contados por Henry – o cara que me mandou o email – começassem a fazer algum sentido. Além do mais, ele narrou os fatos muito bem. Anexou fotos das pessoas das quais falava, com seus nomes completos e a teoria de quais personagens cada uma delas seria. Foi nesse ponto que decidi que o caso valia uma visita nossa e arrastei minha parceira junto.

Agora tenho que dizer algo sobre Scully. Somos opostos. Eu estou sempre aberto a novas teorias sobre tudo e ela precisa da ciência para corroborar as coisas. Somos tão diferentes quanto duas pessoas possam ser. Mas temos uma coisa em comum: queremos sempre a verdade. Procuramos em lugares diferentes, acreditamos em coisas diferentes, mas ainda assim a verdade é o que importa. Por esse motivo é que ela acabou aceitando ir comigo à StoryBrooke, Maine, investigar a estranha cadeia de fatos que me levava a acreditar que lá vivem todos os personagens dos contos de fada, enfeitiçados pela rainha má da história da Branca de Neve, condenados a viver sem finais felizes. É verdade que ela foi reclamando e dizendo o quão absurdo aquilo soava, mas pelo menos ela foi. 

Depois de algumas horas de avião, e uma breve viagem de carro, chegamos à cidadezinha. Se parecia exatamente como qualquer cidade pequena do interior. Hospedamo-nos na única pousada da cidade, chamada “Quartos e café da manhã da vovozinha”. O nome me chamou a atenção, mas quando comentei o fato com minha parceira, recebi apenas aquele olhar duro que me fazia ficar quieto. Deixamos nossas coisas lá e fomos ao Dinner da cidade nos encontrar com Henry.




POV Scully

- Você é o Henry, então? – eu perguntei, querendo ter certeza daquilo.
- Sim, sou eu. E ele é Fox Mulder, certo? – Ele respondeu, olhando rapidamente para Mulder.
- Certo. E esta é Dana Scully, minha parceira. – Ele se apressou e respondeu, aproveitando para me apresentar à criança. 
- Pensei que você era...
- Adulto?
- Sim. Isso é alguma brincadeira, garoto? – fui direto ao ponto. Quanto mais rápido fôssemos embora melhor.
- Não, tudo o que eu disse é verdade.
- Então quer dizer que você realmente acredita nessa história dos personagens dos contos de fadas existirem e morarem aqui?
- Sim. 
Vendo a determinação da criança, percebi que não era nenhum tipo de trote ou brincadeira. Ele realmente acreditava nisso. Parecia Mulder,com suas crenças que ninguém levava a sério. Nem eu mesma.
- Olha, Henry, por que não o levamos para casa e conversamos sobre isso com os seus pais? Tenho certeza de que eles vão adorar saber mais sobre o assunto, ok?
- Vocês são como os outros, não é? Não acreditam em mim. Eles não são personagens! Eles existem! E a rainha enfeitiçou eles para que não tivessem mais finais felizes e não pudessem sair daqui nunca mais! Eu achei que pelo menos você acreditaria. – O menino olhou para o Mulder com tanta decepção que mesmo eu me compadeci dele e quis acreditar em sua história.
- Henry... – Meu parceiro tentou, mas logo foi cortado pelo garoto.
- Leiam isso. – Ele empurrou para as mãos de Mulder um grosso livro marrom com uma encadernação antiga – Só leiam, e amanhã conversamos novamente, ok? - Depois disso ele saiu correndo, sem nos deixar tempo para responder.

O título do livro, escrito em caligrafia medieval, era “Once Upon a Time”.



Algumas horas depois...

Assim que chegamos ao hotel, Mulder se trancou em seu quarto para ler o livro dado por Henry. Ele me disse que devia ao menino ao menos a leitura do livro e que no dia seguinte iríamos embora. Vendo que meu parceiro enxergava a si próprio naquela criança, resolvi deixá-lo em paz e ir ao meu quarto, tomar um banho e trocar de roupa. Depois disso resolvi dar uma volta pela cidade e tentar descobrir mais sobre Henry.

Não foi muito difícil recolher informações sobre ele. O garoto era filho da prefeita da cidade, Regina, que o adotou ainda bebê. Fazia terapia com um psiquiatra de boa reputação, embora não muito conhecido, provavelmente por exercer a profissão apenas naquela pequena cidade. Descobri também que foi sua professora, Mary, quem lhe deu o livro, na esperança de que os contos estimulassem sua criatividade, e sem imaginar que ele realmente acreditaria naquilo. Com base nisso, pude chegar à conclusão de que Henry provavelmente se refugiava na fantasia dos contos de fadas para se esconder da realidade de ter sido dado para a adoção, mesmo vivendo, aparentemente, uma vida estável.

Cheguei ao hotel e passei essas informações ao meu parceiro, esperando que ele desse o caso como solucionado. Mas Mulder tinha outras idéias.

- Scully, isso tudo que você disse faz sentido. Mas tem algo sobre essa cidade que me intriga. Acho que deveríamos investigar um pouco mais.
- Mulder, o que te intriga nessa cidade é a paz na qual os moradores vivem. Só isso. Mas você realmente está acreditando no que esse livro de contos de fadas diz? Uma criança de 10 anos acreditar é compreensível. No máximo, preocupante. Mas mesmo se tratando de você, isso já é demais, não acha?
- Mas faz sentido. Não é uma escrita fantasiosa, como os outros livros desse tipo. Tem seus elementos mágicos, é claro, mas não é um filme da Disney em versão escrita. E tem o Henry. Há algo sobre ele também.
- Ah, então é isso. Você se identificou com o menino, pude perceber isso. Assim como você, ele é desacreditado por todos. Mas isso não transforma o que ele diz em verdade.
- Você está falando só sobre Henry, ou agora é sobre mim, Scully?

Pude ver a decepção nos olhos do meu parceiro, mas ainda assim não podia deixar que um caso absurdo como aquele se estendesse. Me aproximei e sentei na cama ao lado dele, colocando minha mão sobre seu braço.

- Mulder, por favor, seja razoável. Contos de fadas são apenas isso: contos. Esses personagens não existem.
- Só porque você nunca viu, não significa que não existe. Olha, eu sei que você precisa de provas para tudo, mas vamos ter que esperar até amanhã para devolver o livro. Então por que não saímos, vamos comer alguma coisa e enquanto isso eu te conto a história da cidade?
- A história do livro, você quer dizer?
- Sim, como você preferir.
- Odeio quando faz isso.
- Eu sei, mas gosto de te ver irritada por coisas bobas.

Ele tinha que me dar aquele sorrisinho? Já não bastavam os olhos de cachorro carente? E agora o sorriso. Impossível resistir. Mas não ia deixar que ele soubesse que é tão fácil me convencer de alguma coisa.

- Ok, vamos. Estou com fome mesmo.



POV Mulder

Ao chegarmos ao Dinner, logo reparei na garçonete do lugar. A menina só poderia ser a Chapeuzinho Vermelho. Mesmo que em uma versão adolescente “rebelde sem causa”. Preferi não comentar nada com Scully. Melhor não testar a minha sorte. Já era muito ter conseguido convencê-la a ouvir a história. Iria deixar para falar quem estava servindo a refeição em outro momento. Enquanto comíamos, eu contava uma versão resumida do livro. Mais especificamente da parte principal, que Henry deixara marcado.

- Você ouviu o que acabou de dizer, Mulder? Você acabou de me contar, basicamente, que a Rainha má da Branca de Neve não aceitou a derrota e enfeitiçou todos os personagens, para que fossem transportados para a nossa realidade e agrupados em Storybrooke. Eles não se lembram de quem são, e foram separados de uma forma que não permite que tenham seus finais felizes. Você também disse que a filha da Branca de Neve, Emma, é a única que pode desfazer o feitiço. E isso, somente quando completar 28 anos. Ninguém sabe onde a menina está, já que ela foi mandada logo após o nascimento para outro lugar, em um tronco enfeitiçado por uma fada, para salvá-la do feitiço. Isso deveria soar absurdo até mesmo para você.
- Ok, colocando dessa forma, Scully... Mas ainda assim acho que devemos investigar mais.
- Investigar mais o quê? Tudo isso é ficção! Fantasia! Como você pretende provar tudo isso? Vai achar uma maçã envenenada? Pretende interrogar a Fada Madrinha? Por favor, Mulder!

Quando eu estava prestes a responder, uma mulher chegou. Ela parou em frente à nossa mesa e se apresentou como Regina, a prefeita da cidade e mãe de Henry. Nós a cumprimentamos cordialmente, e então ela se sentou ao lado de Scully, de frente para mim, sem ao menos pedir.

- Sei que foi Henry quem chamou vocês. E peço desculpas por todo o incômodo que isso possa ter causado.Ele é só uma criança com muita imaginação, e ultrapassou todos os limites. Chamar dois agentes do FBI, imagino que muito ocupados com coisas importantes, já é inaceitável. Podem ter certeza de que eu conversarei com ele sobre isso e não vou deixar que incomode vocês novamente.
- Prefeita... – comecei, mas fui interrompido novamente por ela.
- Regina, pode me chamar só de Regina, Agente Mulder.
- Regina, seu filho talvez não esteja tão... – e fui interrompido mais uma vez, mas agora por Scully.
- Prefeita – Para minha parceira, ela não pediu que a chamasse somente pelo primeiro nome – suas desculpas estão aceitas. Não se preocupe conosco, pretendemos voltar amanhã à DC. Apenas fique de olho no seu filho, ok? Imaginação é essencial para o crescimento infantil, e está muito aflorada na idade dele. Mas pode causar problemas quando começa a ser confundida com a realidade.
- Obrigada pelo conselho, Agente Scully. Já conto com a ajuda de um profissional da área, que já está ciente da vinda de vocês à cidade a pedido de Henry. Estamos fazendo o melhor por meu filho. Bem, vou deixar vocês continuarem sua refeição. Fique com meu cartão, para o caso de Henry importuná-los novamente.

Ela entregou o cartão à mim, me olhando como se quisesse que eu ligasse por outros motivos. Claro que percebi as intenções dela e sorri de volta apenas por educação. Mesmo assim acho que minha parceira não gostou muito, pois me olhava como se fosse me fuzilar ali mesmo. Seria ciúmes? Agora sim ficou interessante. De qualquer forma eu fiquei com medo daquele olhar e me concentrei em meu prato. Descobriria se estava certo em outra ocasião.



POV Scully

Na manhã seguinte fomos nos encontrar com Henry, conforme o prometido. Após devolvermos o livro, o garoto sugeriu que déssemos uma volta pela cidade. Disse que nos mostraria os personagens que havia identificado. Eu me opus,é claro. Queria voltar para DC ainda hoje. Mas Mulder ficou animado com a idéia, e os dois me olharam com expectativa. Era o olhar de cachorro carente de novo e dessa vez em dose dupla. Acabei concordando. 

- Aquele ali, com o dálmata e o guarda chuva, é o meu psiquiatra. Ele é o grilo falante, tenho certeza.
- Faz sentido o grilo falante ter se tornado um psiquiatra. – Mulder ainda concordava. Só eu não via sentido algum naquilo tudo.
- E aquela menina, acho que é a Cinderela. Ela mora com a madrasta e suas duas filhas. O pai morreu ano passado, e daí por diante a fazem trabalhar na lavanderia da cidade.
- Essa é bem óbvia, só falta ela encontrar o príncipe.
- Esse é o problema. Não tem mais final feliz.
- Mas ela poderia sair da cidade, tentar a vida em outro lugar, longe dessa família... – Eu respondi, impaciente.
- Não poderia. Sempre que alguém tenta sair da cidade, coisas ruins acontecem.

Continuamos assim pela manha toda, andando pela cidade, com Henry e Mulder dizendo quem achavam que as pessoas eram.

- Mas quem seria a bruxa que fez o feitiço?
- A prefeita da cidade, minha mãe adotiva.
- Ah – Eu disse, entendendo tudo.
- Não é porque eu sou adotado que acho isso. É que ela não gosta de mim. Não realmente. – ele respondeu, triste.
- Claro que ela gosta de você, Henry. Ela até mesmo veio falar conosco ontem, preocupada com você. – me abaixei na frente dele, tentando consolá-lo. Não é porque não acreditava no garoto que não gostava dele. Na verdade era uma ótima criança.
- Não era comigo que ela se preocupava, era com o feitiço.
- Henry, ela é sua mãe. Ela escolheu ser sua mãe. É claro que te ama. – continuei.
- Você não entende. Eu vejo a forma como as mães dos meus colegas olham para eles e ela não me olha do mesmo jeito. – os olhos dele se encheram de lágrimas e ele saiu correndo. Eu quis ir atrás dele, mas Mulder me disse para ficar e foi falar com o menino.



POV Mulder

- Henry, espera! – gritei, correndo atrás dele.

Ele parou, tentando esconder que estava chorando.

- Eu chamei vocês por que achei que me ajudariam, mas não acreditam em mim!
- Eu acredito.
- Mas a Agente Scully não.
- Ela é assim. Scully precisa de provas. Nem em mim ela acredita se eu não tiver provas.
- Mas vocês não são parceiros?
- Somos, mas isso não quer dizer que somos iguais...
- Isso faz sentido.
- Muito. Mas o que importa é que eu acredito em você. E quero te ajudar.
- Sim, mas como? O único jeito é a filha da Branca de Neve voltar para cá.
- E ter 28 anos. Além do fato de precisarmos encontrá-la. Você não tem nenhuma pista dela?
- Pista não, mas uma suspeita sim.
- Já é alguma coisa. Qual é essa suspeita?
- Acho que você não vai acreditar mais em mim se eu contar...
- Vou sim, pode falar.
- Encontrei uns papéis da minha adoção. Minha mãe biológica se chama Emma. Não consegui ler nem o sobrenome, minha mãe de criação chegou bem na hora. Acho que ela é a solução.
- Pode ser. Pode não ser também, mas só há um jeito de descobrir. Encontrando ela.
- É aí que vocês entram.
- Na verdade não. Infelizmente minha parceira tem razão quando diz que temos que voltar.
- Ah, então vocês não vão me ajudar, né?
- Não disse isso. Mas você vai ter que fazer uma parte sozinho.

O rosto de Henry se iluminou quando eu passei um site que encontrava mulheres que deram crianças para adoção. Não sei como ele faria para pagar pelo serviço, mas o menino é esperto e sei que vai conseguir dar um jeito. Ele me agradeceu, visivelmente feliz. Então voltamos para onde Scully estava, o deixamos em casa e fomos para o hotel fazer as malas para voltar a DC. A viagem seria longa.



POV Scully

Durante a viagem, ao menos enquanto Mulder estava acordado, fomos conversando sobre a cidade, as pessoas e Henry. Ele tentando me convencer de que eram todos personagens de contos de fadas e eu explicando porque não poderiam ser. Até ele falar da prefeita da cidade.

- Eu só fico com pena por Regina ser bem a vilã da história, mas faz sentido. Ela controla tudo.
- Mulder, você só diz isso porque ela praticamente se atirou em você. Eu não gostei dela logo de cara.
- Isso é ciúmes, Scully? – ele perguntou, com um sorriso convencido no rosto.
- Claro que não, eu apenas descrevi o que houve. Vai negar?
- Não, não posso negar que causo esse efeito nas mulheres. O que mais me impressiona é que você tenha ficado tão brava por isso.
- Brava? Não fiquei brava. Você pode se relacionar com quem quiser, não tenho nada a ver com isso.
- Você realmente acha isso?
- Sim, acho. E vale para mim também. Aquele xerife era bem interessante – Ao dizer isso, vi o sorriso de Mulder sumir na hora. Ao que parece, agora era ele quem estava irritado. – O que foi, Mulder, está com ciúmes? – Minha vez de sorrir, convencida.
- Não, claro que não – Ele não me convenceu, mas resolvi fazer com que pensasse que sim.
- Que bom, eu não gostaria de brigar com você por isso.
- Você seria capaz de brigar comigo por causa de um homem? – Ele me lançou aquele olhar de cachorro carente outra vez.
- Bem, aí depende de quem estivesse com a razão.
- Me diz uma coisa, Scully. Se você tivesse que escolher entre mim e um namorado, quem você escolheria? – percebi que a brincadeira tinha acabado e que isso era importante para ele.
- Mulder, você é meu parceiro, meu amigo. É a pessoa em quem eu mais confio. Eu nunca abandonaria você por causa de outra pessoa. Não escolhi ser sua parceria, mas escolho continuar sendo.

Após isso ele não disse mais nada. E nem precisava, o olhar já dizia tudo.

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