POV’S BILLIE

Sabe, Mike é meu melhor amigo desde que me entendo por gente, acho que é um dos únicos que conheceu meu pai e mesmo que ele seja bom de cama, não impede de ser um pateta impertinente.

- Cara, para de brizar, daqui a pouco o sinal bate – Mike jogou um pão na minha cara.

- Caramba Mike, que saco. Qual foi a última vez que cheguei no horário certo?

Andou até mim, pulou no sofá e me encarou.

- Eu também to muito triste pelo Sobrante, mas sabe, a vida tem que continuar.

O empurrei e coloquei o baseado na mochila. Como ele ousa falar sobre isso? É o Green Day, é minha vida, eu não ligo pra escola, só quero tocar, ficar chapado e lembrar do AL não ia me ajudar em nada.

- Ok Mike, eu vou pra escola... Mas o Green Day não acabou – já estávamos andando para a escola.

- Não disse isso. Green Day nunca vai acabar, só precisamos de um baterista.

Me deu um soco de leve no ombro e mudamos de assunto.

Ah! Escola! Vou me livrar dela, nem que seja a última coisa que faça.

Acho que foi a primeira vez que chegamos na hora certa.

- Bom dia Pritchard... e Armstrong.

A professora de inglês, Sra. Benedi, era a mais vadia que conhecia.

Ela me odiava, porque todas as minhas redações são músicas sobre drogas, sexo ou falando mal dela.

Sentei na penúltima carteira como de costume, hoje rezando mais do que nunca para as irmãs Ontoro não me encherem.

Não adiantou, como tudo na minha vida de merda.

O resto do meu dia não vale a pena comentar. Passei o dia pensando em letras novas, acordes, como continuar o Green Day sem o AL, até que o último sinal bateu. Aleluia.

- BILLIE! CARA VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! – Mike vinha correndo até mim, abobalhado.

- O que é?

- Lembra do professor de bateria do John?

Não

- Sim, o que tem ele?

- Ele vai entrar na banda!

Comecei a sentir a empolgação.

- Como é?

- Sim cara!

Mike passou o braço por cima do meu ombro e foi me conduzindo até em casa.

- O Matt me falou! Os dois são amigos e quando ele falou pro Tré sobre entrar na banda...

- Tré?

- É o apelido dele. Cala a boca.

Com um apelido desse, não segurei a risada.

- Billie, isso é sério – agora ele me encarava bravo, odeio essa cara – o importante é que ele vem em casa hoje, depois das sete.

Tenho que admitir que realmente fiquei animado. Foi a melhor notícia em semanas. Não consegui dormir á tarde, como de costume. Eu e Mike fomos pra pista de skate fumar, só voltamos ás seis.

O banho foi muito rápido, tomamos junto, mas a euforia pelo tal baterista foi tanta que acabou não rolando nada. Não queríamos nos atrasar.

Coloquei uma blusa do Kiss, um bermudão e chinelo. Mike estava com uma blusa enorme azul e um bermudão verde, nossa, maravilhoso. Ficamos na sala, pulando de tanta ansiedade.

Um carro estacionou, era o Matt.

- Mike, atende eles, vou pegar cerveja.

-Ok.

Me virei e fui até a geladeira. Ouvi os passos, Mike abrindo a porta e a voz do Matt.

- Bom gente, esse é o Frank Edwin Wright III... ou Tré.

Virei de novo com as latinhas na mão e elas caíram todas.

Fiquei perplexo.

Nunca havia visto alguém assim tão ... tão ...

E como nesses filmes românticos que eu odiava, senti um frio na espinha. Meu cupido filho da puta.