Bosque de Ilusões escrita por CuteMari


Capítulo 1
Capítulo Único




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Bosque de Ilusões

 

Era um final de tarde, já estava tudo escuro naquela clareira, e, por entre as árvores, uma luz laranja projetava sombras macabras e assustadoras. No chão, num cantinho, encostada numa árvore, uma criaturinha, chorava descontroladamente. A menina, cansada e com vários machucados provenientes da travessia pela floresta, levantou o rosto, e com os olhos cheios de lágrima, olhou em volta.

Estava bem perdida, e nem sabia se um dia voltaria. Mas, isso definitivamente não importava agora. Eu não quero voltar agora, não quero contar o que houve, não quero vê-loa, não quero! Vou ficar aqui para sempre  e não farei a mínima falta. Dilemava a menina aos soluços.

Então para o desânimo da garota, chamados ecoaram pelos carvalhos:

_ Carol, Carol! _ Eram várias vozes, pareciam vir de todos os lados, deixando a menina mais assustada ainda. _Volte, por favor.

_ Não! _ respondeu desesperada num grito.

Aos tropeços, se levantou e começou a correr por entre as árvores. Para onde? Não sabia, mas tinha de continuar, isso sim. Agora já estava tudo escuro, não enxergava um palmo na frente das mãos.

Correu muito, o que para ela pareciam quilômetros, por entre as formas assustadoras da mata. Continuou até que, de longe, se deu com um vulto. Era a silhueta de um humano, sem dúvida. Não muito alto, mas talvez maior que ela. Este estava sentado à beira de uma colina, olhando para o nascer da Lua no horizonte. Repentinamente, o vulto se virou para ela . Os olhos amarelos e brilhantes a assustaram e ela juraria ter visto um sorriso malicioso naquela expressão.

Ofegante, a menina tentou se distanciar da criatura andando para trás, e num tropeço, caiu e rolou colina abaixo. A última coisa que viu, antes de ficar inconsciente, foi o vulto descer em sua direção com movimentos desumanos.

Quando acordou ainda estava com todo o corpo dolorido. Depois de um tempo parada na cama é  que se deu conta dos acontecimentos. Rapidamente se lembrou na noite passada e da queda. “Onde vim parar?” Estranhou a menina. Era um quarto pequeno de paredes de madeira podre. Os únicos fios de luz penetravam no quarto pelos buracos de uma janela atacada por cupins.

Apavorada, Carol tentou se levantar, mas não conseguiu. Estava fatigada por todo o esforço da noite passada. Soltou um grito que não deixou de ser percebido.

_ Ah! Veja Pedro, nossa hóspede acordou. _ Era uma voz feminina. Fina, irritante, Barulho de passos ecoaram pelo aposento. A porta foi aberta com certa violência. _ Olá querida!

A dona da voz era uma mulher muito velha, Rugas não lhe faltavam, tinha cabelos compridos, brancos e mal cuidados, era gorda e vestia um avental engordurado e imundo por cima de um vestido vermelho em um estado não muito diferente.

Era uma mulher repugnante e deu arrepios à menina, que ficou um tempo observando-a, sem abrir a boca. Poderia jurar ter visto o mesmo sorriso maligno da noite passada no rosto da velha, que agora havia chamado o menino pra cima também.

_Hum, vejo que é do tipo caladona, não?

_ Quem é você? _ Perguntou ela num sussurro se encolhendo na cama.

_ Pode me chamar de Abigail, dona Abigail. Mas me diga, o que a faz tão apavorada, querida?

_ Eu... Eu... Meus pais não me querem mais, sou só um peso para seus ombros. Não faço falta à eles, estavam me abandonando. Eu... _ Enquanto gaguejava essa poucas palavras mais uma lágrima solitária escorreu pelos lindos olhos. Rapidamente a enxugou.

_ Coitada dela. _ Lamentou a mulher, passando a mão de unhas sujas e dedos calejados pelo rosto da menina, mais uma vez causando certa repugnância.

 _ Ah! Ai esta você Pedro, que demora!

_ Abigail, venha. Precisamos conversar.

Os dois sairam do quarto e, no corredor, começaram a falar. Abigail não mais com a voz dócil de antes resmungou:

_ Claro que a garota serve, é novinha e inocente.

_ Tome cuidado pra que tudo dê certo. _ O menino tinha um voz sombria e calma. Não a deixe fugir, nem tenha piedade como da última vez. 

_ Eu sei o que tenho que fazer! _ Disse brava, se alterando _ Se, ao menos, você ajudasse a cativa-la seria mais fácil. Parece que não quer que dê certo.

_ Você acha que eu gosto de ficar nesse corpo de um inútil filhote dessa raça nojenta. _ Mudando o tom de voz repentinamente. _ Não se faça de ignorante e acabe logo com isso. Quero tudo pronto até a meia noite.

Sem responder, a mulher entrou no quarto e falando consigo mesma:

_ E eu adoro ser  uma velha humana. _ Agora se referindo à garota. _ Nos vemos mais tarde, e aproveite seus últimos momentos.

Ao fim da fala bateu a porta e um barulho de trinco foi ouvido pela garota, que já desesperada corria desesperada para a saída trancada. Nervosa bateu com todas as suas forças e gritando implorou ajuda. Escorregou o corpo e sentada de costas para a porta desistiu. Parou para a pensar nos último dias. Não adiantou muito. Perdeu a noção do tempo, e depois de muito ficar lá chorando as mágoas adormeceu novamente.

Quando abriu os olhos,  estava de novo na cama, amarrada. Os dois cúmplices estavam a sua volta, murmurando palavras incompreensíveis. Usavam roupas pretas e pareciam rezar em outra língua macabra.

E, levantando um punhal nas mãos, a velha disse:

_ E agora, em nome de Ades, sacrifico essa garota de sangue puro para servir no mundo dos mortos por toda a eternidade.

Com toda a força abaixou a arma, acertando a apunhalada no peito de Carol.

Como quem acorda de um pesadelo, Carol abriu os olhos assustada. Estava em uma cama de hospital. Olhou para o lado e viu sua mãe sentada na poltrona desconfortável. Parecia estar ali há dias. Os olhos inchados e vermelhos de chorar e uma expressão triste no rosto. De muito cansada, tinha adormecido com o terço entre os dedos, passara todo aquele tempo orando pela vida da filha.

Carol, já sentia bem melhor. As dores e medos haviam passado. De toda essa história, não mais sabia o que tinha ou não acontecido. Mas, se o que sentia agora era o céu ou um sonho. Não queria voltar para a realidade.

 


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