- Acorda, Vagabundo! – Gritou a rosada, entrando pela janela no quarto de Naruto. Não gastaria tanto tempo batendo à porta e trocando duas palavras com a mãe do melhor amigo, Kushina, e pedindo para entrar, mas preferia pular a janela. Gostava mais assim.

                - Caramba, Sakura! – Resmungou o Uzumaki, coçando os olhos. Quando Sakura abrira a porta, a luz do sol iluminou o quarto com força total, cegando-o momentaneamente. – Fecha essa cortina, pelo amor do Demo!

                Sorrindo, a rosada se voltou para a janela e fechou-a, a cortina em seguida. O barulho do metal sendo arrastado era irritante aos ouvidos do loiro, que estava de ressaca por causa da madrugada “animada”.

                Quando o quarto foi mergulhado na escuridão, Naruto relaxou e tirou o travesseiro da frente dos olhos. Estava coberto da cintura pra baixo, mas o torso estava nu, exibindo os músculos maravilhosamente trabalhados. Seus cabelos estavam desgrenhados e os olhos vermelhos, pois não dormira muito.

                - Puta merda! – Resmungou novamente, irritado e coçando os olhos. – Você não pode me deixar dormir em paz? Cheguei em casa às sete horas da manhã, sua louca!

                - Eu também, meu filho, e já estou de pé! – Respondeu a rosada, sentando na cama do Uzumaki e empurrando-o para o lado. – Então, não reclama!

                O loiro olhou a amiga dos pés a cabeça, esticada em sua cama como ele estivera outrora na dela. Vestia uma camiseta justa e curta, que exibia parte de seus seios fartos, um pedaço da pele macia de sua barriga e se ajustava perfeitamente a sua cintura fina. A calça também era justa, grudando no quadril e nas pernas bem trabalhadas. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto e a franja caía em parte sobre os olhos. Seus lábios, naturalmente rosados, eram extremamente tentadores.

                - Hum! – Grunhiu o Uzumaki, passando a mão no braço da amiga, numa carícia suave. – Você está bem gostosa hoje, Sakura-Chan.

                A Haruno sorriu de forma sedutora. Levou as mãos à barriga do loiro e acariciou o corpo definido com as unhas longas e pontiagudas, deixando marcas vermelhas por onde passavam.

                - Você também não é de se jogar fora, Naruto-Nii-chan. – Fazia anos que não o chamava assim. Como foram criados juntos, acostumara-se a vê-lo como seu irmão mais velho. Bem, as coisas mudam.

                Sakura sorriu novamente e passou a perna por cima do corpo do loiro, sentando no colo dele. Rapidamente, sentiu o membro ereto do amigo sob seu sexo, parecendo pronto pra qualquer coisa.

                Abaixou-se sobre ele e passou a língua em seu pescoço, lentamente, de forma tentadora. Foi mordiscando e lambendo até chegar aos lábios. Apossou-se deles de forma selvagem, quase furiosa. Naruto agarrou sua cintura e apertou-a contra si, retribuindo o beijo com a mesma selvageria da amiga. Desceu a mão por suas costas e apertou o traseiro da Haruno, gemendo de prazer.

                Separaram-se ofegantes, Sakura tendo se afastado. Deitou-se sobre o corpo dele, recostando a cabeça nos ombros e sentindo o cheiro de perfume em seu pescoço. As mãos de Naruto subiam e desciam por suas costas, por baixo da camisa. Ainda estava excitado, mas gostava do contato físico como aquele. Algo sem segundas intenções.

                - Você se divertiu, Naruto? – A rosada resolveu quebrar o silêncio, apesar de se sentir confortável.

                - Uhum. – Grunhiu ele em resposta, embora as imagens de Sakura com Sasuke no palco estivessem muito claras em sua mente. – O show foi… interessante.  

                - Hum. – Murmurou a Haruno, estremecendo sob o toque do loiro em suas costas, que lhe deixou arrepiada. – O próximo show da Dark Angels é daqui a dois meses. Nós vamos, não é?

                O loiro olhou para o teto do quarto, pensativo. Seus olhos azuis brilhavam mesmo a pouca luz, e apesar de desarrumado, estava lindo. Irresistível.

                - Claro. Já que você quer…

                Sakura sorriu e deu um suspiro. Fechou os olhos e começou a sentir o sono voltar lentamente. As mãos de Naruto continuavam subindo e descendo por suas costas, piorando a situação. Em poucos minutos, ambos dormiam. A Haruno sobre o Uzumaki, como se este se tratasse de um colchão.

                Acordaram pouco mais de uma hora depois, o loiro tinha o braço dormente e estava suando de calor. Sakura sentia o corpo meio dolorido, pela má posição em que pegara no sono.

                               - Cara, não sei como a gente consegue dormir tanto. – Murmurou a Haruno, sentando-se na cama e se espreguiçando. – Já são quase cinco da tarde.

                Naruto também sentou e se espreguiçou, bocejando.

                - Eu disse: estou quebrado. Totalmente acabado. Praticamente virei um vampiro, trocando o dia pela noite.  

                A rosada sorriu e seus olhos pousaram em um porta-retratos sobre a mesa de cabeceira. Na foto, ela e Naruto davam língua pra câmera, ambos com os cabelos bagunçados, os olhos brilhando e as bochechas coradas, ou melhor, queimadas de sol. Lembrava-se vagamente deste dia. Devia ter uns cinco ou seis anos e Naruto um ano a mais. Haviam passado toda a tarde no parque, com ambas as mães. Nessa época Yuri e Kushina ainda eram muito amigas, mas foram se afastando com o passar do tempo. E a mãe da Haruno mudara bastante nos últimos anos…

                Sakura pegou o porta-retratos e trouxe-o para mais perto do rosto. Nem se lembrava da existência desta foto, que por milagre Naruto guardara. Só o que não sabia era que o loiro guardava tudo que se relacionava a ela: fotos, bilhetes, roupas, presentes… Tudo!

                - Sinto-me um tanto melancólica olhando estas fotos. – Ela sorriu e colocou-a de volta na mesinha. – Bons tempos, não é? Crianças sem problemas e preocupações. Meu pai ainda estava vivo…

                Sentiu a lágrima escorrer antes que pudesse evitar. Fazia quase dez anos que o seu velho se fora, mas chorava sempre que se lembrava dele. Ele morrera de câncer na cabeça. Fizera duas cirurgias em pouco mais de um ano, e não resistira à segunda. A rosada visitara-o apenas uma vez, pouco antes da última operação. Lembrava-se claramente do abraço e sorriso que ele lhe dera ao vê-la. E suas últimas palavras pareciam estar marcadas à ferro em sua cabeça: “Te amo, filha. Nunca se esqueça disso.” E então, pouco mais de uma semana depois, recebera a notícia mais temida de todas, vinda da mãe em prantos: ele falecera.

                Naruto aproximou-se e abraçou-a. Ela recostou a cabeça no ombro do loiro e permitiu que a torrente de lágrimas escorresse por seu rosto. Cinco minutos depois, ainda soluçava nos braços do melhor amigo.

                - Você está melhor, Sakura? – Perguntou ele, ainda lhe acariciando o cabelo. - Sinto muito…

                Ela murmurou que sim, secou as lágrimas e sorriu.

                - Às vezes não consigo evitar… - Respondeu, a voz um pouco enrouquecida. – As lembranças dele ainda são muito claras na minha cabeça.

                O loiro acenou com a cabeça e bagunçou seus cabelos, lembrando-a de Sasuke quase dois anos atrás.

                - Deixando o passado pra lá, - Disse Sakura, sorrindo. – Você soube da festa hoje, naquela boate nova?

                - Festa? Boate? – O loiro arregalou os olhos, feliz. – Você não cansa, garota!

                - Canso mesmo não. – Respondeu, balançando a cabeça. – E você vai comigo, gato!

                Uma hora depois, Sakura estava debruçada sobre a mesa, o queixo sobre as mãos cruzadas, parecendo um tanto cansada de esperar.

                - Naruto! – Gritou pela trigésima vez, sabendo que Kushina saíra e Minato, o pai do Uzumaki, estava viajando à trabalho. – Se você não descer em dois minutos, vou aí te buscar! E não quero nem saber se você está ou não usando roupa…

                Era o último dia de férias e queria aproveitar o máximo possível, se divertir bastante, pois apesar das aparências, era uma aluna extremamente dedicada.

                Finalmente o loiro se deu ao trabalho de aparecer. Seu perfume amadeirado impregnou o ambiente, delicioso. Seus cabelos estavam bagunçados daquela forma bonita de sempre, mas parecendo um pouco mais arrumados e mais bonitos ainda que normalmente. A pele branca do Uzumaki quase parecia brilhar, e as bochechas tinham um tom corado e alegre. Os lábios perfeitos eram tentadores e o sorriso ia de orelha a orelha. Vestia uma camisa pólo laranja, jaqueta preta de couro e calça jeans também preta, com sapatos esportivos bem bonitos. Resumindo: irresistível!

                Quando ele se aproximou e sorriu, ela pode ver o brilho prateado do piercing que reluzia em sua língua.

                - Putz, Naruto! – Resmungou a rosada, desviando os olhos do amigo gostoso. – Eu fui em casa, me arrumei e voltei e você ainda não tinha terminado de se arrumar?

                - Não reclama, tá? – Pediu ele, encurralando-a contra a mesa quando ela levantou, e colando seus corpos. Sakura era quase dez centímetros mais baixa que ele, mesmo com seus sapatos de salto. – Sei que você gostou do resultado.

                Ele aproximou o rosto do pescoço da amiga e passou o nariz naquela região, sentindo o cheiro delicioso do perfume adocicado da Haruno. Ela estremeceu dos pés a cabeça, e seus braços foram parar no pescoço do Uzumaki, quase que automaticamente.

                - Dá pra você me soltar? – Pediu Sakura, as pupilas dilatadas de desejo. Pedia pra que a soltasse, mas não largava de seu pescoço.  

                - Eu sei que não é isso o que você quer… - Murmurou e deu-lhe um beijo molhado no pescoço. Os cabelos da Haruno tinham um cheiro delicioso que achava ser de morango. Era Muito Bom!

                Sakura afastou-se do loiro antes que aquela brincadeira acabasse na cama. E conhecendo a si e ao seu melhor amigo, sabia que isto não iria demorar.

                - Vamos logo, Naruto. – Saiu puxando a mão dele em direção a moto, mas este parou quando entraram na garagem e chegaram em frente a reluzente máquina mortífera negra e prateada.

                - Vamos de carro hoje, okay? – Disse o loiro, trocando o molho de chaves de sempre por um que estava pendurado num gancho na parede bege. O carro era vermelho e lindo. Não tinha mais detalhes a acrescentar. Aliás, tudo o que sabia sobre ele é que se tratava de um conversível, e que era de Minato. – Estou a fim de mudar um pouco.

                Sakura arqueou a sobrancelha, mas não se importou muito. Foi até a porta do passageiro e a saltou, sentando-se no banco, esquecendo-se de que usava um vestido, e que quando pulara deixara bem a mostra sua calcinha fio dental vermelha. Como se Naruto nunca houvesse visto nada…

                Pouco depois chegavam à boate nova. A fumaça já nublava o ar, e era possível notar isto mesmo antes de entrar. Ao adentrarem, foram cercados pelo costumeiro cheiro de cigarro, perfume, suor e álcool. As pessoas já dançavam sozinhas ou em grupos, de forma totalmente louca. Depois de pegarem as bebidas e tomarem tudo em um só gole, foram pra pista de dança, se acabar de dançar.

                Chegaram em suas respectivas casas pela madrugada, embora ambos tivessem aula de manhã. Sakura lembrava-se de ter se afastado do Uzumaki e ficado com alguém – um gostoso – no meio da pista de dança, mas o rosto do menino estava distorcido pelo álcool e a lembrança ia se tornando mais vaga com o passar dos minutos.

                - Puta merda! – Resmungou a Haruno, entrando debaixo do chuveiro. A água estava maravilhosamente quente, o problema foi ter sido acordada as seis e meia da manhã, tendo ido dormir as três da madrugada. Sentia como se um caminhão a houvesse atropelado e temia não conseguir manter os olhos abertos.

                Dez minutos depois, estava sentada à mesa da cozinha, comendo cereais de chocolate com leite e se empanturrando de água. Necessitava que aquela ressaca acabasse. A mente estava nublada e a cabeça doía; seus olhos estavam vermelhos, ardendo e lacrimejantes, e sua boca, apesar da água, continuava seca. Além do quê, quando fora se olhar no espelho de manhã – e não queria comentar sua aparência deplorável – vira uma enorme mancha vermelha no pescoço, que, tinha certeza, não fora Naruto quem fizera. Pena que não conseguia lembrar o rosto do carinha da boate.

                Vestira a farda de qualquer jeito. A camisa estava por fora da saia, ambas amarrotadas; a gravata estava enrolada no pescoço, de forma que não caísse; seu cabelo estava um tanto revoltado, e o único sapato que encontrara fora o seu coturno mais velho e acabado, que ia até o meio da perna. Usava meias três quartos xadrez de preto e branco e a maquiagem de sempre, talvez um pouco mais forte do que normalmente. Olhou-se no espelho. Passou os dedos pelos cabelos rapidamente, deu um nó frouxo na gravata, pegou a mochila sobre a mesa e saiu, sem nem se despedir de Yuri. Não tinha tempo pra isso, já que se atrasara.

              A escola Konoha High School era a três quadras de sua casa. Chegaria lá em dez minutos, caminhando normalmente. Mas pelo atraso resolvera correr. Chegou faltando apenas um minuto para o portão ser fechado, e todos já haviam ido para as suas salas – inclusive Naruto – esperar o professor.

                - Se eu fosse você, Sakura, correria. – Falou o porteiro, sorrindo.

                Ela sorriu pra ele e saiu correndo pra sua nova sala. Quer dizer, a sala que acreditava ser a sua.

                Os alunos, - seus colegas desde sempre – continuavam os mesmos. A loira metida chamada Ino e sua cadela e fiel seguidora Karin, a tímida sem graça chamada Hinata e a garota louca de coques chamada Tenten, a sádica da Temari – a mais divertida de todas – e a vadia da Tayuya. E os meninos também, é claro: o Neji, primo da Hinata, o Kiba, - ele mesmo, o mais novo a entrar pra turma – o Kimimaru, com seus belos cabelos prateados; o Shikamaru, sempre com sono; o Lee, aquele esquisitão que sempre fora apaixonado por ela; o Gaara, gato ruivo sádico de olhos verdes e irmão da Temari; o loirinho gato chamado Deidara e todos os outros, inclusive seu melhor amigo, quase deitado na cadeira, com a cabeça recostada na mesa, parecendo estar babando.

                - Bom dia! – Gritou, cumprimentando geral enquanto sentava-se em sua cadeira e largava os materiais. Teria ainda alguns minutos antes que o professor entrasse na sala, minutos que aproveitaria pra descansar.

                Depois de ouvir os cumprimentos e ver os sorrisos falsos das meninas, Sakura deitou a cabeça sobre a banca e fechou os olhos, fones no ouvido, aproveitando o silêncio de seus pensamentos, tão embaralhados que nem de Sasuke conseguia lembrar.

                Quando o professor, dez minutos depois, entrou na sala de aula, todos ficaram um pouco confusos. Ele era jovem e estranho. Tinha cabelos negros alisados pra trás com uma imensa quantidade de gel, que os fazia parecer estarem molhados; usava óculos de grau de armação redonda e tinha a pele pálida. Vestia roupas largas e com péssima aparência e trazia consigo uma enorme maleta marrom. Mas algo nele era extremamente… bonito. Seus olhos, incrivelmente negros. Tão negros quanto o céu noturno, sem estrelas. E a boca também: pequena e rosada, com um desenho delicado e charmoso demais. Não sabia por que, mas ele lhe lembrava alguém.

                - Bom dia! – Cumprimentou ele, pondo a maleta sobre o birô. – Meu nome é Sasuke.