Ian estava chocado, não encontrara outras palavras. Ele mal podia se mexer ali, naquele espaço minúsculo que era o sanitário do banheiro masculino do Instituto Adams. Estava tudo dando errado naquela manhã: Primeiro, derramara uma xícara inteira de café na camisa e tivera que trocar de roupa, mas pelo menos Amy havia dado risada. Depois se enfiara em um ônibus lotado de adolescentes com os hormônios à flor da pele (Um ônibus!), e depois ainda conseguira se enfiar em um sanitário minúsculo.

No entanto ele tinha certeza de quem era aquela voz, e o pior, nunca havia ficado com tanto medo como naquele momento. Como era possível? Ian tinha certeza que ele não era o espião do qual Fiske falara, muito menos que, se fosse quem fosse, estaria fazendo algo bom.

Mas com quem ele estava falando afinal? Gostaria de poder ouvir melhor, só que era difícil se movimentar enquanto você está pisando no assento de uma privada e abaixado para não aparecer por cima da porta, e se você quer saber é bem difícil fazer isso quando você está tentando segurar no apoio de braço para cadeirantes que é bem pra baixo de onde sua mão deveria segurar. E, é claro, pra melhorar a situação o vaso sanitário ainda não tinha tampa. Muito bem Ian, de banheiros revestidos com ouro olha onde você foi parar!

Ainda assim, ele conseguiu se erguer nas pontas dos pés para ver com quem aquele traste estava falando.

Não era com quem, e sim com o quê. Uma imagem holográfica de um homem bigodudo e de cabeça raspada, com traços severos e olhos cruéis.

-Espero que faça seu trabalho direito, meu neto. – disse o homem – Senão... Bem, você sabe qual a nossa punição. – Então levantou as sobrancelhas e grunhiu - E ora, mas você é muito imprestável mesmo! Isso é um banheiro?

O garoto que estava falando com o Mr. Bigode usava uma blusa vermelha e estava de capuz, porém Ian tinha certeza de quem se tratava.

-S-sim, vovô.

-Você pelo menos olhou – disse o avô entredentes – Para ver se não havia ninguém nesses sanitários? Que tipo de Vesper é você garoto?

Ian se encolheu ao escutar a pronúncia daquele sobrenome.

-Não é necessário, mas eu olhei sim.

Mentiroso. Sem escrúpulos.

-Bom... – disse o homem, pensativo. – E a menina? Como é mesmo o nome dela?

-Amy Hope Cahill.

-Hum, a filha de Hope Cahill. Garotinha imprestável, ela e aquele professor. Nos encontramos uma vez, sabe?

-Vovô, acredito que não estamos aqui para...

-Ora, eu sei. Relate a situação.

-Ela caiu como uma patinha. – debochou o garoto. – em todo aquele papo de “eu não quero ela, quero você”. Aliás, isso tem uma pontada de verdade não é?

-Muito esperto você, mas eu quero saber como pretende sequestra-la. E o que diabos aconteceu com seu nariz.

O garoto colocou a mão no nariz, receoso.

-Sobre meu nariz... isso não vem ao caso agora. Mas sobre sequestro... Sinceramente, esse negócio que o velho inventou de trazer os imbecis dos Cahill pra cá me atrapalhou. E aquela garota nojentinha, Chanelle não larga do pé de Amy. Elas são tipo, grudadas.

-Você está dizendo que não dá conta do recado? – grunhiu o velho.

-Estou dizendo que preciso de ajuda.

-Lenny?

-Pode ser.

-Bom, arranjarei um emprego para ele...

Foi nesse momento que tudo deu errado, Ian tentou mudar o pé para ouvir a conversa melhor porém seu pé escorregou e ele caiu sentado na privada fazendo um barulhão.

-Argh! Você disse que não tinha ninguém.

Ian escutou um bip e passos apressados. Ele estava com medo, e ele tinha certeza de quem  se tratava. Era Dylan, e ele estava planejando sequestrar Amy.