Brisa e Tempestade escrita por Mayumi Sato


Capítulo 1
Brisa e tempestade


Notas iniciais do capítulo

" Então, me responda...Você me odeia?"



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Saí da sala da brigada, furioso. Decidido a não voltar. Na verdade, sequer sabia como tinha suportado tanto tempo sem ter aquela reação. Acho que para proteger Asahina-san, provavelmente. Entretanto, vendo meus esforços sendo jogados Everest abaixo, cansei e explodi. Não no sentido literal, claro. Mas pelo olhar de fúria de Haruhi, esse pequeno lapso ortográfico muito em breve seria corrigido.

Brigamos. Acho que nunca fui tão franco e duro com ela.

Contei a verdade, que ela envolvia Asahina-san e eu em seus planos sem sentido, que ela era uma idiota incorrigível e que se não melhorasse, eu sairia daquela brigada.

- Saia então! Ninguém está lhe impedindo!

E foi o que fiz.

A fúria me sufocava até a essência de meu ser, mas saber que Haruhi havia acabado de aceitar aquilo com tamanha facilidade, era ainda pior. Senti uma estranha mistura de angústia, raiva e um terrível desespero, mesclarem-se em meu peito. Eu ainda não entendia aquele sentimento, mas ele certamente alterava muito o ritmo da minha respiração.

Tentei manter o controle. Onde estava aquele Kyon racional? Aquele Kyon lógico, sarcástico e conformado que não se chamava por aquele apelido ridículo?

Não consegui me acalmar. Era como se algo pesado e intoxicante pairasse sob o ar.

Súbito, a porta do clube se abriu.

- Kyon!

Ela pareceu surpresa em me achar no corredor. Minha surpresa foi descobrir que ela também tinha vindo ao corredor. E mais, que não era só minha respiração que estava alterada...

- O que é!?! Me deixe em paz!

- Kyon! O que você está fazendo!?! Me espere!

...meu ritmo cardíaco também.

Desci rapidamente pelas escadas. Eram vários andares. Amaldiçoei Haruhi e o engenheiro do prédio por isso. Meu fôlego parecia cada vez menor, mas continuei a correr. Não podia encará-la. Não no estado em que estava.

Finalmente. paramos em um andar, pois Haruhi parou de correr atrás de mim e sentou-se em um banco, fuzilando-me com olhar.

- Eu estou cansada, sabia?- Ela disse, irritada.

- Eu não lhe obriguei a correr atrás de mim por vários corredores. 

- Tudo bem! Não vejo problema! Foi como uma partida de pac-man!

- Nesse caso, eu sou um fantasma ou uma fruta? Hmm. Vamos ver o que é mais ofensivo...

- Kyon...- O olhar dela agora, era aflito.

- O quê, Haruhi? Vai fingir que tem sentimentos? Eu sei que você não é assim. Pare de ser tão hipócrita para conseguir o que quer.

A raiva me subiu a cabeça. Eu ofendia Haruhi como se arrancasse ácido de minhas veias. Eu simplesmente perdi o controle, achando que não haveria consequências. Afinal, aquela era Haruhi, não era? Ela não me importava e nem SE importava, então eu finalmente podia desabafar e descontar nela, toda a frustração que aquela brigada havia me trazido desde o seu primeiro dia de criação. Não faria diferença.

- Kyon...Você ama a Mikuru-chan?

Essa pergunta me surpreendeu.

Ela estava brincando? Não podia ser. Haruhi estava sempre séria. Então qual o sentido daquela pergunta?

- Não é essa a questão...- respondi, desviando meu olhar. Droga. Por que eu não estava confirmando isso? Eu sempre disse para mim mesmo o quanto amava Asahina-san, então por que não conseguia dizer isso para Haruhi? Por que era tão desconfortável falar de meus sentimentos olhando nos olhos dela?

Eu não estava escondendo algo.

- Então, me responda...Você me odeia?

- Êh?

- Você brigou comigo. Disse palavras cruéis que um subordinado jamais deveria dizer à sua líder. Para se rebelar a esse ponto por alguém que você não ama, você deve me odiar.

Ódio era uma palavra muito forte. Certo, o que eu sentia por Haruhi era muito forte. A prova disso era que eu continuava indo na brigada todo dia, mesmo dizendo a mim mesmo que jamais voltaria lá. Algum magnetismo me atraía para aquela sala contra vontade.

Se eu a odiava?

- Sim, Haruhi, eu te odeio.

Ela deu um suspiro, se aproximou da janela. O que ela...?

- Kyon.

- O que você está fazendo?

- Se eu me atirasse daqui, o que você faria?

- Ligaria para uma ambulância.- respondi secamente. Não estava com paciência para brincadeiras. Especialmente para uma sem a menor lógica.

- Então, você não me seguraria?

- Eu poderia cair junto e, me desculpe, Haruhi, mas eu não morreria por você.

- Eu entendo...

Súbito, Haruhi se encostou no parapeito e deixou seu corpo deslizar suavemente para trás, no que seria o início de uma queda fatal. Era sério!?!

Não sei exatamente, o tempo que aquilo durou ou o quanto ela esteve em perigo, pois assim que percebi seu desequilíbrio, como que por reflexo, abraçei seu corpo, impedido sua queda.

Meu movimento foi puramente instintivo. Eu apenas perdi o controle, quando a vi daquele jeito. A idéia de perdê-la de um jeito tão bobo ainda fazia meu coração falhar uma batida.

- Haruhi...- reuni forças e fôlego-...o que diabos você estava fazendo!?! Você é mesmo uma idiota, não é!?!

Eu estava com raiva. Realmente zangado. Entretanto, não larguei-a de meus braços em nenhum momento.

- Idiota.- disse ela- Você não disse que ligaria para a ambulância?

- Você podia ter morrido!

- Isso lhe transtorna tanto?

Era assim que ela via a cena? Eu era um idiota? Ela não percebia que se ela realmente tivesse caído, quem estaria em uma ambulância seria eu?

- É claro que sim, sua idiota! No que você estava pensando!?! Você realmente ia fazer isso!?! Quão burra você é!?!

- Qual é o seu problema!?! Isso não é da sua conta!

- É lógico que é!

- Mas você me odeia, não é!?!

- Não! Eu não odeio!

- Mas você disse que...!

- Eu te amo, sua idiota! Eu te amo! Eu te amo tanto que me jogaria da janela se você pedisse! Eu te amo tanto que mal posso recusar um pedido seu! Eu te amo a ponto de querer te odiar, Haruhi! Droga! Você não consegue entender algo tão óbvio!?!

Pronto. Era isso. Não me importaria se ela me batesse ou me punisse. Eu queria uma resposta. E queria agora.

Ela me forçara até minhas últimas limitações ao me perguntar se eu a odiava. Contudo, quando ela tentou se jogar pela janela, concluí que era hora de esclarescer algumas coisas. Principalmente, para mim mesmo.

Certo. Eu te amo, Haruhi. E isso está matando minha lucidez.

- Eu...

- Você não me odeia.- respondeu ela com um sorriso vitorioso- E eu sabia que você iria me pegar, idiota.

- O quê!?!

- Porque eu confio em você.- Complementou ela, lançando um sorriso quase terno para mim.

Confiar em mim? Como assim? Que droga era aquela? Por que ela não estava me respondendo?

Eu estava confuso. O perigo já havia passado, mas meu coração permanecia acelerado como se o perigo real ainda estivesse surgindo. Talvez ele não estivesse errado.

- Haruhi...

- Você, subordinado número dois. Eu sei que é seu dever proteger a mascote da brigada, mas nós somos amigos. E mais, eu sou sua chefe. Então da próxima vez que você vier com uma atitude tão imbecil eu realmente lhe expulso da brigada, entendeu?

Eu entendi. Ao ouvir a palavra "amigo", eu finalmente entendi.

Droga, Haruhi. Por que você me faz utilizar os verbos nas orações mais inadequadas possíveis?

- Kyon?

Eu tive que brigar com você, correr por vários corredores e impedir que você se jogasse da janela para você me dizer que eu sou um amigo?

Você é idiota?

Você diz uma coisa dessas quando está nos meus braços? Sentindo meus batimentos cardíacos???

Droga! Você ainda não entendeu o que eu disse!?!

- Kyon, eu tenho que ir, eu...

Ela tentou se soltar de meus braços. Não a deixei ir.

Ela se surpreendeu.

- Kyon, o que você...?

Não dei tempo para que ela terminasse a frase. Beijei Haruhi. Beijei com todo o meu fôlego e alma, até saciar aquela estranha e infindável sede que senti dos lábios dela. Sério. Como uma boca podia ser tão doce? Finalmente, percebi o quanto sentia falta daquele gosto. Daquele toque. Haruhi era tão macia que eu tinha vontade de apertá-la em meus braços e nunca mais deixá-la. E o calor que emanava de sua boca, descia em ondas por meu corpo.

Então, o acidente ocorreu.

Haruhi tropeçou no ar e nós caímos pela janela. Juntos.

Chegamos ao solo rápido. Talvez rápido demais. E foi menos doloroso do que imaginei.

"Será que eu morri?"- perguntei-me. Recobrando a razão, olhei para a janela.

Nesse momento, percebi algo que eu não tinha notado até então.

- Haruhi...Nós estávamos no primeiro andar?

Ela me olhou.

- Você sabia disso?

Ela confirmou com a cabeça.

Sigh. Eu poderia brigar com ela, mas seria estranho já que eu não conseguia tirar aquele sorriso do rosto.

- Então até suas declarações são excêntricas, huh?

Antes que ela pudesse contestar, a beijei novamente. Não seria Asahina-san ou uma janela que nos separaria. Principalmente, uma no primeiro andar. Especialmente, uma envolvida nos planos de Suzumiya Haruhi. Minha namorada.

 

 

 


FIM


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem esta one-shot! Por favor, deixem comentários no fim! Muito obrigada!^^