Hate escrita por Etrom


Capítulo 1
Capítulo 1: Volta ás aulas




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- Eu preciso ir mesmo?
- Sim.
- Mas não é necessário!
- É o que o sua mãe ia querer, se estivesse aqui.
Cruzei os braços e fiz cara feia.
- Ah, qual é, tia Molly! Eu ODEIO aquele lugar, é o inferno na terra!
- Lamento muito que você pense assim. - disse ela, sem tirar os olhos da torta assando no forno - Vamos, se apresse, ou vai se atrasar e chamar mais atenção ainda.
- Impossível chamar mais atenção - resmunguei, sem sair do lugar.
- Está reclamando do que? Foi SUA escolha pintar o cabelo de azul, eu não tive nada haver com isso. Agora vá!
Suspirei novamente e me levantei do sofá. Caminhei calmamente até o quarto, tentando não pensar no que estava prestes a fazer. Abri a porta do meu quarto e depois entrei no closet. Coloquei a minha calça jeans favorita, que era clara e tinha alguns rasgos ao longo das pernas.  Passei uma blusa preta e justa pela cabeça e coloquei minhas luvas sem dedo de couro, com cuidado para não estragar o esmalte vermelho  brilhante das unhas compridas.
Um pouco acima da luva, passei pelo pulso um conjunto de pulseiras prateadas e atarrachei os brincos de argola de dez centímetros de altura. Então coloquei a maquiagem e os saltoa negros de tiras. Penteei o cabelo azul, principalmente a franja comprida, e então peguei minha bolsa. É, as férias acabaram, pensei.
Fui até a garagem da casa de minha tia, que agora era a minha casa também, depois que a minha mãe havia morrido.  Entrei no meu carro e abri a porta da garagem, e logo em seguida disparei pela rua. Foi um alívio quando completei dezesseis anos e pude abandonar o ônibus escolar.
Como sempre, fui pelo caminho mais longo. Dirigir sempre foi relaxante para mim,  me acalmava e eu amava meu carro. Muitos acham que pintei o cabelo por causa dele, mas a verdade é que escolhi o carro azul depois de tê-lo pintado.

- Não acredito que estou voltando para aquele inferno – murmurei comigo mesma, enquanto ligava o rádio do carro.

A ida foi bem tranquila. Não encontrei com nenhum carro conhecido, pelo que agradeci. Mas tentei não ficar animada demais. Eu estava indo para o hospício, e de livre e espontânea vontade.Por um instante, cogitei matar a aula e escalar a calha do lado da casa para voltar ao meu quarto pela janela. Hmm, não. Tia Molly ia descobrir, eu tinha certeza. Ás vezes eu achava que ela tinha um sexto sentido em relação a mim, sabe?

Cheguei a um quarteirão da escola, e já podia ouvir os gritos alucinados dos alunos. Estou de dizendo, hospício. De qualquer forma.

Estacionar o carro acabou sendo mais rápido do que eu queria que fosse, mas eu já esperava por isso. Dei de ombros e peguei a mochila. Saí do carro e o tranquei, o mais vagarosamente que conseguia, tentando prolongar o momento. Mas é óbvio que o momento acabou e eu tive que fazer a última coisa que queria no universo: me encaminhar á porta do Hospício.

Acabei fazendo, afinal, não tinha outra escolha. Caminhei em direrção á porta enquanto pegava o meu iphone e encarava a tela escura, para não ter de encarar ninguém no lugar. Dei sorte, ninguém me notou de início. Todo o povo que estava de zoeira na porta do colégio estava ocupado demais revendo os amigos e botando o papo em dia. Melhor pra eles.

Empurrei as portas duplas e andei até o meu armário. Não havia nem terminado de me organizar quando ouvi a vozinha aguda.

- Ora, ora, ora, olhem quem está ali.

Bati a porta do armário. Ela era mesmo, a puxa-saco número 1, a cabeça de vento queridinha dos professores e gostosa de colégio, Billie Brandie. Estava enconstada em seu armário, amparada pelos dois lados por puxa-saco 2 e 3.

Se você me perguntasse, eu diria que ela não é tudo isso que falam dela. O cabelo loiro claro, do mesmo exato tom do meu antes de eu pintá-lo, era com certeza bonito. O corpo também não era nada mal (não que eu seja lésbica, vocês me entenderam), e tinha um rostinho bem bonito. Mas a personalidade horrível era o que fodia com tudo.

Billie era a típica garrota que achava que o mundo girava em volta dela e que qualquer um que não entrasse em seus padrões era motivo de chacota. Não tratava ninguém bem, a não ser o papaizinho bilionário dela. E também era um pouco religiosa.

Exatamente o oposto de mim. Só trato mal quem me trata mal para começar, se é que você me entende. E eu não tenho pai, mas isto é outra história. Curto algumas religiões, mas não sou religiosa de jeito nenhum. O qie significa, em tradução livre, que Billie me odeia.

- Bom dia, azulzinha. Como foram as férias? Pintou as sobrancelhas de azul também?

Ah, e, é claro, também tinha o cabelo azul, que ela parecia simplesmente achar ridículo.

Sorri cinicamente e mostrei o dedo do meio para ela. Então continuei andando pelo corredor.

- Volte aqui, azulzinha! – ela correu até me alcançar e então continuou ao meu lado, me acompanhando. – Eu queria te convidar para a minha festa... Não tem nenhuma emo lá, e é tipo uma regra ter pelo menos um, não é? – Billie riu. – Tome.

Ela me entregou um convite branco leite com uma letra floreada.

- Esteja lá, azulzinha! Vamos nos divertir muito! – disse ela, e, nem me dando tempo para gritar “nem fudendo”, deixou-se ficar para trás.

Dei de ombros. De jeito nenhum eu ia na tal festa perfumada da Billie, e ela sabia disso. Nem sei por que me convidou.

Agora, um detalhe que acidentalmente esqueci de comentar. A maioria das minhas aulas são as mesmas da Billie, então, como você pode imaginar, me encaminhei para a sala, o mais devagar possível, e lá estava ela, com o sorriso cínico estampado no rosto e enrolando uma mecha de cabelo. A ignorei e fui me sentar.

Os alunos foram entrando um por um. Não prestei a mínima atenção. Só tinha uma amiga naquela escola, e ela era a Nicole, que sempre chegava atrasada. Entraram mais algumas garotas, algumas nerds, aluns nerds... E então entrou Dylan.

Toda escola tem aquele tipo de garoto. Aquele que é simplesmente lindo, com os cabelos mais sedosos, o físico mais forte e os olhos mais brilhantes. No meu hospício, ele se chamava Dylan. Bonito, aparentemente gente boa, desejado por todas as garotas... Bem, não todas. Não nego que o Dylan seja bonito, mas estes garotos simplesmente não fazem o meu tipo. Além disso, adivinha quem vivia dando em cima dele. É isso aí. Dylan só teve que passar em frente á carteira de Billie e ela já jogou um convite branco em cima dele, que pegou e sorriu.

Ele é louco de pedra, pensei, enquanto pegava meu caderno e o lápis, se for na festa daquela louca. O problema mesmo é que eu tenho certeza que ele vai.

Apenas por curiosidade, tirei o convite branco de meu bolso, onde o havia guardado por falta de cesto de lixo no corredor, e li. “Festa no Iate”, dizia o título.

- Mas nem fu... – o sinal tocou e interrompeu o palavrão que eu estava falando em voz alta.

.   .   .

- Você vai, né? – perguntou Nicole, e então deu uma mordida no sanduíche.

- O que quer dizer com isso? VOCÊ iria, se estivesse no meu lugar?

- SE eu tivesse sido convidada, eu iria, sim – ela falou, tentando impedir o sanduíche de desmontar – Por acaso o convite fala se dá pra levar acompanhante?

- Nào importa, de qualquer forma – girei o canudo do milkshake de morango – Eu não vou.

- Mas porquê? Ás vezes parece que você TENTA ser antisocial. Festas são divertidas, ainda mais festas em iates. – ela resmungou, puxando uma folha de alface de debaixo do pão.

Olhei para Billie, que estava do outro lado do refeitório. Quando ela percebeu que eu estava olhando, deu seu sorriso cínico outra vez e me mandou um pequeno tchauzinho com uma mão. Então curvou-se e cochicou algo no ouvido de Puxa saco 3, que acompanhou ela na risada. Revirei os olhos.

- Quer saber de uma coisa? – me levantei e joguei o milkshake pela metade no lixo – Eu vou sim. Vou mostrar aquela vagabunda o que é animar uma festa.

Ah, se eu soubesse, naquela época, que esta seria a festa mais animada de todas...


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. É a minha primeira fic, então, qualquer coisa que eu esteja fazendo terrivelmente errado, por favor, avisem. Câmbio, desligo.



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