POV Bella

Por mais que eu tentasse não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido com o Jacob, não consigo evitar ficar preocupada com ele, sei que parece meio irracional, mas é tão óbvio que o Jacob esconde feridas profundas de seu passado. E junto com minha preocupação também cresce minha curiosidade... O que aconteceu de tão grave para marcá-lo tanto? Inúmeras possibilidades rondam minha mente, mas não consigo chegar a nenhuma conclusão e sei que só o que me resta é esperar que um dia ele se abra comigo.

Mas também não sei mais o que fazer com meus sentimentos por ele... Estou apaixonada, completamente apaixonada... E não sei como agir. Acho que ele sequer pensa em mim desse jeito e não me vejo tendo coragem de me declarar, principalmente porque tenho medo de que se fizer isso acabe afastando ele de vez de mim e por mais que doa prefiro tê-lo ao menos como amigo.

Eu estava decidida a ir a casa dele de novo hoje lhe entregar o convite do aniversário do Gabe, e o Gabriel estava insistindo para irmos, mas meus planos mudaram quando o dia amanheceu e meu irmão acordou resfriado. Mesmo assim ele ainda insistiu e choramingou para irmos na casa do Jacob, mas eu disse não. Sempre detesto ver o Gabe doente, mesmo que seja apenas um resfriado e além de tudo isso acaba mudando toda nossa rotina, então hoje minha mãe foi fazer as entregas enquanto eu fiquei cuidando dele.

Gabriel sempre fica todo manhoso quando está doente e hoje não está sendo diferente, mas conforme o dia foi passando ele começou a ter uma febre mais alta que me deixou preocupada. Mediquei ele e tentei fazê-lo comer alguma coisa, mas estava difícil.

–Não consigo comer Bells. – ele choramingou pela milésima vez e desisti, ele já tinha vomitado algumas vezes.

–Tudo bem meu anjo... Fique quietinho aí então. – ele está no sofá todo enrolado nas cobertas e depois de ajeitá-lo confortavelmente vou para a cozinha.

Sei que algumas pessoas na reserva andaram tendo uma virose forte, algumas até foram parar no nosso pequeno hospital, mas espero que o Gabe esteja só resfriado mesmo.

Permaneci ocupada à tarde toda cuidando dele e isso me distrai de meus pensamentos sobre o Jacob por um bom tempo.

Quando o Gabe finalmente adormece me sento ao seu lado acariciando seus cabelos e o observo atentamente. Tenho que começar a organizar tudo para a sua festinha, minha mãe já não tem mais muito ânimo para isso e sei que a cada dia que passa ela fica mais e mais cansada, então eu mesma vou cuidar de tudo, apesar dela fazer questão de cuidar do bolo e dos docinhos.

Gabriel se remexe e beijo sua testa ficando mais aliviada ao perceber que sua febre parece estar começando a ceder um pouco. Ele é uma criança tão especial e o amo tanto.

Sorrio ligeiramente acariciando seu rostinho, mas me assusto quando batem na porta. Me levanto rapidamente e vou até ela, para não acordar o Gabriel, e então fico completamente surpresa ao ver o Jacob parado na minha varanda.

Ele está com as mãos enterradas nos bolsos da calça e parece um pouco cabisbaixo, mas sorri levemente quando me vê.

–Oi Bella. – ele diz suavemente.

–Oi... – respondo depois de um tempo.

–Desculpa vir assim... – ele diz rapidamente, parece um pouco perdido, sem jeito.

–Não precisa se desculpar, você pode vir aqui quando quiser. – digo mais relaxada, mas meu coração está disparado, eu não esperava vê-lo aqui e não consigo evitar que isso mexa tanto comigo. –Eu passei ontem na sua casa, mas você não estava.

–Ah... É... Foi um dia complicado ontem. – ele murmura e dá de ombros e não insisto nisso.

–Espero que esteja um dia melhor hoje. – sorrio.

–Não muito... – ele sussurra. –Acho que por isso vim aqui, eu não estava mais aguentando ficar sozinho em casa.

Me surpreendo com sua sinceridade e com o brilho em seus olhos.

–Você é bem-vindo sempre. – digo. –Quer entrar? O Gabe não está muito bem hoje.

Abro mais a porta e ele me segue para a sala.

–O que ele tem? – Jacob pergunta olhando preocupadamente para meu irmão deitado no sofá.

–Acho que é um resfriado, ao menos espero que seja só isso, sei de algumas pessoas que pegaram uma virose forte ultimamente por aqui... – digo. –Ele está um pouco melhor agora.

Jacob caminha até o sofá e se ajoelha. Carinhosamente ele coloca a mão na esta do Gabe e eu sorrio ao observá-lo.

–Ele está quente. – Jacob diz baixinho.

–Sim, mas estava mais, a febre começou a baixar.

–Quer levá-lo ao hospital? Eu vou com você. – ele oferece ficando de pé novamente e voltando para perto de mim.

–Obrigado, mas vou esperar um pouco, se ele piorar aí eu o levo. – digo e ele assente.

–Você está sozinha com ele?

–Sim, minha mãe foi fazer as entregas e tinha uns pagamentos para receber também.

–Posso te fazer companhia então? – ele pergunta.

–Claro. – digo rápido até demais e coro um pouco, mas ele só sorri.

Então verificamos o Gabriel mais uma vez e depois levo o Jacob para a cozinha onde nos sirvo pedaços de bolo. No começo comemos em silêncio, fico atenta para qualquer movimento do Gabriel lá na sala, e enquanto come Jacob parece um pouco perdido em seus pensamentos.

Mas depois de um tempo de silêncio ele me olha.

–Ainda vai ter a festinha do Gabe? – ele pergunta.

–Sim, ontem fui até sua casa justamente para levar o convite e hoje o Gabe queria ir, mas acordou se sentindo tão mal... – digo. –Ele faz questão que você venha, ele já se apegou muito a você.

–Ele é uma criança muito especial, eu virei sim, prometo. – ele deu um ligeiro sorriso. –Precisa de ajuda em algo?

Eu preciso, não era fácil, eu e Renée já estamos há um tempo escondendo uma parte de nossa renda para fazer essa festinha para o Gabe, mas eu não iria pedir nada ao Jacob, nunca teria coragem, além do mais sempre nos viramos e vamos continuar assim.

–Está tudo bem. – digo. –Só venha e isso já fará o Gabriel muito feliz.

E me fará muito feliz também... Mas eu não disse essa frase em voz alta.

–Ok, eu virei então.

Nós conversamos mais um pouco sobre o Gabriel, até que me distraio e acabo perguntando algo sobre seu passado...

–Onde você morava antes de vir pra cá? – é uma pergunta inocente, apenas para tentar aplacar um pouco da minha curiosidade sobre ele, já que não sei praticamente nada de sua vida, mas assim que faço a pergunta ele fica um pouco hesitante.

Eu me arrependo imediatamente.

–Desculpa, eu não.... – começo a dizer, mas ele me interrompe.

–Você não precisa se desculpar por nada Bella. – ele diz e fico aliviada ao perceber que ele está sendo sincero. –Eu morava em Phoenix.

–Uau... Lá tem muito sol né?! Bem diferente daqui.

–É sim... – ele ri um pouco, mas o riso não chega a seus olhos que parece nublado com lembranças. Mas mesmo assim ele continua a falar: -Eu adoro aquele lugar, vivi praticamente minha vida toda lá.

Estava na ponta da minha língua perguntar por que então ele veio para La Push, mas me contive. Apesar de ficar calada ele me olhou e pareceu ler meus pensamentos.

–Você deve estar se perguntando por que estou aqui em La Push vivendo isoladamente então, não é?! – apesar da dor transparente em seu olhar ele tinha um leve sorriso nos lábios.

–Não quero ser intrometida. – sussurro sem graça.

–Não, você não está sendo. – ele suspira. –Você já me contou praticamente tudo sobre você e sua família... E eu sei que não contei absolutamente nada sobre mim.

–Está tudo bem... – digo, mas ele não me deixa terminar.

–Não está tudo bem Bella, faz muito tempo que não está tudo bem. – ele deixa o bolo de lado e passa as mãos pelos cabelos, de repente parece exausto, como se carregasse o mundo nas costas. Eu quero fazer algo, qualquer coisa, para ajudá-lo, mas não sei o que.

Fico em silêncio, esperando, e ele continua:

–Eu venho de uma família muito rica... – ele diz e meu coração dispara, ele vai mesmo me contar tudo agora? -Meus pais são daqui de La Push, mas se mudaram para Phoenix antes mesmo de eu nascer... E eu tenho uma irmã, a Rachel, ela é incrível e mora em Forks com seu marido Paul, eu não sei o que seria de mim sem eles, foram eles que me convenceram a vir para La Push.

Jacob ficam em silêncio mais uma vez, seu olhar está perdido, mas de repente ele suspira e volta a falar:

–Não tenho mais contato com meus pais e me dói dizer isso, mas acho que nunca mais vou ter... – ele me olha e é com tanta intensidade que eu me arrepio. –Há dois anos... Ontem fez dois anos que...

Ele para, desvia o olhar novamente e sua angustia é quase palpável. Agindo por impulso eu alcanço sua mão em cima da mesa e a seguro.

–Você não precisa me contar se não quiser. – digo baixinho.

–Eu só não aguento mais... – ele olha para nossas mãos, mas não tenta se afastar. –Você é a primeira pessoa de quem me aproximo depois de tudo que aconteceu e não sei por que, mas eu confio em você, me sinto realmente bem quando estou ao seu lado.

Nossas mãos continuam juntas, sinto como se choquinhos de prazer me inundassem por causa daquele simples contato, e Jacob me olha nos olhos agora.

–Então você pode se abrir comigo... Estou do seu lado... Pode mesmo confiar em mim Jake.

Aperto um pouco mais sua mão e seus olhos brilham.

–É uma história triste Bella, muito triste... – sua voz é só um sussurro.

–Então divide ela comigo, deixa um pouco dessa tristeza sair... – respondo sentindo meus olhos marejarem.

–É melhor eu contar tudo desde o começo... – ele diz. –E no começo tem momentos incrivelmente felizes, foi difícil, eu tive que lutar muito, mas eu sei que faria tudo de novo...

Ele tomou fôlego e então continuou:

–Tudo começou quando eu me apaixonei... Me apaixonei perdidamente... – ele diz, mas então é interrompido quando Gabriel me chama lá da sala.

Por um tempo muito curto Jacob e eu ficamos nos olhando. Não consigo acreditar nisso, quando ele enfim se sente confortável para se abrir comigo somos interrompidos. Mas é o Gabe...

–Tudo bem, vamos lá ver como ele está. – Jacob se levanta rapidamente, sua mão se solta da minha.

Não sei se ele está decepcionado ou de certa forma aliviado por ter sido interrompido, talvez um pouco dos dois.

–Bella... – Gabriel me chama de novo.

–Estou indo. – digo, mas me aproximo rapidamente do Jacob e seguro em seu braço, ele me olha.

–Nós continuamos a conversar depois... – ele diz. –Eu prometo... Preciso dividir isso com alguém... Com você.

–Ok. – sorrio mais tranquila ao ver que ele está sendo bem sincero. –Você pode mesmo contar comigo Jacob.

–Eu sei. – ele diz. –Agora vamos ver como o Gabe está.

Fomos para a sala e Gabriel fica imediatamente animado ao ver o Jacob ali. A febre dele baixou bastante, mas ele ainda está bem enjoado e sentindo um pouco de dor pelo corpo. A presença do Jacob sem dúvida o anima e ficamos conversando com ele na sala, Jacob até consegue fazê-lo comer um pouco de sopa que eu preparei e então ele adormece de novo.

–Ele vai ficar bem logo. – Jacob diz.

–Sim, pelo visto é só um resfriado mesmo. – digo bem aliviada.

–Eu tenho que ir. – Jacob fala olhando para o relógio e me decepciono ao ver que já está bem tarde. –Você vai ficar bem?

–Sim, minha mãe logo já deve estar chegando. – digo e ele assente.

–Você vai até minha casa amanhã Bella? – ele pergunta quando o acompanho até a varanda.

–Isso é um convite? – perguntou e ele sorri.

–Sim, é um convite... Eu ainda tenho uma história para te contar.

–Então eu vou, prometo.

–Obrigado. – ele diz e depois de um minuto de hesitação eu o abraço fortemente.

Jacob parece surpreso, mas antes que eu possa me afastar ele passa os braços ao meu redor e sinto que meu coração está prestes a explodir.

–Você é especial Bella, é muito especial. – ele sussurra em meu ouvido e minhas pernas tremem.

Me afasto um pouco, apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos.

Não sei o que dizer e ele também parece perdido. Eu quero beijá-lo, quero muito beijá-lo, mas não tenho coragem, não faço ideia de qual será a reação dele e não quero colocar tudo a perder justamente agora que ele vai me contar toda sua história.

–Amanhã... – ele diz baixinho e não sei direito o que isso quer dizer, não sei se ele está pensando o mesmo que eu, mas concordo com um aceno de cabeça.

–Amanhã... – sussurro de volta.

Jacob sorri levemente, beija meu rosto e vai embora sem olhar para trás.

Eu continuo paralisada na varanda até perdê-lo de vista, com a certeza de que nessa noite não conseguirei dormir.