Mais uma colheita estava começando, e como sempre a praça estava lotada, os homens da capital não deixavam ninguém ficar em suas casas, eram praticamente chutados de suas próprias casas por eles se fossem encontrados lá. Isso era uma das coisas que eu mais odiava nos Jogos, alem de a cada dia, eu estar mais próximo da obrigação de me voluntariar.

Às vezes eu desejava nunca ter pedido a minha mãe para entrar no centro de treinamento, mas naquela época eu achava que tudo que importava era ter meu pai orgulhoso. Mas meu pai, nunca havia assistido nenhum de meus treinos, e com certeza não ficaria tão triste se eu morresse na arena.

Suspirei, arrumando o palito do terno, que minha mãe me obrigara a usar. Não é que eu não queria ir para os Jogos, mas sim, porque teria que deixar Clove, teria que deixar minha pequena. Com o braço entrelaçado com o de minha mãe, eu andava de cabeça baixa. Minha mãe era muito conhecida no distrito dois, não sei o porquê, acho que era porque ela era simpática demais, com todos, talvez fosse por isso.

De duas em duas pessoas que passavam por nós paravam-nos para conversar com ela. Gostava que minha mãe tivesse pessoas que gostavam dela, mas falando a verdade, era cansativo ficar parando a cada dois minutos.

Levantei a cabeça, mas continuei olhando para o nada, ouvi uma voz que reconhecia muito bem, ao longe. Olhei para o lado, piscando os olhos para “ajeitar” minha vista, que estava embaralhada pelo efeito do sol. E lá estava ela, acompanhada dos pais, mas ela não estava como eu, sorria – que era uma coisa incomum em publico para Clove -, e eu sabia o porquê.

Ontem a noite quando dormi, a baixinha estava ao meu lado, mas hoje de manhã quando abri os olhos, estava sozinho.  Minha mãe me falou que o pai dela a tirou de minha cama enquanto eu dormia com a maior brutalidade que ela já havia visto, e a levou embora. Provavelmente ele havia brigado com ela, porque da ultima vez que viera para o distrito dois, ele havia pedido para minha mãe, não deixar nós dormirmos no mesmo quarto, já que ele ficou sabendo das garotas com quem eu havia dormido anteriormente.

Me soltei de minha mãe, dando um já volto discreto e segui na direção de Clove, e seus pais. Foi ai que percebi como ela estava não era aquela garota das facas, que sempre usava short rasgado e camisetas, ela estava tão... tão...bonita, não que ela não fosse, eu adorava os cabelos dela, e ameacei a matá-la quando ela disse que iria os cortar. Os cabelos que eu tanto idolatrava estavam soltos, ela usava um vestido até na altura do joelho preto, colado no corpo dela, que tenho que admitir, que nunca havia percebido o quanto bonito era, ela usava um sapato que a fazia ficar um tanto mais alta, mas ainda não era tão alta quanto eu, e que eu tinha certeza que a mãe a obrigara a usar, porque ela nunca usaria aquilo por vontade própria.

A cada passo que eu dava mais me surpreendia de como roupas podiam mudar uma pessoa. Vi de relance a cara fechada do pai dela, mas nem me importei. Peguei em sua mãe e a rodei, ela me mandou parar. Olhou para o pai pelo canto de olho, e eu entendi tudo, ele não a queria perto de mim.

- Posso pegar  Clove  emprestada um minuto? – perguntei, e quando ele ia responder, a mãe dela se intrometeu.

-É claro que pode. – Ela disse sorrindo, e entregando a mão de Clove que ela segurava, a mim. Sorri e a puxei, e enquanto eu a guiava para um lugar aonde ninguém pudesse nos ouvir, pude perceber que os pais dela brigavam justamente por a mãe dela ter deixado ela vir comigo.

- Porque seu pai não quer que você fique perto de mim?- perguntei me encostando em uma árvore. Ela suspirou, fechou os olhos e veio até mim.

- Ele acha...ele acha que você pode me distrair na arena. – ela disse passando a mão na barra do vestido.

-Como assim? Mas...nem escolheram os tributos ainda, porque eu lhe distrairia se nem escolheram? 

- Eles já escolheram Cato. A capital já escolheu.