Dark Paradise escrita por Ducta


Capítulo 1
Capítulo Único




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- Pessoal, pessoal, eu gostaria da atenção de vocês. – A voz da mulher soou forte e firme por todo o ginásio, fazendo cinco garotos e quatro garotas largarem suas atividades e prestar atenção na treinadora. – Nós temos mais uma companheira. – A mulher anunciou com um sorriso.

Todos os olhares caíram sobre a garota cujo braço da treinadora rodeava os ombros. Ela tinha 10 anos, no máximo, mas era pequena para a idade. Seus longos cabelos negros estavam presos em um alto rabo de cavalo, seus olhos castanhos não expressavam outra coisa além de curiosidade enquanto eles vasculhavam o ginásio, suas mãos estavam escondidas nos bolsos a jaqueta do uniforme do ginásio.

Um murmúrio de boas-vindas correu o lugar e então todos voltaram às suas atividades, exceto um garoto loiro, por volta dos 13 anos, que já era bastante forte para sua idade. Ele se aproximou da garota com um pequeno sorriso brincando nos lábios.

- Pode deixar que eu mostro o ginásio para ela, treinadora. – Garantiu ele à mulher.

Quando essa os deixou, ele trocou a espada que carregava de mão, e ofereceu a direita para a garota. A garota retribuiu o aperto e acenou com a cabeça.

E como ele prometeu, ele mostrou o ginásio para ela e até a acompanhou em suas primeiras atividades. Ela mostrou-se bastante esperta e decidida logo no primeiro dia e ele gostou dela.

E os anos se passaram. Anos treinando juntos, conversando, brincando, convivendo o máximo que podiam na escola. Eles eram realmente bons amigos.

Então ela tinha 15 e ele 18. Era dia de colheita. Ele usava uma calça social, uma bela camisa tão azul quanto seus olhos cujas mangas estavam dobradas em ¾. Seu olhar corria pela área aonde as meninas iam se juntando, procurando por ela. Não demorou muito para que ele a encontrasse. Um belo vestido cor de rosa de seda que lhe caia até os joelhos, sandálias de salto, os longos cabelos negros soltos ao vento, decorados por uma fita da mesma cor do vestido. Ela estava linda. E ela também o estava procurando. Quando seus olhares se encontraram, eles sorriram e acenaram um pro outro. Tranquilos, seguros.

Então após o discurso do prefeito, o homem que vinha do Capitol todos os anos para a colheita tomou seu lugar a frente do palco.

- Damas primeiro. – Disse ele com um sorriso.

Todos tinham seus olhos nos dedos dele enquanto esses remexiam os papéis. Ele prendeu um em seus dedos. Todo mundo na praça arfou.

- Clove Kentwell! – Ele anunciou por fim.

Um grande sorriso tomou conta dos lábios dela. Mas não antes dela lançar um olhar completamente venenoso às outras garotas, desafiando qualquer uma delas a se voluntariar para seu posto de Tributo de Panem. Ninguém o fez. Ela subiu ao palco sobre uma chuva de palmas e assovios.

- Agora os cavalheiros. – Disse o homem.

Mas seus dedos sequer tocaram o vidro com os nomes dos garotos.  Aquele garoto loiro, alto e forte deu um passo a frente e disse, alto e firme, para toda a praça ouvir:

- Eu me ofereço como tributo.

- Qual o seu nome, garoto? – Perguntou o homem do Capitol.

- Cato Hadley. – Ele respondeu no mesmo tom de antes.

Era possível ver o orgulho transbordar dos pais de Cato enquanto ele caminhava para o palco. E veio a leitura do Tratado de Traição, o Hino e as formalidades.

- Distrito 2, eu lhes apresento os seus tributos: Cato Hadley e Clove Kentwell! – Anunciou o homem do Capitol.

Aplausos ensurdecedores enquanto eles eram guiados para dentro do edifício da justiça. Despediram-se da família e logo mais estavam no trem para o Capitol, não demoraria muito para chegarem.

E não foi uma coisa estranha, logo eles estavam conversando animados, fazendo planos, pensando em suas fantasias para o desfile.

Mas tudo o que ela pensou que seria estar ali com ele foi por água abaixo logo que eles começaram as atividades no centro de treinamento. Cato logo fizera amizade com a garota do distrito 1, Glimmer. Ela era tão bonita com seus longos cabelos loiros, olhos verdes e corpo escultural. Alta e atrativa. Oh, nem mesmo Clove podia enganar-se, se fosse um garoto também preferiria a companhia dela.

Ela tentou manter-se afastada, treinando com suas facas, mas Cato fazia questão de manter os Carreiristas juntos. Bem, era divertido observar as fraquezas dos outros tributos e planejar jeitos para matá-los, mas tirando isso, Clove não via motivo para tentar puxar conversa com Cato.

E foi assim, que em pouco tempo, eles só se falavam quando era estritamente necessário. Não que Cato tivesse importado, não procurou Clove um dia sequer, a fazendo trancar-se em seu quarto, amuada.

E então eles estavam na arena, lutando por suas vidas, na bagunça que era a Cornucópia. Nem mesmo lá ela teve um descanso de pensar nele. Matava um aqui, pegava uma arma ali e corria os olhos pelo lugar a procura de Cato. Nenhum dos outros Carreiristas a importava realmente. Ela teria de matá-los se quisesse voltar para casa. Mas naquele primeiro momento, ela queria Cato com ela.

E quando a noite caiu, ele estava lá ao redor da fogueira com ela. Bem, ela, Marvel, Glimmer e aquele garoto do distrito 4 que ela não conseguia lembrar o nome. Tudo parecia que ia ficar bem quando ele sentou-se ao lado enquanto ela organizava suas facas e lhe disse que ela fora fantástica.

Mas não foi assim por muito tempo, uns dias depois o favoritismo por Glimmer tornou a aparecer. Ele a escolhia para ir fazer rondas, eles passavam horas conversando enquanto eles se moviam pela floresta. Certo dia ele até pegou a mão dela e eles andaram de dedos entrelaçados, como se estivessem em um passeio romântico pela floresta.

E ela pensou em alguns meses atrás quando ele a tentou beijar e ela saiu correndo. Parecia tão distante agora...

O garoto do 12 havia se juntado a eles, Loverboy como for a apelidado por Marvel. Cato havia dito aos Carreiristas que ele só ficaria até que achassem Katniss, então matariam os dois.

E teve aquele dia em que eles finalmente acharam Katniss. Eles fizeram acampamento ao redor da árvore que ela estava. Clove via o Loverboy com os olhos na árvore o tempo inteiro, ele sabia o erro que tinha cometido ao se juntar a eles. Mas não era por isso que ele a olhava, mesmo negando terminantemente esse fato a si mesma, Clove sabia que estava direcionando o mesmo olhar desejoso a Cato havia muito tempo.

Ela planejava pegar a primeira vigia, mas logo que Glimmer se aconchegou nos braços de Cato e ele não recusou, ela acordou Marvel e virou-se para o outro lado disposta a não olhá-los nem por um segundo mais.

Talvez suas preces egoístas tivessem funcionado, Glimmer não sobreviveu aos tracker jackers.

Glimmer se fora, Loverboy fora pego ajudando Katniss a fugir. Ele lutou com Cato, depois de Thresh, Loverboy com certeza era o que mais podia com Cato em questão de força física. Clove os observava, certa de que não podia culpar Peeta pelo  que fizera, ela teria feito o mesmo por Cato, não teria?

O garoto do 4 se fora após a explosão de seus suprimentos. Marvel fora morto por Katniss.

Ela estava sentada meio desolada a um canto enquanto Cato traçava planos de caça. Ela pensava em como seria dali pra frente e estava tão compenetrada que só notou a presença de Cato quando ele falou:

- Saudades da sua amiga?

- Não tanto quanto você. – Disse simplesmente. Glimmer não era sua amiga, nunca fora.

- Do que você está falando? – Perguntou ele, sentando-se ao seu lado.

- Eu vi você com ela. Eu e toda a Panem. – Clove disse com um sorriso fraco, sem humor.

- Ah, Glimmer era bonita... Só isso. – Cato deu os ombros. – E além do mais, naquele dia você disse que não gostava de mim desse jeito.

Ela estava falando daquele dia em que ela correra quando ele tentou beijá-la.

- Talvez eu tenha mentido. – Ela disse baixinho, umedecendo os lábios.

Cato riu suavemente.

- Talvez eu tenha percebido que você havia mentido e só estava tentando te deixar com ciúmes. – Ele rebateu no mesmo tom.

Ela ergueu os olhos para ele, confusa e surpresa, mas antes mesmo que pudesse pensar em algo para dizer, foram interrompidos. Uma chamada para um festim? Não, uma novidade. Dois poderiam sair da arena com tanto que fossem do mesmo distrito. Antes que pudessem se conter, os dois estava de pé, rindo.

Cato pegou o rosto de Clove em suas mãos, ainda rindo e lhe disse:

- Nós vamos pra casa, Clove! Eu e você, nós vamos pra casa!

Ela sorriu em concordância, talvez meio entorpecida pelo rosto dele estar tão perto do seu. Mas então ela pareceu perceber.

- Ainda faltam 4 para nós derrotarmos antes de poder ir para casa. –Ela disse, séria.

- Foxface é fácil, ela não está lutando, ela só está sobrevivendo. – Cato disse com um meio sorriso – O 11, ele vai dar mais trabalho, mas nós vamos conseguir. Você é inteligente, eu sou forte. – Ele deu os ombros.

- Sim, mas e a 12 e o Loverboy?

- A 12 é esperta e forte, mas não é duas. Nós somos espertos, fortes e dois. – Cato riu. – E bem, o Loverboy não vai muito longe sem a Girl on Fire. Aliás, eu não sei como ele ainda está vivo. – Acrescentou pensativo.

- Pois é, o remédio que o ajudaria é muito caro, o que será que eles estão fazendo para conseguir esse patrocínio? – Perguntou Clove, de cenho franzido.

- Sexo? – Sugeriu Cato, a fazendo rir. – Nós poderíamos tentar também, o que você acha? – Ele perguntou em um misto de sorriso provocativo e brincalhão.

- Não com toda Panem olhando. – Clove rebateu firme.

- Hm, então eu tenho chances? – Perguntou ele, ainda naquele tom.

- Quem sabe? – Ela deu os ombros, sorrindo.

Mas a sorte não estava mais a favor deles.

Clove estava aterrorizada sob a mira de Thresh, com dores de quando fora arremessada ao chão.

- Cato! Cato! – Ela chama tentando sua mais alto que a voz de Thresh. O plano era estar por perto, caçando qualquer um que pudesse tentar entrar a campina, ele com certeza viria em seu socorro...

Mas Cato havia se distanciado demais da Cornucópia enquanto procurava Foxface. O grito de Clove o atingiu como um balde de água fria, fazendo todos os seus músculos congelarem de medo por um momento.

- Clove! – Ele gritou o mais alto que pode, enquanto fazia seu caminho de volta. Tropeçando aqui e ali por causa das pernas bambas. Ela não respondeu. O coração dele martelava pesado, culpado por tê-la deixado sozinha. O que Katniss havia feito com ela? Será que Peeta de alguma maneira havia se curado e Clove ficara em desvantagem? Milhares de coisas corriam por sua cabeça enquanto ele voltava.

Então ele a viu no chão.

- Clove! – Ele chamou, notando a própria dor em sua voz enquanto pensava no pior.

Katniss e Thresh começaram a correr em direções opostas, mas ele não conseguia pensar em seguir nenhum dos dois. Ele adentrou a campina e correu ditamente para Clove, caiu sobre seus joelhos ao seu lado, sua lança ainda em sua mão, mas a mão livre foi diretamente para seu rosto, onde ele via o amassado em seu crânio.

- Não, Clove, por favor! Fica comigo! – Ele implorou choroso – Não me deixa, por favor! Nós vamos pra casa, lembra? Eu e você! Clove!

Os olhos dela estavam presos nos dele. Ela queria responder, mas já não era capaz. Respirar era um sacrifício enorme agora. Ela queria ficar com ele, lutou o máximo que pode pra isso, mas ela não conseguiu.

O canhão soou e o gritou de Cato foi o mais alto de todos. Lágrimas corriam teimosas por seu rosto e ele pegou o corpo de Clove em seus braços, meio desesperado. Abraçou-a e desculpou-se por ter ido tão longe. Então o aerobarco estava lá, o obrigando a se afastar. Ele a observou ir com uma dor enorme tomando conta dele.

Ele iria vencer esse jogo, tentaria mais do que nunca, não só por ele, mas por Clove também.

Cato pegou o rastro de Thresh, fora difícil achá-lo uma vez que Cato nunca estivera daquele lado da arena, mas ele o fez. Foi uma batalha difícil contra Thresh, por pouco ele não foi morto, mas ele venceu Thresh. E lhe deu uma morte lenta e dolorosa, impiedosa, fria. Cato descontou toda sua dor por Clove. Mas ainda não era o bastante. Não acabara ainda.

Ele não tinha muita força, mas recebera presentes de seus patrocinadores e isso o ajudou a ter força de vontade para se levantar e continuar atrás dos outros.

Um canhão soou. Loverboy finalmente teria morrido por complicações do machucado? Katniss encontrara Foxface? Isso era o mais provável, uma vez que Foxface não teria coragem o bastante para matar alguém. Teria?

Cato já não dormia havia muito tempo, sua tristeza e ódio exigiam demais dele. Não conseguia tirar a imagem do brilho sumindo dos olhos de Clove e então havia Katniss e Loverboy, que com certeza o estava caçando. Mas ele tinha que ser mais esperto, tinha que caçá-los primeiro. Prestou bastante atenção onde o aerobarco aparecera, recolheu suas coisas e começou sua caminhada. Mas ele não os encontrou onde o aerobarco estava. Viu sinal de fogueira, mas não foi atrás. Ele sentia que era uma armadilha. Cato trocou de estratégia. Eles provavelmente o estavam esperando. Então ele não daria esse gosto. Manteve-se longe, aproveitando para comer e dormir. Os gamemakers os juntariam mais dia, menos dia. E quando ele tivesse essa oportunidade, ele atacaria com tudo.

Não que estivesse sendo impossível viver sozinho, mas ele sentia falta de Clove. Exclusivamente dela. Dos anos juntos no Distrito 2, da vida que eles teriam tido fora da arena. Tudo ao seu redor o fazia pensar nela, então ele precisava sair dali. Não podia fraquejar agora e ele sabia que ela lhe diria o mesmo se estivesse ali.

Então ele percebeu que não estava sozinho. Não teve tempo de pegar nada e as mutações já estavam correndo atrás dele. E ele correu como nunca na vida. Cornucópia. Esse era seu único pensamento, estaria a salvo lá. Nem mesmo a visão de Peeta e Katniss o fez vacilar. Cato levou as coisas diretamente para eles. Com sorte eles se ocupariam de matá-los enquanto ele chegava a salvo na Cornucópia. Sem olhar por cima do ombro uma única vez, Cato escalou a estrutura e se jogou sobre o ouro quente, para recuperar o fôlego.  Então ele viu Katniss na estrutura, Peeta coxeando. O Loverboy já era. Katniss iria ser obra sua. Finalmente teria sua chance... Mas câimbras o atingiram, não conseguia respirar direito e estava preocupado se os cães poderiam alcançá-los. Se pelo menos Clove estivesse ali... Cato tinha certeza que ela poderia matar todos com seu excelente kit de facas.

Mas não havia mais jeito. Era Cato contra os dois. Ele não tinha nada além de seus conhecimentos e Katniss ainda tinha seu arco e flecha. Naquele momento Cato precisou arriscar tudo.  Aproveitou a distração de Katniss e o machucado de Peeta para pegá-lo em um gravata. Se ele não iria levar Clove para casa, Katniss certamente não levaria Peeta.

- Atire em mim e ele cai comigo. – Cato disse sorrindo meio alucinado. Katniss vacilou e isso o deixou mais calmo. Apesar do impasse onde Katniss não poderia matá-lo sem matar Peeta e ele não pudesse matar Peeta sem que Katniss o matasse, o plano era bom. Matar Peeta por asfixia. Um sorriso triunfante tomou seus lábios.

Mas Cato não esperava pela reação de Peeta, viu seu caminho para a morte quando escorregou pela borda da estrutura. Não tinha arma nenhuma e não demorou muito para as mutações estarem em cima dele. E já não havia nada que ele pudesse fazer. Nenhum dos dois o ajudaria.

Fixou sua mente em Clove, esperou que as histórias sobre morrer e ir para um lugar melhor fossem verdadeiras. Talvez Clove o esperasse lá e eles estão pudessem ter a “vida” que vagou a mente de Cato todos esses dias. Ele desejou que pudesse morrer logo, que pudesse correr para os braços dela logo.


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