Porque Nada é tão Fácil escrita por CuteMari


Capítulo 31
Nas Mãos da Sorte




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     Antes, eu pensava que a morte era fácil. Somente apagar e aí pronto, seria somente a escuridão para sempre. Agora eu sei que esse era um conceito errado, bem errado. Apesar de eu ter perdido totalmente a noção do tempo, mas isso não importava agora, porque cadapedacinho da minha consciência estava tomado pela dor. Dor essa proveniente de vários motivos, e por incrível que pareça, o que menos doía era o projétil alojado ao lado de meu pulmão.

     O que doía, na verdade, era meu coração. Doía quando eu me lembrava de Lipe, Lih, Jonny e até Luís. No fundo eu não descartava a possibilidade de morrer agora, a qualquer momento. E então vinham os problemas.  Será que ficaria tudo bem?  Será que as pessoas sentiriam minha falta ou sofreriam por mim assim com eu estava sofrendo por elas?

     Então, novamente ecoou em minha cabeça o grito de Lipe, na sua voz eu podia sentir perfeitamente seu desespero. Não me sentia triste por morrer, me sentia mal por abandoná-lo.

     Pra mim, seria fácil me entregar a escuridão permanente da morte. A dor que queimava meu peito cessaria junto com meu desespero, sem mais gritos ao meu redor. Sem mais sofrer com a minha vida complicada em que nada acontecia do jeito que eu queria. Apenas a esperada paz. Mas esse era um pensamento egoísta, é claro!

     Então, todos os rostos que eu conhecia passaram pela minha mente. Primeiro a face de Lih, que sorria dócil para mim. Ela parecia dizer: "Estamos esperando por você Jenn." Depois Jonny e seu penteado espetado, junto com seu sorriso brincalhão. Então vi o rosto sempre simpático, mas preocupado de Camila, a amiga que embora eu não soubesse, tanto se preocupava comigo. Logo após Luíza ao lado de meu pai, que entrelaçava sua cintura com seus braços. Há tempos não via meu pai com um sorriso tão radiante! Ainda tenho certeza que eles acabariam casados... Também pensei em minha mãe, que abria os braços para me receber, ao lado de Rodrigo com Luciana no colo.Podia ler no brilho de seus olhos: "Te amo." Se eu ainda tivesse controle do meu corpo, pode ter certeza de que eu estaria chorando compulsivamente.

     Então, me surpreendi quando percebi que agora, era o rosto da Senhora que viajava pela minha cabeça. Ela me olhava séria e seus lábio, vagarosamente formaram as palavras: "Apenas -Seja - Forte". E então, involuntariamente, senti que minha mente se apagaria de novo. Me agarrei com força ao último fio de consciência que eu ainda tinha, mas ele escorreu de minhas mãos sem que eu pudesse fazer nada. Então, tudo escureceu outra vez.

 

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     Já tinham se passado 3 ou 4 horas desde que Jenn entrou as pressas na sala de cirurgia, arrastando metade da equipe médica do hospital junto com ela. Era madrugada, eu somente aguardava na sala de espera junto com a mãe deJenn. Essa cena me lembrava da última vez que eu estive nessa agonia em um hospital. Na vez em que Jenn sofreu o acidente de carro com seu pai. Mas dessa vez eu estava muito mais nervosa. Um tiro! Pensei pela milésima vez. Como Luís pôde?

     Chacoalhei a sabeça afastando o pensamento, que voou direto para Lipe e Jonny. Os dois estavam na casa de Jonny, que ficava a poucas quadras do hospital. Achamos melhor tirar Lipe daqui, ele estava enlouquecendo os médicos, perguntando literalmente, de minuto a minuto qual era o estado de Jenn e como corria a cirurgia. Eu cheguei a sentir pena dele, seu estado era lastimável. Ele mal conseguiu explicar para os médicos o que exatamente tinha acontecido. Sua mãos tremiam e seus olhos vermelhos lacrimejavam.

     - Líliam, vamos passar um pouco no café? - Convidou-me a meia voz, dona Joyce. Ela parecia estar contendo seu sofrimento, sua expressão era apenas indiferente. Mas eu sabia que por dentro, estava bem pior do que Lipe. Notei então, o terço em sua mão, que tremia e o apertava com uma fé sem tamanho.

     Em resposta do convite, eu sorri para ela em forma de consolo. Nos levantamos, mas antes que pudéssemos deixar a sala, uma enfermeira fez a chamada:

     - Acompanhantes de Jennifer Guimarães? - Disse, analizando a sala por cima dos óculos, procurando os chamados. Ela parecia estar brava ou com raiva de alguma coisa, o que me deixou tremendamente preocupada. Eu  eJoyce nos aprensentamos para a enfermeira carrancuda que nos levou até a sala onde um médico nos esperava.

     Meu coração ficou bem mais leve, ao encontrarmos na porta o Dr. Caio sorrindo satisfeito. Era bom ter um velho conhecido nosso nessas horas.

     - Dr. Caio, não esperava encontrá-lo aqui! - Cumprimentou Joyce, estendendo a mão para ele.

     - A sorte estava ao favor de Jenn. - Sorriu ele. - A cirurgia correu muito bem. Ela perdeu bastante sangue mas a bala não causou muitos estragos ao pulmão. Se me permitem uma brincadeira infame, temos que dar graças que os bêbados não têm boa pontaria.

     Não pude conter um sorriso de alívio.

     - Ela vai acordar em pouco tempo. Mas não a forcem muito, ela precisa de muito descanso. - Finalizou ele, saindo da porta e fornecendo passagem. Joyce nem esperou e já correu até a poltrona de cabeceira, onde sentou e começou a acariciar os cabelos da filha.

     Eu não quis atrapalhar o momento, apenas me encostei na porta e olhei para a cena. Apurei os ouvidos para ouvir o aparelho que marca o ritmo do coração. Completamente estável! Lentamente me retirei da sala, pegando o celular e ligando para Lipe, temendo que ele já tivesse tido um colapso nervoso e um desmaio.

 

 

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Aos meus fiéis e amados leitores que tornam tão linda a história da Jenn, eu gostaria de divulgar uma nova Fanfic Original que eu estou escrevendo. Amaria demais a presença de vocês lá, o que me deixaria mais inspirada para escrever a da Jenn. :D (Tá, eu paro com a "Livre e espontânea pressão)

Brinks, mas s quiserem dar uma passadinha, está bem no começo:

http://fanfiction.nyah.com.br/historia/39407/E_Foi_Desde_O_Playground


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