– Olá, Catherine! Há quanto tempo. - Sorri, abraçando-a.

– Como estás? - Perguntou, acompanhando-me até à sala.

– Bem, obrigada. E tu? - Perguntei. Lembrava-me que ela detestava ser tratada por você. Dizia que a fazia sentir-se velha.

Era bom falar com alguém em português fora da minha família, para variar. Já tinha saudades disto. Já tinha saudades do Ethan e da sua mãe.

– Também. - Sorriu. - CHLOE, VEM CÁ ABAIXO, SE FAZ FAVOR. - Disse ela em inglês e depois voltou-se para mim. - A Chloe não fala muito bem português portanto terás de falar com ela em inglês, se não houver problema.

– Claro que não. - Sorri.

Uma rapariga de cabelos castanhos acobreados e olhos azuis, com a pele branca como a neve, desceu as escadas apressada. Parecia uma boneca de tão bonita que era.

– Que se passa mãe? - Perguntou a menina num inglês perfeito.

–Oh, nada, querida, a Ariadne chegou. - Disse a Catherine para a sua filha.

Ela olhou para mim, avaliando-me com os seus grandes olhos azuis e sorriu.

– Olá! Sou a Chloe, prazer em conhecer-te finalmente. O meu irmão estava sempre a perguntar por ti desde o dia em que voltou de Portugal e eu nunca soube quem eras. - Disse ela, rindo. Caramba, ela tinha uma gargalhada bem agradável.

Ok, vou ser muito honesta. Eu pensava que a irmã dele ia ser uma cabra com uma gargalhada de gaivota. Pronto, está dito. Não me julguem, ok? Mas quando me disseram que ela tinha 14 anos e depois de ver como era bonita, pensei mesmo que ela fosse desse estilo. Mas aparentemente não. E isso era bom, ok? Até porque eu sempre quis uma irmã mais nova e, tendo em conta que o Ethan e a sua família eram praticamente da minha família, ela era uma espécie de irmã para mim.

– Sou a Ariadne. O prazer é meu. Pois, devo admitir que nunca soube que o Ethan tinha uma irmã até hoje. Ele é um bocado esquecido no que toca aos pormenores. - Ri, dando uma cotovelada ao meu amigo de infância.

– Cala-te, não sou nada! - Disse ele corando.

Agora que reparava, os irmãos tinham pouco a ver. Enquanto a Chloe tinha cabelos castanhos acobreados e olhos azuis, o Ethan era loiro de olhos verdes que mudavam para azul por vezes. Ele era realmente um principe dos contos de fadas. Mas será que eu queria um principe perfeito?

Continuámos a conversar e, passados cinco minutos, Caleb, o pai do Ethan, juntou-se a nós. Já tinha saudades dele. A verdade é que eu raramente o via. Só vira num Verão em que ele fora passar férias com o filho e a mulher mas sem a Chloe. Provavelmente ela devia ser muito nova para fazer viagens e ficara com os avós. Não sei. Só sei que tinha saudades de estar assim com eles, com a minha família emprestada e com o Ethan. Especialmente com o Ethan.

– Bem, ficámos a conversar durante imenso tempo! Já é meia noite e, pelo que me disse a tua mãe, Ariadne, tens de estar em casa antes do almoço para receber o teu irmão. - Disse a Catherine e o Ethan ficou tenso com estas palavras. - É melhor irmos dormir. Podes dormir no quarto de hóspedes, querida.

– Claro. Obrigada. - Sorri.

Eles indicaram-me o quarto e eu despedi-me deles e, depois de vestir o meu pijama, deitei-me, tentando adormecer. Uns 10 minutos depois, depois de todos apagarem as luzes, alguém entrou no meu quarto. Fiquei tensa o tempo todo até sentir umas mãos quentes tão familiares tocarem-me.

– Ethan, a tua mãe não vai gostar de saber que estás aqui... - Murmurei de olhos fechados.

– Ela não precisa de saber. - Disse ele, deitando-se ao meu lado e colocando um braço à volta da minha cintura.

– Se eles descobrem que estás aqui, matam-me. - Disse eu, virando-me finalmente de frente para ele.

Ele encolheu os ombros e beijou-me a testa. Percebi que não era para falarmos, era apenas para dormirmos, como fazíamos no infantário quando eramos pequenos e nos abraçávamos até dormirmos. Juntei-me mais a ele para poder encostar a cabeça ao seu peito nu, como sentia agora que estava, e adormeci com ele a brincar com as ondas do meu cabelo.

– Filha! Já estás de volta, que bom! Anda, ajuda-me a arrumar a sala para o teu irmão não achar que somos uns desleixados. - Disse a minha mãe quando eu entrei em casa sozinha.

– Mãe, não quero exatamente saber o que é que o Eric pensa de nós. Se não gostar de nós desleixadas, azar o dele, que desapareça daqui porque também não é bem vindo. - Respondi, séria.

– Não sabia que tinha criado uma mentirosa. - Disse a minha mãe deitando-me a língua de fora, tal e qual uma criança.

Revirei os olhos e lá fui ajudá-la, lembrando-me do início de manhã que tivera com o Ethan quando a mãe dele nos encontrou aos dois a dormir juntos. Espantosamente, ela não se passou. Só começou a gritar de maneira muito aguda coisas como "OH MEU DEUS, QUE FOFIIIIIIIIINHOS! CALEB, ANDA CÁ VER ISTO!" e pronto... começo a achar que as nossas mães estão feitas pra nos juntar. A sério. Mães normais não deixariam a filha ir dormir para a casa de um rapaz de quem ela dissesse gostar nem ficariam todas emocionadas a ver o filho a dormir com a filha da sua melhor amiga... O que só me podia levar a crer que estavam a tentar juntar-nos. O porquê do fazerem é que eu não entendia.

Bateram à porta no preciso momento em que eu me joguei na cama, cansada de arrumar a sala. Pensei em levantar-me mas não mexi nem um cabelo para o fazer. Não me apetecia receber o Eric.

– Ariadne, vem cá! - Chamou o Paul lá de baixo.

– Tem mesmo de ser? - Perguntei no cimo das escadas.

– Vá, vem lá dar as boas vindas ao teu irmão. - Disse a minha mãe com um sorriso malicioso na cara. Revirei os olhos. Às vezes acho que trocámos as idades e que a adolescente era ela.

– Ele não é meu irmão. - Disse eu, já ao pé deles, a olhar diretamente para os olhos cinzentos mais lindos e intensos que alguma vez veria. Foco, Aria, foco. Tu disseste ao Ethan que ias dar-lhe uma chance...

– Então, Aria... Tenta ser simpática, por favor. - Pediu a minha mãe, fazendo-me olhinhos de carneiro mal morto. Credo, nunca percebi esta expressão. Já repararam como eu mudo muito de assunto quando me sinto desconfortável? Suspirei, derrotada.

– Olá, Eric. Bem vindo à minha casa. - Sorri cínica.

– Obrigada, Ariadne. Caramba, que simpática. - Disse ele, completamente irónico.

– É, sou a rainha da simpatia. - Disse, fingindo entusiasmo. - Tenta não fazer muito barulho de noite porque o teu quarto é mesmo ao lado do meu e, ao contrário do que poderia acontecer na tua querida mansão onde vivias com o James e, provavelmente, com a tua mãezinha, consegue-se ouvir tudo através destas paredes e, honestamente mesmo, eu gosto de uma boa noite de sono. - Sorri.

– Não te preocupes. O máximo que posso fazer é meter a dar rock no volume máximo.

– Desde que seja rock decente, força. - Pisquei o olho e voltei para cima.

A sério, porque é que eu tinha de o ter a ele como "irmão"? Não podia ser o Richie ou até mesmo o idiota do Alex? Até podia ser o James, foda-se, mas não ele! Ele, aquele idiota, com aquela arrogância toda, com os seus olhos cinzentos que me deixavam toda derretida, a sua pele morena, o seu cabelo negro e a sua boca carnuda, mas não num modo feminino, que eu tinha tanta vontade de beijar... sentir os seus lábios nos meus, explorar as sensações que eu sei que isso me traria e... Foda-se, Ariadne, concentra-te! O Eric é teu... irmão. Não. Quero dizer, sim. Pensa que é teu irmão. Talvez assim não tenhas estes pensamentos idiotas sobre ele. Mas... eu queria ter aqueles pensamentos sobre ele... Na verdade queria fazê-los tornarem-se reais. Mas eu não posso. Eu meio que estou com o Ethan agora e... bem, o Eric, como se viu com a Cassidy, só quer uma noite bem passada com uma miúda bonita. E eu nem era bonita. Mesmo que fosse... Bem, mesmo que fosse, seria só mais uma Cassidy na vida dele. E eu não queria isso... ou queria? Não, Ariadne, não queres.

Deitei-me na minha cama e não tardei a adormecer. Quem diria que, depois de ter dormido tão bem nessa noite, ainda iria ter sono suficiente para dormir? Não acordei nem para almoçar. Acho que estava mais cansada do que pensava. Ou então só não queria estar perto do Eric. Ainda só era sábado. Como seria amanhã que não teria desculpa para ficar a dormir o dia inteiro?