Finais Felizes escrita por N Baptista


Capítulo 7
Capítulo 7




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- O que? – Sua testa ficou franzida e ele se afastou.

- Parece.  – Gaguejei – Você mesmo disse que não se lembra de como aconteceu e não sabe por que fez essas coisas.

 Era muito estranho estar ali conversando com Joshua, quero dizer, até agora eu só ouvi coisas ruins sobre ele, mas... Eu realmente acreditava que ele era inocente, estava escrito em seus olhos:

- Luiza, – Sua voz era decepcionada e ele baixou os olhos – Só um vampiro original é capaz de hipnotizar outros vampiros, e eu não acho que isso tenha acontecido.

- Por que não? – Pulei no sofá.

 Ele deu um rápido suspiro e depois ficou pensativo:

- Há muito tempo surgiram os três originais, Alastor, Jenevive e... Murrihad. Juntos, eles sabiam comandar as suas criações e manter o equilíbrio com os humanos...

- Murrihad era um original? – Fiquei boquiaberta.

- Sim. Meu pai foi um dos criados na gênesis. Mas como eu ia dizendo, o equilíbrio só dava certo quando os três ficavam juntos. Nicolas deve ter te dito que não nos saímos bem sozinhos.

- É, ele disse.

- Pois então, as ideologias dos originais não eram compatíveis e eles se separaram. Cada um foi seguir o estilo de vida que achava certo e eles não voltaram a se unir.

- Se Murrihad era um original, não deveria ser, sei lá, muito difícil mata-lo?

- Sim, você está certa. E eu estranhei muito quando aconteceu. Comecei a investigar como um louco a morte de meu pai, não conseguia me conformar, e foi quando...

 Ele não terminou a frase, mas eu entendi onde Joshua queria chegar e me inclinei na sua direção quando o vi acuar com a culpa:

- Então está descartada a ideia de hipnose?

 Ele riu timidamente e tomou minhas mãos nas suas dizendo:

- Só acho difícil que Alastor ou Jenevive tenham reaparecido depois de mais de dois mil anos só para me enlouquecer.

 Pensei por um momento antes de dizer olhando dentro dos olhos verdes de Joshua:

- Ainda acho que você é inocente.

 Seu olhar estava preso ao meu e ele riu:

- O que foi? – Perguntei confusa.

- Nada. – Joshua estava visivelmente mais calmo - É só que eu entendi porque o meu irmão ficou ligado a você tão rápido.

 Eu o olhei ainda confusa e ele explicou:

- Quando ou onde na existência esperaríamos encontrar alguém como você? Que não tem medo. Que busca em algum lugar a nossa humanidade perdida. – Ele aproximou o rosto para terminar – E que a simples presença já alivia a dor da criatura que vive em nós.

 Senti meu rosto corar e quis desesperadamente puxar as minhas mãos de volta, mas não foi preciso, Joshua as soltou e afastou seu corpo. Seu olhar agora estava fixo em alguma coisa atrás de mim. Me virei depressa e o que vi fez o meu coração pular de alegria:

- Nick!

 Corri na direção dele desesperada por seu abraço, mas ele fez sinal para que eu parasse e obedeci imediatamente. Nick segurou a minha mão e me colocou a sua frente, então tirou o cabelo do meu ombro de forma que pudesse examinar a mordida no meu pescoço. Seus dedos desceram suaves pelo meu braço analisando os cortes. O rosto dele estava sério e os músculos rígidos. Por fim Nick me conduziu para o lado e então deu um passo na direção do irmão. Joshua ficou de pé e o encarou com ousadia, os dois estavam travando uma batalha silenciosa e o meu coração disparou de nervosismo. O acontecimento seguinte foi rápido demais para que meus olhos acompanhassem, quando percebi Nick tinha coberto toda a distância que o separava de Joshua e socado o irmão com força suficiente para arremessa-lo do outro lado da sala.

 O barulho do corpo de Joshua afundando na parede fez todos no andar de cima acordarem e logo a escada tinha se tornado arquibancada para ver a briga. Nick encarava o irmão como se pudesse feri-lo com seus olhos, que nunca estiveram tão azuis. Joshua se pôs de pé novamente e avançou para revidar, mas Nick girou e o derrubou quebrando a mesinha de centro. Minha mãe deu um gritinho com o prejuízo, mas ninguém ia tentar separar aqueles dois. Joshua jogou as pernas para o lado derrubando Nick que o agarrou pela camisa e os dois ficaram rolando e se dando socos pela sala:

- Luiza, faz alguma coisa. – Gritou a dona Shirley.

 Fazer o que? E se sobrar pra mim? Eu era a única que estava no mesmo andar que eles já que ninguém tinha tido coragem de por os pés além dos degraus da escada. Olhei ao redor desesperada para encontrar um jeito de parar aqueles dois e foi quando vi que quando Nick quebrou a mesa de centro com Joshua, o copo de água que eu tinha deixado ali também se quebrou. Não sei como pude trair o meu extinto de sobrevivência daquele jeito, mas eu estava mais preocupada com os dois lutadores do que comigo, e foi por isso que agarrei um dos cacos de vidro e apertei na palma da mão. A pele se abriu e o sangue escorreu imediatamente.

 Então meu cérebro voltou a funcionar com clareza para que eu me arrependesse profundamente do que tinha acabado de fazer e me virei esperando encontrar dois vampiros sedentos de sangue prontos para me atacar, mas ao invés disso encontrei os dois deitados de barriga para baixo, apertando o nariz contra o chão e implorando para que eu desse um jeito de parar o sangramento.

 Ainda sem saber direito o que estava acontecendo, minha mãe pulou os dois degraus que a separavam do andar de baixo e me escoltou até a cozinha para fazer um curativo. Ouvi a voz do meu pai falar para os outros hóspedes que não tinha nada para ver ali e que era melhor todos voltarem para seus quartos.

 Minha mãe ficou calada enquanto cuidava do meu ferimento, mas mantinha no rosto um olhar confuso e repreensivo ao mesmo tempo. Meu pai estava no vão que dividia a sala da cozinha e mantinha um olho em mim e o outro nos vampiros. Joshua estava encostado em uma das paredes cobrindo o nariz com a borda da camisa, não preciso dizer que isso deixou a mostra o abdômen bem-definido. E Nick estava na parede oposta ao irmão, até mais distante de mim na verdade, ele cobria o nariz com o braço, afundando o rosto na manga da jaqueta.

 Depois meu pai disse que era melhor que todos fossemos dormir e amanhã falaríamos sobre o que aconteceu. Minha mãe arrumou o sofá para Nick, já que não tínhamos mais quartos vagos, e depois me arrastou escada acima me largando sozinha no corredor.  Meio perdida entre os acontecimentos, ouvi os passos de meu pai e Joshua subindo as escadas e fui para o meu quarto. Vesti o meu pijama e depois, não sei porque, destranquei a porta do quarto de forma que ela ficasse só encostada, me afundei nos lençóis e peguei no sono. Mas deve ter sido um cochilo rápido, pois logo depois ouvi o barulho da chave trancando a porta, mas não me mexi, então senti o movimento na cama e logo o meu corpo foi puxado delicadamente para trás. Senti os lábios macios darem beijinhos na minha nuca e murmurei:

- Nick.

- Hum?

- Me deixa dormir.

 Ele riu e afastou o rosto:

- Tudo bem.

 Me virei para olhar para ele e perguntei:

- Vocês conversaram?

- Não. – Ele suspirou – É melhor não fazermos isso sem uma mediadora.

 Eu ri e ele pegou a minha mão enfaixada e levou na altura dos olhos:

- Você já não se machucou demais?

- Eu tinha que fazer alguma coisa – Puxei minha mão de volta – Vocês iam acabar se matando.

 Girei o corpo e deitei a cabeça no peito dele, Nick acariciou as minhas costas e falou olhando para o teto:

- Você não deveria defendê-lo. Ainda mais depois de tudo o que ele fez com você.

 Suspirei antes de perguntar:

- E onde você estava nos últimos dias?

- Te procurando. Joshua não te trouxe direto para cá Lu, e além do mais ele sempre foi bom em estratégia. Me despistou várias vezes.

- Ele disse... Que você me seguiria até os confins da terra.

- E você tem dúvidas? – Nick depositou um beijo na minha testa.

 Aquela não tinha sido uma pergunta de verdade, mas mesmo assim fiquei pensando em uma resposta para dar a mim mesma. Ficamos um momento em silêncio e depois eu confessei pensativa:

- Acho que não foi ele Nick.

- Ele te disse que não tinha sido?

- Não. Confessou o crime. Mas eu realmente acho que o Joshua é inocente.

- Você não tem como saber minha linda.

- Tá, mas eu confio nele. Joshua sente remorso e está desesperado tentando concertar as coisas. Alguém culpado não ficaria tão desse jeito... Pera aí, você me chamou de Linda?

- Sim. E disse que era minha.

- Pois pode tirar esse pronome possessivo, porque eu sou minha.

 Nick riu e levantou o meu rosto para que eu olhasse para ele, depois aproximou a boca e ameaçou:

- Se não vai dormir, eu vou voltar a te beijar.

- Então tá – Respondi – Eu durmo.

 Virei para o lado de brincadeira e Nick me puxou de volta rindo:

- Como assim você dorme? Agora eu não vou deixar.

 Ele me beijou nos lábios e foi assim que a nossa conversa acabou.

 Quando acordei na manhã seguinte estava sozinha no quarto, o que me preocupou um pouco. Me troquei e desci para tomar o café da manhã. Todos estavam reunidos e comentavam o fight de ontem, cada um contava uma parte da briga, e algumas das partes nem tinham acontecido. Joshua estava encostado na parede com um copo de suco na mão e tentava desviar do assunto toda a vez que alguém perguntava o motivo da briga. Quando me viu entrar ele fez sinal com a cabeça para que eu o seguisse e fomos para o escritório:

- Ué, você pode beber suco? – Perguntei apontando para o copo.

- Posso. Mas não tem gosto de nada. – Ele ofereceu – Você quer?

- Claro. – Peguei o copo de suas mãos – Eu gosto de suco de laranja.

 Quando entramos no escritório, Nick, que estava lá dentro, fechou a porta para falarmos a sós. Joshua se sentou na cadeira da escrivaninha, eu me sentei no pequeno sofá que tinha ali e Nick ficou de pé, encostado na parede:

- Nicolas... – Começou Joshua – Eu queria dizer que...

- Começa falando por que levou a Luiza de mim. – Interrompeu Nick sério.

 O mais velho se ajeitou na cadeira antes de responder vacilante:

- Eu fiz isso para o seu bem irmão... Não queria que fosse pego.

- Ela acha que você não matou Guilherme. O que me diz a respeito?

- Não sei.

- Não sabe? – Nick se inclinou para frente – Como assim não sabe?

- Em minha mente tenho certeza do que fiz, mas... Não me lembro de como aconteceu ou por que. Honestamente acho que posso ser inocente.

- Nesse caso, o que aconteceu? E por que você me culpou?

- Ele foi hipnotizado Nick. – Me meti – Pelo menos é o que achamos.

 Nick se ajoelhou a minha frente e falou olhando nos meus olhos:

- Não é tão simples hipnotizar um vampiro Lu.

- Eu sei – Respondi – Joshua me contou sobre os originais.

- E você continua achando que...

- Ah, não é impossível. – Insisti – Só é difícil.

- Tá. – Nick se sentou ao meu lado e olhou para o irmão – E por que fariam isso?

 Joshua baixou os olhos e ficou quieto. Nossa conversa tinha chegado a um beco sem saída. O silêncio reinou pelos minutos seguintes e eu me concentrei em beber o suco do copo que tinha nas mãos. Me desliguei do mundo e só prestei atenção na bebida, até que terminei e percebi que os dois irmãos estavam olhando para mim:

- O que foi? – Perguntei sem graça.

- Nada. – Respondeu Nick rindo – É só que é legal ver você comendo, quero dizer, bebendo.

- Legal por quê?

- Porque a gente não faz isso Luiza. – Respondeu Joshua bem humorado – Nem lembro de como é o sabor.

- É melhor do que óleo fervente – Brinquei – isso você pode ter certeza.

 Joshua ficou rindo, mas Nick não entendeu:

- O que tem óleo fervente?

- Nada não. – Respondi – É coisa nossa.

- Ah, valeu! – Ele foi dramático – Eu me senti excluído agora.

- Coitadinho! – Eu ri me inclinando na direção dele e lhe dando um beijinho no rosto.

- Não Luiza. – Suspirou Joshua – Isso ele tem que saber.

 Nick percebeu que a conversa ia voltar a ficar séria e se endireitou no sofá:

- Tem alguma coisa muito estranha com essa garota. – Disse Joshua.

- Tirando o fato de que ela está com dois vampiros e não para de fazer piada? – Brincou Nick.

- É sério irmão. Eu admito que tentei transformá-la várias vezes, mas não deu certo...

- Percebi. – Nick ficou sério, mas fez sinal para que o outro continuasse.

- A intenção era que ela ficasse longe de você, então também tentei usar a hipnose para que a Luiza te esquecesse ou tivesse medo, mas ela continuava resistindo... E chamando por você.

 Nick me olhou pelo canto do olho e eu sussurrei:

- Isso eu não sabia.

- Perdi a paciência e a mordi – Continuou Joshua – E o sangue dela queimou na minha garganta, foi como...

- Óleo fervente. – Completou Nick franzindo a testa.

 Ficamos em silêncio novamente e eu passei a mão pela ferida já cicatrizada no meu pescoço:

- O que tem de errado comigo? – Suspirei falando comigo mesma.

- Não é errado – Disse Nick levantando o meu rosto e olhando dentro dos meus olhos – É só diferente.

- E pode ser útil. – Pensou Joshua em voz alta.

 Nick e eu olhamos para ele com uma interrogação estampada na testa e Joshua explicou:

- Se descobrirmos como a Luiza resiste à hipnose, talvez eu também possa resistir e me lembre do que realmente aconteceu.

- Então nós estamos aceitando que foi hipnose? – Nick ainda não concordava com aquilo.

- É melhor do que pensar que eu tive um surto e matei meu próprio irmão. – A voz dele era triste – Além do mais, se eu estiver com um problema desses, quem sabe o que eu posso fazer em outro surto?

 Me levantei para ir até Joshua e tentar dizer olhando em seus olhos alguma coisa que o animasse, mas Nick agarrou a minha cintura e me puxou para trás. Vi que a porta tinha sido aberta e que ele só tinha me puxado para que eu não fosse atingida no rosto, mas agora eu estava sentada no colo dele e a Sra. Moura nos olhava surpresa:

- Luiza, – Ela falou sem graça – A sua mãe está te chamando lá no jardim.

 Me soltei de Nick, mais vermelha impossível, e saí do escritório.


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