Finais Felizes escrita por N Baptista


Capítulo 4
Capítulo 4




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Quando acordei no dia seguinte, ainda estava sozinha no quarto então olhei pela janela para ver se a festa ainda estava acontecendo, a praça estava quase deserta, mas como o evento durava três dias, a decoração ainda estava intacta. Fui até o banheiro lavar o rosto e toda a vez que me olhava no espelho flutuava com a lembrança da noite passada. Voltei para o quarto, que ainda estava vazio, e encontrei as minhas roupas limpas e passadas sobre a cama. Tenho que admitir que o vestido era bonito, mas eu me sentia muito melhor de camiseta, calça jeans e tênis. Ouvi meu celular gemer no criado mudo e me debrucei sobre a cama para atender:

– Alô.

– Luiza? Minha filha, como estão as coisas ai?

– Tá tudo bem mãe, a senhora pode ficar tranquila.

– E quando é que você volta?

– Em breve.

– Você não liga, não dá notícia. O que está acontecendo aí?

– Olha, eu posso dizer que estou aprendendo muitas coisas novas... E que o exercício físico é puxado.

Reprimi um risinho quando lembrei de Nick me perseguindo no mato:

– Estamos sentindo a sua falta aqui.

– eu também sinto a de vocês.

– te amo filha.

– Também te amo mã...

Outra vez tomaram o telefone das mãos da minha mãe:

– Oi Luiza, tudo bem?

– Oi Sra. Moura. Tudo, e com a senhora?

– Ah, eu estou ótima. É só que a Shirley me pediu para perguntar...

– Eu não sei do Nick.

– Nick?

– Nicolas... Não sei do Nicolas... Olha, eu preciso desligar tá. Tchau.

Fiquei em silêncio com o celular colado à bochecha. Chamar o Nicolas de Nick era um sinal claro de intimidade. E se elas contassem para os meus pais? Como eles reagiriam? Olhei o relógio, já eram 08h30min e o café da manhã tinha sido servido as 8h, então desci para ver o que ainda conseguia. No corredor cruzei com a garota que tinha derrubado refrigerante no vestido da invejosa na festa de ontem, mas ela desviou o olhar assim que passou por mim, como se soubesse de alguma coisa:

– Oi. Sou Luiza. – me apresentei.

– Sou Bruna. – A voz da garota quase não podia ser ouvida.

– Você estava na festa ontem, não é?

Ela assentiu com a cabeça e eu continuei:

– Faz alguma ideia de onde está o rapaz que estava comigo ontem?

Bruna prendeu a respiração e se encolheu:

– Tem certeza de que quer saber... Digo, ele não parece o tipo de cara que quer algo sério. – Ela estava engasgando com as palavras e eu senti um aperto no coração, mas não recuei.

– A gente tá viajando junto e eu preciso mesmo saber onde ele está.

– Ah, nesse caso. Ele saiu da festa com a moça em quem eu derrubei refrigerante sem querer. Não o vi depois disso.

– Tá, obrigada. – Minha voz quase não saiu.

A garota se afastou e continuou o seu caminho, mas eu refiz o meu, ao invés de descer para tomar café, eu voltei para o quarto e tranquei a porta. Estava em choque, como é que um cara pode ser tão fofo com você e te beijar, e depois na mesma noite sair com outra? Isso já é inaceitável quando ele não vai te ver de novo, imagine então se vocês vão viajar juntos no dia seguinte. Eu estava sentindo uma mescla de tristeza e raiva que corroía o meu estômago. Senti os meus olhos arderem, mas eu não conseguia nem chorar, foi quando ouvi alguém abrindo a porta:

– Tá tudo bem Lu? – Ele me olhava com um pouco de preocupação, mas só um pouco.

– Sim, é só fome. – Respondi reprimindo a bomba instável de sentimentos que poderia explodir a qualquer momento.

– Mas você não desceu pra tomar café com os outros?

– Não... Eu estava te esperando. Não sabia que ia demorar.

– Ah, desculpa. Mas nós podemos tomar café da manhã na cidade antes de partir, o que você acha?

Balancei a cabeça em sinal de positivo, mas o que eu queria mesmo era voar no pescoço dele, por que joguei a estaca fora? Nick me ofereceu a mão, mas eu dispensei e tomei a frente na nossa caminhada. Fomos andando até a padaria, onde eu pedi só um chocolate quente que empurrei goela abaixo, porque nada me descia. A mulher da festa de ontem passou do outro lado da rua e deu um aceno para Nick que retribuiu com um sorriso. Pera ai, na minha frente não. Bufei e me remexi na cadeira desconfortavelmente:

– Tá tudo bem mesmo Lu?

– Claro, que insistência. Mas vai, me conta de ontem. O que aconteceu na festa depois que eu saí?

– Ah, nada de mais. Continuou tudo a mesma coisa... Você não vai comer nada além disso?

– Não foge do assunto Nick.

– O que? Por que eu fugiria?

– Ué, não sei. Só sei que depois da festa você saiu com ela. – Apontei para o outro lado da rua onde a mulher estava antes.

– Ah é, teve isso.

– “Ah é, teve isso”? – Finalmente mostrei o quanto estava nervosa – Como você pode me beijar e depois sair com outra mulher? – Ele bufou – Nicolas, o que você tem na cabeça?

– Eu tenho você na minha cabeça. – Ele gritou e todos se viraram para nós, mas isso não o intimidou e ele continuou falando alto – O tempo todo e não entendo o porquê. Só penso em você dês de a primeira vez em que te vi no café da manhã da pensão dos seus pais.

Engoli em seco, o que ele disse foi fofo, mas não me descia de jeito nenhum. Nick agarrou o meu braço e saiu me arrastando pela rua até chegarmos à caminhonete, então abriu a porta do passageiro pra mim e rosnou:

– Entra no carro.

Obedeci de má vontade e depois ele deu a volta e entrou no lado do motorista. Já estávamos novamente na estrada quando ele bufou:

– Não pensei que fosse ciumenta.

– Isso não é ciúme – me defendi – É ego ferido. Você não podia ter esperado, sei lá, até o dia seguinte. Ou então não me beijasse...

– Eu acabaria louco se não te beijasse.

Olhei para ele ainda séria. Nick estava com os olhos fixos na estrada:

– Não consigo agir normalmente perto de você Luiza. Eu te conto coisas que não falo nem pra mim mesmo... É como uma droga, quanto mais eu fico perto de você, mais eu preciso ficar perto de você.

Me virei para frente e ele riu de si mesmo:

– Não acredito que baixei a guarda tantas vezes, de onde eu venho quem faz isso acaba morto... E você quase me matou ontem. – A última parte soou como uma piada.

– Estacas não matam vampiros.

– Eu me refiro a você ter saído do banheiro só de toalha, aquilo quase me matou do coração. – Ele brincou.

– Ei! - Mostrei uma falsa indignação – Foi você que me fez sair do banheiro.

Ele ficou rindo e abandonou a postura tensa:

– Posso confessar uma coisa? – Nick parecia meio tímido e receoso

– Se não for se arrepender depois.

– Não me arrependo de nada que te contei, só que é estranho. Eu não consigo entender você, como pode não ter medo de mim, e me tratar como uma pessoa normal, e ainda me dar forças quando vê que eu não estou bem? Quando eu te beijei ontem foi como se eu nunca tivesse beijado ninguém antes, eu estava morrendo de medo da sua reação e tinha um milhão de coisas passando pela minha cabeça... E depois você foi embora e eu entrei em pânico.

Fiquei sem reação, eu não esperava ouvir isso:

– Por que não foi atrás de mim? – Perguntei em voz baixa.

– Pensei que você não tinha gostado. Então procurei alguma coisa para ocupar a minha cabeça, mas não importa com quem eu estava ontem, eu queria estar com você.

Fiquei sem palavras. O que eu poderia dizer? Comecei a rir sem controle:

– O que foi? – Nick me olhou confuso.

– Eu sou muito estranha mesmo. Estou falando de beijos e ficadas com um vampiro.

Ele também riu. Pegou a minha mão, levou aos lábios e depositou um beijo na palma. Depois entrelaçou os nossos dedos e voltou a se concentrar na estrada. As horas foram se passaram rápido depois disso, quando dei por mim já estava anoitecendo e Nick pegou uma estrada secundária que não levava a lugar nenhum:

– Onde estamos? – Perguntei quando ele parou a caminhonete.

– Chegamos.

Descemos do carro e ele começou a andar por um caminho escuro por entre as arvores. Me agarrei ao seu braço antes de continuar e ele beijou a minha testa. A vegetação foi ficando mais densa, mas Nick parecia ter certeza absoluta de para onde estava indo. Ele parou em frente a um enorme carvalho que parecia ter centenas de anos e ficou quieto. Olhei para a arvore e para Nick tentando entender o que estava acontecendo, e foi quando o tronco começou a pegar fogo. Dei um salto para trás e apertei o braço dele, mas Nick me puxou para perto e me abraçou, foi quando quatro figuras saíram de dentro das chamas. A primeira, Caroline, tinha pele muito branca e cabelos loiros e compridos que cacheavam nas pontas. A segunda, Samantha, tinha o rosto cheio de pintinhas e seu cabelo cacheado era bem ruivo. A terceira, Ester, era negra tinha o cabelo cacheado na altura da nuca. Por fim, Julie, era asiática e tinha um cabelo preto e liso que ia até os quadris.

As quatro juntas agarraram o fogo e o suspenderam como se fosse um véu, Nick me segurou com um braço só e nós atravessamos as chamas. Do outro lado encontramos uma casa enorme, uma mansão de cores que mais pareciam ter sido tiradas da própria natureza. Todos os quartos tinham sacadas que davam para o jardim repleto de flores dos mais variados tipos, que permaneciam abertas mesmo sendo noite. Me aproximei de uma que eu não conhecia, parecia uma rosa azul com as pontas vermelhas:

– Não vejo uma dessas há muito tempo – Comentou Nick – Minha mãe gostava de cultivá-las.

Sua expressão mudou com a lembrança da mãe, aquele era um dos momentos de guarda baixa que ele falou mais cedo. Beijei a bochecha de Nick e puxei de leve a sua mão para que seguíssemos as quatro feiticeiras. Elas nos guiaram até um quarto que tinha uma cama gigantesca, uma penteadeira de madeira escura, e um tapete azul escuro que cobria quase todo o chão. Havia ainda uma porta onde era o banheiro, mas eu deixei para olhar isso depois. Samantha disse que “ela” iria nos receber mais tarde e as quatro nos deixaram a sós:

– E então, o que a gente faz agora? – Perguntei finalmente soltando o braço de Nick.

Mas ele não queria se afastar de mim e por isso agarrou a minha cintura e me puxou de encontro ao seu corpo:

– Posso pensar em uma coisa. – Ele sussurrou me dando um selinho.

– Aqui não. – Empurrei-o para longe sem efeito.

– Por que não?

– Elas são feiticeiras, sei lá, podem estar vendo.

– Eu acho que elas têm mais o que fazer. – Ele respondeu me dando outro selinho e dessa vez emendando com um beijo rápido.

– Você não disse que me beijar te deixava nervoso?

– Não importa se eu fico nervoso Luiza, te beijar foi a melhor coisa que me aconteceu em séculos. Eu não quero e não vou evitar.

Suspirei, ele tem o dom de me deixar sem fala. Nick se inclinou e sussurrou alguma coisa ao meu ouvido, mas eu não consegui entender, só sei que depois disso ele traçou uma trilha de beijos pelo meu pescoço, depois afastou o rosto e esperou para ver se eu iria protestar, mas me mantive quieta então ele tentou os lábios mais uma vez. Retribui tímida de início, mas logo as minhas mãos deslizaram para os seus ombros fortes e ele me apertou contra seu peito. Uma de suas mãos subiu para a minha nuca e ele intensificou o beijo, tomando cuidado para não me machucar.

Nick afastou o rosto e observou a minha expressão, provavelmente eu estava feito uma idiota com cara de “quero mais”, mas seu rosto estava ainda mais confuso do que ontem, o que me preocupou:

– O que foi? – Perguntei quase sem ar.

– Como você faz isso?

– Isso o que?

– Você não beija como as outras mulheres.

– Eu sou tão ruim assim? – entrei em choque.

– Não, de jeito nenhum, você beija muito bem. E isso é que é estranho, porque faz com que eu me sinta...

A porta se abriu e a frase morreu pela metade. Julie fez sinal para que a seguíssemos e foi o que fizemos. Caminhamos por um corredor comprido cheio de quadros onde eram representados os elementos da natureza, entramos em uma biblioteca que tinha grandes e pesadas portas de correr, estantes repletas de livros, um tapete vermelho no chão, uma escrivaninha de madeira escura, uma lareira que estava acesa e um sofá enorme que estava em frente a lareira. No sofá havia uma mulher sentada de costa para nós, e só pudemos ver seu cabelo grisalho até Julie se retirar e a mulher levantar se pondo de frente para nós. Seu rosto era marcado por idade avançada e ela usava um vestido verde sem vida, mas apesar disso era uma senhora muito bonita. Nick apertou a minha mão e colocou o seu corpo entre nós duas, eu o olhei sem entender nada, mas ele parecia perturbado com alguma coisa:

– Eu queria falar com você a sós Nicolas. – A voz daquela senhora era rouca e cheia de sofrimento.

– O que tiver pra dizer, pode ser na frente da Luiza. – Ele me apertou contra seu corpo.

– Não Nick – Me afastei delicadamente – Isso é entre você e a sua mãe.



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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando e que comentem rsrs



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