Acordo com a luz do sol atravessando a janela do meu quarto. Olho as horas no relógio ao meu lado, são oito e vinte e três. Nesse horário normalmente eu estaria na escola, só que hoje é feriado. Não um feriado bom como o natal, mas um triste e temido. É o dia da colheita.

Resolvo me levantar, lavo o rosto, escovo meus dentes, troco de roupa e visto um casaco - pode não parecer, mas aqui no distrito 3 é bem frio - . Desço as escadas da casa de classe média em que vivo, meus pais já estão acordados. Dou bom dia a eles e me sento na mesa. Sirvo-me de torradas e suco.

Vejo os olhos de minha mãe, que estão vermelhos. Provavelmente ela passou a noite chorando. É, é claro que foi isso. É assim todo ano.

A colheita e muito temida pela minha mãe desde que John foi escolhido como tributo e não voltou mais. John era meu irmão mais velho. Minha mãe fica ainda mais neurótica por causa das tésseras. Não são para minha família, mas sim para a família de Carla. Ela também foi um tributo, também não voltou. Carla tem uma irmã mais nova. Emily, de apenas 6 anos. Desde que Carla "foi embora" eu levo as tésseras para ela.

Bem, eu ainda não disse quem sou certo? Eu sou Amber Elizabeth Hale, tenho 15 anos. Sou uma tipica nerd do distrito 3. Sempre lendo (tem algumas bibliotecas clandestinas no meu distrito, os livros proibidos sempre me fascinaram), sempre com notas altas, sempre quieta no meu canto. Tenho cabelos pretos e lisos, meus olhos são azuis escuros e a pele muito branca. Meu único amigo se chama Mazon. Eu não sou anti-social, mas é que não sou de falar muito.

Depois do café da manhã subi para o meu quarto e fiquei lendo por um bom tempo até minha mãe me chamar, falando que estava quase na hora da colheita. Tomei um banho rápido e coloquei as roupas que minha mãe havia separado para mim, um vestido lilás e uma sapatilha. Peteei meus cabelos e os deixei soltos. Desci as escadas, meus pais estavam tensos. Abracei eles e nos fomos para a praça.

La estava bem cheio. Uma mulher escandalosa de amarelo limão foi a frente e nos deu as boas vindas (Argh! Ela que vem para o nosso distrito e nos da as boas vindas? E ela também não e bem vinda aqui!), passou um filme irritante da capital, o prefeito fez um discurso e, por fim, Jane Dupret foi até o microfone e disse:

– Bons Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre a seu favor! Vamos começar com os cavalheiros! - Jane foi até a caixa e, sem cerimonia alguma tirou um papel e leu em voz alta:

–Lenny Martin! - Lenny, aquele ser seboso e metido, subiu desfilando ao palco, se achando o máximo.

–Agora as damas! - Grasnou Jane. Ela andou até a outra caixa, pegou um papel e leu em alto e bom som:

–Amber Elizabeth Hale!