Condenados escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo único




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Larry estava transtornado. Quando lhe telefonaram dizendo que Lewis tinha cortado os pulsos, ele se desesperou e correu como um louco até o hospital. Com certeza receberia muitas notificações de multa, por excesso de velocidade pelo correio. Ele não se importava.

Só queria chegar ao hospital a tempo de ver o seu amor. O homem de sua vida, antes que o pior acontecesse. Ele nunca se perdoaria se Lewis morresse, pois ele seria o único culpado. Ao chegar à entrada do hospital, a família de Lewis já estava lá. Eles barraram a passagem de Larry. O irmão de Lewis chegou a agarrar Larry pelo colarinho e empurrá-lo contra a parede.

—Se meu irmão morrer, eu acabo com a sua vida.

—Isso não vai acontecer. Isso não pode acontecer. Eu não posso perder Lewis. Eu morrerei também. - Larry já estava a ponto de chorar.

—Solte-o Leopold. Já chega. Não quero mais desgraças. - A mãe de Lewis se manifestou puxando o filho para perto dela. Leopold soltou Larry a contragosto. Mas continuou fitando-o enraivecido.

—Tudo bem, eu te solto, mas de modo algum você verá o meu irmão. Ponha-se daqui para fora.

Larry ainda tentou argumentar, mas ao ver os rostos duros e desesperados dos familiares de Lewis, ele desistiu. Virou-se e saiu do hospital. Andou até o estacionamento e socou o próprio carro. Então chorou de raiva, de impotência e de desespero. Não haveria vida para ele se perdesse Lewis. Achou melhor sair dali.

Larry dirigia a esmo, sem saber aonde ia, apenas pisava fundo no acelerador e procurava desviar dos outros carros. As lágrimas freqüentemente lhe atrapalhavam a visão. Flashes do passado passavam pela sua mente. Seu coração e seu pensamento estavam com Lewis.

Início do Flashback:

—Eu preciso de espaço Lewis. Você me sufoca. Eu não posso crescer profissionalmente, não posso ampliar meus horizontes, não posso viver minha vida... Você pensa que eu sou sua mulherzinha?

—Espaço? Pelos céus, nós moramos na sua casa Larry. Todo esse espaço é seu. Nada disso aqui me pertence. Eu estou morando de favor aqui. Quanto a sua profissão, isso é problema seu. Eu nunca me meti na sua vida profissional, nunca fiz exigências que pudessem te deixar mal no trabalho. Eu simplesmente não me meto no seu trabalho.

—Ah, quer dizer que eu estou imaginando coisas? Lembra daquela vez que você não me permitiu fazer aquela viagem com a Lara, para a China? O Moore fez a viagem e conseguiu uma promoção. E eu não. Tudo por causa da sua crise de ciúmes.

—Oh meu Deus! Lara estava se jogando em cima de você, com tudo. Todo mundo sabia que ela até pagaria pra te levar pra cama.

—O que você quer dizer com isso?

—Nada.

—Não, agora você vai me dizer, o que você quer dizer com isso? Você está me chamando de michê? Eu nunca fui michê na minha vida. Nunca.

—Eu retiro o que disse. Desculpe-me.

Larry ficou andando em círculos com as mãos na cintura. Resolveu sair para acalmar-se. Saiu batendo a porta, deixando um choroso Lewis para trás.

Fim do Flashback.

Começou a chover. Automaticamente, Larry ligou o limpador de pára-brisas. A visão estava difícil, mas ele não diminuiu a velocidade. Mais imagens do passado passaram pela sua mente.

Início do Flashback:

—Como você pôde?

—Isso não foi nada demais.

—Não foi nada demais? Você estava me traindo com meu melhor amigo. Tem coisa pior do que isso?

—Eu não estava dando pro cara, ok? Nós só estávamos nos beijando.

—Seu... Seu... - Lewis não se controlou e acertou um direto no olho de Larry, que rodou com o impacto do soco, mas não caiu.

—Seu amigo deu encima de mim, tá legal? Eu não pude lhe negar um beijo. O que é? Vai dizer que vocês nunca... - Lewis acertou outro soco, dessa vez no estômago, que fez Larry curvar-se e cair de joelhos.

—Você não respeita nada, nem ninguém, Larry. Eu tenho nojo de você. - Lewis saiu batendo a porta.

Fim do Flashback.

Larry não divisava nada a sua frente. De repente a estrada acabou e o carro viu-se em pleno ar. Começou a cair rapidamente em direção ao rio. Ao atingir o rio, o airbag inflou e prendeu Larry no banco do motorista. A água entrou rapidamente.

Larry assistia a tudo isso aterrorizado, mas desistiu de tentar se safar. Fechou os olhos e pensou que teria sido melhor se ele nunca tivesse conhecido Lewis, dessa forma, ninguém sairia sofrendo. Quando a água cobriu seu rosto, ele sentiu-se sufocar e sua visão ficou escura. Tudo ficou distante e insensível.

Então depois de muito tempo, Larry abriu os olhos. Ele estava sentado numa sala de espera de uma empresa comercial. Estava vestido com seu melhor terno, aquele que ele usava em casamentos de familiares. Larry ficou confuso e em pânico. Lembrou-se que já havia estado ali antes. Há muito tempo atrás. Precisamente há quatro anos. Quando fora pedir emprego. A empresa na qual conhecera Lewis.

—Larry Olanski! É sua vez agora. Pode entrar. - A recepcionista loira de óculos o chamou.

"Espere aí... Se eu conseguir esse emprego de novo, eu conhecerei Lewis e tudo vai acontecer novamente. Não." - Larry levantou-se e saiu apressadamente, sem dar atenção à recepcionista que continuava chamando-o.

Larry viu-se novamente na rua. Não chovia. Ele não sabia onde estava seu carro. Lembrou-se então que há quatro anos, era um estudante recém-formado, sem carro. Ainda morava com seus pais, no interior. Naquela semana estava na casa de um amigo, procurando emprego na cidade grande. Aquele deveria ser o seu grande emprego. Aquele que lhe daria estabilidade e um bom salário.

Larry não se arrependeu de ter dado adeus ao emprego, contanto que isso poupasse Lewis de sofrer por sua causa, tudo bem. Ele resolveu procurar outro emprego. Comprou um jornal e foi atrás de outro endereço. Era outra empresa que oferecia um trabalho inferior, com salário inferior também, mas ele ficou muito satisfeito. Sentia-se poderoso por poder modificar o futuro modificando o passado.

Então se lembrou de Lewis e de tudo que deixaria de viver com ele, do reconhecimento de que eram almas gêmeas, do primeiro beijo que trocaram, da primeira noite de amor, das juras de amor eterno... Larry começou a chorar de saudades, sentou-se na calçada e chorou segurando o rosto entre as mãos. Por fim enxugou as lágrimas e foi embora.

Larry começou a trabalhar no seu novo emprego. Teve que sair do apartamento do amigo, ao receber o primeiro salário. Foi morar numa espelunca. Como não ganhava muito bem, passou a vestir-se com roupas baratas, de qualidade inferior. Lembrava-se do que fazia para ter um estilo de vida de padrão elevado no passado, era acompanhante de luxo. Ele não faria isso novamente.

Após dois meses vivendo com muita dificuldade, ele não suportou mais a rotina que vivia e resolveu desistir. Decidiu voltar para a casa dos pais no interior. No seu último dia de trabalho, ele preencheu o pedido de acordo, sob o qual ele não necessitava cumprir aviso prévio, e livrava a firma de processos. Pegou o documento e dirigiu-se à sala do supervisor.

Ao abrir a porta tomou um susto. Sentado sobre a escrivaninha do chefe, estava Lewis. Bem vestido e bem cuidado, parecia um príncipe. Larry precisou de alguns segundos para se recompor. Esquecera o que fora fazer ali. Todos na sala estavam olhando para ele, inclusive Lewis.

Larry pressentiu que não iria conseguir controlar-se. Pediu desculpas e saiu. Ainda ouviu que o chamavam, mas ele não queria encarar Lewis novamente. Acabaria fazendo ou falando uma besteira. Andou rapidamente até a escada de serviço e desceu-a correndo até chegar ao seu setor. Entrou e procurou um local isolado para sentar e pensar.

Início do Flashback:

Larry era o mais novo funcionário daquela grande empresa. Vestia-se com roupas caras, tinha um cabelo excelente e uma autoconfiança contagiante. Um dia, visitando as instalações da firma, veio um jovem executivo, muito bonito e refinado, de nome Lewis.

Durante todo o tempo em que Lewis permaneceu no setor de Larry, este fez de tudo para chamar sua atenção. Dizia piadas, ria alto, intrometia-se na conversa dos outros, e dava seu melhor sorriso para o visitante, sempre perguntando as coisas para ele, e deixando claro que estava interessado.

Infelizmente Lewis não se importou com ele, nem lhe deu seu número de telefone. Somente após um mês de muita bajulação, foi que o outro aceitou sair para jantar, salientando que iriam apenas falar de negócios. E foi basicamente do que trataram naquele jantar refinado, no restaurante francês mais em conta que Larry encontrou.

O único diferencial foi que acabaram a noite no apartamento de Larry, na verdade, na cama dele. A partir de então foi que o namoro começou. Dois meses depois estavam morando juntos. E quatro anos depois, Lewis tentou o suicídio cortando os pulsos.

Fim do Flashback.

Larry começou a chorar. Fez um esforço enorme para parar, até que conseguiu. Olhou para o papel que estava usando como lenço. Era o seu pedido de demissão. Estava amarfanhado e molhado. Resolveu que deixaria para pedir demissão no dia seguinte. Foi para sua casa.

Ia andando a pé, para economizar dinheiro, quando um carro buzinou para ele. Larry virou-se para olhar e tomou o segundo susto no mesmo dia. Era o carro de Lewis, um BMW prata. Ele resolveu conversar com o outro para que o deixasse em paz. Temia que se saísse correndo, seu ex-futuro marido o seguisse. Este o chamou da janela do carona.

—Ei, rapaz, está tudo bem com você?

—Sim, senhor.

—Do jeito que você fugiu da sala do supervisor parecia que tinha visto um fantasma.

—Eu já vou indo senhor.

—Entra aqui, eu te dou uma carona.

—Não muito obrigado, eu prefiro andar.

—Você mora aonde?

—Hell's Kitchen.

—Fiu! Você é muito corajoso.

—Obrigado pela consideração, eu já vou.

—Espera, não pensa em ir andando até Hell's kitchen, não é?

—Se me permite a franqueza senhor, isso não é da sua conta. Adeus senhor.

Larry disse isso e iniciou seu caminho para casa. Podia sentir os olhos de Lewis sobre si. De modo algum, ele iria estabelecer algum contato com o outro, não mais. No dia seguinte, ele preencheu outra carta de demissão. Subiu até a sala do supervisor e teve o cuidado de perguntar dos outros colegas, se o chefe tinha visitas. Após a resposta negativa, ele tomou coragem e entregou a carta.

O Supervisor reclamou do seu comportamento no dia anterior, e disse-lhe que se ele mesmo não estivesse pedindo as contas, provavelmente o demitiria. Larry ouviu tudo calado. Saiu da sala e pegou o elevador para voltar ao seu setor.

Quando a porta ia se fechar alguém entrou. Larry ficou em suspense. Lewis acabara de entrar. Continuava bem vestido e refinado, fazendo um contraste desgraçado cosigo, que usava uma malha surrada, de capuz e tênis. Ele cruzou os braços e baixou os olhos. Procurou passar despercebido, afinal este era o seu último dia naquela empresa.

—Eu te segui ontem. - Lewis falou isso tranquilamente, como quem canta uma musiquinha de memória.

—Por que fez isso? - Larry imaginava como poderia ter sido tão tolo para não perceber o BMW prata seguindo seus passos.

—Eu fiquei preocupado com você. Tive medo que pudesse ser roubado ou atacado naquele bairro barra-pesada. - Lewis continuava falando tranquilamente.

—Você é quem correu risco de ser atacado ou roubado dirigindo um BMW em Hell's Kitchen. Senhor.

—Veja, eu estacionei meu carro e peguei um taxi. Também não sou tão idiota. - A voz e o tom de Lewis pareciam estranhamente quentes.

Indicava familiaridade e intimidade. Inconscientemente, Larry fechou os olhos e suspirou. Quando abriu os olhos, Lewis estava diante dele.

—Larry, este é seu nome, não é? Você já teve a sensação de que encontrou algo muito valioso e importante, mas que não sabia dizer o que era? Eu tenho esta sensação desde que te vi. - Lewis parecia tão acessível, suave e sensual.

Larry teve que repetir mentalmente que ele não podia ficar com Lewis, porque iria fazê-lo tirar a própria vida. O outro ergueu a mão e tocou no rosto dele. Este teve que fechar os olhos para não sucumbir à onda de desejo e ternura que estava sentindo. Foi salvo pelo elevador, que abriu as portas, e uma enxurrada de pessoas entrou.

Ao chegar ao seu andar, Larry saiu rapidamente e procurou os seus pertences. Pensou em fugir mais uma vez, mas lembrou-se que Lewis agora sabia onde ele morava. Decidiu ser forte e enfrentá-lo, caso ele o abordasse novamente. Cumpriu o seu horário até o fim. Cumpriu as formalidades do setor de Recursos Humanos para o seu desligamento, e saiu da empresa com seu último salário.

Decidiu pegar um trem, para não ser seguido de carro novamente. Naquela noite Larry teve sonhos estranhos em que se afogava, entalado dentro de um carro. Acordou sufocado diversas vezes. Por fim desistiu de dormir e decidiu arrumar suas coisas para viajar na manhã seguinte. Saiu bem cedinho e foi para a rodoviária.

Após 24 horas de viagem chegou à cidadezinha do interior, onde moravam seus pais. Chegou a pé, com a mochila nas costas. De certa forma, fora um fracasso, mas ele sentia intimamente que havia vencido uma batalha. Seus pais o receberam de braços abertos. Falaram-lhe que seria bom retomar os estudos e conseguir um emprego por lá mesmo, pois a cidade grande era muito perigosa.

Larry dormiu bem naquela noite. No dia seguinte, acordou cedo e foi ajudar seu pai a cortar a grama. Por volta de 10 da manhã, um BMW prata estacionou na frente da casa de seus pais. Ele sentiu as pernas bambas quando Lewis, usando uma roupa esporte, desceu do carro e conversou com seu pai que foi recebê-lo.

—Larry, este homem diz que é seu amigo da cidade grande. Você o conhece?

—Sim, pai, eu o conheço.

—Fiquem à vontade, então. Eu vou entrar e descansar um pouco.

—Certo pai.

Lewis aproximou-se e estendeu a mão para Larry. Este apertou a mão de seu ex-futuro amante.

—Pensei que não fosse apertar minha mão. Parece que está sempre fugindo de mim.

Larry até pensou em negar, mas raciocinou que não adiantava mentir quanto a isso, então ele apenas sorriu.

—Você devia sorrir mais vezes.

—Como descobriu onde minha família morava?

—Recursos Humanos. Endereço para entrega do seguro desemprego.

—Eu fui descuidado.

—Nem tanto, se não tivesse dado o endereço de sua família, eu teria que embarcar no mesmo ônibus que você tomou anteontem.

—Não acha que isto já está indo longe demais?

—Acho. Olha só aonde eu vim parar. Você pode me ajudar parando de fugir de mim.

—Eu não sou uma boa pessoa. Eu vou te fazer profundamente infeliz.

—Estou disposto a correr o risco.

—Não somos do mesmo nível. Irei te envergonhar socialmente.

—Eu dou um jeito nisso.

Larry achou que deveria ser o mais honesto possível, para Lewis perceber a encrenca em que estava se metendo.

—Eu sou um maníaco sexual. Vou te trair com toda pessoa que encontrar pela frente.

O outro gelou. Ficou encarando-o sem dizer nada. Então deu meia-volta e dirigiu-se ao seu carro. Larry baixou a cabeça e sentou-se na escadinha da varanda. Então alguém segurou seu queixo e ergueu seu rosto. Lewis o olhou docemente e sorriu.

—Ouvi dizer que existe tratamento médico para este tipo de problema.

Eles então se sentaram lado a lado e ficaram com as mãos entrelaçadas. Naquela noite dormiram juntos no quarto de Larry, e no dia seguinte voltaram para a cidade de Lewis.

Quatro anos depois, Larry teve um sonho em que ele agiu muito errado com Lewis, levando-o a cometer suicídio. Acordou sobressaltado e suando frio. Somente acalmou-se quando viu o seu marido ao seu lado dormindo como um anjo. Abraçou-o e considerou-se o homem mais feliz do mundo, por viver ao lado daquele que ele mais amava.

Fim

Song: Condenados (Fátima Guedes)

Ah, meu amor, estamos condenados

Nós já podemos dizer que somos um

Nós somos um

E nessa fase do amor em que se é um

É que perdemos a metade cada um

Ah, meu amor, estamos mais safados

Hoje tiramos mais proveito do prazer

E somos um

Quando dormimos juntos, sonhos separados

Que nós não vamos confessar de modo algum

Ah, meu amor, ah, meu amor

Quantas pequenas traições

Pobres mentiras diplomáticas

De puras intenções

Estamos condenados

Ah, meu amor, de discretos pecados

Formamos esse ser tão uno divisível

Parece incrível

Que nós tentemos que ele dure eternamente

Nessas metades incompletas

Mas decentes.


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Notas finais do capítulo

Essa música é muito romântica. Na minha cabeça ela é totalmente Yaoi, embora eu ache que a Simone a imagine Yuri.