Everybody Lies escrita por Livis


Capítulo 1
everybody lies [...] it's the only truth sometimes


Notas iniciais do capítulo

Música da fanfic: http://www.youtube.com/watch?v=xYN3GZ0316Y
Recomendo ler ouvindo ela. Boa leitura. ^^



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"- Eu não preciso da sua ajuda para levantar algumas facas. – ela praticamente rosnou, retirando rapidamente as facas do chão e afastou as mãos dele delas. – Eu sei me virar.

Cato sorriu com o mesmo tom malicioso de sempre.

– Então, - o sorriso dele se abriu. – tente ser menos desastrada.

Ela o fuzilou com os cenhos franzidos até ele indo para a área de espadas, xingando-o mentalmente e dizendo a si mesma que ele havia feito aquilo somente para irritá-la. Ele sempre fazia isso, não era para ela se surpreender, afinal, ela já devia ter se acostumado."


***


Clove se lembrava de exatamente como foi o dia da Colheita que a fez parar nesta situação. Como isso pode acontecer? Ir para os Jogos Vorazes, ela sabia o porquê e não achava tal coisa ruim como os outros, mas não porque tinha que ser justo com Cato. Ela está pagando por seus pecados, talvez? Ela tinha muitos a pagar, de verdade, mas isso já era demais.

Olhou para suas mãos vazias, sem nenhuma faca na mão, o que a fez se sentir ainda mais desolada. Facas a ajudavam a esquecer do mundo, era uma sensação gostosa tê-las em suas mãos, transmitia poder, determinação e ninguém, ninguém mesmo, ousaria desafiá-la com elas em suas mãos.

É claro, a não ser que esta pessoa queira ter sua garganta perfurada.

Mas Cato ousava e ia muito mais além do limite. E para o terror de Clove, esse passatempo de irritá-la virou uma rotina desde a Colheita, agora que ficavam juntos praticamente 24hrs por dia.

Mas hoje, ela esperava, isso acabaria.

Na arena ele não teria tempo de fazer suas brincadeirinhas contra ela, afinal, eles são aliados e ambos são Carreiristas. Só há duas preocupações dentro da arena: matar ou ser morto. Fim.

Clove se sentou no chão do telhado, – o que era estranho, pois ele deveria estar fechado –, contemplando o céu escuro e estrelado a cima, abraçando suas pernas como uma garotinha assustada. Colocou sua cabeça apoiada nos joelhos, encarando a vista grandiosa da Capital sem uma expressão sequer, com o olhar vidrado nas luzes infinitas que viam de todos os cantos e também vendo o campo de força que cerca o telhado.

Fechou os olhos por um instante, mentalizando tudo que faria amanhã e nas próximas semanas, incluindo vencer. O rosto pequeno e pálido do irmão surgiu em sua cabeça, ouvindo-o sussurrar em sua mente: “você irá vencer”. E ela também podia ouvir sua resposta. Com certeza, eu irei vencer. Eu juro. E ela não iria decepcionar seus pais, muito menos seu irmão mais novo. Mas os pensamentos travaram e agora o que restava em sua cabeça era: Cato. Cato. Cato.

Desde a vez que esbarrou nele na academia do Distrito 2, desde a vez que seus corpos ficaram colados, desde a vez que seus lábios ficaram a centímetros de se tocarem. Balançou a cabeça bruscamente, querendo afastar aqueles pensamentos à força de sua mente, mas era praticamente impossível. Ou não era? Ela realmente não sabia se conseguiria esquecê-los.

– Posso?

Clove abriu os olhos, girando o corpo e encontrando-se olhando bem para as pernas de alguém, levantou a cabeça e viu aqueles olhos azuis e tempestuosos a encarando.

Pela primeira vez, não havia nenhum sorriso malicioso ou debochado em seus lábios, não havia nenhum sorriso, absolutamente nada. Ele ergueu a mão para ajudá-la a se levantar, mas ela o ignorou totalmente, se levantando por conta própria.

– O que você faz aqui? – perguntou colocando os braços sobre o peito, em parte por estar um tremendo frio no telhado e outra por ser um pijama bem folgado e com decote.

Ele parou para pensar um pouco, provavelmente pensando em algum comentário desagradável e irônico para esta situação, pensou Clove.

– Esquecer um pouco da pressão que vai acontecer amanhã. – respondeu, surpreendendo-a por não ter sido nenhum comentário irritante e o seu tom de voz estar calmo, sem nenhum deboche. – E você?

– A mesma coisa que você.

Cato balançou a cabeça, concordando.

Por um longo momento, não abriram a boca para nada, deixando uma sensação terrivelmente desagradável instalada no peito de Clove. A única coisa que restava era novamente contemplar a paisagem que o telhado lhes proporcionava, ficando bem na ponta para ver tudo em uma dimensão mais extraordinária. Mesmo a vista sendo uma das coisas mais fantásticas que Clove já viu, isso não a fazia esquecer a presença de Cato ali, especialmente com o braço dele roçando suavemente no seu, fazendo-a conter o impulso de afastá-lo ou simplesmente chegar mais perto dele, no fim, apenas optou por indiferença e continuou a onde estava, fingindo que não havia mais ninguém ali sem ser ela.

Mas isso durou por pouco tempo.

– Eu vou embora. – ela disse, encaminhando-se até a porta do telhado.

Um peso gigantesco pareceu estar saindo e outro mais estranho ainda sendo colocado sobre o corpo de Clove enquanto seus pés andavam para longe de Cato, em direção à porta, mas algo fez frear seus pés imediatamente. Cato havia segurado seu braço com firmeza, não a ponto de machucá-la, mas de modo que ela não se livrasse dele tão cedo.

Clove ficou confusa com o toque sobre sua pele de repente, mas depois de ver Cato seu rosto mudou de surpresa para raiva, franzindo o cenho. Mas sabia que o toque havia deixado seu rosto corado.

– Me solta. – ordenou.

Cato continuou parado, segurando seu braço com a mesma firmeza.

– Não irei. – falou. – Até você me escutar.

Era novamente a vez de Clove ficar confusa. O que ele queria falar com ela? O que ela tinha que escutar dele? Outras ofensas? Não, dessa vez não. Ela não deixaria. Balançou o braço com força, ao contrário do que pretendia, não teve efeito nenhum.

Ela revirou os olhos.

– Não quero escutar as merdas que você tem pra me falar, está bem? – ela rosnou para ele, deixando mechas negras caírem em seu rosto. – Eu não quero nada de você!

Cato abriu um sorriso meio debochado, meio sedutor.

– Não mesmo? – ele perguntou com o sorriso aumentando conforme as palavras. – Então porque sempre que você me vê olha para baixo, sua pupila se dilata quando me olha nos olhos e depois, sempre, tenta evitar o meu olhar?

Clove sentiu seu rosto queimar. Como ele sabia de tudo isso? Não, não, essa não era a pergunta certa. Como ele teve coragem de inventar tudo isso? Ela não agia assim quando estava perto dele e se agia, era porque ele era ridículo demais para ela olhá-lo.

O que era uma mentira absoluta. Ela não gostava de vê-lo olhando-a nos olhos, se fosse para olhá-lo, o que muitas vezes ela se encontrava fazendo, era a distancia. E tendo um ideia repentina na cabeça, Clove abriu um sorriso vitorioso.

– Pelo jeito você repara muito em mim. – respondeu erguendo a cabeça. – Até demais para uma pessoa que você tinha chamado de anã.

O sorriso dele se esticou, indo de orelha a orelha.

– Talvez eu repare mesmo.

Ela balançou o braço com mais força, e finalmente, conseguiu fazer Cato largar seu braço, enquanto ela o fuzilava com os olhos.

– Por que você está fazendo isso?! – ela praticamente berrou. – O que você quer? O que você realmente quer? Basta! Amanhã seremos jogados em uma arena, iremos matar e correr risco de morrer e você fica...

Clove parou de falar de repente, sendo jogada em uma das paredes, com a mão de Cato sobre sua boca, impedindo-a de falar. O máximo que conseguia agora era resmungar e fazer sair sons abafados e pouco entendíveis.

– Clove – ele meio sussurrou, meio falou em seu ouvido, causando breves arrepios nela pela voz rouca e os lábios tão próximos. – Me escute pelo menos uma vez na vida. E essa pode ser nossa última chance. Não a desperdice, por favor.

O tom de voz a surpreender mais uma vez, quase como se ela implorasse. Realmente, agora ela estava conhecendo outro Cato, um Cato que ela sempre teve uma curiosidade absurda e esperança de conhecê-lo e agora, ele estava bem na sua frente.

Cato vendo que ela havia parado de resmungar e o corpo ficado menos tenso, soltou sua mão da boca dela e se distanciou um pouco, cabisbaixo.

– O que você quer? – ela repetiu com uma voz calma e apreensiva, se reencostando mais uma vez na parede e escorregando lentamente até o chão esperando sua resposta.

Ele parou um pouco, tentando achar as palavras certas e pelo jeito, estava sem sucesso.

– Não sou bom com esse tipo de coisa.

Clove franziu a testa, confusa.

– Como assim esse tipo de....


We do what we have to when we fall in love


Novamente suas palavras foram barradas, mas dessa vez não foi por ter jogada contra uma parede ou por ter tampado sua boca, mas sim por um beijo.

O toque dos lábios foi rápido, mas intenso, causando uma queimação no corpo de ambos, mesmo não sendo um beijo demorado. Mas foi o suficiente para deixar Clove estupefata.

Ela se levantou junto com Cato, ainda o olhando perplexa.

– Mas... O que? – perguntou incrédula. – Eu pensei que você me odiasse... Eu...

– Clove, todo mundo mente.

Everybody lies, lies, lies


Estranhamente, agora ela não queria saber mais de nada, nem dos Jogos e a única coisa que estava capacitada e que seu corpo mandava fazer era simplesmente: ficar com Cato. E ela o fez, se aproximando dele lentamente, abraçando-o e encostando sua cabeça sobre o peito dele, se refugiando em seus braços por alguns segundos. E ele havia deixado, levando-a o máximo que podia para mais perto, como se quisesse que ambos se tornassem finalmente um só.

For better, or for worse, for the happy, for the hurt.


Os únicos pensamentos que restaram de ambos, todos foram por água abaixo, os tremores naquele momento não existiam mais. O medo, a desesperança, as promessas, os juramentos, simplesmente se dissiparam e agora a única coisa que eles realmente podiam sentir eram seus toques em um ao outro. Ela poderia ter se afastado, negado, falado que tudo não passava de um erro, de uma desilusão, negar para ela mesma e para ele que não sentiam nada. Mas isso era demais, a única coisa que pode fazer foi corresponder e entrelaçar seus dedos nos dele, com medo que ele a soltasse e a abandonasse.

Everybody lies

It’s the only truth sometimes


Mas ele nunca a abandonaria, nem que fosse em seu leito de morte.


Everybody lives

and

Everybody dies



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Notas finais do capítulo

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