E eu respirei fundo, deixando a brisa invadir meus pulmões enquanto eu caminhava.

Olhei ao redor já sem esperanças de ver algo decente, e assim foi. Meus olhos passearam por toda a paisagem demorando-se, atentos a cada detalhe, nada passou em branco; as moradias precárias feitas de tijolos ao lado de majestosos edifícios, calçadas malfeitas e rachadas com enormes buracos que dificultavam a passagem terrivelmente, e pessoas passando sorridentes, o que me fez rapidamente desviar o olhar.

Por fim resolvi apreciar ao céu, ela era nublado com o sol completamente escondendo com se estivesse abandonado seu companheiro, mas de algumas forma sua ausência era reconfortante e ao mesmo tempo deprimente, ela me trazia certa indisposição e retração mas era como se eu gostasse disso de uma forma que nem eu mesma era capaz de entender.

Eu continuei caminhando, evitando todas as faces sorridentes e tentando profundamente ignorar a onda de tristeza que ameaçava tomar conta de mim e me dominar completamente.

Meus passos ganharam velocidade e eram cada vez maiores, eu estava cansada, cansada de todo o sofrimento que aguentei imóvel e silenciosamente. Antes que eu pudesse notar já estava correndo como uma verdadeira louca, fugindo de um inimigo inexistente, que na verdade não chegava a ser alguém e sim algo, algo causado por mim mesma e que não me deixara ter paz não importando o quanto eu tentasse me livrar desse fardo. Ele era um fantasma que jamais me largaria.

Eu podia ver as pessoas que ultrapassava assim como ouvir seus respectivos comentários, o que não contribuía para meu estado emocional, mas apesar delas continuei a correr com todas as forças que me restavam sem hesitar em continuar.

Já estava tarde e eu sabia que corria há um bom tempo, reduzindo e acelerando durante a maratona mas sem parar sequer uma vez, uma hiperatividade em dominava e me mexer parecia a única forma de me expressar.

As lembranças vinham e contribuíam para o nó que se formava em minha garganta e a minha vontade cada vez mais forte de gritar.

Eu estava quase desabando até que parei abruptamente e por impulso próprio meus joelhos aterrissaram no chão. A dor me consumia tão intensamente que chegava a ser física, meu coração batia acelerado e eu estava tomada por uma angústia sufocante de uma forma que parecia difícil e doloroso até mesmo respirar.

Eu fiquei no chão por algum tempo não sei quanto mas quando estava pronta para levantar senti uma presença se aproximar por trás e vi pelo canto do olho um vulto vindo em minha direção, finalmente engoli o choro e voltei a correr com uma determinação ofuscante de sair dali viva.