Capítulo 5 – Aproveitando o tempo perdido.

-Valeu seus putos – Jimmy agradeceu enquanto batia a porta do conversível de Matt – vejo vocês mais tarde!

O sol estava bem no meio do céu de Huntington Beach – o que significava que ainda não se passava do meio-dia, com certeza. - James havia dado alta do hospital há poucos minutos, e a pedido dos amigos, mais tarde eles iriam aproveitar todos esses 10 longos anos perdidos.

-Rev, presta atenção... – disse Johnny entredentes encarando seriamente o amigo – nós estaremos aqui na frente da sua casa às 16 horas, entendeu? 16 horas em ponto! – repetiu pausadamente o que fez James bufar.

-Vocês sabem que eu nunca me atrasei! Quem sempre se atrasava era a Synderella. – disse gargalhando alto.

Brian deu um sorrisinho irônico antes de mandar carinhosamente o dedo do meio ao amigo.

-Ah, qual é... – tentou se defender – esse cabelitio aqui não fica pronto em 1 hora. – deu de ombros.

Matt respirou fundo antes que falasse alguma coisa idiota.

-Ok, vamos embora que eu estou com fome – ordenou Zacky batendo na sua “pequena” barriga – ah, Rev, você ainda sabe fazer aquele canelone que eu amava? Sei lá, eu...

Nesse momento, Matt avançou com o carro fazendo com que Zee batesse com as costas no banco macio. O gordinho deixou escapar um palavrão dos seus lábios enquanto se ajeitava no conversível.

Jimmy viu o carro se afastar da sua calçada e logo se virou, encarando a sua antiga casa. Mas como o destino às vezes – e na maioria das vezes – prega uma peça nas pessoas, ele deu de cara com a ultima pessoa que queria ver na face da terra: Leana Silver.

Ela estava lá, parada em frente à porta azul com os braços cruzados.

O sol batia nos cabelos da loira dando destaque a raiz mal retocada. Dessa vez, Leana viera sozinha, sem o homem alto que andava com ela da ultima vez em que Jimmy a encontrou.

-O que você está fazendo aqui, Leana? – perguntou James enquanto se aproximava. Seus punhos estavam cerrados e a testa franzida.

Ela se encolheu um pouco devido à agressividade das palavras do baterista.

-Jimmy, nós temos que conversar...

-Não Leana, nós não temos mais nada para conversar... – disse enquanto tirava as chaves do seu bolso – agora, se me dá licença.

-Não Jimmy... – Leana agarrou o punho do seu antigo amor, o que o fez automaticamente virar para encarar a loira – deixa eu pelo menos explicar o porquê...

-O porquê você me traiu? – O garoto adivinhou as palavras da mulher – o porquê você não quis tudo o que eu te dei? Sinceramente Leana, pode falar... eu não era bom o suficiente para você, era?

Leana suspirou impaciente

-Olha Rev, eu sei o quanto você me ama...

-Amava – corrigiu – o quanto eu te amava...

-Eu sei o quanto você... me amava... – se corrigiu com certa dificuldade na voz – e eu agradeço de verdade por você ter me tirado daquela vida, mas...

-Mas... – a incentivou fazendo gestos com as mãos.

- Mas eu não te amava – cuspiu as palavras com uma voz um pouco tremula.

Jimmy deu um sorrisinho fraco, não acreditando no que a sua ex-mulher acabava de dizer.

-Então porque você ficou comigo durante todos aqueles anos? – perguntou sentindo uma faca entrando no seu coração.

-Por que... por que... – ela vacilou – porque você me tirou daquela vida, entende? E eu até que gostava de você, mas não como marido, sabe? Você até que era bom na cama... – disse tirando uma mecha de cabelo que caiu no seu rosto.

Até que era bom na cama. Essas palavras reviraram na cabeça de Jimmy até que ele finalmente falou:

-Você continua a mesma vagabunda de sempre, Leana. – disse num sussurro matador, que fez a loira tremer dos pés a cabeça.

Ela sentiu seus olhos ficarem marejados e contorceu a boca, fungando logo em seguida.

-Eu não sabia que você era tão...

-Leana, por favor... você me trai e ainda quer que eu reaja bem? Pelo amor de deus. Agora saia daqui... eu tenho mais o que fazer. – disse enquanto destrancava a porta.

-Não Jimmy, por favor...

Ele a ignorou e bateu a porta atrás de si.

(...)

A sua casa continuava a mesma de sempre – embora tivesse um pouco mais organizada do que geralmente era.

Os dois sofás continuavam encostados um em cada parede, a televisão antiga continuava a frente da tv e as bebidas... bem, as bebidas continuavam lá na estante.

Por um momento pensou se aquilo – a limpeza – era coisa da sua mãe ou os seus amigos haviam sido rápidos demais e tinham contratado alguém para limpar a casa – já que os inúteis não conseguiriam nem lavar um prato sequer.

James sentiu o seu coração apertar quando pensou na possibilidade de seus pais terem vendido as suas roupas.

-Não, eles não fizeram isso...

Foi à única coisa que ele conseguiu falar antes de literalmente voar até o seu quarto.

Quando ele entrou no local, sentiu algo estranho dentro de si. A cama continuava minuciosamente arrumada com as suas cobertas preferidas – exatamente do mesmo jeito que estava há 10 anos – as fotos dele junto a Leana continuavam espalhadas por todos os lugares: porta-retratos, parede, guarda-roupa e até mesmo na janela de alumínio.

Ele quis rasgar todas de uma vez só, uma por uma, pedaço por pedaço, assim como fez com a mulher que o iludira durante tanto tempo. Mas não, ele se conteve e voltou ao seu pensamento inicial: as suas roupas.

Jimmy abriu cuidadosamente o armário e logo a sensação de alivio tomou conta do seu corpo quando ele viu que as suas roupas continuavam ali intactas.

Ele as observou durante algum tempo antes de perceber que tinha que se arrumar para sair com os amigos.

-É... vai ser um longo dia... – disse enquanto pegava a sua camiseta preferida.

(...)

Matt, impacientemente, buzinou três vezes depois de ter estacionado o carro na frente da casa do James.

Por mais que os garotos estivessem vendo Jimmy colocar o casaco, o baterista insistiu em gritar “já estou indo”.

Ele não deixou de sorrir quando viu que o lugar ao lado de Matt estava vazio, proposicionalmente a sua espera.

-Então meninos, aonde nós vamos? – perguntou Rev enquanto entrava no carro.

-Nós vamos ao... – Johnny começou a falar, mas logo foi interrompido por Brian.

-Shhhhhhh – o guitarrista solo chiou pondo o dedo indicador a frente dos lábios.

-CALA A PORRA DA BOCA, ANÃO MALDITO! – resmungou Brian entredentes – VOCÊ QUER ESTRAGAR A SURPRESA?

Johnny se encolheu no banco e fez beicinho.

Jimmy ficou meio confuso, mas decidiu entrar no carro e ver o que os seus amigos iriam aprontar dessa vez.

No rádio, a música Garota na chuva tocava distraindo todos dali. Bem, quase todos, afinal Jimmy sempre foi uma pessoa muito curiosa. Ele imaginava 1001 possíveis lugares.

É, quem diria que a cantora brasileira Edinéia Macedo iria fazer sucesso até nos Estados Unidos? Zacky particularmente amava a parte “No inverno faz frio, você me conforta, e me aquece com muita atenção.” Ele não parava de fantasiar Brian sussurrando isso em seu ouvido.

Matt dobrou a esquerda quando viu a placa de “Parque a 1 km”. Na sua visão, James iria gostar muito de ver os seus novos amiguinhos.

Zacky cantarolava a música alegremente no banco de trás. Ele parecia uma criança com a boca toda suja de chocolate.

-Pra onde nós estamos...

- GAROTA NA CHUVA... OU NO VERÃO... GAROTA NA CHUVA... SÃO AS QUATRO ESTAÇÃO – cantou Brian mais alto, ignorando a pergunta do amigo.

-Pessoal, pra onde nós...

-NA PRIMAVERA ESTOU ENTRE AS FLORES, VOCÊ DIZ QUE EU SOU A MAIS CHEIROSA E A MAIS BONITA QUE TEM NO JARDIM... – Brian se animou de verdade com aquela música. Cogitava até em comprar o cd dessa tal Edinéia Macedo...

-Estamos quase chegando Rev! – Matt conformou o amigo que olhava para todos os lados da rua pouco movimentada.

-Já chegamos? – perguntou Jimmy.

-Não, ainda não... – respondeu Brian calmamente.

-E agora?

-Ainda não Reverendo... – Johnny repetiu.

-Tá, agora nós chegamos, né?

-Não James... – disse Zacky entredentes.

-Hum, agora pela demora nós...

-CHEGA, CHEGA, CHEGAAAAAA! – gritou Matt indignado – NÓS JÁ CHEGAMOS JIMMY. PRONTO!

Rev fingiu estar ofendido, mas logo se animou quando viu todos saírem do carro.

A praça continuava a mesma. A grama verde, o enorme projeto de lagoa bem o centro, e claro, a nova geração de patos ainda se banhava lá.

James não se aguentou por muito tempo. Quando viu os seus lindos stallion’s duck começou a correr e a gritar. Novamente.

- Olha o tamanho desse pato, caralho! OLHE QUE PATO! Jesus Cristo. Vem cá seu pato gigante! Ele não tem medo de nada! Ele não tem medo de nada!... Ele não está nem um pouco assustado! Essa é a maior merda de pato eu já vi na minha vida.

Os meninos riam como se fosse a primeira vez que estivessem escutando aquilo. Não era de se espantar que Jimmy continuasse com a sua obsessão por patos.

E Rev ficou lá, conhecendo a nova geração de stallion duck.

(...)

Estavam todos sentados em um circulo, na sala de Matt. Já era tarde, e o sol se esparramava pelo horizonte deixando o céu alaranjado.

-Então Jimmy – Matt disse trazendo algumas garrafas de cerveja nas mãos – você ainda nos deve muitas explicações!

-Como, por exemplo... – incentivou o amigo vendo o vocalista se jogar no sofá branco.

-Onde você esteve durante esses anos. – completou Brian.

James começou a rir descontroladamente, o que fez os garotos se olharem confusos.

-Vocês não vão nem acreditar onde eu estava - disse em meio as risadas – Eu estava numa ilha deserta... Nunca alguém ouviu falar dela.

-E você descobriu como? – perguntou Zacky incrédulo – pelo o que eu me lembre, você não era muito fã de geografia...

-Bom, eu a descobri quando nós fomos fazer um passeio de barco, lembram? Que até a Valary passou mal.

-Eu não me lembro de ilha nenhuma... – disse Johnny dando de ombros.

-Será que era por que... VOCÊ ESTAVA BEBADO QUE NEM UM DOENTE? – perguntou Jimmy exagerando na ultima frase.

O gnomo fez beicinho e se ajeitou no chão da sala.

-Mas eu não quero mais falar sobre isso... – disse Jimmy ficando cabisbaixo – quero esquecer que eu cometi essa burrada toda.

Matt sorriu.

-É, é melhor mesmo... – concluiu Zacky.

-Bom pessoal, vocês já decidiram quem será o baterista? Pelo o que eu saiba vocês tem show nesse final de semana, certo?

Todos se entreolharam.

-É, nós temos um show aqui em Huntington Beach... – disse Brian sorrindo confiante – e quanto ao baterista...

-Simples! Eu sou o único baterista da banda! – disse Arin entrando sem permissão na casa de Matt.

James se virou sentindo toda a sua raiva brotar em seu corpo.