A praia não ficava muito longe de onde estávamos, por isso chegamos muito rapidamente no nosso destino. Sim, estamos cansados, com poucos suprimentos e andando de acordo com a localização dada por um vegetal monstro falante( Expliquei tudo para as garotas durante o caminho, resumidamente é claro e pulando as partes que envolviam Diandra [Ela também ficou aliviada por eu ter feito isso...]). Estamos todos encarando o mar, há mais ou menos dez minutos enquanto Bartman e Madu discutem algo em sussurros, sempre analisando o mar... O mar me traz sensações diferentes das que eu normalmente sinto... Ele me traz uma paz misturada a um temor, que...
- Pronto- E lá vem alguém interrompendo minha linha de pensamento... Bartman- Já decidimos como vamos fazer.
- Mas afinal o que vocês vão fazer o que?- Pergunto, cheio de duvidas e incertezas.
Bartman sorri para Madu e esta a retribui com uma cara de indiferença. As duas levantam as mão, muito concentradas... A atmosfera está tensa, em completo silencio... Creio que deve ser um poder escondido muito obscuro, algo tão poderoso e antigo quanto o próprio mar... A água borbulha, como se estivesse fervendo e de repente, a surpresa.... Rosa. Um carro rosa emerge na superfície, cheio de lantejoulas grudadas em suas portas e pinturas fru fru do tipo “menininha que ama rosa”
- Eu ODEIO viajar nisso!- Replicou Madu- É uma coisa tão... Tão rosa!
- Ai gente é lindo!- Replicou Bartman, feliz e contente com o carrinho de boneca do mar- Papai deu para nós...
- DEU PRA VOCÊ!- gritou Madu interrompendo- EU ODEIO ROSA!
- Enfim, que seja!- Diz Diandra, encerrando a discussão- Mas afinal, por que isso é tão perigoso? Além disso, isso vai nos levar até a Grécia?
- Ah esqueci-me de mencionar essa parte... - Diz Bartman sorrindo- Esse carro não funciona a gasolina, e sim a base de sucção de fragmentos de alma de semideuses... Quanto mais próximo dos três grandes, mais rápido ele vai!
- Tipo, porque o pai de vocês não deu um carrinho de controle remoto ou uma Barbie sereia, sei lá!- Replica Gazzoni- Isso é um carro da Barbie sugador de almas!
- Sim, mas é bem rápido!- Diz Bartman.
- É, mais consome parte da nossa alma...- Contradiz Diandra- Não podemos chegar lá na Grecia fracos!
- Exato, mas fragmentos de alma são diferentes de pedaços da alma- Digo, tentando apoiar a ideia... Não temos muitas escolhas, certo?- Fragmentos de alma se recuperam com descanso, só nos deixam um pouco mais fracos...
- Se for assim, as duas filhas de poseidon que cedam esses fragmentos- Diz Gazzoni- Quer dizer, elas tiveram a ideia. Eu nem me ofereço porque sou filha de Atena! Minha energia não vai ser suficiente.
- Nós não podemos, precisamos de energia e concentração para dirigir- Responde Madu- É complicado, sabe? Eu dirijo e essa coisa que eu chamo de irmã é tipo o GPS...
- Ei, não me chama assim, ok?- Reclama Bartman.
- Que seja gente- Digo antes que uma confusão se inicie- Eu me ofereço então...
- Não- Diandra se adianta com extrema rapidez- Você é o líder. Você não pode ficar sem energia. Aliás, eu sou filha de Zeus, minha energia é bem maior que a sua... Você não pode morrer.
- Se você quer dar uma de gerador de energia, não sou eu que vou impedir- Digo, grosseiramente. As atitudes de Diandra estão cada vez mais estranhas...- E além disso, você está certa. Eu não posso morrer, se não Monique morrerá.
- Você só se importa com Monique- Dispara Diandra com raiva e com um sentimento a mais em seu coração, posso sentir- Eu estou me oferecendo pra dar parte da minha alma POR VOCÊ e você me trata dessa forma?
- Para começar, Filha de Zeus, eu não te pedi para se oferecer- Digo explodindo. Mas que tipo de pessoa age assim? Eu não disse nada demais- Além disso, você sabe que não está fazendo isso por mim e sim pela missão que se comprometeu a participar! Você não gosta de mim, só é minha amiguinha pois seu pai e os outros estão em perigo e dependem de MIM para se safar, ok?
Todas olham para mim, boquiabertas e em seguida olham para Diandra. Ela cerrava os punhos, com extrema raiva... A qualquer momento um raio cairá do céu e me atingirá, APOSTO!
- Vamos logo- Disse Diandra, simplesmente... Ela entra na parte de trás do carro, sem dizer mais nada.
Todas entram em silêncio... Acho que peguei pesado demais com ela. Aliás, acho que SEMPRE pego pesado com ela. Entro no carro, cabisbaixo... Acho mesmo que preciso me redimir com Diandra... Ela está sentada ao meu lado, em silêncio, evitando olhar para mim.
- Diandra...
- Gabriel, você já não acha que disse o suficiente?- Bartman me repreendeu. Não contradigo, afinal estou errado- Diandra querida encoste sua cabeça no banco e relaxe.
Ela obedeceu e um brilho esverdeado a envolveu. Madu deu partida no carro e aqui vamos nós, o carro rosa da diversão com clima tenso... Alegria no ar. Fico pensando nessas horas o que me dá na mente de falar essas coisas.... Será a raiva de Zeus que me faz trata-la dessa forma? Quer dizer, eu não quero trata-la assim. Quando estou perto dela, me sinto diferente. Digo, diferente não de forma ruim, mas de forma boa. Mas SEMPRE que abro a boca tentando dizer algo bom, sai um fora ou uma coisa ruim! Será que pelos seres da superfície isso tem nome? Fico aqui pensando e agora percebo que já se passou um bom tempo, estamos no meio do oceano, nenhuma terra a vista. Somos um ponto rosa numa vastidão azul. Acho que está na hora de pedir desculpas a Diana.

- Diana, eu... Eu quero lhe pedir desculpas. Sinceramente, eu não gosto de te tratar assim- Sussurro em seu ouvido... Não quero que as outras semideusas zombem de mim!-  Eu não sei o que dá em mim quando vou falar com você... É mais forte do que eu.

Sabe quando a pessoa não está dando a mínima para o que você diz? Então, ela está dormindo. Creio que seja o carro... Ela está pálida, pior que os mortos do mundo inferior.  Coloco a mão sobre o seu pescoço... Viva, mas muito fria!

- Hã, Madu... É normal a Diandra estar mais fria que um morto?- Pergunto... Consumir fragmentos de alma normalmente não exige tanto de um semideus- Quer dizer, ela está muito pálida...

- Porque você está se preocupando mesmo Gabriel?- Pergunta Madu num tom irônico e de raiva- Ela só é sua amiga porque precisa de você. Aliás, acho que todas nós somos suas amigas porque precisamos de você, não é?

- Você não entende Madu... Eu... Eu- Como explicar o inexplicável? EPA! O carro dá um tranco....

Parece que batemos em algo, mas não há nada em nossa frente! Paramos do meio do nada.

- Isso é...

- Cala a boca Gabriel!- Disse Bartman- Madu, querida irmãzinha, QUE DIABOS ACONTECEU??

- EU NÃO FAÇO A MINIMA IDEIA!- Gritou Madu com raiva- Você tá fazendo isso certo?

- Claro que sim!- Observo um borbulhar estranho na água...- Guiar é uma coisa que até um cavalo faz!

- Mas você nem isso consegue fazer direito, Cabeça de cavalo marinho!- Urrou Madu... Uma sombra começa a se projetar na frente do nosso “barco”...-  VOCÊ NOS DEIXOU A DERIVA!

- Hã... Meninas...- Tento dizer apontando para nossa frente enquanto aquilo toma forma...

- As duas vão pro Hades e resolvam isso AGORA! EU to MANDANDO!- Gazzoni entra na discussão, ignorando meu aviso.

- Filha de Atena, você não está fazendo NADA aqui!- Retrucou Madu irritada... Parece um monstro enorme...

- Meninas...- Tento de novo apontando para o monstro, que nos observa...

- É CLARO QUE NÃO ESTOU, MEUS DOMINIOS NÃO SÃO SOBRE AS ÁGUAS, SUA CABEÇA DE MARISIA!- Gazzoni se irrita...

- Garotas...

- O QUE FOI GABRIEL?- Gritam as três em uníssono olhando em minha direção.

- Nada não... Só tem um monstro marinho gigante nos observando- Digo sorrindo e apontando.

Elas olharam para onde apontei e quase berraram.  La estava, um monstro escamoso de aparência horrenda, parecia um dragão bem grande, cheio de escamas e  uma fumaça azul que escapava de seu nariz...

- Olá krakenzinho do nosso coração...-  Bartman falou nervosamente- Você ainda não está zangado com nós, está?

O monstro continuou a nos olhar friamente, parado, decidindo se iria ou não nos atacar...

- É, nosso bichinho lindo- Continuou Madu falando com o Kraken- Não é porque nós te banimos do reino subaquático para o tártaro uma vez que você vai nos matar, certo?

- Agora faz sentido porque já me lembro de ter visto esse bicho antes... - Digo, compreendendo a situação- Vocês...

- Longa história, sem explicações agora- Corta Madu encarando o monstro- Mas porque nosso carro não pega?!

- Ele ficou submergido no Rio Estige no tempo que esteve no mundo inferior- Explico- Quando isso acontece com monstros e eles sobrevivem, são capazes de drenar a energia ao seu redor...

O Kraken rugi, e Diandra abre os olhos na mesma hora... Ela nem pergunta o que está acontecendo, simplesmente pega de imediato sua lança e a eletriza... O Kraken ataca e Diandra levanta-se rapidamente de seu assento, fazendo uma manobra ágil e indo parar no teto do carro... Movimenta sua lança e atinge o monstro com um raio antes que suas mandíbulas mortais se quer  chegassem perto do nosso carro... Ele urra de dor e cai para trás, causando uma série de ondas e movimentações... Vejo Madu e Bartman mexerem as mãos e de alguma forma ficamos parados em meio toda aquela movimentação. O monstro levanta-se furioso e investe contra Diandra, que novamente o atingi com um raio, mas ela erra, pois ele esquivou e a pegou com as mandíbulas... DIANDRA! Levanto-me do carro, mas então me surpreendo ao ver o corpo de Diandra intacto sendo balançado de um lado ao outro... Então um raio atinge o monstro. E mais outro. E uma sequencia de pelo menos vinte raios que surgem do céu, que está se fechando numa tempestade raivosa... Finalmente ele larga Diandra e cai nas profundezas do mar, não sei se morto ou tonto, mas não importa! Me jogo no mar e pela primeira vez sinto a água salgada tocar em meu corpo... É uma sensação estranha, pois sinto que não sou muito bem vindo por ali e que estaria morto se Madu e Bartman não estivessem ali, controlando a correnteza, mas nado como se não houvesse amanhã! Se Diandra morrer, nunca vou me perdoar, realmente não haverá um amanhã para mim... Por que? Não sei. Mas sinto isso. E nado com todas as forças que tenho. Mas porque não ajudei Diandra? Aliás, é culpa minha. É tudo culpa minha. Alcanço seu corpo, que boia na superfície... Observo seu rosto... Sua beleza continua inalterada e consigo sentir sua vida bem ao longe...

- Diandra... Por favor... Acorde- Sussurro em seu ouvido...  Sua pulsação está muito baixa- Por favor, acorde! Você é uma filha de Zeus, é mais forte que eu, admito... Eu não me importo que jogue na minha cara que sou fraco, só abra os olhos...

E finalmente, ela... Ela dá o último suspiro de vida. O céu se fecha em nuvens negras, trovões fazem tudo estremecer... Seu pulso some e sinto sua alma sendo puxada... Ela... Ela não pode morrer. Lágrimas. Isso é o que escorre no rosto do filho de Hades nesse momento... Culpa? Não, acho que isso tem outro nome... Como vocês da superfície chamam mesmo? Ah claro...

- Diandra, você não pode morrer...- Não é um pedido, é um apelo... Só de pensar que vou perdê-la, meu coração sofre de aflição... O nome disso?- Eu... Eu te amo.

Amor. Finalmente achei a definição para o que estou sentindo! E como prova disso, toco meus lábios aos dela... Eu a beijo. Um turbilhão de coisas passa em minha mente agora e começo a sentir meu corpo estremecendo... Sinto a morte se afastando... Minha energia das trevas combinada a energia de Diandra simplesmente afastaram a morte... Abro os olhos ainda com os lábios nos dela e finalmente, ela abre os olhos... De inicio ela se assusta, mas agora ela envolve os braços em torno do meu pescoço e se entrega ao beijo, assim como eu.

- Diandra, eu...

- Não importa o que aconteceu antes... Importa o que está acontecendo agora- Diz ela, me interrompendo.

Sorrio e olho bem no fundo de seus profundos olhos azuis, o que me lembra de que ela é filha de Zeus, meu maior inimigo.

- Eu só fiz isso para que minha energia passasse para você- Minto friamente- Você é importante peça da missão. Ainda preciso de seus serviços.

Quebro todo o clima e ela me olha desoladamente... Meu peito dói ao mentir, mas eu ainda não posso me entregar a ela! As garotas chegam com o carro... Parece que ele ainda está interligado a energia de Diandra. Nós subimos sem dizer uma palavra...

- Gente desculpe pelo Kraken- Diz Bartman- É que o carro rosa da Madu chama muito atenção, sabe?

-  NÃO É MEU CARRO!- Replica Madu inconformada- Eu já disse...

- Ok pequena Barbie-  Ironiza Gazzoni- Quem está pronto para ir para Grécia?

- Já disse que esse não é meu MALDITO CARRO!- Madu fica inconformada- E não pensem que não vimos vocês dois, ok seus “bobinhos”...

Todas dirigem um olhar malicioso para mim e Diandra...

- EU...

- Não houve nada, Madu- Diandra se adiante em tom de raiva- Foi só para continuar a missão.

Ninguém discute. Todos continuam calados e eu aqui, sentado AO LADO de Diandra, encolhido de culpa e de arrependimento... Sinto muito, Diandra, meu amor por você vai ter que ficar escondido... Por enquanto.