O céu amanhece nublado e meu humor está como sempre tão obscuro quanto os campos da punição no reino de papai. Creio que seja hoje que o treinamento de Monique começa... Aliás, não sei como vou ensinar a ela tantas coisas: Ataque, defesa, esquiva, controle de força, invocação de mortos, dentre muitos outros trecos relacionados à batalha (E com aquele cérebro de mosca que ela tem, creio que não será como treinar o Cérbero para ele sentar...( Sim, eu ensinei esse truque a ele e até que foi bem fácil.. Só custou algumas cabeças de fantasmas como petiscos... Nada demais.)). Só para esclarecer, ainda estou deitado na minha cama no chalé 13... Aqui é bem confortável e agradável! As paredes são negras com um brilho arroxeado, imitando a textura das rochas do mundo inferior, ornamentadas com desenhos de almas sendo torturadas e de algumas almas felizes, tudo pintado em tinta vinho, parecendo ser sangue escorrendo (Essas imagens das almas felizes me deixam meio aflito... É tão sinistro, por isso prefiro olhar para as torturas... Elas me acalmam.). As camas são beliches, feitas de ossos humanos ( Espero que reais!) e no centro do quarto, uma fonte, uma fonte do Cérbero, de onde brotava água negra das três cabeças... Águas do estige. - Monique- Ela ainda está dormindo no beliche abaixo do meu. - Monique... Monique! Ela se remexe, mas não dá sinal que vai acordar. Essa garota tem sono mais pesado do que as estátuas de medusa! Desço da minha cama, chego perto da orelha dela e sussurro. - É hora de acordar, filha da escuridão... - AHHH! UNICÓRNIOS DANÇANTES DE SAIA DANÇANDO HULA HULA!- Ela acorda me dando um soco no nariz, que me faz cambalear, cair no chão com o nariz sangrando e com muita, MUITA RAIVA- Ah maninho que susto! Porque não me chamou normalmente?! Eu tava tendo um pesadelo... Algo com suco de laranja, Lasanha e unicórnios dançantes de saia dançando hula hula... - Não.. Importa... - Digo, limpando o sangue do nariz- Prepare-se para treinar. Pegue sua adaga trasmórfica e venha. Ela concorda... Bem basta pegar minhas coisas e... ARGH! Uma dor de cabeça enorme me atinge! Sinto como se meu cérebro estivesse derretendo, a ponto de eu cair de joelhos e gritar, mas não conseguir a minha própria voz... Imagens distorcidas passam como flashes, rápidas, quase irreconhecíveis... Um corvo, uma mulher, flores ensanguentadas... E... Argh! Corpos! Inúmeros cadáveres! Pilhas e pilhas de mortos, se remexendo! Mas o que está ocorrendo... Dor! Dor! Dor... Parou... Mas o que diabos foi isso? Levanto a cabeça, tudo está um pouco embaçado e observo Monique... Ela... Ela está chorando. - Corpos... - Diz ela, enquanto funga e lágrimas descem de seus olhos- Inúmeros corpos mortos, em todo o lugar... - Eu sei maninha... - Ela está muito abalada, chorando... O que se faz numa situação dessa? Eu... Eu me levanto aos poucos, sento na cama perto dela e... E dou um abraço, que até a ela surpreende- Calma, vai ficar tudo bem, maninha... Ela retribui o abraço, chorando ainda mais... No meio dessa cena comovente, Quíron entra pela porta ( Lê-se quase arranca a porta trotando que nem um cavalo com raiva...). - Todos ouviram os gritos e me reportaram imediatamente... O que está acontecendo?- Diz ele ofegante. - Tivemos algo como uma visão ou sei lá o que...- Respondo, em meio ao choro de Monique- Um corvo, uma mulher, flores com sangue e dezenas de mortos... Isso não é bom, é? Quíron não parece estar surpreso com a visão... Vejo preocupação em seu olhar. - Então, começou...- Diz ele mais para si mesmo do que para nós- Você precisa treinar sua irmã, Gabriel , urgentemente. - Começou o que? O que está havendo, Quíron? - Você não pode saber... - Você não pode esconder isso para sempre. - Treine sua irmã e aí sim conversamos!- Diz ele em tom ríspido- Procure ficar pelas imediações da floresta, mas NÃO se afaste do limite do acampamento, entendeu? Prefiro não discutir. Não estou em condições para isso. Ele sai e eu fico com Monique, ainda chorando em meu ombro. - Maninha, se acalma ok? Eu preciso que você venha comigo treinar... É muito importante que você aprenda coisas hoje para que nós possamos saber a verdade, ok?- Digo em tom calmo e ela se afasta um pouco de mim, esfregando as lágrimas e assentindo. Nós saímos do chalé e não nos dirigimos para o lugar onde servem o café, vamos direto para os limites do acampamento, sem dizer uma palavra. Todos parecem olhar para nós pelo caminho, mas nós ignoramos a todos os olhares e somente seguimos. Chegamos ao limite do acampamento, parte bem remota cheia de árvores. - Bem, iniciaremos com o básico... Quero saber qual a sua habilidade- Digo, sorrindo. Ela parece estar um pouco animada apesar de abalada- Nós filhos de Hades temos habilidades que normalmente nos ligam a morte... Eu por exemplo sou um apto controlador de sombras... Veja. Pego minha adaga que corta luz, Dákyafos, e corto o ar na horizontal. Ela deixa um rastro escuro pairando no ar, ao qual toco delicadamente com o polegar e este gruda como fita nele. Faço leves movimentos de um lado para outro, enquanto a linha de escuridão dança como uma fita negra no ar... Monique olha encantada, sorrindo. Abro a mão e a linha transforma-se imediatamente em uma bola negra na minha palma, a qual arremesso para o alto e antes que volte a tocar em minha mão, se desfaz. - Mas que mágica legal maninho!- Replica ela ficando mais feliz- Eu vou aprender a mexer com essa fitinha? - Não sei... Depende da sua habilidade vigente... - Paro e penso... Acho melhor deixar esse teste para o final. Normalmente a habilidade se manifesta em momentos de perigo e por livre e espontânea pressão...- Vamos começar por outro ponto, ok? Vamos travar uma pequena batalha... Vamos ver o que sabe. Ela assente e saca sua adaga metamórfica. Com incrível velocidade, investe sobre mim e por pouco não sou cortado pela sua lâmina, pois esquivo e caio para o lado... Ela não dá trégua e mesmo comigo no chão, tenta acertar golpes rápidos e mortais... Esquivo, esquivo e esquivo, até finalmente raciocinar e defender com minha adaga um golpe que acertaria meu rosto... Estou abismado com sua perícia com adagas! Ela sorri, enquanto nossas adagas travam um combate de força. Sua adaga se transforma em uma espada e com isso ela adquire vantagem... Sua espada recai sobre meu rosto, esquivo e um pequeno corte é feito em minha bochecha direita! Quer saber? Chega de pegar leve! Essa garota luta e luta MUITO bem! Levanto com um salto e impeço dela me ferir na barriga com um corte rápido e tirado pela minha adaga. Ela investe com inúmeros golpes de espada em diferentes locais, todos detidos por mim, até que finalmente eu a chuto na barriga e ela cai longe. Transformo meu corpo em sombras, surjo atrás dela com a adaga em seu pescoço enquanto ela tenta se recuperar do golpe. - Você vai precisar de muito mais que um blefe para conseguir me derrotar, garota- Lanço sem piedade. - E você muito mais que um truquezinho de mágica barato como esse para conseguir realmente me pegar!- Ela retribui na mesma moeda... Mas ela está imobilizada! É impossí... A espada dela se transforma em uma corrente de cinco metros e ela agilmente, enrola meu corpo na corrente com um movimento e me puxa para baixo, tirando assim minha mira de seu pescoço. Ela levanta-se superior e começa a correr, comigo sendo arrastado pela corrente, até me jogar numa árvore... Ao atingi-la, meu corpo se dissipa em sombras e se refaz atrás dela, que parece já ter previsto o movimento, transformando sua corrente em adaga e apontando ao meu pescoço, ao mesmo tempo em que também faço isso. Encaramo-nos, os dois arfando, com adagas apontadas ao pescoço um do outro. - Por Hades, ONDE VOCÊ APRENDEU A LUTAR ASSIM?!- Acho que gritei, mas estou muito surpreso (E com uma pontinha de orgulho, mas shhh é segredo...). - Eu sempre gostei muito de arminhas sabe? Então eu aprendi a lutar!- Diz ela feliz. - Então se você já sabe, porque nosso pai pediu para ensinar?!- Pergunto ainda surpreso. Não faz sentido... Só se...- Desculpe, maninha... Rolo para trás, onde se encontra as sombras das árvores. Corto o ar inúmeras vezes com Dákyafos, formando uma densa bola de escuridão, que manipulo com as mãos e a transformo num enorme chicote negro, ao qual dirijo na direção de Monique. Ela está surpresa por minha ação e não desvia, recebendo o golpe com toda a força... Seu corpo é arremessado a metros de distância... Opa acho que exagerei! Corro até ela... Ela está imóvel no chão e de seu corpo sai fumaça! Depois de tudo que passei, ela vai ser morta logo por mim! Ótimo, já até vejo a morte chegando... Não, pera... Seu dedo ainda está mexendo... E seu corpo se reergue no chão e sua face, não é lá das melhores... Sabe quando uma mulher está de TPM? Então, imagine isso, só que se imagine num lugar de vinte mulheres, TODAS de TPM... Não chega nem aos pés da cena que estou presenciando. Afastando... Afastando... Bem, estou longe... E então presencio uma cena um tanto quanto horrenda... Cortes começam a surgir dos braços de Monique... Seus braços estão rasgando em cortes na vertical e ela parece nem se importar... Desses cortes, começam a brotar pequenas figuras negras envoltas ao sangue... Essas figuras negras saem cada vez em mais velocidade e começam a voar... Em segundos, o céu é infestado de pássaros negros de olhos vermelhos... Corvos enfurecidos formando uma grande nuvem sobre a cabeça de Monique... Em poucos minutos, campistas desesperados surgem ao nosso redor, curiosos e estupefatos com a cena... Quíron chega, acompanhado de Senhor D ... Todos boquiabertos. Monique está lá, em meio aos corvos, e aponta para mim... Os pássaros começam uma movimentação, um turbilhão negro rodopiante e finalmente descem na minha direção... A única coisa que posso fazer é cortar inúmeras vezes o ar e lançar escuridão contra os corvos... Os corvos estão quase esmagando minha escuridão... Não... Vou aguentar por muito tempo... Vejo um vulto surgindo ao meu lado... Diandra, a filha de Zeus, invoca algo como eletricidade, que envolve minhas sombras e fortalece a rajada... Mas os corvos resistem mesmo a esse poder esmagador! Vou morrer e arrastar a filha de Zeus comigo, isso não é bom... Outro vulto surge ao meu lado... Alguém que eu nunca vi antes, mas que tem cheiro de atum ou algo assim... Não consigo ver muito bem, mas seus cabelos são castanhos e seus olhos acho que verdes... Só sei que ele traz uma enorme corrente de água em mãos em forma de espiral, o que fortalece ainda mais nossa rajada. Filho de Poseidon é claro! Uma filha de Zeus, um filho de Poseidon e um filho de Hades... Os três filhos dos três grandes, juntos, lutando contra uma rajada de corvos assassinos criados por uma filha de Hades... Situação meio engraçada de encontro, não é? Os três poderes juntos finalmente fazem efeito! Os corvos aos poucos vão cedendo e caindo não chão, mortos... Mantemos a posição até o último dos bichinhos cair no chão, morto e quando isso aconteceu, todos os corpos dos corvos se dissiparam em sombras. Isso desprendeu MUITO da minha energia, MUITO mesmo! Caio no chão, arfando, mas me levanto logo. Como será que Monique está? Ela não tem nenhum corte na pele, nem nenhum corvo querendo nascer... Só filetes de sangue escorrendo pelos braços, e está também inconsciente. Algum dos campistas de Apolo já a pegaram colocaram numa maca improvisada e a levaram. - Ok pessoal, nada mais para ver aqui... Foi só um pequeno showzinho “pirotécnico” proporcionado pela filha de Hades- Diz senhor D, pronunciando isso num tom raivoso- Voltem a suas atividades normais e blá blá blá... Ele se dissipou, deixando um cheiro de morangos pairando no ar. Os campistas foram se dissipando aos poucos, murmurando baixinho. - Obrigado, Diandra, pela ajuda... - Digo, observando o rosto suado da filha de Zeus... Foi tão cansativo para ela quanto para mim... - E obrigado também, filho de Poseidon... Não conseguiríamos sem você... Prazer, Gabriel, filho de Hades. - Estendo a mão para ele. Ele sorri e a aperta. - Prazer Gabriel, Sou Percy- Diz ele, ainda sorridente- Sou Percy Jackson. E foi ali que todo meu mundo desabou. Percy Jackson, o grande Percy Jackson... Aquele que papai mencionou… Aquele que saberia como me ajudar… Finalmente, conheci o grande Percy Jackson, filho de Poseidon. Apenas sorrio...