Dois dias! Dois dias andando, ou melhor, sendo amparado por semideuses que eu nem conheço até chegar a Long island, no acampamento meio sangue! Viagem agradável, com o clima razoável, ótima ocasião para conhecer os novos amigos  e enfrentar monstros sanguinários, frios e cruéis capazes de dilacerar seu corpo com um movimento de mão... Ótimo passeio para namorados e também para família, altamente recomendado. É, eu querendo  admitir ou não, essas garotas até que são boas, foi impressionante o modo como Gazonni perfurava três lestrigões com uma só flecha, ou como a filha de Zeus Diandra ou Diandressa, ou algo do gênero ( Ainda não sei seu nome, as garotas a chamam de Diih, mas eu prefiro chama-la de Pikachu [ Sim, no mundo inferior havia algo parecido com televisão e eu assistia pokemon...]) fritava quatro górgonas com sua lança elétrica ( Acabei por descobrir que aquilo não é uma lança e sim um Cabo Tri Divisor de Duplo Gume Reforçado, ou CTDDGR- Palavras de um filho de Hefesto que encontrei no acampamento, expert em armas) ou até quando a Duda perfurou dois cães infernais  num salto com seu tridente como uma atleta olímpica de salto com vara, ou  quando Bartman usou sua espada tripla pra decepar a cabeça de um minotauro, e quando a Monique gritou com a cabeça de minotauro rolando até seus pés e se transformando em pó... Não, ela não foi tão boa assim. Depois de enfrentarmos dezenas de monstros, finalmente chegamos ao acampamento meio sangue, cansados, esfomeados e quase mortos. Fecho meus olhos por alguns segundos, mas ao que me parece, esses segundos foram minutos, ou talvez horas, pois uma hora eu olhava para algo como um prédio e no outro, observava num lugar enorme, com treze cabanas postas em forma de “U”... Não tenho como fazer maiores descrições pois estou zonzo... Tudo ficando preto e finalmente deixo minha mente ser levada ao longe. Ao abrir os olhos, percebo que estou na escuridão novamente e papai está na minha frente, na sua forma de deus embaçado, assim como na nossa outra conversa que não foi muito agradável.

- O que você quer?- Sou direto, pois ainda estou com um pouco de raiva dele por causa dessa missão suicida. - Já a trouxe até aqui, já posso voltar?

-Ainda não... Parabéns, meu filho, conseguiu cumprir com seu primeiro objetivo!- Diz ele num tom controlado. Diferente de Zeus ou outro deus do olimpo, meu pai até que é bem calmo-  Mas sua missão não está nem perto de acabar. Agora que estão em segurança, você deverá treinar sua irmã.

- Treinar essa inútil?! Ela não sabe nem brandir uma espada!- Digo, alterando o tom de voz. Não tenho paciência para ensinar o Cérbero a sentar, quanto mais ensinar minha irmã a lutar- Ela não tem nem arma para isso, não posso!

- Não seja por isso... - Senti um tom misterioso em sua voz-  Tudo será resolvido, não se preocupe, somente a treine e não discuta, é muito importante que você o faça.

- Você age como se fosse tão importante para você quanto é para mim... Eu não acredito que isso tudo seja preocupação comigo, certo?- Sim, meu pai é carinhoso e protetor, mas ele não chegaria tão longe para me proteger- Há algum motivo obscuro nisso, pois se ela sobreviveu até agora, foi com SUA proteção e não precisou de mim por esse tempo...

Ele pareceu engolir a seco (se é que deuses fazem isso). Ele pensa que sou idiota a não perceber tal conspiração.

- Eu gostaria de te contar, mas... Mas eu não posso!- Ele parece realmente incomodado com isso- Olhe, somente me obedeça, treine sua irmã e pronto. Ah, antes que eu me esqueça, lembre-se sempre: Cuidado com quem considera como inimigo, pois este pode ser seu maior aliado.

Antes que eu possa se quer rebater, sua imagem some como sempre. Esses deuses deveriam apresentar programas de enigmas na televisão ou serem mágicos. Voltando ao mundo real, aqui estou eu, deitado numa cama. Encontro-me num cômodo escuro, com paredes pretas e roxas chapiscadas, imitando ao que me parece às paredes do mundo inferior. As paredes enfeitadas com quadros que me dão medo, de pessoas sendo torturadas .Possui três beliches, estando ocupadas três das quatro camas e bem no centro, uma fonte de águas negras com a figura de meu pai acariciando um cão de três cabeças. Ah sim, o pequeno Cérbero! Eu...

- Maninho!!- Berra Monique surgindo da cama acima da minha...- Você tá bem? Gostou da nossa casinha, digo, chalé?  É bem legal, né? Só esses quadros que dão medo! E essa fonte? A água preta vem de onde? É suja?

Irritante, irritante e muito irritante. Ela continua falando, grasnando como um corvo louco! Que bom que ela voltou ao normal e não está mais assustada.

- Hey maninho- Ela para de falar asneiras de súbito. Talvez tenha percebido que não estava escutando nada que dizia-  Tem um potranco querendo falar com você lá fora... Acho que seu nome é Jiló, ou Periquito ou Quíron!

Quando ela terminou de falar a frase, um homem, ou melhor, um híbrido de homem com cavalo entra pela porta, com olhar sério, encarando-nos... Ele é seguido de uma garota loira de olhos acinzentados, aparentemente filha de Atena.

- Olá meu nome é Quíron e esta é Anabeth, filha de Atena... Bem vindos ao acampamento meio sangue- Diz o centauro apontando para a garota loira- Anabeth, por favor...

- Claro Quíron- Responde Anabeth com naturalidade. Parece até que combinaram antes de entrar- Hey Monique, não quer conhecer o acampamento meio sangue comigo?

- Mas é claro! Eu tenho muitas perguntas!- Diz Monique pulando imediatamente da cama- Você tem namorado? Ele é bonito? Como é ser filha de deusa da inteligência? Como...

Anabeth sorri nervosamente e eu lanço um olhar de “Boa sorte” e lá se vão as duas, a filha de Atena e a tagarela de Hades. Sinceramente, eu não queria que Monique me abandonasse com aquele cara... Não estou com medo, mas algo me diz que não vai ser uma conversa tipo “Oi tudo bem, aqui você está seguro meu amiguinho! Vamos tomar um chá?” Não, pra mim nunca é assim.

- Bem garoto, foi muita sorte de vocês terem chegado vivos aqui- E lá vem sermão...- Eu pude ver o embate de energias entre você e Diandra daqui! Mais cuidado, você sabe o quanto seu poder é perigoso...

- Ah obrigado, eu mal chego e olha como já sou bem recebido com um sermão! Que lugar meigo- Minha ironia é mais forte que eu...

- Enfim- Quíron muda de assunto, mas me lança um olhar severo, como se estivesse me perdoando dessa vez por eu estar cansado ou algo assim-  Digamos que eu já esteja a par de sua situação com sua irmã...

- Legal, um corcel meio humano sabe mais da MINHA situação do que eu mesmo, ótimo!

- Garoto, você é bem irritante...- Ele muda um pouco a tonalidade de voz para algo mais severo- Olha, eu não sou seu inimigo, ok? Mas você tem que entender que nem tudo pode ser revelado para vocês semideuses... Principalmente numa situação tão delicada como essa.

- Situação delicada... Se me explicassem pelo menos algo, eu ficaria com certeza mais feliz-  Nossa, as vezes acho que sou antipático demais... Não, as pessoas é quem são idiotas mesmo.

- É para isso que estou aqui, para lhe esclarecer, digamos o básico...- Finalmente vou saber algo sobre isso-  Bem, você e Monique tem uma ligação... Se ela morre, você morre e vice e versa. Acho que você já sabe disso, certo?- Eu assinto – Bem, digamos que vocês dois sejam a chave de uma profecia...

- Profecia?!-  Mas eu nunca nem mesmo saí do mundo inferior direito! Eu não posso fazer parte de uma profecia!- Mas... Mas...

- É uma profecia mais ligada ao mundo inferior em si do que a superfície, mas convenhamos... Se algo acontecer ao mundo inferior, o mundo superior também será afetado...

- É por isso que meu pai está tão preocupado...- Agora entendo a necessidade vital de me colocar para achar Monique... Mas eu ainda não consigo entender nossa ligação! Creio que não seja um elo empático, é algo mais forte que isso...- Diga-me sobre essa profecia, Quíron...

- Bem eu não posso te dar mais detalhes pois não terminamos de desvendar a profecia...

- Quem sabe eu possa ajudar!- Não aguento fazer parte de algo sem ao menos participar.

- É muito mais que isso... Me desculpe filho, mas questões “políticas” estão envolvidas... Por hora não posso lhe contar nada...

A raiva irrompe dos meus poros! COMO ASSIM NÃO POSSO SABER DE ALGO QUE TEM A VER COMIGO! As paredes começam a ser tomadas por sombras... Não consigo conter minha raiva, e Quíron se afasta, dizendo para me acalmar... SE ACALMAR NADA, SEU POTRANCO DESGRAÇADO!  ESTEJA NO MEU LUGAR PARA VER COMO É BOM! Antes que o quarto seja completamente tomado por sombras (O que não seria bom... Para Quíron, é claro!), alguém irrompe na porta e minha raiva para de súbito... É aquela filha de Zeus desgraçada, a tal de Diandra... Vejo o desespero em seus olhos ( Eu gosto disso...), ela está suada como se tivesse corrido muito rápido e está ofegante.

- QUÍRON... REFEITÓRIO... AGORA! RÁPIDO!- As palavras saem picotadas a medida que ela tenta respirar.

- Anda garoto, sobe aqui!- Disse ele apontando para suas costas de cavalos... Hesito. Não vou subir a... - ANDA GAROTO, RÁPIDO! Ou você prefere ficar aqui desinformado?

Ah, quer dizer que agora eu preciso ser informado, hum? Bem que seja. Obedeço e subo. E UAL, ELE DISPARA! NÃO CONSIGO NEM OBSERVAR O CAMINHO DIREITO, só sei que paramos bruscamente em algo que parece ser um refeitório, onde semideuses estão sentados, com comidas intocadas olhando boquiabertos para um canto... Não entendo o que pode... AI... MEUS... DEUSES... Não... É... Possível... No chão, há... Há uma massa obscura borbulhante... EU CONHEÇO AQUILO!  De súbito, mãos brancas e esqueléticas começam a brotar do chão, erguendo algo maior... Em poucos segundos, um trono feito de... De caveiras se ergue do chão e nele, está sentado uma figura imponente... Isso é impossível.

- Pa... Papai?- É a única coisa que consigo exclamar e pelo jeito saiu tão alto que todos olharam em minha direção, boquiabertos...

E lá está meu pai, imponente, bem diante dos meus olhos, sentado em um trono de caveiras...  Hades, o senhor do submundo fazendo uma visita à superfície.