Estou ofegante e muito cansado de correr, além de ferido é claro! Essa garota aqui não sabe nem lutar nem correr! Os semideuses da superfície não têm mortos para treinarem suas habilidades? É pelo jeito não!  Estamos escondidos num beco enquanto dois lestrigões e um minotauro com um machado gigante nos farejam por aí, bem perto... Meu casaco das sombras só consegue deixar uma pessoa escondida por vez e...

- O que está acontecendo? O que pode estar havendo? Isso só pode ser um sonho... UM SONHO!- Nem a minha história ela me deixa contar direito... Garota irritante!

- Se você não calar a boca, nós dois vamos morrer. Você não quer morrer, certo?- Digo com um sorriso sádico no rosto enquanto observo do beco em que estamos se vem algum monstro. - Creio que isso seja um não. Então acompanhe meus passos, devagar e com calma...

Ela assente. Saio primeiro com Dákyafos em punho... Observo os dois lados. Nada nem ninguém. Nenhuma pessoa ou qualquer coisa. Faço sinal para ela vir e ela obedece. Uma pessoa desaponta da esquina e... CARA QUE RAIVA! Ela gritou e saiu correndo desesperadamente para o lado contrário! Vou ter que ir atrás dela antes que essa desgraça estrague tudo!

- Monique! Volta aqui!- Grito correndo... Ela está com as duas mãos para cima, chorando e gritando! Acho que TODOS os monstros da cidade vão nos achar aqui.- Que parte do devagar e com calma você não entendeu?

- ELES VÃO ME MATAR, VÃO ME MATAR MORTINHA ATÉ A MORTE, EU SEI DISSO! ELES SÃO ASSASSINOS MORTÍFEROS MORTAIS!- Grita enquanto corre... Ela é louca? Ela tem problemas? Não, é minha irmã.

Ela para de súbito e da esquina desaponta o minotauro, com seu machado em punho e com a cabeça de Monique na mira. Deuses, toda minha vida passa diante de meus olhos e as palavras de meu pai vão se passando em minha mente enquanto o machado abaixa-se lentamente: “Mantenha-a viva, pois ela é sua vida também...” É isso, mantê-la viva ou morrer. Mas ela está fora de meu alcance! Eu não tenho como fazer nada.  E um milagre acontece (Não que eu acredite muito nessas coisas): O minotauro para o ataque. Ele está caindo no chão, ferido ao que parece... Monique não vacila e corre logo na minha direção, enquanto observo o monstro tentando se reerguer, mas logo caindo novamente. O que será isso? Algum poder obscuro?  ... Flechas! Consigo observar ao brilho dourado das setas passando em velocidade titânica sobre nossas cabeças e atingindo o monstro... Duas! Não, são quatro! Não, são dez flechas que já o atingiram e este continua tentando se levantar, relutando em morrer! Morre bicho do mundo inferior, morre logo! Uma ultima flecha perfura sua cabeça e finalmente ele cai, desfazendo-se em pó amarelo de monstro (Acho que deviam vender isso em potinhos, talvez tenha algum benefício para saúde [ou não...]). É quando observo três vultos pularem de um prédio baixo. São quatro garotas: Uma portando arco e flecha de cabelos negros, pele parda e olhos castanhos de óculos. A outra portando uma espada com três lâminas embutidas, com cabelos lisos de um castanho bem escuro, a terceira com cabelos loiros bem escuros porta um tridente a ultima... Sim, a ultima... Ela me irrita. Sua expressão superior e controlada, seu ar imponente e prepotente, sua postura assumida de líder, o modo como porta à lança, o meio sorriso no canto do rosto... FILHA DE ZEUS! Não consigo identificar as outras semideusas, mas essa com certeza é filha daquela tomada elétrica de mil volts ambulante!

- Vocês estão bem?- Disse a garota com arco e flecha, simpática.

- É claro que estão, Gazonni, afinal nós os protegemos, não é, Gasparzinho, digo, filho de Hades?- Diz a filha de Zeus, prepotente como sempre.

- Sim, Pikachu, digo, filha de Zeus, estamos bem-  Digo eu, levantando, mas cuspindo um pouco de sangue.

- VOCÊS SÃO ASSASSINAS MORTÍFERAS MORTAIS! VOCÊS VÃO... - Ela grita, mas para... Milagre!- Espera um pouco... Alga?!- Ela se dirige a garota que porta a espada tripla- Mas o que...

- Não há tempo para “oi”, olhem!- Diz a que porta o tridente, apontando para a esquina, de onde desapontam os dois lestrigões.

- Eu cuido...

- Não, eu cuido deles!- Digo, cortando a filha de Zeus. Os dois monstros urram e eu corro na direção deles, sacando Dákyafos e transformando meu corpo em sombras.

No meio do caminho percebo que ao meu lado, algo viaja na mesma velocidade que eu, só que isso reluz. MALDITA FILHA DE ZEUS! ELA QUER COMPETIR COMIGO! Ela empunha a lança, que gera eletricidade e a torna extremamente rápida, tão rápida quanto eu envolto em minhas sombras! Dentre os raios que ela emite, consigo ver o sorriso dela nos lábios, vitoriosa, enquanto da minha boca escorre sangue... O que acontece agora é muito rápido. Nós dois atingimos os lestrigões em lados opostos e ao nosso simples toque, os dois desintegram-se. Com tal facilidade de corte, nossas armas se chocam, ainda completamente energizadas. Um estrondo enorme, seguido de uma explosão acontece. As sombras chocam-se contra a luz, formando uma bela e assustadora espiral negra e branca de poder que quase sobe até os céus. Eu sinto meus ossos queimando com a luz dos raios, mas também tenho a consciência que minhas sombras também a machucam. Se eu morrer nesse embate, também a levo junto! Então olho para o lado e vejo todas as garotas assustadas, abismadas e um pouco feridas, e fito Monique ainda no chão, abraçada com aquela garota a quem chamou de alga. Seus olhos transmitem terror. Mas e porque eu me importo? Problema dela se está com medo! Problema dela se está sozinha, se só tem eu e talvez mais duas pessoas com quem se importe! Eu fui criado na escuridão, quase que sozinho e ela pode se virar... Não. Ela não pode. Não posso destruir tudo por causa de um combate egoísta e sem sentido! Irritante, louca, chata, problemática, minha irmã. Diminuo a intensidade das sombras, e a filha de Zeus percebendo isso, faz o mesmo com os raios e assim vai indo, até que tudo pare. Ela sorri triunfante.

- Pensei que aguentaria mais, filho da morte- Diz ela, tentando esconder as feridas e o cansaço na voz.

Minha ferida na barriga dói muito e vejo que ela sangra mais. Ainda estou de pé, mas por puro orgulho. Monique desagarra da amiga e vem ao meu encontro, me recebendo com um abraço.

- Maninho... Por favor, fica bem... - Diz ela, com lágrimas nos olhos. Por quê? Ela nem me conhece direito!

- Cala a boca, garota irritante, eu vou ficar bem!- Sorri, forçando a voz.

- Gazonni e Madu, ajudem esse fraco- Disse a filha de Zeus- Bartman, você escolta a garota e eu vou na frente, dando cobertura ao grupo. Essa explosão de energia vai atrair muitos monstros. Vamos ao acampamento meio sangue.

Monique me largou e as duas garotas me pegaram pelo braço, cada uma em um braço. Maldita filha de Zeus! Eu ainda vou confrontá-la, assim que estiver bem. Não vou apagar se não estarei demonstrando fraqueza! Ouço urros terríveis de diversas direções... Monstros, monstros e mais monstros vão nos seguir, aposto! E então nós vamos caminhando o mais rápido que podemos, com a máxima cautela e abandonamos o lugar semidestruído, com o chão repleto de rachaduras e as construções próximas quase caindo.  Situação atual: Seis semideuses ( ou deveria dizer, chamarizes de monstros, almoços, jantares, lanches...) andando com um deles feridos, duas levando esse ferido, uma que não sabe fazer nada, outra protegendo essa que não sabe fazer nada, protegidos por uma filha de Zeus arrogante com uma lança na mão... É hoje que eu morro. Que Hades me ajude...