POV Cristal

Mal dormi aquela noite, por mais cansada que eu estivesse. Por que Quiron não podia dizer nada? Será que ele mesmo não sabia?

O jeito era esperar. Ver o que os deuses iriam fazer. Confesso que achava essa história de Calipso não poder ter filhos uma coisa idiota e sem motivo.

Enfim, finalmente a manhã chegou e eu acho que não tinha dormido nem cinco horas ao todo. Levantei-me, tomei um banho, vesti minha calça jeans e uma camiseta branca simples, e logo depois Violet acordou.

– Bom dia, maninha. - Falei desanimada.

– Sinceramente, não há nada de bom. O Centauro me assustou bastante ontem, com essa história dos “deuses decidirem”. - Ela fez uma voz grossa e fez aspas com os dedos. Pegou uma roupa e entrou no banheiro.

Quase ri, mas não estava bem pra isso. Olhei-me no pequeno espelho que os Stoll tinham “pego emprestado” do Chalé de Afrodite. Em frente a ele, penteei meu cabelo lentamente.

– Bom dia, Cristal!- Desejou Mike.

– Bom dia. – Respondi.

– Já vi que alguma coisa esta te incomodando. O que é? - Perguntou Connor.

– Tem certeza que não sabe? - Repliquei.

Um silencio desconfortável cercou o espaço. Sério... Por que algo me dizia que nada de bom ia acontecer dali em diante?

Violet finalmente saiu do banheiro. Fomos andando, só eu e ela, para o Refeitório.

– Violet! Cristal! - Ouvimos uma voz feminina e nos viramos.

– Ah! Oi, Beatrice. Como vai? - Perguntou Violet tentando esconder o desanimo. Ela não conseguiu.

– Acho que bem melhor que vocês. – Quanta sensibilidade as filhas de Afrodite tem.

– Obrigada, Beatrice. – Ironizei. – Agora vamos, tudo o que me resta é tomar café em paz!

Fomos andando até o refeitório. Beatrice foi para a mesa de Afrodite e eu e Violet seguimos para a de Hermes. Tomamos café normalmente. Depois encontramos com Nico e Dean na Arena pra tentarmos novamente lutar. Não tivemos mais sorte do que da primeira vez, e por isso desistimos e ficamos conversando com eles, Mike e Beatrice, enquanto os Stoll pregavam peças nas filhas de Afrodite.

- Hey - disse Mike -, pra que essas caras?

Eu e Violet o encaramos.

- Jura que não sabe? - disse Violet com a voz sem vida.

- Relaxem! - disse Connor chegando mais perto de nós e segurando um batom quebrado ao meio. - Ninguém vai querer matá-las.

- Só os deuses. - Falei com a voz rouca.

Um silêncio tomou conta do ambiente. Então Travis chegou perto de nós, fazendo leite sair de seu nariz. Todos nós rimos. Era inevitável.

Infelizmente, o sinal para o almoço tocou e fomos caminhando lentamente até o Refeitório.

Violet passou o caminho inteiro rindo de tudo que Nico falava. E quando chegamos ao nosso destino, Nico deu um beijo na bochecha dela e eu já estava até vendo ela desmaiando. 

- Hummm - disse Dean - Olha o clima de romance no ar.

O rosto de Violet ficou vermelho que nem um pimentão, então ela socou o braço de Dean.

- Ai. - exclamou ele. - Até que você é bem forte, hein, Hulk?

Violet lhe lançou um olhar demôniaco.

Dean riu e foi para sua mesa.

Nos sentamos à mesa de Hermes e começamos o almoço.

POV Violet

Já escurecia quando nós saímos do chalé para jantar. Todos falavam sobre a Caça a Bandeira que seria esta noite. Tenho que admitir, estou ficando curiosa. Uma semideusa precisa saber lutar para sobreviver e hoje ia ver do que eu era capaz, mesmo não conseguindo segurar uma espada sequer.

O jantar foi bem agitado, com alguns campistas revendo estratégias, outros comentando sobre como ultrapassar o riacho e conseguir capturar a bandeira. Estava boiando no assunto.

Assim que todos terminaram de comer os pratos desapareceram e armaduras e armas ocuparam seus lugares. Havia lanças, espadas, facas, escudos e elmos, alguns com penacho azul, outros com penacho vermelho.

Todos os campistas foram se equipando, enquanto eu e Cristal ficamos paradas, observando. Nico se aproximou de nós, já usando armadura completa e com um elmo de penacho azul debaixo do braço, sorrindo. Confesso que bambeei.

- Problemas com o equipamento?

- Muitos. - respondi. - Nem sei por onde começar.

Nico deixou seu elmo em uma mesa e observou os peitorais que se encontravam ali. Depois me analisou.

- Hum, acho que o 14 vai servir.

Ele pegou uma peça de tamanho médio e pôs na minha frente, analisando.

- É, acho que fica bom.

Ele me ajudou a encaixar o peitoral de trocentas toneladas.

- Como vocês conseguem correr com isso? - perguntei fazendo esforço para me manter ereta.

Nico riu.

- Com o tempo você acostuma.

Ele prendeu bem as amarras na lateral do meu corpo. Mal conseguia respirar. Em seguida Nico pegou um elmo da mesma cor do dele e o colocou na minha cabeça. O capacete cobriu meus olhos, além de ser extremamente pesado. Ouvi a gargalhada de Nico e sorri. 

Ele tirou o elmo e o substituiu por um com o tamanho exato.

- Prontinho.

- Obrigada. - falei sorrindo.

- Você vai querer uma espada?

Eu olhei para as espadas disponíveis e fiz uma careta. A ideia não me agradava nem um pouco.

- Eu preciso de uma espada?

- Se não quiser morrer...

Bufei indignada. Agarrei a espada mais próxima e a encaixei na bainha. Detalhe: também estava pesada. Se tivesse Caça a Bandeira toda a semana, acho que eu perderia uns 15 quilos por mês.

Cristal se aproximou de nós já com a armadura completa, assim como Dean que a acompanhava. O sorriso dela estava de orelha a orelha o que significava que Dean a havia ajudado com a armadura também. Esses garotos não são perfeitos?

- Prontas para ganhar? - perguntou-nos Dean.

- Ahn... - disse Cristal.

- Quem sabe, né? - falei.

- Nós vamos ganhar. - afirmou Nico. - Não duvide.

Quíron se aproximou de nós. Ele tinha uma bolsa de couro presa ao cinto.

- Hérois! As regras são as mesmas! O riacho é o limite! É terminantemente proibido aleijar e/ou esquartejar ou matar. - Essa foi a melhor coisa que eu ouvi no dia de hoje. - O jogo começa em poucos minutos. Todos para a floresta!

Começamos a marchar em direção da floresta, com Annabeth no comando de nossas tropas. Tropecei umas cinco vezes até chegarmos à orla da floresta. Dean estava a nossa frente carregando uma bandeira cinza-prateada com uma coruja desenhada no meio.

- Pra que serve essa bandeira? - perguntou Cristal.

- Cristal - disse Dean lentamente -, o nome do jogo é Caça a Bandeira.

- Eu sei! - respondeu Cristal impaciente. - Mas vocês ainda não explicaram a temática do jogo! Nós não somos adivinhas!

- Tudo bem então. - falou Nico. - Deixa que eu explico, Dean. É o seguinte: existem duas equipes. Cada equipe tem que ultrapassar o riacho, sem que os inimigos o prendam, e capturar a bandeira da equipe adversária. Se conseguir voltar para o seu campo sem que ninguém o capture, a equipe vence.

- E qual é o nosso plano de ataque? - perguntei interessada.

- Bom - disse Dean. -, vocês vão ficar no limite do riacho e eu e Nico vamos entrar no território inimigo.

- Vocês tão de brincadeira? - perguntou Cristal. - Vocês querem que a gente fique na defesa? Nós vamos perder!

- Relaxem! - Nico falou. - Se passarem por vocês, tem a equipe de proteção à bandeira. E comigo e Dean no ataque, nós vamos ganhar! Não tenham dúvidas.

Ele me lançou um sorriso e eu balancei.

Foco, Violet, pensei. Foco!

Chegamos a uma pilha de rochas esquisitas, onde Dean fincou a bandeira. Dois garotos de Atena ficaram protegendo-a.

- Ahn... Onde é o riacho mesmo? - perguntei olhando pra floresta, sem saber pra onde ir.

- Nós vamos levá-las até lá. - disse Dean.

Os dois seguiram por uma trilha lateral e em poucos minutos estávamos no riacho.

- Vocês ficam aqui. - avisou Nico.

O lugar não parecia muito ameaçador até escutar ruídos estranhos vindos da floresta. Lembrei-me então que os Stoll disseram que haviam monstros na floresta. Isso não melhorou o meu humor.

A corneta soou, o que significava que o jogo havia começado.

- Alemanha!

- Armênia!

Lá estávamos eu e Cristal, mongando, jogando STOP pra matar o tempo. Pra você ter ideia de como o jogo tava movimentado. Tivemos essa ideia pois estávamos assustadas e achamos que se brincássemos de alguma coisa ficaríamos distraídas, mas não adiantou muito. Ainda estávamos assustadas.

Nossas espadas estavam em nossas mãos, mas mal conseguíamos levantá-las. Ninguém havia aparecido em 30 minutos de jogo, o que era bem estranho. Os arbustos se mexiam por vontade própria e nós quase morremos de susto quando uma dríade apareceu do nada.

- Cristal. - falei e minha voz ecoou no silêncio.

- O que foi, Violet?

- Cadê todo mundo?

- Bem que eu queria saber. Esse lugar podia ficar mais animadinho.

Então escutamos um ruído vindo de trás de nós. Boquinha santa essa da Cristal, hein?

Clarisse, do chalé de Ares, estava vindo em nossa direção, brandindo sua lança que soltava faíscas (uma lança elétrica!) com a nossa bandeira. Os Stoll a perseguiam, mas estavam muito longe, não conseguiriam pará-la. A única coisa que impedia Clarisse de atravessar o riacho era Cristal e eu.

Do outro lado do riacho Dean, escoltado por Nico, corria também em nossa direção, segurando a bandeira do inimigo. Todos os campistas e Quíron estavam ali, observando o desfecho do jogo. Olhei para Dean e Clarisse, os dois vindo em nossa direção. Clarisse estava mais próxima, o que significava que eles ganhariam. Cristal estava paralisada ao meu lado.

Me virei para Clarisse e levantei a espada.

Desejei com todas as minhas forças que Clarisse não chegasse ao riacho.

Então, sem saber como, uma aura de energia arroxeada emanou do meu corpo na direção de Clarisse. Ao se chocaram, o impacto foi tão forte que Clarisse voou pra longe, batendo em uma árvore, com sua lança espetada no chão e a nossa bandeira perdida na folhagem.

Dean e Nico ultrapassaram o riacho e a bandeira, antes vermelha, agora estava negra como a noite, mas ninguém comemorava a vitória. Todos me encaravam. Olhei para Cristal que também parecia chocada. Deixei minha espada cair no chão.

Quíron se aproximou de mim trotando.

- Fiz alguma coisa errada? - perguntei num sussurro.

Quíron me encarou e falou baixo:

- É melhor termos uma conversa em particular, Violet. De novo.