Todos na biblioteca estudavam silenciosamente, e eu não era uma exceção. Terminei de ler o livro em minhas mãos e levantei-me, guardando-o na estante e saindo de lá, voltei então ao meu dormitório, onde Jack e Joe conversavam animadamente.

-E aí, James? – cumprimentou-me Jack.

-Fala, Jack! Joe, bom dia você também.

-Bom dia. Uma tal Rachel te ligou hoje dizendo que uma tal Rebeca te ligou hoje. – refleti sobre o quão estranha era essa frase. Então percebi que ele havia dito Rebeca. Desviei o olhar.

-Hm...

-Que foi? Ex-namorada? – perguntou Joe.

Assenti.

-Qual das duas? – perguntou Jack.

-As duas. – respondi rindo de mim mesmo.

Rose entrou no quarto lançando algum objeto em mim.

-Idiota! – gritou – Acabou! – então ela saiu.

Eles riram. Suspirei, passando a mão na área do meu braço atingida.

-O que exatamente aconteceu? – perguntou Jack, ainda entre risos, pegando do chão o colar que fora atirado em mim.

-Rose terminou comigo. – eu disse.

-Falei para você não sair com a Rita.

-Rachel, Rebeca, Rose e Rita. Qual sua obsessão por garotas com R no nome? – perguntou Joe. Eles riram.

-Nunca refleti sobre isso. – respondi, também rindo.

-Ah, antes de você chegar, a gente estava pensando em ir almoçar com Stacey, Karen e Ligia, mas como você estava comprometido, não podíamos te convidar. Então, quer vir com a gente?

            -É, pra mudar um pouco. Stacey, Karen e Ligia não começam com R. – brincou Joe.

            -Claro, por que não?

            Saímos do quarto e fomos até o estacionamento, Joe ligou para Stacey para que elas se encontrassem conosco lá.

            -Hey, J3! – cumprimentou-nos Ligia, sorrindo.

            J3 era um apelido nosso, quase como o nome do grupo, dado por Gabriel, nosso ex-companheiro de quarto – que havia sido expulso da faculdade no último mês – por conta de nossos nomes: Jack, Jonathan e James. Depois de um tempo todos começaram a nos chamar assim, após Gabriel sair da faculdade até picharam na porta do nosso quarto “J3” em letras estilo grafite. Não apagamos, achamos até legal, na verdade.

            -Jay! Mal terminou com Rose e já vai num encontro com outras três? – perguntou Karen, em tom brincalhão.

            -A fila anda. – respondi. Ela sorriu.

            Tudo ia bem no almoço, até meu telefone trocar. Era uma mensagem.

            Ela insiste. Você precisa ligar para ela.

Era de Miguel. Ignorei, simplesmente. A fila anda. Repeti para mim mesmo.

Ele tocou novamente, outra mensagem. James, pq você parou de falar c/ a garota? kk eu sabia q no fim ela seria só mais uma na sua lista kkk. Essa era de Rachel. Mordi o lábio pensativo.

Isso, ela era só mais uma.

Não rolou nada de interessante no almoço. Na verdade, eu estava tão desanimado que tive que ouvir de Karen que eu devia me desculpar com Rose porque era claro que eu sentia falta dela.

O que eu claramente não sentia.

De volta ao meu quarto, assim que me vi sozinho, liguei meu computador para minha checagem diária. Dediquei-me mais aos países desenvolvidos e o Brasil, por recomendação dela.As coisas estavam as mesmas na Europa e na Austrália. O Canadá continuava pacífico, sem alguma ocorrência extrema demais e aqui nos EUA nada de relevante. Quase cheguei à mesma conclusão sobre o Brasil quando uma notícia me chamou a atenção: Uma gangue formada por dois homens e uma mulher assaltou um banco no último domingo, sem deixar sobreviventes. Na parede, desenhada com sangue, havia uma estrela de seis pontas. As autoridades desconfiavam que pelo menos um dos integrantes do grupo - e esse seria o líder - era judeu. Mas eu não.

Eu sabia que não.

Meu telefone tocou. Era ela.

-Chegou a hora. – ela disse convicta.